Fronteiras do Pensamento, Ai WeiweiO artista plástico, designer e cineasta chinês Ai Weiwei é o próximo conferencista do Fronteiras do Pensamento no dia 8 de outubro. O evento acontece no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), a partir das 19h30min. Weiwei é conhecido por usar sua fama e suas mídias sociais defendendo a liberdade de expressão. Por causa do seu blog e de seu Twitter, onde criticava o governo de seu país, ele foi detido pela polícia chinesa por três meses e teve seu passaporte retido. Já no Instagram, seus posts nos últimos anos atraíram atenção internacional para a crise dos refugiados, enquanto seu documentário Human Flow foi lançado. Recentemente, lançou o livro Humanity, a obra é uma coleção de citações, excertos e aforismos do artista – extraídos de entrevistas e falas públicas.

A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e Alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto no pacote de ingressos para as conferências, abatimento válido também para um acompanhante. Os diplomados, para terem acesso ao valor diferenciado, devem portar a carteira Alumni na hora da compra. Informações sobre as carteiras podem ser obtidas pelos contatos da Rede Alumni. Estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação.

Para se inscrever é preciso ligar para o telefone (51) 4020-2050 ou enviar um e-mail para [email protected], informando nome completo, telefone e qual modalidade de desconto, reservando no máximo dois ingressos. O pagamento e a retirada das entradas são feitos no dia da conferência, na bilheteria do Salão de Atos da UFRGS.

Sobre Ai Weiwei

Weiwei é um dos artistas-ativistas mais destacados da atualidade. Desde a década de 1970, quando se tornou possível defender a liberdade de expressão na China, ele manifesta o ativismo em suas obras. É filho do poeta chinês Ai Qing, um dos primeiros intelectuais a serem politicamente cerceados. Ao longo da carreira, sua postura sempre foi irreverente, como em Dropping a han dynasty urn, na qual ele fotografou-se quebrando um vaso de dois mil anos; ou Sunflower seeds, quando cobriu o chão de uma sala da galeria Tate, em Londres, com sementes de girassol falsas feitas à mão por trabalhadores chineses. Em 2011, foi preso no Aeroporto de Pequim sob acusações de “evasão fiscal”. O projeto mais recente de Weiwei aborda a crise de refugiados em 23 países, tema de seu filme Human Flow – Não Existe Lar se Não Há para Onde Ir, de 2017.

Siddhartha Mukherjee

Fotos: Luiz Munhoz/Divulgação

O oncologista Siddhartha Mukherjee fala sobre o câncer de forma leve, mas provocadora. Na quinta noite de conferências do Fronteiras do Pensamento, para um público que lotou o Salão de Atos da UFRGS em 3 de setembro, ele mereceu a atenção total do público do primeiro minuto até a última resposta. Fez um rápido histórico sobre a doença, registrada há cerca de 4 mil anos, interagiu muito com a plateia lançando perguntas inquietantes, mas focou principalmente em jogar luzes nos futuros tratamentos para combater o mal.

Mukherjee é reconhecido mundialmente por ser o autor de O imperador de todos os males: uma biografia do câncer, lançado em 2012 no Brasil e vencedor do Prêmio Pulitzer 2011, nos EUA. O livro de 634 páginas, voltado para todos os públicos e que serviu de base para um documentário de Ken Burns, retrata a história da doença, os avanços no tratamento e o impacto na sociedade. “A diversidade do câncer é igual à diversidade do número de pacientes. Nenhuma doença tem essa diversidade. Então, não é simples: é um desafio. Mas tivemos avanços poderosos”, declarou.

Código genético

A palestra foi conduzida em tom otimista. Citou uma pesquisa realizada em 1996 nos EUA sobre o que as pessoas mais tinham medo, as respostas foram tubarão e câncer. “Sobre tubarão, não sei nada, mas posso falar sobre câncer”, disse. Lembrou que hoje já é possível saber a altura que um adulto terá só analisando o código genético ainda na fase de feto. De forma semelhante, será possível saber se um bebê em desenvolvimento terá alguma doença grave e em qual fase da vida. Questionou os presentes para saber se gostariam de ter essa informação. Poucos responderam afirmativamente. “Você gostaria de saber antes? Esse é o dilema”, afirmou. “O medo do câncer se espalhou pela nossa cultura”, acrescentou.

