O professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e dos programas de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde, Psicologia e Sociologia e Ciência Política, Angelo Brandelli Costa, coordenou a pesquisa Insights, experiências e perspectivas sobre o diagnóstico rápido de tuberculose, histoplasmose e criptococose em pessoas com doença avançada pelo HIV em Porto Alegre. O trabalho, desenvolvido em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) da Organização Mundial da Saúde (OMS) e alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado da PUCRS, teve o objetivo compreender a viabilidade da implementação de um pacote para o diagnóstico rápido de infecções oportunistas,
Em Porto Alegre, o estudo aconteceu em quatro locais: Grupo Hospitalar Conceição, Santa Casa de Misericórdia, Hospital de Clínicas e Associação Hospitalar Vila Nova. Além da PUCRS, a pesquisa acontece em parceria com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Nesse processo, focou-se em coletar as percepções e vivências de profissionais e gestores da área da saúde por meio de grupos focais e entrevistas em profundidade com usuários que vivem com HIV. Estas entrevistas, como também a elaboração das estratégias de pesquisa, foram concebidas pelos alunos da PUCRS.
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Para Angelo, este estudo tem um grande valor, por reforçar a parceria entre academia, sociedade civil, serviços de saúde e organizações unilaterais.
“A união de diferentes atores foi fundamental para a estruturação e o sucesso da resposta da política de HIV/Aids no Brasil. Ainda, esses resultados foram apresentados em seminário envolvendo hospitais, universidades e gestão municipal/estadual, além de reunião técnica com a gestão federal”, destaca o professor.
Os resultados do estudo destacam a necessidade da colaboração interdisciplinar entre profissionais de saúde, gestores e pacientes para a implementação efetiva de políticas de atenção ao HIV/Aids. A análise dos dados coletados ressalta a relevância da velocidade no diagnóstico, bem como a necessidade de estratégias de educação em saúde para informar os pacientes sobre os benefícios da testagem e de cuidados necessários.
Nesse sentido, a educação desempenha um papel fundamental ao estabelecer uma ponte para mitigar novas contaminações, ao mesmo tempo, em que promove conscientização e molda um novo panorama na saúde pública, integrando assim a prevenção e o tratamento.
A pesquisa evidencia que a velocidade do diagnóstico é um fator crítico não apenas para o início imediato do tratamento, mas também para a sobrevivência em casos de exposição a infecções oportunistas. Todavia, o acesso ao diagnóstico rápido enfrenta desafios diversos, incluindo questões relacionadas à disponibilidade de insumos e recursos humanos.
Além disso, o estudo identifica que a falta de compreensão sobre a importância da testagem e do tratamento, tanto por parte dos pacientes quanto dos profissionais de saúde, constitui um obstáculo que precisa ser abordado de forma abrangente para garantir resultados positivos no controle do HIV e das infecções oportunistas correlacionadas.
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Com o objetivo de acolher as pessoas que convivem diariamente com o HIV e ampliar a conscientização sobre o tema, é celebrado, nesta quinta-feira, o Dia Mundial de Combate à AIDS. De acordo com Diego Falci, coordenador médico do Serviço de Controle de Infecção do Hospital São Lucas da PUCRS, é fundamental que a população fique atenta ao avanço da doença no Brasil, conforme os dados divulgados no Boletim Epidemiológico sobre HIV/AIDS de 2022, levantamento realizado pelo Ministério da Saúde.
Um dado da pesquisa destacado pelo infectologista e professor da Escola de Medicina aponta que Porto Alegre é a capital brasileira com o maior coeficiente de mortalidade, apresentando cinco vezes mais mortes por complicações da AIDS/HIV que o restante do País (em movimento de declínio). Além disso, a infecção por HIV, especialmente em gestantes, parturientes e puérperas, expõe uma taxa quase seis vezes maior do que a taxa nacional e duas vezes a do estado do Rio Grande do Sul. Assim, além de lembrar as mais de 40 milhões de vidas perdidas por doenças relacionadas à AIDS, de acordo com a UNAIDS, a data vem acompanhada deste balanço da AIDS, trazendo medidas de prevenção e tratamento a fim de acabar com a epidemia do HIV.
