A partir da esquerda: pesquisadores Paul Marshall, Xiang Li,Rodrigo Grassi-Oliveira,Timothy Bredy

A partir da esquerda: pesquisadores Paul Marshall, Xiang Li,Rodrigo Grassi-Oliveira,Timothy Bredy / Foto: Arquivo Pessoal

Já imaginou ser possível extinguir memórias de medo por meio de uma modificação química no DNA? Um estudo realizado no Instituto do Cérebro da Universidade de Queensland, da Austrália, que teve a colaboração de pesquisadores da Escola de Medicina da PUCRS e do Instituto do Cérebro do RS, aponta uma direção. Ele foi publicado em fevereiro na mais importante revista científica especializada em neurociência do mundo, a Nature Neuroscience.

O estudo descobriu uma modificação química no DNA que aumenta a habilidade de extinguir o medo. A descoberta abre uma perspectiva inovadora que tem sido apontada como o caminho para o futuro, a dos tratamentos com terapia gênica. Por meio dela, seria possível silenciar genes relacionados ao processamento do medo e assim auxiliar pessoas que sofrem com fobias ou Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

Pesquisador líder lecionou na PUCRS

O primeiro autor dessa pesquisa é o pesquisador Xiang Li, aluno do professor Timothy Bredy, responsável pela pesquisa publicada na Nature Neuroscience. Bredy esteve na PUCRS como professor visitante ao longo dos anos de 2014, 2015 e 2016, e explica que, embora o medo seja um importante mecanismo de sobrevivência, a capacidade de inibi-lo quando ele não é mais necessário também seria. “A extinção do medo funciona como um equilíbrio do processamento do medo. Envolve a criação de novas memórias com elementos ambientais similares que competem com a memória original do medo”, afirma Bredy no site da Universidade Queensland.

Pesquisas mostraram que uma pequena região do córtex pré-frontal (PFC) desempenha um papel crítico nos processos de aprendizagem e memória da extinção do medo, e a atividade dos neurônios nessa região está sob rígido controle epigenético. “O DNA não é estático. Mudanças químicas no DNA agem como um interruptor que pode aumentar ou diminuir a expressão de um gene”, explica o professor Bredy.

Pesquisa experimental

No experimento, foram colocados camundongos em uma caixa onde ouviam um som específico, que era imediatamente seguido por um leve choque nos pés. Os camundongos rapidamente associavam o som ao choque e “congelavam” quando o ouviam. Para encorajar a extinção do medo, os animais eram então colocados em uma outra caixa, onde repetidamente ouviam o mesmo som, mas não recebiam nenhum choque nos pés. Quando os camundongos eram devolvidos à caixa original, eles não tinham mais medo do som, pois haviam extinguido essa memória.

Os pesquisadores examinaram o DNA dos neurônios do córtex pré-frontal nesses animais e descobriram a presença de uma modificação química na adenosina, a N6-metil-2-desoxiadenosina (m6dA), em mais de 2800 locais em todo o genoma. Por muito tempo, acreditava-se que a citosina (C) era a única base de DNA que poderia ser modificada via metilação. Mas agora a pesquisa deixou claro que a adenosina (A) também pode ser marcada quimicamente.

A equipe descobriu que a formação das memórias de extinção do medo necessita da modificação da adenosina, que aumenta a atividade de certos genes. Em outras palavras, essa mudança epigenética no DNA desses neurônios só ocorre durante a extinção do medo.

“Compreender o mecanismo fundamental de como funciona a regulação genética associada à extinção do medo pode fornecer alvos futuros para intervenção terapêutica em transtornos de ansiedade relacionados ao medo”, afirma Bredy.

Participação da PUCRS no estudo

Pós-doutorandos da Escola de Medicina da PUCRS e do InsCer RS, Luis Eduardo Wearick e Thiago Viola

Wearick e Viola, pós-doutorandos da Escola de Medicina da PUCRS e do InsCer RS / Foto: Bruno Todeschini/PUCRS

A colaboração da PUCRS se deu por meio do grupo interdisciplinar Neurociência Cognitiva do Desenvolvimento (DCNL), que faz parte da Escola de Medicina da PUCRS. Liderado pelo psiquiatra Rodrigo Grassi-Oliveira, que é também pesquisador do Instituto do Cérebro do RS, o grupo colabora com pesquisadores em diferentes áreas ao redor do mundo.

