Uma pesquisa da Universidade de Sussex mostrou que ler ajuda a reduzir em até 68% os níveis de estresse. / Foto: Pexels

Quem nunca estipulou como meta ler mais? Uma atividade com múltiplas funções, ler pode ser uma forma de entretenimento, um meio de informação ou um caminho simples e acessível para adquirir conhecimento. Independente da motivação, o processo de leitura também é capaz de auxiliar no desenvolvimento de habilidades, contribuindo, inclusive, para a saúde mental. De acordo com pesquisador do Instituto do Cérebro (InsCer) e professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Augusto Buchweitz, ler pode atuar como um exercício que estimula o cérebro.  

O hábito de leitura tem relação comprovada com uma melhor qualidade de saúde mental. A leitura, por envolver imaginação, mentalização, antecipação e aprendizagem (sempre aprendemos, ao menos, palavras novas), funciona como um ‘exercício’ para o cérebro humano. Apesar de não ser um músculo, o nosso cérebro precisa ser estimulado, destaca o pesquisador. 

Outro fator que enfatiza a relação entre a leitura e a qualidade de saúde mental é ação da atividade na redução do estresse. A professora Aline Fay, coordenadora do curso de licenciatura em Letras com ênfase na Língua Inglesa, ressalta que pesquisas já demonstraram resultados positivos sobre essa contribuição. “Uma pesquisa realizada pela Universidade de Sussex mostrou que ler ajuda a reduzir em até 68% os níveis de estresse. Durante o estudo, os sujeitos analisados diminuíram a frequência cardíaca e aliviaram a tensão dos músculos”, salienta a professora. 

Ler protege a mente hoje e no futuro 

Os benefícios da leitura não atuam no nosso cérebro apenas no presente. Estudos apontam que ler pode ser uma forma de proteger a mente contra o surgimento de doenças neurodegenerativas. Segundo a professora Aline, quando lemos melhoramos o funcionamento cerebral, o que ajuda a “atrasar” sintomas de doenças como demência e Alzheimer. Ela destaca que inúmeras pesquisas comprovam o aumento das conexões neurais durante a leitura. Um destes estudos, realizado pela Universidade Emory, descobriu que ler afeta nosso cérebro da mesma forma como se realmente tivéssemos vivenciado os eventos sobre os quais estamos lendo. Diante disso, a professora ainda aponta que, ao lermos, podemos aumentar nossa empatia, ou seja, a capacidade de compreender e se solidarizar emocionalmente com o outro. 

GRADUAÇÃO PRESENCIAL

Cadastre-se e receba informações sobre formas de ingresso, cursos e muito mais.

Mas nem todos os gêneros literários agem da mesma forma. O professor Augusto afirma que, de acordo com o conteúdo de cada história, outras regiões cerebrais são ativadas, resultando em comportamentos, emoções e experiências distintas.  

Durante a leitura de histórias de suspense, por exemplo, a ativação do cérebro tem relação direta com a experiência do leitor. Os leitores que relataram ter ficado mais envolvidos com a narrativa foram os mesmos que tiveram maior ativação de uma circuitaria do cérebro, que envolve tentar antecipar o que vai acontecer (inferências futuras) explica. 
É importante entender que nem todos os gêneros literários agem da mesma forma no cérebro. / Foto: Pexels

Ele também frisa que especialistas no estudo da memória reforçam a importância do aprendizado constante e do hábito de leitura. “O ilustre professor Ivan Izquierdo [falecido em 2021], um dos maiores especialistas em memória do mundo, frequentemente ressaltava em suas entrevistas que profissões como a de professor e artista de teatro, entre outras, por envolverem a leitura e aprendizagem constante, são profissões que ajudam a ‘proteger’ o cérebro de quem as desempenha”, comenta o pesquisador do InsCer. 

Para além das páginas lidas 

Além de ser uma atividade benéfica para o funcionamento e para a saúde da mente, a leitura participa do desenvolvimento de habilidades específicas. Para a professora Aline, ler é uma forma de ampliar competências. “A leitura favorece a melhora da escrita, expande o vocabulário, trabalha a criatividade e auxilia na formação do senso crítico (capacidade de reflexão sobre algo)”, afirma. Segundo ela, não há um tempo diário específico a ser dedicado à leitura para que as habilidades sejam desenvolvidas.  

