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Foto: Melyna Valle/Unsplash

O audiovisual está expandindo e se mostra cada vez mais relevante para diversas áreas de atuação. Aliado a isso, está a criação de novos ambientes tecnológicos focados nos processos de produção e circulação, especialmente a partir dos anos 2010. O cinema, a televisão e o home vídeo adotaram padrões digitais universais, que proporcionaram uma nova etapa de desenvolvimento, inclusive com o surgimento das plataformas de streaming, como Netflix, Amazon Prime e Globoplay, entre outras. 

O coordenador do Laboratório de Pesquisas Audiovisuais (LaPav), professor e pesquisador do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Escola de Comunicação, Artes e Design João Guilherme Barone dedica sua trajetória acadêmica a estudos sobre as interseções tecnológicas, econômicas e sociais no cinema e mercado audiovisual. De acordo com ele, o audiovisual está no centro da vida social contemporânea, em função da sua força econômica e impulsionado pelos avanços tecnológicos.  

O docente explica que é fundamental que haja um olhar voltado também para os indicadores econômicos. Isso porque o cinema vem registrando um impacto econômico global acima dos 400 bilhões de dólares anuais. No Brasil, a partir de 2016, o audiovisual passou a registrar um movimento anual da ordem de 24 bilhões de reais. No entanto, para o pesquisador, essa nova fase do audiovisual sofreu grande impacto na virada para o ano de 2020, em função da pandemia de Covid-19.  

“O impacto inicial acarretou a paralização das atividades de produção, a interrupção de filmagens de todos os tipos, fechamento das salas de cinema, assim como todos os espetáculos públicos foram interrompidos. Houve impacto também no segmento de televisão, com a interrupção de gravações de novelas, séries, programas de auditório e até a produção jornalística foi reduzida e alterada por razões sanitárias. Este efeito global foi devastador, atingindo milhares de empresas e a geração de milhões de postos de trabalho”, explica.  

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Professor Guilherme Barone / Foto: Camila Cunha

A relevância da Indústria Audiovisual 

A indústria audiovisual acompanha o processo de retomada do presencial, iniciado em 2021, em decorrência da vacinação. Para Barone, esse retorno permite novas perspectivas para que o mercado alcance supere os índices registrados pouco antes da pandemia, em 2019, já que o setor tem capacidade de rápida recuperação, graças aos novos ambientes tecnológicos. 

Essa tendência de crescimento exponencial é confirmada por estudos sobre a indústria audiovisual, divulgados em 2021, pela Latin American Training Center (LATC), realizado pela consultoria Olsberg SPI, pela Media Business Insight e pelo Netflix, como pesquisa independente e com apoio da Associação Internacional de Film Comissions. Nesse estudo foi adotado um novo recorte sobre o desempenho do segmento denominado produção global para telas, contemplando somente a produção de filmes de longa-metragem e seriados para televisão, inclusive via streaming, não incluindo, portanto, notícias, esportes e filmes publicitários. 

O professor explica que esta metodologia permitiu alcançar indicadores inéditos sobre a performance e as dinâmicas desse tipo de produção, que funciona como o eixo central da indústria. Sobre o impacto da pandemia neste segmento, a pesquisa constatou uma perda de 10 milhões de empregos regulares na cadeia produtiva e uma redução de 145 bilhões de dólares de impacto econômico, durante os primeiros seis meses de 2020. 

Além disso, Barone destaca a alta relevância desse estudo, ao identificar a força deste segmento como “um poderoso instrumento de recuperação econômica em diferentes territórios e vem sendo reconhecido por diversos governos que adotam políticas públicas neste sentido”. Para o docente, tal constatação está ancorada nos dados que demonstram a capacidade do setor de injetar somas consideráveis de recursos nas economias locais, em um curto espaço de tempo, em decorrência dos gastos de produção. 

Em 2019, este segmento investiu 177 bilhões de dólares em escala global, somente na produção de filmes e séries, gerando 14 milhões de postos de trabalho regulares. O impacto econômico global do segmento alcançou a marca de 414 bilhões de dólares. Foi possível mensurar o gasto mensal de uma produção de grande orçamento ao longo de 16 semanas de filmagens, chegando à média semanal de 10 milhões de dólares.  

Outro dado que o pesquisador considera importante é que 67% de todos os gastos de filmagem são direcionados a outros segmentos econômicos, como transporte, alimentação, vestuário, hospedagem, telecomunicações, entre outros. Há também a constatação de que durante os dois anos de pandemia, houve um aumento exponencial do consumo audiovisual de filmes e séries, através das plataformas de streaming. 

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Foto: Vanilla Bear Films/Unsplash

Panorama no Brasil e no mundo 

Ao longo de 2021, um mapeamento preliminar indica diversas iniciativas governamentais na América Latina e Europa, voltadas para o fortalecimento da indústria audiovisual, neste cenário de pós-pandemia. Barone aponta iniciativas na Argentina e Colômbia, mas especialmente na Itália e Espanha e analisa a situação no Brasil.  

O governo italiano, por exemplo, anunciou investimentos de milhões de euros na revitalização dos estúdios da Cinecittá, infraestrutura localizada em Roma, construída na década de 1930. Um projeto que prevê a atualização tecnológica da infraestrutura de produção e a construção de mais 20 estúdios de filmagens.  

No caso do governo espanhol, foi lançado um projeto de construção de um parque tecnológico dedicado a produção audiovisual, com investimentos de centenas de milhares de euros e a construção de dezenas de novos estúdios, reconhecendo a produção de filmes e séries como um novo vetor para o desenvolvimento. 

Já no Brasil, há sinais de uma dupla retomada em andamento. O docente conta que o setor sofreu uma crise em 2018 com a paralização do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) sob gestão da Agência Nacional do Cinema, também paralisada. A crise foi agravada em 2019, com políticas de desmonte para o setor cultural, adotadas pelo Governo Federal e, em 2020, com os efeitos da pandemia. Apesar deste cenário, cabe destacar a iniciativa da PUCRS que em 2019 concluiu a implantação do Centro de Produção Audiovisual, o Tecnopuc-Tecna, uma infraestrutura completa de produção e pós-produção de alta tecnologia, disponibilizada ao mercado.  

O pesquisador destaca que os efeitos negativos da pandemia atingiram diretamente os cerca de 300 mil postos de trabalho regulares do setor. Já no circuito exibidor, outro indicador importante da vitalidade da indústria, as estatísticas de acompanhamento do Portal Filme B indicam que em 2021 houve uma redução de 9% do parque exibidor nacional, com a extinção de 300 salas. De um total de 3.536 salas de cinema, em 2020, 300 não sobreviveram ao período de fechamento da pandemia. É um dado importante, entre as muitas assimetrias do mercado brasileiro, no qual, dos 5.570 municípios, apenas 450 contam com salas de cinema (8,8%). Enquanto os lançamentos nacionais em salas de cinema que alcançavam a marca de 100 filmes por ano também foram reduzidos.  

“Após a retomada das produções e a reabertura das salas de cinema, as perspectivas positivas vieram somente na virada para 2022, pelo anúncio da reabertura dos editais do FSA com cerca de 651,2 milhões de reais aprovados em novembro de 2021 destinados majoritariamente a produção e finalização de filmes e séries”, finaliza Barone

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