Siddartha Mukherjee

Salão de Atos da UFRGS lotado para a palestra

Sobre o presente e o futuro da medicina no combate ao mal, Mukherjee disse que gostaria de preparar as pessoas para esse mundo novo. “Todos somos pré-câncer e estamos sendo supervisionados”, provocou. “Quanto mais tentamos diagnosticar de forma precoce mais nos tornamos paranoicos? Somos futuros pacientes de câncer em vigilância.” Destacou que há um plano global de enfrentamento à doença e dividiu a estratégia em três momentos: prevenção (a partir da revelação dos estados cancerígenos); detecção precoce e tratamento.

Tratamento individualizado

Siddhartha Mukherjee enfatizou que o caminho para tratar o câncer será cada vez mais individualizado, levando em conta hereditariedade, genética, hábitos e utilizando as terapias-alvo de precisão. É o caso da imunoterapia, que usa o próprio sistema imunológico para atacar a doença. Lembrou da paciente norte-americana Barbara Bradfield, a primeira a usar a droga Herceptin contra o câncer de mama há 20 anos, e hoje está viva. “Só funcionou nela porque antes havia sido detectada uma determinada mutação genética individual que responderia a este medicamento. Caso contrário, o remédio seria tóxico”, explicou. “Hoje podemos rastrear, detectar precocemente gens que aumentam o risco para tumores”, acrescentou. “Faço de 15 a 20 sequenciamentos genéticos por semana.” Nos EUA, sequenciar 23 mil genes custa cerca de US$ 1 mil por pessoa e o resultado fica pronto em uma semana.

Siddartha Mukherjee

Em conversa anunciou mais novidades

No final do evento, em conversa mediada pelos médicos Carlos Alexandre Netto (UFRGS) e Luiz Antonio Nasi (Hospital Moinhos de Vento), anunciou que uma das grandes apostas no estudo do câncer está associada à dieta como forma de mudar a resposta ao tratamento. Citou quatro estudos publicados na Nature que atestam que o câncer usa mecanismos muito particulares para bloquear o tratamento quimioterápico. ”Nosso desafio é combinar o medicamento correto com a dieta adequada”, frisou. Em outubro, nos EUA, começará a primeira pesquisa em seres humanos nesse sentido com 24 pacientes de câncer de mama.

Sobre Siddartha Mukherjee

Nasceu em Nova Delhi (Índia) há 48 anos, estudou Biologia na Universidade Stanford, Imunologia na Universidade de Oxford e formou-se em Medicina na Universidade de Harvard, especializando-se em oncologia. Atualmente, trabalha no centro médico da Universidade Columbia, onde também é professor assistente. O oncologista defende que repensar a medicina significa repensar a forma com que nossos corpos se curam e, a partir disso, passar a focar nos microambientes que tornam determinadas partes do corpo imunes ou afetadas pelas doenças. Ele alerta: estas transformações já estão acontecendo.

PUCRS parceira do Fronteiras do Pensamento

A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto para as conferências. Podem também comprar ingresso para um acompanhante com o mesmo desconto. Os diplomados devem portar a carteira Alumni na hora da compra. É obtida na sala 109 do prédio 1, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30. Contatos: Rede Alumni. Os estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação. Os pontos de venda de ingressos estão disponíveis aqui.

A próxima conferência do Fronteiras do Pensamento será em 8 de outubro com Ai Weiwei, artista plástico, designer e cineasta. Weiwei é um dos artistas-ativistas mais destacados da atualidade. Ele manifesta o ativismo em suas obras e entende que seu trabalho é dar voz aos que não têm como falar. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), às 19h30min. O mundo em desacordo: democracia e guerras culturais é o tema da temporada de 2018.

 

jose eduardo agualusa,fronteiras do pensamento

José Eduardo Agualusa / Foto: Luiz Munhoz/Divulgação

O escritor e jornalista angolano José Eduardo Agualusa traz em sua fala e obras um clamor pelo desenvolvimento pessoal e cultural a partir da literatura. Pessoal, por promover o exercício da alteridade, da empatia, levando os personagens (e o leitor) a se colocarem no lugar do outro. Cultural, pelo incentivo às bibliotecas e o acesso aos livros, mesmo em ambientes digitais, como agentes de transformação social. Na palestra proferida na noite de 6 de agosto, durante o Fronteiras do Pensamento, no Salão de Atos da UFRGS, ele reforçou seu modo de ver o mundo e, especialmente, seu país de origem. “Acredito que a leitura pode mudar o mundo. Acredito que a literatura tem o poder de melhorar a cultura do meu país, Angola”, afirmou. Criador de obras ficcionais contextualizadas em fatos históricos, o autor tem na memória, nos próprios sonhos e na sua nação as inspirações para escrever livros de poesia e ficção.