“O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, por exemplo, diz ler um livro a cada duas semanas, já Bill Gates diz ler todos os dias durante uma hora. Tudo varia em função do tempo e disponibilidade de cada um. O importante é desenvolvermos o hábito da leitura diária e criar estratégias, tais como reservar um momento do dia somente para a leitura, selecionar livros/temas que achamos interessantes, ter sempre um livro na cabeceira e, acima de tudo, ter paciência e resiliência”, recomenda a professora. 

Para Augusto, a leitura pode estimular desde habilidades e conhecimentos mais fundamentais até aprendizagens que abrangem outros domínios, como o desenvolvimento de raciocínio e do pensamento científico. “Se pensarmos que aprendemos a ler e, por fim, podemos ler para aprender, o que estiver ao alcance da aprendizagem pela leitura está ao alcance do leitor”, conclui. 

Leia TAMBÉM

Laboratório das Infâncias da Escola de Humanidades leva oficinas de contação de histórias a escola municipal no Morro da Cruz/ Foto: Arquivo pessoal

A Escola de Humanidades, por meio do Laboratório das Infâncias (LabInf),  desenvolveu um projeto de contação de histórias para crianças da rede municipal do Bairro São José, no Morro da Cruz, zona leste de Porto Alegre. Trata-se do projeto LabInf na Escola, que nasceu para promover a realização de oficinas que contribuam tanto na educação da infância quanto na formação de professores. 

A iniciativa para a criação do projeto partiu da professora Drª Andreia Mendes dos Santos, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre as Infâncias e Educação Infantil (NEPIEI), integrado ao próprio LabInf, também coordenado por ela. Além da docente, integram o projeto Maria Souza dos Santos e Sandra Canal, doutorandas em Educação (bolsistas CAPES), Rossana Gueller Ruschel (bolsista CNPQ), mestranda em Ciências Sociais e Cecília Moreira Borges, Eduarda Brodacz de Vasconcelos, Laura Antunes Cazella, Laura Mocelin Notti e Tainá Tubino Moreira de Souza, estudantes de Psicologia (bolsistas de Iniciação Científica). 

O LabInf na Escola tem atendido turmas de educação infantil da EMEF Morro da Cruz, cuja equipe pedagógica, em reunião com os integrantes do LabInf, acolheu a iniciativa. O projeto, que iniciou no mês de setembro, terá ao todo quatro atividades, no período matutino. A cada encontro, uma turma da educação infantil foi contemplada e com uma proposta diferente. 

Para a primeira oficina, foi escolhida a história “Romeu, o Garnisé Aventureiro”, de autoria da pesquisadora Sandra Canal em parceria com seu filho, Nycolas Canal Tenis. As páginas da narrativa foram fixadas em uma caixa de papelão em forma de “cineminha”. Durante uma roda de conversa, as crianças foram instigadas a refletir sobre “de onde vêm os ovos?”, e convidadas a confeccionar um galo com argila e com elementos da natureza. 

A segunda contação de história deu-se a partir da obra “A Cesta da Dona Maricota”, da autora Tatiana Belinky. O enredo foi narrado e encenado por integrantes do projeto, despertando a curiosidade das crianças, que permaneceram muito atentas. Os materiais usados – que estão expostos no LabInf, no prédio 9 – foram confeccionados pela pesquisadora Sandra Canal e feitos a partir de recursos simples e de forma artesanal (um fogão, uma geladeira e uma pia de papelão). Também foram utilizados utensílios em desuso, doados pelas participantes da equipe e por outros pesquisadores do grupo. A professora regente Silvia Lima Jacques afirmou que a atividade despertou a criatividade e sensibilizou as crianças do Jardim B2 (que têm entre 5 e 6 anos). 

“A oficina foi maravilhosa. A maneira como foi apresentada a história despertou o interesse, a curiosidade e o desejo das crianças em manusear, conhecer e principalmente brincar naquele ambiente. Além disso, foi mostrada a importância da alimentação saudável”, disse ela, que se sentiu estimulada a realizar mais atividades do tipo com a turma. 