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Uma pessoa pode se expor de duas maneiras: ou um acidente ocupacional com material cortante, por exemplo, entrando em contato com o sangue de alguém que vive com o HIV, ou por exposição sexual (sexo sem o uso adequado de preservativo), além do sexo seguro ser incentivado em todas as campanhas como medida de prevenção, desde a instituição do Dia Mundial de Combate à AIDS, em 1988, a ciência evoluiu e traz novas formas de precaução. As mais atuais, segundo o médico, são as Profilaxias de Pré e de Pós-Exposição (PREP e PEP, respectivamente).
“Pessoas com maior risco e maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV podem fazer uso de medicação utilizada preventivamente de forma a diminuir a chance da infecção pelo HIV. O uso correto da PREP e PEP pode diminuir em mais de 80% o risco de infecção por HIV. Essa é uma medida importante que está sendo disponibilizada pelo Ministério da Saúde, após o atendimento de outros serviços de saúde públicos e privados para implementar essa medida de prevenção”, explica o infectologista.
Atualmente, mulheres com HIV têm condições de engravidar e ter bebês com segurança, pois com os tratamentos existentes é possível reduzir a zero a transmissão vertical através do tratamento da mãe e também da profilaxia do bebê. “A gente pode oferecer medicamentos para o bebê por um período curto, a ponto que, mesmo que eventualmente ele apresente um exame positivo, ele possa negativar esse exame de forma prática e não contrair infecção pelo HIV. Isso é possível com a tecnologia que nós temos hoje disponível”, destaca.
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Observando que ainda existe um tabu a respeito do tema, resultando na confusão entre os termos, Diego Falci explica que o HIV é um vírus que se espalha através de fluídos corporais e afeta células específicas do sistema imunológico. Quando a pessoa desenvolve infecções oportunistas ou que eventualmente a imunidade dela tenha caído a níveis muito baixos, a gente caracteriza a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ou AIDS. Somente a partir dessa situação é possível dizer que a pessoa apresenta um quadro de AIDS – mas ela não deixa de ser uma pessoa vivendo com HIV, ela simplesmente apresentou aquele quadro compatível com AIDS.
Depois de dedicar sua vida acadêmica a compreender o papel das redes de apoio para pessoas soropositivas, o professor e pesquisador da Escola de Humanidades da PUCRS, Francisco Kern, reflete sobre como a pandemia por Covid-19 colocou a sociedade em estado de alerta sobre “o inimigo invisível” – enxergar o outro como ameaça, já que não se pode enxergar o vírus.
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“Eu fiz uma pesquisa com mulheres soropositivas da forma como elas aderem o tratamento antirretroviral, em 2018, no presídio estadual de Guaíba. Lembro que todas elas eram apenadas por tráfico de drogas e uma delas, com quase 70 anos, dizia assim para mim: ‘Professor, a AIDS me condena mais do que o tráfico de drogas.’ O que isso significa? O preconceito continua. Nós continuamos vivendo o processo de discriminação principalmente quando o outro se torna uma ameaça para mim. Se você tem qualquer outra doença que não seja transmissível, você não é uma ameaça para mim”.
O docente explica que as pessoas que vivem com HIV/AIDS experimentam a invisibilidade da condição humana, onde elas não são enxergadas, não aparecem e não podem aparecer. Francisco reflete que é necessário tirar o foco da doença enquanto discriminação social, no sentido de que é preciso pensar em políticas públicas que garantam o acesso a cuidados, tratamento, vacinação, prevenção, entre outros, mas também assimilar o aprendizado de que o cuidado consigo mesmo e o outro é uma responsabilidade coletiva.
“Do ponto de vista conceitual, de modificação, a gente diz que essa pessoa tem AIDS e não é algo relacionado à condição atual daquela pessoa, mas uma classificação. Mas sim, ela pode sair da infecção e ela pode melhorar o seu sistema imunológico, ela pode recuperar o seu status imunológico. E isso a gente faz através do tratamento, o tratamento suprime o vírus e o sistema imunológico da pessoa vai se recuperando a ponto de ela se distanciar daqueles níveis compatíveis com AIDS, ela consegue melhorar as contagens dos linfócitos a ponto de elas ficarem normais”, conclui o infectologista
Assista a entrevista com o infectologista do Hospital São Lucas da PUCRS, Dr. Diego Falci:
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O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH ou HIV, do inglês Human Immunodeficiency Virus) causa a deterioração progressiva do sistema imunológico, que propicia o desenvolvimento de infecções potencialmente mortais, se não tratadas. Dentre as principais vias de transmissão estão as relações sexuais desprotegidas, a partilha de seringas contaminadas, e a transmissão entre mãe e filho durante a gravidez ou amamentação.