Compreender o trabalho de Agualusa requer um pouco de conhecimento sobre a história de Angola e do continente africano. Para familiarizar a plateia, ele relatou parte desses eventos, como o processo de independência em relação a Portugal, antigo colonizador, iniciado em 1961. Citou que a partir das décadas de 1940 e 1950 emergiu uma classe de intelectuais que passou a fazer das letras a sua arma em nome pela libertação do país, que só se confirmaria no ano de 1974, com o fim do regime ditatorial de Salazar à frente do governo português. Mesmo assim, os movimentos separatistas vigentes passar a conflitar entre si, protagonizando muitas mortes e sofrimento na disputa por poder. É desse cenário que surge o trabalho de Agualusa, bem como sua motivação por disseminar a cultura dos livros.

“Todos deveriam ter acesso ao livro como deveriam ter acesso à água potável”

jose eduardo agualusa,fronteiras do pensamento

Foto: Luiz Munhoz/Divulgação

O escritor defende que “a leitura de ficção é um exercício de alteridade, pois desenvolve empatia e nos aproxima do outro”. Na opinião do angolano, que vê os livros como pontes, ditadores e torturadores não costumam ler ficção. Se o fizessem, pensariam e agiriam de forma diferente. Sarcástico e bem-humorado, ele arrancou risos dos ouvintes ao dizer que “é impossível imaginar Trump lendo o que quer seja. Pessoas como ele deveriam ir para campos de reeducação literária”, alfinetou.

A respeito do continente africano, explicou que a cena literária contemporânea tem mostrado para o mundo um outro perfil da região, narrado pelos protagonistas locais, diferente do ponto de vista colonialista. “A moderna literatura africana revela otimismo, apesar das dificuldades enfrentadas. Ironia, alegria, paixão pela vida também são características da literatura angolana”, ponderou.

“Meu maior sonho é que em Angola se criem bibliotecas por todo o país”

Militante cultural, Agualusa defende que “o livro, esse gentil agente subversivo, nunca irá se calar”. Em sua apresentação, também citou o caso do rapper e ativista angolano Luaty Beirão, preso com outros 14 jovens, em 2015, por estar lendo o livro Da ditadura à democracia, do pacifista americano Gene Sharp. A detenção, bem como a greve de fome, forma de protesto adotada pelo músico, repercutiu internacionalmente. À época, todos estavam reunidos em uma livraria, e foram acusados de conspirar para derrubar o então presidente José Eduardo dos Santos, que estava no poder desde 1992. No final de 2017, o país passou a ter João Lourenço na Presidência.

“O sonho é muito importante no meu processo de escrita. Sonho muito. Sonho com roteiros, com títulos de livros e personagens”

jose eduardo agualusa,fronteiras do pensamento

Foto: Luiz Munhoz/Divulgação

Agualusa também comentou e respondeu a perguntas sobre suas obras Sociedade dos sonhadores voluntários, marcada por críticas ao regime político angolano, e Teoria geral do esquecimento, para a qual foi indicado como um dos finalistas do Prêmio Man Booker. Ao ser questionado sobre o tema da memória e os resgates que faz nas páginas de seus livros, concluiu que “talvez o passado não mude, mas a forma como nós o interpretamos muda, e isso se deve, em boa parte, à literatura”.

Sobre o autor

Agualusa é um dos mais importantes escritores em língua portuguesa da atualidade. Sua obra foi traduzida para mais de 25 idiomas. É autor de romances, contos, novelas, livros infantis e peças de teatro. Sua estreia ocorreu, em 1988, com A conjura, romance que lhe valeu o Prêmio Sonangol Revelação de Literatura de Angola. Seus livros percorrem muitas realidades, mas estão mais centrados em personagens do que em lugares. Também publicou Nação crioula, vencedor do Grande Prêmio de Literatura RTP, Fronteiras perdidas, Barroco tropical, e O vendedor de passados, que ganhou o Prêmio Independente de Ficção Estrangeira do jornal The Independent. Em 2017, venceu o Dublin Literary e, com o prêmio em dinheiro recebido, pretende instalar uma biblioteca pessoal na Ilha de Moçambique, aberta aos habitantes do local.