Na opinião da doutoranda Sandra Canal, os móveis feitos com materiais reaproveitáveis “são valiosos para mostrar que é possível construir brinquedos que se aproximam muito da realidade em que as crianças vivem, tornando bem parecido com atividades do cotidiano de suas casas”. 

Em uma terceira oficina, o grupo de pesquisadoras contou para as crianças a história “Africana: Uma princesa diferente”, escrita por Cristiane Sousa. Foi promovida uma roda de conversa para levantar discussões sobre questões raciais históricas e contemporâneas, e as crianças aprenderam a confeccionar uma boneca Abayomi (representativa da cultura africana) com retalhos de tecido. 

Maria Souza, uma das doutorandas que integram o projeto, explica o propósito e a importância da iniciativa: 

O propósito do projeto é atender à diversidade, propiciando às crianças momentos de interações, brincadeiras, criação e recriação, além de oportunizar aos professores a compreensão das aprendizagens embutidas na contação de histórias, lançando mão de recursos/materiais simples, não estruturados, que possibilitam uma aprendizagem equitativa. O projeto visa proporcionar às crianças um leque de experiências, conhecimentos e saberes, por meio de atividades lúdicas e interações no ambiente educacional”, pontua ela. 

relações internacionais

Vitor Colombo, aluno do curso de RI, se prepara para fazer intercâmbio na Alemanha. / Foto: Giordano Toldo

Analisar e mediar questões internacionais, atuando perante as transformações políticas, econômicas e sociais do mundo em que vivemos, estão entre as principais funções do profissional de Relações Internacionais. São diferentes as possibilidades de atuação na área, tanto na esfera pública quanto na esfera privada: empresas, organizações governamentais, mercado financeiro buscam profissionais desta área para compor suas equipes. O curso de Relações Internacionais – ou RI, como também é chamado – da Escola de Humanidades, possui uma estrutura transversal em parceria com a Escola de Direito e a Escola de Negócios e prepara os estudantes para enfrentar desafios em diferentes cenários da área, formando profissionais completos e capacitados. 

“O estudante conta com um eixo de formação interdisciplinar com foco em multiculturalidade. Há ainda a formação aberta e a possibilidade de atribuir uma ênfase ao curso por meio das certificações de estudo a serem eleitas por meio dos 24 créditos de disciplinas eletivas. Também vale mencionar que o estudante pode se beneficiar dos editais do programa de mobilidade acadêmica e cursar parte da sua graduação em uma instituição no exterior”, destaca Teresa Cristina Marques, coordenadora do curso da PUCRS. 

A paixão pelos temas das áreas de história, geopolítica e comércio exterior motivou Brendda Lenuzza a ingressar no curso de RI. Hoje, com 21 anos, a jovem cursa o 4º semestre e conta sobre a sua trajetória na Universidade: Comecei minha vida acadêmica cursando Psicologia, também na PUCRS, e quando vi que RI tinha inaugurado, troquei e não poderia estar mais feliz”. 

relações internacionais

Brendda Lenuzza está cursando o 4º semestre do curso de Relações Internacionais. / Foto: Arquivo pessoal

Brendda estudou no Colégio Marista Ipanema, onde se engajou em projetos como a Pastoral Juvenil Marista (PJM), voluntariado, esportes e liderança de turma. “Sempre me identifiquei muito com a Rede Marista e com os valores de Champagnat, então foi automático seguir nela. Além disso, meus avós estudaram na PUCRS e sempre adoraram a Universidade”, diz a estudante. Assim como Brendda, Vitor Colombo (21) participou por anos da PJM e do Grêmio Estudantil (GE), espaços de liderança que, segundo ele, ajudaram a moldar o seu projeto de vida. 

“Essa trajetória me fez buscar o curso de Relações Internacionais como meio de atuação para o enriquecimento da minha compreensão acerca da interculturalidade e das questões que envolvem o âmbito político doméstico e internacional”, destaca. 

Vitor, que está cursando o 6º semestre, faz parte da primeira turma de Relações Internacionais da PUCRS e, em breve, estará realizando uma etapa importante da sua carreira: estudar no exterior.  