Por definição da UNAIDS, devido aos contextos de vulnerabilidade, o HIV afeta desproporcionalmente pessoas que usam drogas injetáveis, transgênero, profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e pessoas encarceradas. Reconhecidos como populações-chave, esses grupos representam globalmente 65% dos casos da infecção pelo HIV.
A política de Aconselhamento e Testagem Voluntária de HIV (ATV-HIV ou VCT-HIV em inglês) teve início no mundo em 1985, nos Estados Unidos, com a disponibilização da testagem gratuita fora dos bancos de sangue. Porém, em 1990, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, aconselhou o desuso do Aconselhamento e Testagem Voluntária de HIV (ATV-HIV). De acordo com Ângelo Brandelli, pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, esta decisão foi realizada sem considerar as particularidades e necessidades dos grupos mais afetados pelo HIV.
O professor coordena o Grupo de Pesquisa Preconceito, Vulnerabilidade e Processos Psicossociais (PVPP/PUCRS), responsável por desenvolver diversos estudos sobre HIV/Aids. Mais recentemente, o grupo teve a pesquisa intitulada Eficácia do Aconselhamento e Teste Voluntário de HIV (ATV-HIV) para redução de risco sexual entre populações-chave: uma revisão sistemática e meta-análise publicada na revista científica sobre medicina, The Lancet, do Reino Unido. Seus resultados propõem uma modificação em políticas internacionais em saúde ao comprovar a importância do ATV-HIV para reduzir comportamentos de risco de HIV entre populações-chave.
De acordo com o estudo desenvolvido pelos pesquisadores Lucas Viscardi, Marina Feijó e Anna Martha Fontanari, dos Programas de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde e Psicologia, o Aconselhamento e Testagem Voluntária de HIV (ATV-HIV) fornece aconselhamento antes e depois do teste, com o objetivo de promover estratégias de redução de risco, promover apoio e garantir a vinculação aos cuidados. A fase de pré-teste consiste em descrever brevemente os benefícios do teste, o significado dos resultados e as possibilidades em caso de diagnóstico de HIV positivo.
Já na etapa pós-teste, o aconselhamento varia de acordo com o resultado. Aqueles casos que avaliaram HIV positivo, o pós-teste inclui explicar os resultados, ensinar sobre prevenção do HIV, fornecer preservativos e demais ações que fornecem suporte após um evento de mudança de vida daquela pessoa. O profissional de saúde então deve assegurar o encaminhamento para cuidados especializados e encorajar o teste de HIV dos parceiros sexuais. Desta forma, a pesquisa avaliou a eficácia de estudos de intervenção sobre o ATV-HIV para redução de risco sexual entre as populações-chave.
O estudo aponta que o ATV-HIV é uma ferramenta eficaz para reduzir comportamentos de risco de HIV entre populações-chave, especificamente entre pessoas que usam drogas e homens que fazem sexo com homens. Foi identificado que a exposição ao aconselhamento diminuiu a frequência de relações sexuais desprotegidas e aumentou a frequência do uso de preservativo exclusivamente entre participantes HIV-positivos e casais sorodiscordantes, além de reduzir a incidência de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) entre os participantes HIV-negativos e não testados. Além disso, destacou-se a importância de aplicar uma diretriz clara do ATV-HIV, bem como realizar o treinamento adequado dos aconselhadores.
A atuação do PVPP/PUCRS ganhou destaque internacional em temas sobre a psicologia do preconceito, os modelos da cognição social e do minority stress, e sua relação com processos psicossociais como educação e saúde. Além disso, o grupo produz e avalia intervenções para a mudança de atitudes como a redução do preconceito e acesso à saúde. Outro escopo, seus estudos se concentram em entender de que forma a discriminação afeta os processos de saúde e adoecimento, especialmente saúde mental e infecções sexualmente transmissíveis.
