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Foto: Bruno Todeschini

Como o jovem porto-alegrense percebe a globalização no seu dia a dia? Para responder a esta pergunta, alunos do curso de Publicidade e Propaganda, da Escola de Comunicação, Artes e Design da PUCRS entrevistaram mais de 200 jovens de 18 a 32 anos. “Nós queríamos saber como a globalização afeta a vida desse jovem, como ele organiza esse processo, trazendo possibilidades de análise de suas ações frente à sociedade, tanto em nível municipal como global”, afirma o coordenador da pesquisa, professor Ilton Teitelbaum. Fizeram parte da pesquisa os alunos Daniel Gontijo, Guilherme Radaelli, José Roberto Viegas, Luise Schunemann, Mariana Sotilli, Murilo da Rosa e Renata Bernardes.

Os resultados mostram que este público tem prioridades cada vez mais coletivas: “Eles têm expectativa de um futuro cada vez mais colaborativo, socialmente engajado e com maior conectividade, mais oportunidades, igualdade e acesso às informações”, aponta Teitelbaum. Prova disso é que 97% dos entrevistados falam inglês e todos (100%) já viajaram ou querem viajar para o exterior. Dos que já viajaram, 72% foram a turismo. Na hora de escolher o local, a maioria leva em conta as experiências de amigos ou da família. Itália, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Espanha são os destinos mais cobiçados pelos respondentes.

A pesquisa mostra, também, um aumento de 25% no número de estudantes que desejam cursar a graduação fora do País. A renda é fator decisivo: 90 % dos jovens da classe A já saíram do Brasil, e esse percentual chega a 72% na classe B. Em outras classes, o número cai para 50%. “Viajar é um ‘must’ desta geração, mas começa a ter muita força o viajar para estudar fora, até mesmo para fazer a graduação” afirma o professor.

Vínculo com a família é fator decisivo para retorno

O vínculo com a família ainda é o principal motivo para que esses jovens não queiram sair em definitivo do Brasil, o que faz com eles acreditem que a estadia ideal no exterior dure até um ano. O retorno ocorre após adquirirem mais experiência ou segurança, seja financeira, profissional ou familiar.

Motivos para a saída permanente do País

Quando o assunto é a saída definitiva do Brasil, a busca por oportunidades profissionais e a situação política são as principais causas apontadas. As motivações políticas também levam a 73% dos respondentes LGBTQI+ desejarem ir para o exterior.

Jovens no Campus, imagem desfocada

Foto: Camila Cunha – Ascom/PUCRS

O interesse do jovem na política foi um dos temas abordados durante a pesquisa O Jovem Brasileiro e o Futuro do País, realizada pelo Núcleo de Tendências e Pesquisa da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS (Famecos). Entre os entrevistados de 18 a 34 anos, 47,4% têm política como interesse na hora da busca de informação e 70,24% procuram se informar diariamente. A faixa de 25 a 34 anos está mais interessada em conteúdos voltados ao assunto. O material é mais uma edição do Projeto 18/34, conduzido por alunos atuantes no núcleo do Espaço Experiência. Para o coordenador do projeto, professor Ilton Teitelbaum, esse despertar para a política pode ser justificado tanto pela crise política quanto pela econômica, que afeta 73,77% dos respondentes. “2013 foi um ano muito importante nesse sentido, que acabou desencadeando, junto com todo o contexto de crise e de uma sociedade muito digitalizada, quase que uma necessidade de se manter por dentro do assunto”, acredita Teitelbaum.

Mais de 60% dos entrevistados disse estar engajado ou já ter se engajado em causas sociais, mas 85,82% acreditam que os outros falam mais do que fazem ao usar o engajamento como forma de autopromoção. Para construir sua posição política, por mais que se informe diariamente através de meios digitais, como redes sociais (84,5%) e sites e blogs Informativos (82,8%), eles levam em conta principalmente sua experiência de vida (70,22%) na hora da decisão. A tendência à esquerda política soma 46,59% da amostra, enquanto a preferência pela direita chega a 15,76%. O coordenador do projeto identificou maior envolvimento virtual com as causas, do que nas ruas.

Quando indagados sobre a solução dos problemas do Brasil, 52,71% dos participantes da pesquisa acreditam que a responsabilidade é da população. Por outro lado, apesar de acreditar na construção de um futuro de forma coletiva, o jovem demonstra confiar apenas em si. “Isso talvez seja uma das grandes dificuldades que estamos vivendo, a falta de confiança no outro. Só há um caminho para ir para frente: as pessoas mais jovens escutarem as mais velhas e as mais velhas escutarem as mais jovens, e quem defende um lado aprenda a ouvir o outro”, disse Teitelbaum.

Ao mesmo tempo que o público participante se mostrou preocupado com as questões políticas, o estudo revelou que há pouco orgulho desse grupo pelo País. Dessa forma, 36,55% não se veem no Brasil daqui a 10 anos. O grupo responsável pela pesquisa, formado por sete alunos de Publicidade e Propaganda e um de Relações Públicas, acredita que um dos motivos para esse alto índice é o atual momento do País, visto que 79,41% dos jovens consideram-no razoavelmente ou totalmente negativo. No entanto, fatores básicos como sistema de educação (61,12%), segurança (48,18%) e sistema de saúde (36,06%) foram considerados deficientes. “O jovem se orgulha muito do brasileiro, mas as questões de estruturas básicas e o sistema político são muito criticados”. Ainda para os próximos 10 anos, segundo os resultados, o jovem busca estabilidade (83,53%), espera estar empregado (63,18%) e em um compromisso/relacionamento (85,35%). Porém, o empreendedorismo está muito presente, não apenas para abertura de um negócio próprio, mas também como atitude em uma estrutura empresarial já consolidada. Pouco mais de 48% se veem empreendendo e 88% poupando, possíveis sinais de aprendizado com a crise econômica. O que surpreende é a parcela de entrevistados que não desejam ter filhos (49,76%).

 

Quem é esse jovem?

A pesquisa teve início em dezembro de 2015 com a busca de dados disponíveis e a Etapa Qualitativa. Sua etapa final e quantitativa foi realizada durante o primeiro semestre de 2016, quando 1,7 mil pessoas de todas as regiões brasileiras, com idade entre 18 a 34 anos, responderam aos questionamentos. Cerca de 25% dos jovens entrevistados se declararam como os primeiros universitários da família. O item Sexualidade traz mais uma quebra da visão tradicional, pois há um indício de liberdade sexual na parcela de 9,35% dos jovens que se declaram Bissexuais e nos 2,41% que revelam não ter interesse por gênero algum. Mais de 23% declararam ter fé, mas não acreditam em nenhuma instituição religiosa.

Captura de tela do Fantástico de 2/10/2016 - Ilton TeitelbaumClique aqui para ver a matéria veiculada no Fantástico em 2 de outubro