“Estou me preparando para passar os próximos seis meses na Universidade de Osnabrück, na Alemanha. Isso graças à Mobilidade Acadêmica, que me permite realizar o semestre em parceria com universidades internacionais”, explica. 

A PUCRS é uma das universidades mais internacionalizadas do País, oferecendo a alunos/as oportunidades de intercâmbios acadêmicos: além do Programa de Mobilidade Acadêmica, o curso de Relações Interacionais passará a oferecer, a partir de 2024, missões anuais de curta duração no exterior. O currículo é dinâmico e conta com disciplinas eletivas e obrigatórias em inglês e espanhol. “O/a aluno/a ainda tem a possibilidade de cursar disciplinas práticas que contam com parceiros externos engajados na promoção de temáticas caras ao curso de RI”, acrescenta a coordenadora.

Entre esses parceiros estão a Organização Internacional para Migrações (OIM) e a Plataforma MigraCidades, que selecionou a PUCRS para uma parceria que vincula disciplinas do curso a um projeto de promoção dos direitos da população refugiada no município de Esteio.  

Por que estudar RI na PUCRS 

As rápidas transformações que vêm ocorrendo no cenário internacional nas últimas décadas, tais como a transição energética, o fortalecimento da China, os conflitos e os grandes fluxos migratórios, impactam diversas dimensões da vida social e do mercado e exigem um profissional dinâmico e preparado para lidar com essas questões. O currículo do curso de Relações Internacionais da PUCRS possui disciplinas divididas em eixos voltados para práticas e para pesquisa aplicada, formando profissionais preparados para um mercado de trabalho complexo e em constante transformação. A atuação dos docentes, que se mantêm constantemente atualizados, é parte fundamental desse processo: 

“Uma parte relevante do corpo docente do curso integra os Programas de Pós-Graduação da instituição, reconhecidos por sua excelência, o que lhes permite contato com especialistas do mundo todo, nas diferentes áreas que contribuem com o campo de Relações Internacionais. É importante destacar que parte do corpo docente são pesquisadores membros de associações científicas da área, com destaque para a Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI) e Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP)”, explica a coordenadora Teresa.  

A professora destaca também os principais espaços de aprendizagem disponíveis para os estudantes, como laboratórios de informática e centros de pesquisa, tendo como exemplo o Centro Brasileiro de Pesquisa em Democracia (CBPD), o PUCRS Data Social, entre outros. Além disso, os estudantes têm a oportunidade de participar de diversas atividades práticas, desde a inserção em grupos de pesquisa à integração em estruturas como o Serviço de Assessoria em Direitos Humanos para Imigrantes e Refugiados (SADHIR), criado pela Escola de Direito e que também acolhe alunos de RI como voluntários.  

relações internacionais

Diferenciais educacionais fizeram com que Vitor escolhesse a PUCRS/ Foto: Giordano Toldo

Ela reforça que esses espaços contribuem de diferentes maneiras para o aprendizado e formação dos alunos. “Ambientes dessa natureza favorecem estratégias de aprendizagem muito importantes, como as minissimulações, por exemplo. Tais ambientes também são mobilizados para as atividades de extensão do curso”, comenta. Uma dessas atividades é a Simulação em Relações Internacionais da PUCRS (SIMULARI), evento aberto ao público externo e protagonizado por alunos do curso, construído a partir do Modelo das Nações Unidas (MUN). 

“Eventos de extensão e atividades práticas, de uma forma geral, possuem o mérito de cultivar e potencializar diversas competências e habilidades ao longo do curso, como análise das relações internacionais, compreensão da conexão entre global e local, desenvolvimento de relacionamentos interculturais, entre outros”, explica a docente. 

Para Vitor, os diversos espaços e oportunidades que o curso oferece são fundamentais para o desenvolvimento dos alunos.  

“Sempre foi meu sonho estudar na PUCRS, principalmente pelo diálogo existente entre estudante e universidade, com um projeto educacional que ultrapassa apenas a formação profissional, mas que permite que os estudantes se desenvolvam como indivíduos”, conta ele. 

Se o que atraiu Brendda para RI da PUCRS foram as temáticas de interesse e o histórico Marista, o que mantém a estudante apaixonada pelo curso são os eventos da área e a atuação próxima dos docentes.