Parceria cultural PUCRS

 A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e Alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto no pacote de ingressos para as conferências, abatimento válido também para um acompanhante. Os diplomados, para terem acesso ao valor diferenciado, devem portar a carteira Alumni na hora da compra. Informações sobre as carteiras podem ser obtidas pelos contatos da Rede Alumni. Estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação. Os pontos de venda de ingressos estão disponíveis em https://www.fronteiras.com/portoalegre/vendas.

A próxima conferência do Fronteiras do Pensamento será em 3 de setembro com o médico oncologista e escritor indiano Siddhartha Mukherjee. Ele escreveu O imperador de todos os males: uma biografia do câncer, obra vencedora do Prêmio Pulitzer, em 2011. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), às 19h30min. O mundo em desacordo: democracia e guerras culturais é o tema da temporada de 2018.

 

fronteiras do pensamento,josé eduardo agualuzaNa próxima segunda-feira, 6 de agosto, o Fronteiras do Pensamento traz a Porto Alegre o escritor e jornalista angolano José Eduardo Agualusa. A conferência ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), a partir das 19h30min. Autor de romances, contos, novelas, livros infantis e peças de teatro, Agualusa é considerado um dos mais importantes escritores em língua portuguesa da atualidade. Em 2016, foi um dos finalistas do Prêmio Man Booker, pelo romance Teoria geral do esquecimento.

A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e Alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto no pacote de ingressos para as conferências, abatimento válido também para um acompanhante. Os diplomados, para terem acesso ao valor diferenciado, devem portar a carteira Alumni na hora da compra. Informações sobre as carteiras podem ser obtidas pelos contatos da Rede Alumni. Estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação. Os pontos de venda de ingressos estão disponíveis em https://www.fronteiras.com/portoalegre/vendas.

Sobre José Agualusa

Sua estreia ocorreu, em 1988, com A conjura, romance que lhe valeu o Prêmio Sonangol Revelação de Literatura de Angola. Seus livros percorrem muitas realidades, mas estão mais centrados em personagens do que em lugares. Alguns deles são baseados em figuras reais como a poetisa Lídia do Carmo Ferreira (Estação das chuvas) e a rainha Ana de Sousa (A rainha Ginga).  Em 2017, venceu o Dublin Literary e, com o prêmio em dinheiro recebido, pretende instalar uma biblioteca pessoal na Ilha de Moçambique, aberta aos habitantes do local. José Eduardo Agualusa acredita que os livros são um território de pensamento e a literatura é um exercício permanente de colocar-se na pele do outro. Seu romance mais recente é A sociedade dos sonhadores involuntários, lançado em 2017, e que é uma fábula política e satírica que desafia e questiona a natureza da realidade.

2018_06_27-catherine_millet-fornteirasA próxima conferência do Fronteiras do Pensamento será em 2 de julho com a crítica de arte e escritora francesa Catherine Millet. Será no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), às 19h30min. O mundo em desacordo: democracia e guerras culturais é o tema da temporada de 2018.

A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto para as conferências. Podem também comprar ingresso para um acompanhante com o mesmo desconto. Os diplomados devem portar a carteira Alumni na hora da compra. É obtida na sala 109 do prédio 1, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30. Contatos: Rede Alumni. Os estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação.

Sobre Catherine Millet

Catherine Millet é fundadora de uma das revistas de arte francesa mais influentes, a Art Press, criada em 1972. Autora de livros de arte contemporânea e reconhecida na França e na Europa, Catherine é especialista nas obras do pintor espanhol Salvador Dalí e do artista plástico francês Yves Klein. É autora dos livros A vida sexual de Catherine M e A outra vida de Catherine M. Em em 2016 recebeu o Prêmio François Morellet e, em 2018, foi uma das coautoras do manifesto publicado no jornal Le Monde contra a campanha #MeToo, sobre violência sexual exercida contra mulheres. Tal documento foi assinado por cem personalidades francesas e liderado pela atriz Catherine Deneuve, defendendo a “liberdade de importunar” para assegurar a herança da revolução sexual.