As linhas de pesquisa e intervenção são: estudos sobre populações em vulnerabilidade considerando diversos marcadores como gênero, identidade de gênero, orientação sexual, raça/cor/etnia, status migratório, classe social, entre outros; avaliação do preconceito e da discriminação; desenvolvimento de instrumentos; revisões sistemáticas; estudos epistemológicos e históricos; e emprego de técnicas experimentais em psicologia social e saúde, com o uso de vinhetas. Saiba mais sobre as iniciativas de pesquisa do grupo.
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A análise em profundidade do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids da cidade de São Paulo (SP) trouxe dados alarmantes em relação à forma que essa população se sente e é tratada nos sistemas de saúde. Entre os dados divulgados pela pesquisa – promovida pelo Programa das Nações Unidas para o HIV e a Aids (UNAIDS), pela Gestos -Soropositividade, Comunicação e Gênero e pela PUCRS, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – se destacam o alto percentual de pessoas que vivem com HIV que confirmaram ter recebido diagnóstico de problemas de saúde mental (58,4%) e dificuldade em contar às pessoas sobre seu diagnóstico (80,7%).
A forma de discriminação mais experienciada pelos participantes da pesquisa em São Paulo foi saber de outras pessoas que não são membros da família fazendo comentários discriminatórios ou fofocando porque se é soropositiva(o) para o HIV (43,2%). Mesmo entre membros da família, essa forma de discriminação foi bastante relatada (41,6%), não ficando restrita a fofocas ou comentários discriminatórios, pois também foram relatados assédios verbais (27,4%), agressões físicas (7,7%) e até mesmo perda de fonte de renda ou emprego por ser soropositivo para o HIV (16,6%).
Os serviços de saúde são essenciais para que as pessoas que vivem com HIV e Aids tenham acesso a seus medicamentos e possam buscar supressão da carga viral e qualidade de vida. Para que esse serviço de saúde atenda a pessoa que vive com HIV ou vive com AIDS é necessário que o sistema esteja preparado para receber essa pessoa desde o momento de prevenção e diagnóstico até o momento de tratamento, acolhendo a população e principalmente fornecendo um serviço que seja Zero Discriminação.
Outro dado que merece uma atenção especial é o percentual de pessoas entrevistadas que relataram o diagnóstico de outros problemas de saúde. 58,4% relataram problemas de saúde mental, além de infecções sexualmente transmissíveis (21,6%), Hepatite (6,2%) e Tuberculose (5,9%).
“Acreditamos que esses dados podem aclarar ainda mais o caminho de luta pelos direitos das pessoas vivendo com HIV contra todo o tipo de discriminação e estigma. Que as pessoas que vivem com HIV e AIDS tenham suas vozes ouvidas”, afirmou Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS.
“É mais um acesso de total protagonismo, onde conseguimos chegar até a ponta e ter informações que a população necessita. Esses dados vêm para fortalecer”, destacou Fernanda Falcão, da Rede Nacional de Mulheres Travestis e Transexuais e Homens Trans Vivendo e convivendo com HIV.
Para Jô Meneses, coordenadora de Programas Institucionais da Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, os seminários são importantes por levarem as informações sobre estigma e preconceito para as cidades onde a pesquisa foi realizada. “Os seminários possibilitam um diálogo sobre os dados do Índice de Estigma e podem dar visibilidade a essas informações com um recorte local. O mais importante é que estão sendo pensadas formas para enfrentar o estigma e o preconceito em cada contexto e em cada território onde a pesquisa foi realizada”.
“Vamos lançar relatórios de analises por população chave, que são pessoas mais vulneráveis ao HIV” projetou o pesquisador responsável e professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS, Angelo Brandelli. Pela Universidade, também participaram do estudo alunos do mestrado e do doutorado do curso de Psicologia: Betinha Aymone, Damião Soares de Almeida, Felipe Vilanova de Gois Andrade, Fernando Martins de Azevedo, Leonardo dos Santos, Letícia Pessoa da Silva e Marina Feijó.
Os dados completos da análise em profundidade de São Paulo encontram-se neste link.
Confira outras informações sobre os seminários locais do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids.
A divulgação dos dados regionais do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids está sendo feita através de seminários online para as sete capitais brasileiras onde a pesquisa foi realizada. O levantamento, feito pela primeira vez no Brasil, é um espelho do que acontece na vida das pessoas vivendo com HIV e Aids mesmo depois de 40 anos do início da epidemia e mostra como essa população ainda é discriminada e sofre com o preconceito e a desinformação.