“O que mais me encanta no nosso curso de RI são os professores, sempre em contato direto com a gente, nos conhecem e nos acolhem. O curso é novo, então estamos sempre sugerindo coisas novas e sempre somos bem acolhidos por eles. Também nossos eventos, como a SIMULARI, e outros que estão por vir, que crescem e dão a nossa cara para o curso!”

ESTUDE RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA PUCRS

Hermílio Santos utiliza a sétima arte para divulgar resultados de suas pesquisas/ Foto: Arquivo pessoal

Herdeiras Negras, documentário apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é um dos trabalhos mais recentes do sociólogo Hermílio Santos, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e coordenador do Centro de Análises Econômicas e Sociais (CAES) da PUCRS. O professor da Escola de Humanidades utiliza o cinema como meio de divulgação dos resultados de suas pesquisas científicas.  

O filme, realizando tanto com os recursos da bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq concedida ao professor Santos e por meio do edital nº 31/2022, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ainda em realização, trata da narrativa biográfica de três gerações de mulheres negras, habitantes de locais que foram marcados pela exploração da mão-de-obra escrava, em períodos distintos: no ciclo do açúcar, em Pernambuco; no do ouro e diamante, em Minas Gerais; e no do charque, no extremo sul do Rio Grande do Sul. A pesquisa foi desenvolvida a partir de entrevistas atuais. Como em todos os outros documentários já realizados pelo professor, a utilização do componente biográfico se relaciona à teoria criada pelo sociólogo austríaco, Alfred Schütz,  com que o professor Santos trabalha. 

Embora utilize o cinema como forma de divulgar seu trabalho científico, o professor Santos ressalta que o documentário não é a pesquisa, mas tem papel importante na difusão dos estudos. “Nunca vi [o documentário] como um substituto da divulgação escrita dos resultados, mas como um instrumento adicional e muito possante, que acaba por atrair a atenção para a própria pesquisa. O documentário cria a oportunidade de diálogo com um público acadêmico e não acadêmico sobre atividades acadêmicas”, salienta ele.  

“É uma forma de a universidade transbordar suas atividades de pesquisa para um público que não está sempre afeito às atividades acadêmicas, aos canais de divulgação tradicionais acadêmicos, como revistas, periódicos, congressos”, ressalta, lembrando da exibição de um documentário de sua autoria em dois cinemas alemães, como parte da atividade promovida por uma universidade da Alemanha. A mostra realizada para o público em geral, contudo, foi uma exceção. Os filmes ainda não se encontram disponíveis para o grande público. Na página do CAES da PUCRS no YouTube é possível encontrar os teasers de alguns documentários do professor. “Ainda estou montando estratégia para colocá-los todos disponíveis gratuitamente”, afirma o professor Santos. 

Hermílio já realizou pesquisas com temáticas como adolescentes infratores, histórias negras e indígenas e iniciativas sociais na pandemia/ Foto: Bruno Todeschini

O primeiro documentário realizado pelo professor – Intimidade Vigiada (2010) – possuía apenas doze minutos de duração e tratava de uma pesquisa desenvolvida por Santos com adolescentes infratores, no Rio Grande do Sul. Seis anos depois, uma pesquisa do professor sobre violência contra crianças em quinze favelas localizadas em Recife, São Paulo e no Rio de Janeiro, resultou no documentário Infância Falada.  

“Como desdobramento da pesquisa, que mostrou muita violência no cotidiano, as mães indicavam que bater nas crianças não resolvia, que o que resolveria seria o diálogo”, diz Santos. Dessa forma, ele resolveu documentar, nas mesmas cidades em que seu estudo se desenrolou, projetos sociais que apostavam no diálogo com crianças e adolescentes e na autonomia desses jovens. Em 2018, Santos desenvolveu o documentário Mundo da Vida – A Sociologia de Alfred Schütz, para apresentar a teoria do fundador do método empírico que envolve a abordagem da narrativa biográfica. O documentário apresenta depoimentos e reflexões de estudiosos de vários países, incluindo Japão, França, Itália, Alemanha e Argentina, país sul-americano onde Schütz é mais conhecido. Um novo filme sobre a obra de Schütz, Mundo da Vida II – Biografias e Narrativas, já se encontra em fase de edição. Na obra, Santos explica a forma de trabalhar de Schütz. 