Foto: Luiz Munhoz/Fronteiras

Foto: Luiz Munhoz/Fronteiras

O que é identidade? Mulher, marroquina, muçulmana, filha, mãe e esposa seria uma identidade? Não, não é isso que define uma pessoa. Com essa reflexão, a escritora e jornalista Leïla Slimani abriu a segunda noite do Fronteiras do Pensamento 2018, em 18 de junho.

Na conferência Quem eu sou: identidade, cultura e sociedade, a vencedora do Prêmio Goncourt 2016, um dos mais importantes da França, falou sobre família, raízes, educação e sua trajetória, começando pela história de seus pais, nos anos 40, no Marrocos. Seu pai era de uma cidade tradicional, filho de comerciante e de uma dona de casa que não havia estudado. Graças a seu avô, seu pai estudou em uma escola francesa, aprendeu a história da França e se familiarizou com os valores iluministas. Do lado materno, sua avó, que era da pequena burguesa da Alsácia, casou com um argelino, seu avô. “Meus pais se sentiam marginalizados, não pertencentes a nenhuma comunidade. E eu sou o produto disso”, conta.

Da mesma forma, Leïla foi educada no sistema francês, o que a posicionou como estrangeira, como europeia dentro do seu país. Na adolescência, Leïla se sentia diferente das amigas, seus pais não praticavam nenhuma religião, não transmitiam sentimentos patrióticos e ela não compreendia, pois queria pertencer a um grupo. “Na época eu não percebia que meu pai havia me dado armas para ser uma mulher livre”, reconhece ao exaltar a mistura de espíritos dos seus avós e seus pais e a educação universalista que recebeu.

Identidade

Leila Slimani

Foto: Luiz Munhoz/Fronteiras

Nascida na década de 80, Leïla mora na França há 20 anos e conta que possui uma relação ambígua com o país. De um lado, valoriza a educação e a liberdade, de outro, sente rancor. “Minha educação me mantinha distante de meu país. Falávamos árabe apenas com empregados e comerciantes na rua. Em casa, falávamos apenas francês. Eu detestava compreender bem a cultura ocidental”, lembra.

Aos 18 anos foi estudar em Paris e gostava de deixar claro para os franceses que era uma estrangeira. Na França, não era nem imigrante nem estrangeira. “Eu conhecia o país, mas eles não me conheciam.” Com o tempo, tornou-se mais francesa que esperava. Casou, teve um filho e se integrou. Após concluir os estudos, atuou como repórter e viajou muito ao Marrocos a trabalho.

Leïla critica o fato de pessoas de diferentes etnias se sentirem obrigadas a agir de ser certa forma para serem aceitas. “No mundo ocidental, um árabe gentil tem os cabelos menos crespos e a pele menos escura.” E conta que eventos históricos a fizeram entender sua situação complexa com a identidade. “Após os atentados de 2011, aos olhos de muitos me tornei muçulmana, sem ter dado qualquer sinal com relação à religião”, diz.

A conferencista se diz uma escritora sem território, sem conexão profunda com a terra ou raízes sólidas e destaca que uma identidade com contornos muito fixos só cria desenhos sombrios. “Minha herança antes de tudo são valores. Tive imenso privilegio de poder me inventar. Nunca meus pais me disseram como eu deveria me comportar ou me vestir por ser mulher, marroquina e muçulmana. O meu sentimento é de pertencer a uma grande família: a humana”, garante.

Literatura

Leila Slimani

Foto: Luiz Munhoz/Fronteiras

Expoente da literatura, Leïla publicou o livro Dans le jardin de l’Orange em 2014, contando a história de uma ninfomaníaca. O livro foi um dos finalistas do Prêmio de Flore, na França. Em 2016 lançou Canção de ninar, que conquistou o Prêmio Goncourt. Em 2017, publicou o livro de não ficção Sexe et Mensonges, sobre a exploração da opressão sexual no Marrocos, baseado em depoimentos de diversas mulheres. “Foi acusada de traidora pelo seu país pode ter criticado o mundo muçulmano”, lembra. Nos seus livros, dá pouca importância para a identidade étnica dos personagens. “O que eles fazem e sentem é o que eles são naquele momento”, esclarece.