Os seminários são direcionados para movimentos sociais e pessoas que atuam em defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV e Aids; para profissionais de saúde; para parlamentares e profissionais que trabalham nos Poderes Legislativo e Judiciário. A série de eventos começou em Manaus, em 3 de novembro, em São Paulo, no dia 6 de novembro, e segue até dezembro nas demais cinco capitais onde a pesquisa foi realizada:
Os eventos acontecerão sempre das 14h às 17h (horário local), através da Plataforma Zoom. Para participar é preciso fazer a inscrição através do link. São 50 vagas por seminário.
Pela primeira vez no Brasil foi realizada uma pesquisa que analisa dados de discriminação e seus danos, para os portadores de HIV e AIDS no país. O estudo foi feito com 1.784 pessoas, em sete capitais brasileiras – Manaus, Brasília, Porto Alegre, Salvador, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro – entre abril e agosto de 2019. A PUCRS, uma das parceiras da pesquisa, foi representada pelo professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e coordenador do Grupo de Pesquisa Preconceito, Vulnerabilidade e Processos Psicossociais da Universidade, Angelo Brandelli, responsável pela pesquisa. “O Brasil está em patamar similar ao dos países da África, onde não existe histórico tão grande de mobilização social e luta por direitos humanos em relação ao HIV/Aids como existiu aqui”, alerta o professor. O relatório completo pode ser conferido neste link.
O Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/AIDS – Brasil analisou que 64,1% das pessoas entrevistadas já sofreram alguma forma de estigma ou discriminação pelo fato de viverem com HIV ou com AIDS. Comentários discriminatórios ou especulativos afetaram 46,3% delas, enquanto 41% do grupo diz ter sido alvo de comentários feitos por membros da própria família. O levantamento também evidencia que muitas destas pessoas já passaram por outras situações de discriminação, incluindo assédio verbal (25,3%), perda de fonte de renda ou emprego (19,6%) e até mesmo agressões físicas (6,0%).
Perfil dos participantes
Em sua maioria, as quase 1.800 pessoas que participaram do Índice de Estigma no Brasil são negras e vivem com HIV, em média, há dez anos. Dados recentes sobre a epidemia de HIV no Brasil, divulgados pelo Ministério da Saúde no Boletim Epidemiológico HIV/AIDS 2019, mostram que o número de óbitos por causas relacionadas à AIDS cresceu 22,5% entre a população negra na última década enquanto, entre a população branca, a tendência é inversa: queda de 22,2%. Considerada a proporção de pessoas negras respondentes nesta pesquisa do Índice de Estigma, este estudo surge como uma importante fonte de referência para a análise de possíveis causas sociais subjacentes para estas tendências verificadas no país.
Outro dado que se destaca do estudo é que mais de 30% dos participantes declararam estar desempregados no momento da pesquisa e quase metade enfrentaram, nos últimos 12 meses, dificuldades momentâneas ou frequentes para atender às suas necessidades básicas de alimentação, moradia ou vestuário.
Revelação do diagnóstico e discriminação
Para 81% das pessoas entrevistadas ainda é muito difícil revelar que vivem com HIV. Em geral, as pessoas responderam que não têm boas experiências ao revelar sua condição positiva para o HIV a quem não é próximo. Vizinhos e vizinhas foram as pessoas que, com mais frequência (24,6%), souberam dessa condição sem o consentimento das pessoas vivendo com HIV. Cenário semelhante foi relatado entre colegas de escola (18,2%), professores e demais profissionais do ambiente escolar (15,3%).
Muitas pessoas preferem falar abertamente sobre seu estado sorológico positivo para o HIV somente com parceiros e parceiras fixas (80,4%). Contudo, este dado revela também o outro lado da moeda: ainda hoje, quase 20% das pessoas que vivem com HIV ou que vivem com AIDS não conseguem revelar a parceiros e parceiras fixas a sua condição por medo do estigma e da discriminação.
As diversas formas de estigma e discriminação que afetam pessoas vivendo com HIV e vivendo com AIDS incluem, entre suas consequências mais frequentes, o assédio moral, a exclusão social, a agressão física e a perda do emprego—mesmo com o arcabouço legal já existente no país para proteger estas pessoas, reforçado pela lei 12.984/2014, que tornou crime punível com reclusão e multa atos de discriminação contra pessoas vivendo com HIV ou com AIDS.