Grassi-Oliveira esteve primeiramente na Austrália para fazer seu pós-doutorado e iniciou a colaboração entre ambas as instituições. Depois, além de ter trazido o Professor Bredy para a PUCRS por três vezes, também enviou dois estudantes para o laboratório do próprio Bredy, que na época estava trabalhando na Universidade da Califórnia, em Irvine. “Iniciei um projeto de colaboração com o laboratório na Austrália para poder trocar expertise na área de neuroepigenética e propiciar o intercâmbio de alunos e professores entre as duas instituições”, afirma Grassi-Oliveira.

A participação na pesquisa se deu principalmente através de Thiago Viola e Luis Eduardo Wearick, atualmente alunos de pós-doutorado da Escola de Medicina da PUCRS e do InsCer RS, que participaram desta pesquisa como parte de seus doutorados sanduíche, fazendo experimentos por um ano inteiro, em virtude do projeto Pesquisador Visitante Especial, do CNPq – Ciências Sem Fronteiras.

“Um dos objetivos da nossa colaboração era realizar um treinamento em técnicas de pesquisa em epigenética e participar dos projetos que eles tinham em andamento. É muito gratificante ter tido a oportunidade de trabalhar com uma equipe de diversas universidades e laboratórios do mundo e ter contribuído em um trabalho tão importante como este”, afirma Wearick. Viola destaca o conhecimento que vai poder aplicar no Brasil. “Estou muito feliz por ter contribuído com este trabalho e por ter conseguido adquirir um conhecimento muito específico sobre o tema da neuroepigenética, o qual pude trazer para o nosso grupo de pesquisa da PUCRS”.

novembro azulDentro das mobilizações do Novembro Azul, que visam alertar sobre a prevenção e o tratamento do câncer de próstata, entre outras enfermidades que afetam o público masculino, o Instituto do Cérebro do RS promove o encontro Avaliação Multimodal da Próstata, no dia 28 de novembro, das 17h às 22h. Serão nove palestras voltadas para estudantes e profissionais da saúde. Entre os temas abordados, estão técnicas, diagnósticos e tratamentos para o câncer de próstata. O evento ocorre no anfiteatro Irmão José Otão, no segundo andar do Hospital São Lucas da PUCRS (avenida Ipiranga, 6.681 – Porto Alegre). A participação deve ser confirmada pelo e-mail [email protected]

Novembro Azul

Novembro Azul é uma campanha de conscientização realizada por diferentes entidades, inspirada no movimento Outubro Rosa, e dirigida à sociedade e, especialmente, ao público masculino, para informar a respeito de doenças masculinas, com ênfase na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de próstata.

Confira a programação completa:

17h Abertura com as boas vindas do Convention Bureau

17h20min Rastreamento do Câncer de Próstata no Brasil

Dr. Gustavo Carvalhal (PUCRS)

17h50min Manejo do Câncer de Próstata na Atualidade

Dr. Miguel Srougi (USP)

18h20min Onde a Imagem ajuda no Câncer de Próstata

Prof. Dr. Miguel Srougi (USP)

18h50min Biópsia da Próstata na era da Ressonância

Dr. Ricardo Amaral (PUCRS)

19h20min Pi-Rads

Dr. Diego Roman (PUCRS-INSCER)

19h50min PET-CT com PSMA-68Ga

Dra. Cristina Matushita (PUCRS-INSCER)

20h20min Tratamento radioterápico no Câncer de Próstata

Dr. Fernando Mariano Obst (PUCRS)

20h50min Tratamento quimioterápico no Câncer de Próstata

Dr. André Fay (PUCRS)

21h20min Medicina Nuclear no tratamento do Câncer de Próstata

Dr. Diego Pianta (PUCRS-INSCER)

21h50min Encerramento

 

Cristiane Weber/InsCer-RS

Cristiane Weber/InsCer-RS

O roteiro do físico teórico italiano Carlo Rovelli em Porto Alegre, essa semana, contemplou o Campus da PUCRS, com visita ao Instituto do Cérebro (InsCer-RS) e um bate-papo com estudantes de Pós-Graduação e professores da Universidade. Reconhecido com um dos pioneiros na pesquisa sobre gravidade quântica, o professor da Universidade Aix-Marseille esteve na Capital para uma conferência no Fronteiras do Pensamento, no dia 15 de maio.

Em sua passagem pelo InsCer, onde foi recebido pelo Vice-Reitor e diretor do Instituto Jaderson Costa da Costa e equipe, Rovelli mostrou-se entusiasmado com a estrutura, a interdisciplinaridade das pesquisas e os serviços oferecidos no local. “Gostei da abertura que o Instituto do Cérebro tem para todas as disciplinas, que caminham juntas para contribuir na construção do Instituto. Tem uma abordagem muito notável à clínica e à pesquisa por meio de filósofos, engenheiros, médicos, físicos e neurocientistas. É o domínio de pesquisa mais interessante que vi hoje. Se eu não fosse físico, seria cientista do cérebro. É fantástico ver esse tipo de pesquisa”, declarou durante sua apresentação, à noite, no Salão de Atos da UFRGS.

