Busca por roupas mais confortáveis, aumento das compras online e valorização de produtores locais. Esses são alguns dos impactos que a pandemia da Covid-19 e o consequente distanciamento social tiveram no consumo de moda, principalmente entre os jovens. Conforme a pesquisa Moda e pandemia, realizada por estudantes da Escola de Comunicação, Artes e Design da PUCRS – Famecos, os hábitos de consumo vêm passando por mudanças neste período, fazendo com que as marcas também se reinventem para sobreviver no mercado.
O estudo teve como foco jovens de 18 a 34 anos de Porto Alegre, com o objetivo de entender os hábitos de consumo desse público no momento que estamos vivendo. Orientados pelo professor Ilton Teitelbaum, os alunos e alunas ainda buscaram identificar tendências para o período que virá após o isolamento.
Alguns dos resultados da pesquisa mostram que a forma de comprar mudou durante a pandemia, com o crescimento das vendas online e queda no consumo offline. Por esse motivo, uma das possibilidades de recuperação dos negócios no pós-pandemia será o atendimento por aplicativos, como o próprio WhatsApp, além de provadores virtuais.
Teitelbaum acredita que o online veio para ficar e que é preciso aceitar que não há mais fronteira que o separe do offline:
“O virtual faz parte do mundo real e vice-versa. Para as marcas, a adaptação terá que passar por entender que isso não tem volta. Faz parte do presente e fará parte do futuro”.
A busca por peças de roupas mais confortáveis também está entre os impactos da pandemia na moda. O fato de muitas pessoas passarem a trabalhar e estudar de casa incentiva que elas queiram se sentir mais à vontade. Ao mesmo tempo, isso não anula o desejo de se vestir bem. Além do conforto, os consumidores buscam peças estilosas com as quais se identificam – principalmente para vestirem da cintura para cima, parte do corpo que acaba ficando em evidência nas frequentes videochamadas de estudo, trabalho ou mesmo com familiares e amigos.
Em relação às marcas, muitas precisaram mudar sua forma de atendimento para driblar as dificuldades impostas pela pandemia. Com isso, a conexão com o público tornou a comunicação mais humanizada.
Em relação à valorização dos produtos locais, Teitelbaum considera uma questão complexa. Apesar de as compras de estabelecimentos regionais terem crescido, as soluções globalizadas e baratas, como o fast fashion, seguirão fortes – principalmente em um contexto de pessoas com finanças abaladas. “A oportunidade está em nichos, focados em pessoas que aceitam pagar um pouco mais por algo que lhes pareça especial, com um propósito, seja por ser customizado, seja por ser orgânico ou vegano, por exemplo”.
A pesquisa Moda e pandemia ainda comparou as percepções de comportamento entre as gerações Y (nascidos entre os anos 1980 e meados de 1990, também conhecidos como millenials) e Z (nascidos após esse período, até o início dos anos 2000). Segundo o estudo, enquanto os primeiros são mais conectados com o status conferidos pelas peças de roupa, os jovens da geração Z estão se tornando mais conscientes em relação à moda, o que também impacta no mercado.
A geração Z tende a querer expressar seus posicionamentos pessoais no vestuário. Por buscar um consumo com propósito, acaba abrindo espaço no guarda-roupa para marcas com mais responsabilidade ambiental e social.
Algumas mudanças de hábito no consumo de moda devem permanecer mesmo após o fim da pandemia. O conforto que uma roupa proporciona, por exemplo, é algo com grandes chances de continuar sendo uma prioridade na hora de escolher uma peça.
A busca por marcas com propósito também deve aumentar. “Vai crescer o consumo de marcas com propósito, que defendam causas não apenas na comunicação, mas em seu dia a dia. O espaço para a hipocrisia ou para mensagens vazias tende a se reduzir e, talvez, acabar”, aposta o professor.
Comprar online é uma tendência que provavelmente será mantida pelos consumidores. Fatores como a facilidade de encontrar tudo o que se procura pela internet e o prazer em receber os produtos na porta de casa são decisivos para o aumento dessa modalidade de compra.
O estudo Moda e pandemia contou com pesquisa de dados, pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa com mais de 200 respostas.
A partir da pesquisa de dados, foi possível compreender as principais diferenças entre os jovens das gerações Y e Z, além de identificar três perfis de consumidores: consciente pragmático, que busca uma vida estável; conectado, que passa a maior parte do tempo na internet; e equilibrista, que busca fazer escolhas inteligentes para fazer tudo o que quer.
A pesquisa qualitativa foi realizada com nove pessoas, sendo quatro especialistas (designer de moda, economista, psicólogo e professor) e cinco consumidores. Em relação à etapa quantitativa, realizada entre os dias 15 e 23 de novembro de 2020, o perfil dos consumidores foi majoritariamente jovens mulheres de 18 a 24 anos de Porto Alegre com renda de até R$ 5.525.
Coordenado pelo professor Ilton Teitelbaum, o estudo foi realizado pelos estudantes Amanda Arrage, Douglas Rosa, Emily Müller, Ketlen Hoenes, Júlia Fay, Rachel Fernandes e Natália Pompeu. O relatório da pesquisa pode ser conferido neste link.