O mundo do trabalho vem passando por diversas transformações, especialmente nos últimos anos. Com o avanço da tecnologia, flexibilidade de horário e ambientes de trabalho mais humanizados, lideranças precisam acompanhar essas mudanças para se adaptarem aos novos tempos e reter talentos. Para colaboradores, ter uma boa liderança impacta diretamente na permanência da empresa. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), em 2022, quase a metade das demissões em 2022 foi voluntaria e entre os motivos para deixar a empresa aparecem baixa qualidade do clima organizacional, falta de um plano de carreira, entre outros.
Sendo assim, apenas ocupar um cargo de liderança não é o suficiente. É preciso que líderes estejam conectados com suas equipes, que muitas vezes são multidisciplinares, para que o desenvolvimento profissional de cada colaborador esteja alinhado com as expectativas de cargo. Mas o que significa ser uma boa liderança? Como líderes podem identificar pontos fortes em suas equipes? Quais ferramentas são necessárias para melhor lidar com times diversos? Conversamos com duas professoras da PUCRS para entender como boas habilidades de liderança podem tornar colaboradores mais produtivos.
Antes de tentar imitar modelos de liderança já estabelecidos, cada líder deve entender exatamente qual equipe está sob seu comando. Times multidisciplinares são caracterizadas por indivíduos com diferentes percepções, conforme a sua formação e experiências vivenciadas. Para a professora da Escola de Negócios da PUCRS Claudia Cristina Bitencourt, se por um lado as diferenças estimulam importantes aprendizados para os participantes, por outro podem gerar algumas dificuldades de comunicação e integração, justamente por trazerem outros pontos de vista.
“Cabe ao líder construir junto com a equipe um propósito comum, considerando essas diferenças para gerenciar possíveis conflitos e estimular a comunicação e aprendizado contínuo da equipe. Acredito que um dos principais desafios para os líderes é identificar o potencial de cada integrante da equipe para poder estimular o seu desenvolvimento e orquestrar a complementaridade entre as competências dos participantes dessa equipe. Nesse sentido, o feedback possui papel fundamental para estimular o desenvolvimento e reduzir a possibilidade de conflitos, integrando a equipe na busca de resultados cada vez mais efetivos, contando com o estímulo constante e valorização de cada participante.”
Para minimizar os desafios da liderança, é importante que líderes mantenham uma comunicação clara com seus liderados, de forma que seja possível se estabelecer um canal aberto de colaboração e confiança. A partir desta comunicação, a gestão dos conflitos também fica facilitada, sendo possível abordar as divergências de forma construtiva. A Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUCRS, Ana Clarissa Matte Zanardo dos Santos, explica que utilizar ferramentas para facilitar processos organizacionais podem ajudar lideranças na hora de coordenar tarefas, prazos e atribuições, permitindo uma visão mais sistêmica das atividades da equipe.
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“Estabelecer um canal de comunicação, sempre atentando para o volume de informações, dando a devida importância para aquilo que é compartilhado; pensar em reuniões rápidas de alinhamento para compartilhar informações e alinhar expectativas para um determinado período pode ser uma alternativa que ajuda no estabelecimento de rotinas. Pensando na capacitação da equipe, lideranças podem investir em treinamento e desenvolvimento a fim de aprimorar as habilidades dos liderados conforme as necessidades de cada um”.
Antes mesmo de entrar em uma empresa, colaboradores já tem o primeiro contato com sua futura liderança durante o processo seletivo. Durante a entrevista, candidatos buscam a segurança de saber que estão escolhendo um lugar que ofereça oportunidade de crescimento. A pesquisa da Marca Empregadora, divulgada em 2022, mostrou que para os brasileiros, crescer na carreira é mais importante do que salário, ou seja, a progressão de carreira aparece em primeiro lugar para que colaboradores aceitem uma proposta de emprego.
Um dos papéis da liderança é identificar pontos fortes e fracos dos seus liderados, e trabalhar suas habilidades individualmente para que os mesmos consigam se desenvolver. Seja se informando das últimas notícias sobre seu ramo de atuação ou estudando em seu tempo livre, líderes precisam estar sempre atentos as inovações. Por serem considerados exemplos para os colaboradores, lideranças são continuamente desafiadas a estarem atualizadas. Para Claudia Bittencourt é fundamental que o líder saiba administrar o tempo do trabalho e o tempo do estudo.
“Sendo assim, a carreira pode ser gerenciada pela empresa (com base em reais oportunidades de crescimento), pelo líder (identificando e estimulando o desenvolvimento de potenciais e competências) e pelo indivíduo (a partir do autoconhecimento e autodesenvolvimento). O desenvolvimento profissional/pessoal acaba beneficiando o indivíduo, o líder e a organização, tendo como base a satisfação, a entrega competente e os resultados atingidos.”
Além de oferecer um ambiente onde existe a possibilidade de desenvolvimento, a liderança também precisa se preocupar com a retenção de talentos. Diante de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, é comum que mesmo tendo a chance de crescimento na empresa, alguns colaboradores optem por procurar outras oportunidades. A atitude é comum no mercado, mas Ana Clarissa Matte Zanardo dos Santos alerta que se for frequente, esse comportamento pode se tornar um problema para lideranças, empresas e também colaboradores.
“Quando a empresa ou a equipe começa a perder muitos talentos, é necessário refletir sobre a cultura e a relação que se estabelece na e entre as equipes. Para aqueles que permanecem na empresa, é importante evitar que o ambiente se torne negativo.”
O caminho até a liderança costuma vir acompanhado de muitos anos de estudo, esforço e dedicação. Além de uma realização pessoal, se tornar liderança também é uma realização profissional almejada por muitos colaboradores. No entanto, se tornar líder vai muito além de títulos: cada vez mais as softs skills (habilidades interpessoais) tem tomado força no mercado. Claudia Cristina Bitencourt explica que no trabalho todos precisam dessas habilidades interpessoais, no entanto, quando falamos em liderança, ela considera três essenciais.
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“Penso que as principias soft skills poderiam ser representadas pela habilidade de comunicação (saber ouvir, oferecer feedback e se posicionar junto a sua equipe), capacidade de percepção (que envolve capacidade de observação, sensibilidade e empatia) e carisma (capacidade de gerar confiança, mobilizar e inspirar sua equipe constantemente).”
Seja se informando das últimas notícias sobre seu ramo de atuação ou estudando em seu tempo livre, líderes precisam estar sempre atentos as inovações. Por serem considerados exemplos para os colaboradores, lideranças são continuamente desafiadas a estarem atualizadas. Para Claudia Bittencourt é fundamental que o líder saiba administrar o tempo do trabalho e o tempo do estudo.
“Ao pensar em educação continuada, as lideranças precisam buscar cursos que estejam alinhados com as necessidades reais de aperfeiçoamento. Portanto, é importante considerar o tempo e flexibilidade oferecida, o reconhecimento acadêmico da instituição e valorização do diploma/certificado, a qualidade do corpo docente e o ambiente institucional onde haverá a interação e integração com outros profissionais”, enfatiza.