Durante a pandemia, o professor realizou a obra Desafios do Brasil contemporâneo, uma série de seis vídeos tratando de questões como a indígena, a do meio ambiente e a da mulher negra, além de iniciativas da sociedade civil nas periferias das metrópoles e iniciativas civis durante a pandemia. Os vídeos foram apresentados ao público participante do IV Fórum de Sociologia da Associação Internacional de Sociologia (ISA, em inglês), que ocorreu de modo virtual em fevereiro de 2021, reunindo especialistas de 125 países. As obras mais recentes do professor Santos são Espaços de fronteira, ainda em produção, e um documentário intitulado Embarcados, que ele fez a partir de uma pesquisa contratada pela Petrobrás e outras cinco empresas de petróleo do pré-sal. A pesquisa, multidisciplinar, envolveu várias equipes, que durante cinco anos estudaram as questões de trabalho e de acidentes nas plataformas de petróleo. O professor Santos foi o coordenador da pesquisa na área de sociologia. 

*Com informações do CNPQ 

Alunos do curso de Relações Públicas participaram do Congresso Acadêmico sobre Defesa Nacional (CADN)/ Foto: Divulgação

Os alunos Laura Toscan, Luana Câmera, Manuela Pezzi, Matheus Geiss e Vitor Colombo, do curso de Relações Internacionais da Escola de Humanidades da PUCRS, conquistaram a segunda colocação em premiação no Congresso Acadêmico sobre Defesa Nacional (CADN), realizado entre os dias 28 de agosto e 1º de setembro. A equipe venceu apresentando o artigo intitulado: “Uma Multipolaridade Bipolar? Os desafios e as possibilidades do Brasil frente a uma nova arquitetura do sistema internacional”. 

O evento, realizado na Academia da Força Aérea (AFA), no município de Pirassununga, em São Paulo, chegou à sua 18ª edição este ano, sendo um espaço de diálogo acadêmico e estratégico entre civis e militares sobre temas vinculados à segurança e defesa nacional. Para o Prof. João Jung, que acompanhou os estudantes, a premiação é passo importantíssimo para o curso de Relações Internacionais, tendo em visto que o mesmo tem apenas três anos.  

“O CADN é um importante e já tradicional congresso para a área de Relações Internacionais, sendo frequentado pelas principais IES do Brasil. A participação nele se dá através de um concorrido processo seletivo, do qual temos o prazer de ter sido selecionados nas duas vezes em que concorremos. Ao se considerar que o nosso curso tem apenas três anos, apenas ser selecionado a participar já é uma grande vitória. Neste ano, ainda mais, fomos brindados com o prêmio de segundo melhor artigo, o que demonstra a capacidade do nosso curso, o qual, ainda que novo, já se projeta para ser um dos grandes cursos da área de Relações Internacionais no país”, afirma o professor. 

O aluno Vitor Colombo, um dos participantes do evento, destaca a importância do Congresso para a formação relacionada à área de segurança nacional e também da vitória da equipe na premiação. 

“A nossa conquista é motivo de profundo orgulho e demonstra a importância da estreita colaboração entre os setores civil e militar na promoção do progresso científico, pedagógico e social. Este reconhecimento reforça nossa dedicação em contribuir para o avanço do conhecimento e a construção de uma sociedade mais segura e preparada para os desafios que envolvem a defesa nacional. Agradecemos profundamente por esta distinção e reiteramos nosso compromisso em continuar contribuindo para o aprimoramento da cooperação entre as esferas acadêmica e militar em prol do progresso e da segurança de nossa nação”, explica ele. 

SOBRE O CONGRESSO ACADÊMICO SOBRE DEFESA NACIONAL 

O Congresso Acadêmico sobre Defesa Nacional (CADN) é uma atividade promovida anualmente pela Escola Superior de Defesa (ESD), em parceria com as Escolas de Formação de Oficiais das Forças Armadas: Escola Naval (EN), Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e Academia da Força Aérea (AFA). 

O evento tem como principais objetivos: 

Clique aqui e saiba mais sobre o CADN 2023. 