O medo de sofrer discriminação e a culpa por estar vivendo com HIV ou vivendo com AIDS são sentimentos frequentes entre as pessoas que participaram desta pesquisa. Estes dados do estudo demonstram que viver com HIV produz percepções e sentimentos que não afetam apenas a relação com os outros, mas também consigo mesmo. Um(a) em cada 3 respondentes declararam ter vergonha de ser soropositivo(a) para o HIV e se sentirem culpados por sua condição de saúde.
Um dado bastante preocupante do estudo, é o de que quase metade dos respondentes (47,9%) declararam ter sido diagnosticados com algum problema de saúde mental nos últimos 12 meses.
Discriminação nos serviços de saúde
Na relação com os serviços de saúde, o estudo aponta que 15,3% das pessoas entrevistadas afirmaram ter sofrido algum tipo de discriminação por parte de profissionais da saúde pelo fato de viverem com HIV ou com AIDS, incluindo atitudes como o esquivamento do contato físico (6,8%) e a quebra de sigilo sem consentimento (5,8%). Estes dados contrastam com qualquer diretiva de atendimento humanizado preconizada no Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar de os relatos terem vindo de uma minoria participante do estudo, é importante ressaltar que os protocolos e as leis garantem que ninguém deveria passar por este tipo de constrangimento ou agressão.
A maior parte das pessoas (72%) indicou que sua testagem para o HIV aconteceu por vontade própria. Mas o estudo apontou que ainda há um contingente bastante significativo (24%) entre elas que afirmou não ter tido autonomia completa para tal. A questão da autonomia também pesa na área de exercício dos direitos sexuais e reprodutivos de pessoas vivendo com HIV ou vivendo com AIDS. O Índice de Estigma Brasil mostrou que houve clara violação destes direitos para 8,9% das pessoas por terem sido pressionadas a renunciar à maternidade ou à paternidade.
Considerando a diversidade das pessoas que vivem com HIV/AIDS e a sobreposição de outros importantes marcadores sociais que também são permeados por estigma e discriminação, o estudo apresenta dados sobre discriminação sofrida por motivo que não a sorologia positiva para o HIV. Foram compilados dados relacionados a orientação sexual, identidade de gênero, por ser profissional do sexo e por ser uma pessoa que usa drogas. O relatório aponta que todas as populações sofrem com elevados níveis de discriminação, sendo a população de trans e travestis a que apresentou os maiores números – 90,3% das pessoas trans e travestis relataram já ter sofrido pelo menos uma das situações de discriminação avaliadas no estudo.
Iniciado em 2008, o índice é uma iniciativa conjunta da Rede Global de Pessoas Vivendo com HIV (GNP+), Comunidade Internacional de Mulheres Vivendo com HIV/AIDS (ICW), Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS). Desde sua criação, em 2008, o estudo já foi aplicado em mais de 100 países ultrapassando a marca de 100 mil pessoas entrevistadas.
O professor Angelo Brandelli Costa, da Escola de Ciências da Saúde da PUCRS, foi nomeado rising star pela Association for Psychological Science. Ele é o primeiro representante de uma universidade latino-americana a receber o destaque. A distinção reconhece os pesquisadores de Psicologia no início de suas carreiras, cujo trabalho inovador traz avanços na área e sinaliza o potencial de contribuições futuras. Leva em conta ainda o trabalho com amplo impacto, publicações importantes, descobertas significativas, inovações metodológicas e contribuições teóricas ou empíricas.
Coordenador do Grupo de Pesquisa Preconceito, Vulnerabilidade e Processos Psicossociais, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS, Brandelli desenvolveu um dos instrumentos pioneiros para avaliar o preconceito contra a diversidade sexual e de gênero, adaptado ao contexto brasileiro, a partir de estudos empíricos sobre o tema. Além disso, inovou ao fazer uma pesquisa de grande escala para avaliar esse tipo de preconceito e ao construir uma intervenção validada no Brasil para reduzir o preconceito contra a diversidade sexual e de gênero entre os profissionais da saúde. Em relação às vítimas de discriminação, participou do primeiro projeto que procurou testar a aplicabilidade do modelo de estresse de minoria, ou seja, o impacto do preconceito na saúde mental das vítimas, em uma amostra não norte-americana. Em outros trabalhos, propôs a ideia de um biomarcador da discriminação diária ao qual populações de pessoas transexuais estão sujeitas.