Sobre Leïla Slimani

Conquistou o Prêmio Goncourt em 2016 com o livro Canção de Ninar, que vendeu mais de 600 mil exemplares em 36 países. O prêmio é um dos mais prestigiados de língua francesa. Atuou na revista Jeune Afrique e chegou a ser presa ao cobrir a Primavera Árabe. Em 2017, recebeu do presidente da França Emmanuel Macron o convite para ser representante para assuntos de francofonia.

Fronteiras do Pensamento

A PUCRS é parceira cultural do evento, que neste ano tem o tema O mundo em desacordo – democracia e guerras culturais. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto para as conferências. Podem também comprar ingresso para um acompanhante com o mesmo desconto. Os diplomados devem portar a carteira Alumni na hora da compra. É obtida na sala 109 do prédio 1, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30. Contatos: Rede Alumni. Os estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação. A próxima conferência será em 2 de julho, com a crítica de arte e escritora francesa, Catherine Millet.

fronteiras do pensamento,leila slimani,franco-marroquinaA próxima conferência do Fronteiras do Pensamento será em 18 de junho, com a escritora e jornalista franco-marroquina Leïla Slimani. Será no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), às 19h30min. O mundo em desacordo: democracia e guerras culturais é o tema da temporada de 2018.

A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e Alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto para as conferências. Podem também comprar ingresso para um acompanhante com o mesmo desconto. Os diplomados devem portar a carteira Alumni na hora da compra. É obtida na sala 109 do prédio 1, de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18h30min. Contatos: Rede Alumni. Os estudantes de Graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação.

Sobre Leïla Slimani

Conquistou o Prêmio Goncourt em 2016 com o livro Canção de Ninar, que vendeu mais de 600 mil exemplares em 36 países. O prêmio é um dos mais prestigiados de língua francesa. Leila atuou na revista Jeune Afrique e chegou a ser presa ao cobrir a Primavera Árabe. Em 2017, recebeu do presidente da França Emmanuel Macron o convite para ser representante para assuntos de francofonia.

PUCRS Cultura, Fronteiras do Pensamento, Fernanda Torres, literatura

Fotos: Camila Cunha

Horas antes de se apresentar no Fronteiras do Pensamento, a atriz e escritora Fernanda Torres fez um bate-papo com a comunidade acadêmica no saguão da Biblioteca Central, onde, com bom humor, leveza e inteligência, comentou sobre o momento atual, interpretado por ela como “de total absurdo”, e exaltou o papel da arte para além do engajamento político. “Nietzsche dizia que só a arte pode dar conta do absurdo. A humanidade sempre se representou desde a caverna. Quando alguém diz que a história acabou e a arte também, é seu desejo de que nada ande depois dele. Hoje é difícil. A tecnologia nos atropelou a todos. Estamos vivendo outra revolução de Gutenberg. Não sabemos os valores que virão, se haverá emprego ou casa própria. Cada um que se agarra na esquerda ou direita cairá numa falácia”, avaliou a atriz e escritora em resposta ao questionamento do diretor do Instituto de Cultura, professor Ricardo Barberena, sobre o papel da literatura em tempos coléricos.Também participou da mediação a escritora Carol Bensimon (mestre em Escrita Criativa pela PUCRS). O reitor, Ir. Evilázio Teixeira, e o vice, Jaderson Costa da Costa, prestigiaram o evento.

Mais de uma vez Fernanda se perguntou que arte é possível fazer sem ser militante, lembrando que cresceu vendo Caetano Veloso e Gilberto Gil voltando do exílio e Fernando Gabeira de sunga falando em liberdade sexual e ecologia. “Problemas graves não foram resolvidos. Voltamos à Guerra Fria e ao mundo como conheci.”

O que vislumbra de diferentes entre as duas épocas é que antes havia a ideia paternal de povo como uma entidade sofrida e passiva. “Cabia ao líder e ao intelectual conscientizá-la.” Hoje os grupos identitários podem se expressar, e Fernanda acredita que eles não querem mais que outros falem por eles. Precisam produzir seu próprio material de representação.

Cultura de massa

Fernanda Torres fala através dos seus personagens literários. No livro A glória e seu cortejo de horrores, aborda a decadência do ator Mario Cardoso, do Brasil e, em especial, do Rio de Janeiro. Ele se pergunta quem lê Tchecov ou Shakespeare andando pelo Centro e tentando salvar seu celular do pivete. “A cultura de massa venceu. Nos anos 70, um filme mainstream era Apocalipse now. Agora é Thor. Sensacional! A gente ia no cinema como lia um livro. Era Bergman, Fellini e Truffaut. Hoje são as séries.”