Na tarde do mesmo dia, o pesquisador participou, na Sala Vip do Centro de Eventos da PUCRS, de uma conversa com o Reitor, Ir. Evilázio Teixeira, docentes e alunos de mestrado, doutorado e especialização. Durante 40 minutos, foram tratados temas como as relações entre física quântica, religião e filosofia. Ao final da atividade, os estudantes, que haviam participado de uma promoção no Facebook da Universidade, receberam cortesias para a conferência de Rovelli no Fronteiras do Pensamento.

Camila Cunha/PUCRS

Camila Cunha/PUCRS

Parceria

A PUCRS é parceira do Fronteiras do Pensamento. Professores e técnicos administrativos da Universidade e da Rede Marista têm direito a 50% de desconto no pacote de ingressos, mediante código a ser solicitado pelo e-mail [email protected] ou telefone (51) 4020-2050. A aquisição das entradas pode ser feita neste link ou em um dos pontos de venda físicos, com apresentação do crachá. Estudantes têm direito a meia-entrada conforme legislação.

A Imagem da Imaculada Conceição, da Paróquia Imaculada Conceição, de São Jerônimo, no RS, com 1,30m de altura, 40 cm de largura e 48kg, passou recentemente por uma tomografia computadorizada no Instituto do Cérebro do RS (InsCer/RS)http://pucrs.br/inscer. A motivação para o projeto inusitado foi verificar o que havia dentro da imagem. Descobriu-se então que ela é oca internamente, e pertence a um conjunto de peças sacras que compõem o mosaico das obras Jesuítico-Guarani, do século 17 ou 18. O resultado dos estudos foi apresentado à comunidade em evento no último sábado. Participaram o professor e pesquisador da PUCRS Ir. Edison Hüttner, e o também pesquisador e dentista bucomaxilofacial Éder Abreu Hüttner, além de moradores de São Jerônimo, como Claudio Rollo, reconhecido como um dos descobridores dessa imagem missioneira, e Nelson Bolzan, outro morador envolvido.
O exame apresentou características importantes, como miolo de madeira, com espaço oco, bastante característico do período missioneiro, e ranhuras de um núcleo de madeira, também oco. Com o cruzamento de todas as informações, incluindo os documentos históricos, entende-se que a imagem passou por um processo de encarnação, ou seja, recebeu uma camada de gesso para se adequar à caracterização da época, em uma comunidade com feições de imigrantes predominantemente italianos e germânicos. Segundo o pesquisador, o estudo “abre uma perspectiva para a reconstrução da história de outras tantas imagens missioneiras do período jesuítico”.

Além disso, Ir. Edison ressalta que unir ciência e fé pode levar a novas e importantes descobertas. “São áreas que parecem distintas, mas veja o que já descobrimos. Há muito ainda que podemos revelar através da tecnologia”.
Início da pesquisa
Em junho de 2015, após estudar inúmeras peças como a Cruz das Missões em Camaquã, no RS, o pesquisador buscou ampliar seu trabalho sobre o real trajeto das peças missioneiras pelo Estado. O primeiro passo foi uma pesquisa no arquivo histórico da cidade e na Cúria Metropolitana de Porto Alegre. Lá, encontrou um manuscrito da obra Comentário Eclesiástico do Rio Grande de São Pedro desde 1737, de 1891, escrita pelo Arcediago Vicente Zeferino Dias Lopes. No livro, constava a informação sobre uma imagem doada por Manuel Correia da Fontoura à Paróquia Nossa Senhora da Conceição, transferida de um dos antigos povos das Missões. Com a informação, o pesquisador foi até o local e encontrou a santa referida no manuscrito. Vendo a estátua, no entanto, ambos perceberam que havia três anjos barrocos na base. A comunidade confirmou a existência de ser a mesma Santa desde sempre, com as mesmas feições.

Chegando em Porto Alegre, no Museu Júlio de Castilhos, Hüttner fotografou a imagem de características barrocas, que também é de Nossa Senhora da Conceição, missioneira, e possui os mesmos três anjos barrocos. Foram tiradas fotos e medidas, que condiziam com as medidas da imagem de São Jerônimo. Entrou-se então em contato com Rollo, que possuía fotos da Santa em procissões desde 1930, e buscou-se outro documento-chave para a pesquisa: uma espécie de recibo, datado de 1915, chamado Livro de Fábrica de São Jerônimo, com o detalhamento de uma “encarnação” da imagem que custou quinhentos mil réis à época.