O professor e seus alunos foram agraciados com vários outros prêmios por esses projetos. Brandelli atuou como consultor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) junto ao Ministério da Saúde na Cooperação Interfederativa para o HIV/Aids do Rio Grande do Sul. Assessorou ainda o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), dentro do Programa HIV e as Cidades, junto à Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre, e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no Programa de Prevenção à Violência, junto à Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul, coordenando a criação de Política Estadual de Saúde da População LGBT. Atualmente, trabalha para o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) na condução de uma pesquisa nacional sobre o estigma relacionado à soropositividade para o HIV.
No dia 11 de dezembro, ocorreu o primeiro ato oficial do Dezembro Vermelho no Rio Grande do Sul, mês em que devem passar a se destacar ações voltadas à prevenção do HIV/Aids e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). O painel, que ocorreu na Assembleia Legislativa do RS, teve como convidado o professor Angelo Brandelli, coordenador do Grupo de Pesquisa Preconceito, Vulnerabilidade e Processos Psicossociais da PUCRS. Além disso, reuniu representantes do Poder Legislativo do Estado, da Prefeitura de Porto Alegre e do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).
No encontro, foram abordados os desafios para enfrentar as contínuas mudanças na forma de contágio do HIV/Aids e outras DSTs e as estratégias com vistas a políticas de prevenção e tratamento. Para Brandelli houve um aparente sucesso no combate ao HIV/Aids devido alguns resultados obtidos por meio de tratamentos que permitem as pessoas conviverem com a doença. Ainda, segundo o professor, a epidemia poderia ser evitada se houvesse políticas públicas voltadas às pessoas infectadas.
Porto Alegre é a capital com mais notificações
Segundo o Ministério da Saúde, Porto Alegre é a capital com a taxa mais alta notificações de HIV/Aids do Brasil, de 74 casos a cada 100 mil habitantes. O Rio Grande do Sul possui índices mais altos no País. Houve um declínio de 11,2% entre 2006 e 2015, mas o Estado ainda tem a maior taxa de detecção de contaminação pelo vírus, com 34,7 casos a cada 100 mil habitantes. A nacional é de 19,1 casos a cada 100 mil habitantes.
Dezembro Vermelho
Sancionado no Estado, em agosto, por meio da lei 15023/2017, o Dezembro Vermelho visa envolver a sociedade civil em atividades que contribuam para a redução de casos, a conscientização sobre os meios capazes de evitar a contaminação, de como tratar os pacientes e ajudar a combater o preconceito.
A palestra Estigma Relacionado à Aids entre Gestantes Vivendo com HIV/Aids no Rio de Janeiro ocorre na PUCRS no dia 10 de janeiro. A conversa será ministrada pela chefe substituta do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, Simone Souza Monteiro. A atividade, que tem entrada franca e é aberta ao público, ocorrerá das 8h30min às 10h no auditório do 9º andar do prédio 11 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre).
Simone é graduada em Psicologia e mestre em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), doutora em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fiocruz, e tem pós-doutorado na Universidade de Columbia. Seus interesses de pesquisa e docência concentram-se nas áreas das ciências sociais e da saúde pública, com ênfase em pesquisa social sobre HIV/Aids, sexualidade e gênero. O evento é promovido pelo Núcleo de Estudos e Intervenção Psicossocial à Diversidade do curso de Psicologia da Escola de Humanidades da PUCRS, em parceria com o Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero da UFRGS.
Nesta quarta-feira, 7 de dezembro, ocorre o bate-papo Psicologia e HIV/Aids: Prevenção, Aconselhamento, Adesão ao Tratamento e Crítica. O evento é aberto ao público e terá como palestrante Veriano de Souza Terto Junior, que atua na coordenação de projetos da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia) desde 1989, tratando de temas como políticas públicas, direitos humanos, homossexualidade e sexualidade. Para participar, não é necessário realizar inscrição. A palestra acontece entre 10h e 11h30min no auditório do 9º andar do prédio 11 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre).
A atividade é promovida pelo Núcleo de Estudos e Intervenção Psicossocial à Diversidade (NEPSiD), do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Humanidades da PUCRS, e pelo Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero (Geerge), do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.