Crônica X romance

PUCRS Cultura, Fronteiras do Pensamento, Fernanda Torres, literatura

Carol Bensimon quis saber como é escrever crônica hoje no Brasil em comparação a 2006, quando começou. Antes Fernanda Torres não tinha medo da repercussão. Hoje pensa “50 vezes” antes de publicar se alguém não ficará ofendido. “Escrevia de forma mais livre. Agora as colunas falam mais sobre o que estamos vivendo.” E voltou a pronunciar a palavra “absurdo” para resumir a realidade.

Diferentemente do texto de jornal ou revista, o livro “quase se escreve por ele”, na sua experiência. “É uma maratona longa. A gente tem que deixar o assunto morrer para e ir ao outro lado. Quando vemos, estamos no mesmo caminho.”

Narrativas tragicômicas

Ao identificar a literatura contemporânea como “mal-humorada”, Barberena exalta a comicidade da obra de Fernanda. Mas, para ela, ser somente cômico é cair no vazio. “Meus textos são tragicômicos. Terminam numa depressão horrorosa. Sou marcada pelo Nelson Rodrigues.”

Sem curso universitário, diz que se sente um “queijo suíço”. “De vez em quando fecho umas lacunas.” Para isso se serve de autores como Flaubert, Machado de Assis, Thomas Mann e Dostoiévski.

Início na literatura

O teatro do improviso, com o grupo Asdrúbal, integrado por Regina Casé, e os ensaios em casa dos pais atores Fernanda Montenegro e Fernando Torres foram as primeiras influências de Fernanda Torres na literatura. Com a retomada do cinema nacional, acabou escrevendo o roteiro do filme Redentor. A partir do monólogo A casa dos budas ditosos, em 2003, teve que introjetar a obra de João Ubaldo Ribeiro. “Comecei a perceber a música que o livro tinha, onde ele mudava de parágrafo ou de capítulo. Absorvi tudo na minha pele.” Então vieram os artigos e colunas em jornais e revistas. Aprendeu como reduzir as ideias. “Nunca me imaginei, achava que não tinha o direito de pensar em literatura”, confessa.

Queria lançar o livro de crônicas e pediu indicação de editora para Ubaldo. E ele:

– O meio literário é muito violento.

Então Fernando Meirelles lhe pediu que escrevesse sobre a terceira idade para a TV e entrou em contato com a Companhia das Letras, sua atual editora. Luiz Schwarcz leu um conto que viria a ser o primeiro capítulo de Fim e sugeriu que renderia um romance. O que acabou se concretizando na história de cinco amigos cariocas que relembram fases marcantes de suas vidas e acabam morrendo.  

Fronteiras do Pensamento

Às 19h45min desta segunda-feira, Fernanda Torres participará de debate especial no Fronteiras do Pensamento com o artista plástico brasileiro Vik Muniz. A programação ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110). O mundo em desacordo: democracia e guerras culturais é o tema da temporada de 2018. Depois de Fernanda Torres e Vik Muniz, até novembro, participarão outros nove conferencistas reconhecidos internacionalmente.

Saiba mais

Fernanda Torres é uma das mais originais e reconhecidas atrizes do teatro, do cinema e da televisão no Brasil. Com formação na escola de atores O Tablado, fez sua estreia na peça Um tango argentino, da dramaturga Maria Clara Machado, e atuou em novelas a partir da década de 1980. Em 1986, recebeu a Palma de Ouro de Melhor Atriz no Festival de Cannes pelo filme Eu sei que vou te amar, do cineasta Arnaldo Jabor. No cinema, destacou-se em Terra Estrangeira, de Walter Salles Jr. e Daniela Thomas, O que é isso, companheiro?, de Bruno Barreto, e Casa de areia, de Andrucha Waddington. Desde 2003, encena o monólogo A casa dos budas ditosos, com texto de João Ubaldo Ribeiro e direção de Domingos de Oliveira. Na televisão, com exceção de Luna caliente, adaptação do romance de Mempo Giardinelli, a maioria dos seus trabalhos foi pautada pelo humor. Em 2013, ela publicou seu primeiro romance, Fim, que vendeu mais de 150 mil exemplares e foi lançado em países como França, Holanda, Itália e Portugal. No ano seguinte, reuniu crônicas veiculadas na imprensa no livro Sete anos. E, no final de 2017, lançou o romance A glória e seu cortejo de horrores.

 

 

Fernanda TorresNo dia 14 de maio, das 14h às 15h30min, a atriz e escritora Fernanda Torres vai fazer um bate-papo literário no saguão da Biblioteca Central com a comunidade universitária. Em 2013, ela publicou seu primeiro romance, Fim, que vendeu mais de 150 mil exemplares e foi lançado em países como França, Holanda, Itália e Portugal. No ano seguinte, reuniu crônicas veiculadas na imprensa no livro Sete anos. E, no final de 2017, lançou o romance A glória e seu cortejo de horrores.

O encontro terá a mediação do diretor do Instituto de cultura, professor Ricardo Barberena, e da escritora Carol Bensimon (mestre em Escrita Criativa pela PUCRS). Gratuito e aberto à comunidade em geral, o evento recebe inscrições pelo link. Vagas limitadas.

Fronteiras do Pensamento

Às 19h45min do mesmo dia, Fernanda Torres participará de debate especial no Fronteiras do Pensamento com o artista plástico Vik Muniz. A programação ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110). O mundo em desacordo: democracia e guerras culturais é o tema da temporada de 2018. Depois de Fernanda Torres e Vik Muniz, até novembro, participarão outros nove conferencistas reconhecidos internacionalmente.

Descontos para a comunidade universitária

A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto para as conferências. Podem também comprar ingresso para um acompanhante com o mesmo desconto. Os diplomados devem portar a carteira Alumni na hora da compra. É obtida na sala 109 do prédio 1, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30. Contatos: Rede Alumni. Os universitários têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação.

Durante o mês de maio, das 17h às 21h, a PUCRS contará com ponto de vendas exclusivo do Fronteiras na Central de Atendimento ao Aluno (prédio 15). Basta apresentar o cartão da Universidade. No local, será aceito pagamento apenas em cartão de débito ou crédito. Os convites podem ser adquiridos ainda por este link, após solicitarem o código que habilita o desconto pelo e-mail ou pelo telefone 4020-2050.

Saiba mais

Fernanda Torres é uma das mais originais e reconhecidas atrizes do teatro, do cinema e da televisão no Brasil. Com formação na escola de atores O Tablado, fez sua estreia na peça Um Tango Argentino, da dramaturga Maria Clara Machado, e atuou em novelas a partir da década de 1980. Em 1986, recebeu a Palma de Ouro de Melhor Atriz no Festival de Cannes pelo filme Eu Sei que Vou Te Amar, do cineasta Arnaldo Jabor. No cinema, destacou-se em Terra Estrangeira, de Walter Salles Jr. e Daniela Thomas, O Que É Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto, e Casa de Areia, de Andrucha Waddington. Desde 2003, encena o monólogo A Casa dos Budas Ditosos, com texto de João Ubaldo Ribeiro e direção de Domingos de Oliveira. Na televisão, com exceção de Luna Caliente, adaptação do romance de Mempo Giardinelli, a maioria dos seus trabalhos foi pautada pelo humor.

Fronteiras do Pensamento, Fernanda Torres, Vik MunizO Fronteiras do Pensamento terá início no dia 14 de maio, às 19h30min, com debate especial entre a atriz e escritora Fernanda Torres e o artista plástico Vik Muniz. A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto para as conferências. Podem também comprar ingresso para um acompanhante com o mesmo desconto. Os diplomados devem portar a carteira Alumni na hora da compra. É obtida na sala 109 do prédio 1, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30. Contatos: Rede Alumni. Os estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação.

Durante o mês de maio, das 17h às 21h, a PUCRS contará com ponto de vendas exclusivo do Fronteiras na Central de Atendimento ao Aluno (prédio 15). Basta apresentar o cartão da Universidade. No local, será aceito pagamento apenas em cartão de débito ou crédito. Os convites podem ser adquiridos ainda por este link, após solicitarem o código que habilita o desconto pelo e-mail ou pelo telefone 4020-2050.

A programação ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110). O mundo em desacordo: democracia e guerras culturais é o tema da temporada de 2018. Depois de Fernanda Torres e Vik Muniz, até novembro, participarão outros nove conferencistas reconhecidos internacionalmente.