Programa de Bolsas em Licenciaturas da Escola de Humanidades beneficiou 160 estudantes em 2022/ Foto: Bruno Todeschini

O Programa de Bolsas de Formação Inicial em Licenciaturas, viabilizado após a participação e seleção da Escola no Edital 66/21 SEB/MEC, possibilitou à Escola de Humanidades da PUCRS a concessão de 160 bolsas nos cursos de Licenciatura em Pedagogia, Letras Português e Ciências Biológicas no primeiro semestre de 2022, quando o projeto foi iniciado. “Dos selecionados, muitos já atuam como docentes ou educadores sociais, da educação infantil ou anos iniciais, mas não têm formação superior”, explica Ana Regina Soster, professora da Escola de Humanidades e coordenadora do projeto. Logo, a ideia é que a iniciativa contribua para a qualificação do ensino básico, principalmente nas escolas públicas. 

Conhecida como a “profissão que forma todas as profissões”, a docência exerce um papel fundamental na construção da sociedade. No entanto, sofre com constante desvalorização – além da baixa procura: os cursos de licenciatura são cada vez menos almejados pelos jovens. Segundo uma pesquisa da Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp), o déficit de professores em todas as etapas da educação básica pode chegar a 235 mil em menos de vinte anos. O estudo também aponta que o número de ingressos em cursos presenciais de licenciatura caiu 37,6% na última década. Tudo isso impacta na qualidade da educação e no futuro do País – considerando esse movimento, a Escola de Humanidades busca incentivar a formação de novos professores da educação básica.  

Experiências práticas de docência e núcleos de apoio fortalecem a formação  

O projeto foi construído tendo como base um conjunto de ações de apoio e de formação, como seminários integrados, palestras, oficinas e vivências nas escolas de educação básica. Ana Regina explica que os cursos de licenciatura da Escola de Humanidades passaram por uma grande reestruturação curricular implantada no primeiro semestre de 2020. Com base na aprendizagem pela pesquisa e em um forte caráter interdisciplinar, as licenciaturas possuem, em seu primeiro semestre, disciplinas em comum com todos os cursos. Essas disciplinas contemplam um olhar sobre o contexto social mundial e principalmente nacional. Entre elas, estão: Leituras de Brasil; História, Tempo e Memória e Demografia e Sustentabilidade. 

A Iniciação à Docência, na qual os alunos vivenciam experiências em escolas, é realizada do 1º ao 5º semestre. Em todas as etapas da iniciação, os alunos recebem acompanhamento de professores do Núcleo de Iniciação à Docência (NID) da Escola de Humanidades, que possuem experiência com atuação na educação básica em diferentes áreas do conhecimento. A professora ainda ressalta que o contato com alunos de diferentes realidades é fundamental para a construção da consciência social dos estudantes de licenciatura. 

Iniciação à Docência contribui para a formação prática dos estudantes de licenciatura/ Foto: Bruno Todeschini

“São estas vivências que aproximam nossos licenciandos da realidade da comunidade escolar, contribuindo para o reconhecimento das dificuldades, possibilidades e para o amadurecimento ao longo do processo na construção de um trabalho coletivo, com projetos interdisciplinares que contribuam de modo mais efetivo nas salas de aula das redes”, destaca. 

Ana também comenta a importância do conhecimento e experiência prévios dos alunos que já atuavam na docência antes mesmo de ingressarem na licenciatura: 

“A educação é um processo de mão dupla. Como colocado por Paulo Freire: ‘quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender’. Partilhar as experiências vividas, observar a própria prática docente com base na formação construída na universidade são partes do processo de ensino aprendizagem”, pontua a professora. 

A divisão das disciplinas de iniciação à docência é feita da seguinte forma: 

O Centro de Apoio Discente da PUCRS também integra o projeto e vem contribuindo tanto na perspectiva pedagógica, quanto na socioemocional. O serviço da Universidade atua por meio de três núcleos: o Núcleo de Apoio à Aprendizagem, que oferece monitorias em diversas disciplinas, além de oficinas e atividades extracurriculares; o Núcleo de Apoio à Educação Inclusiva que executa ações para promover o acesso e a permanência de alunos com transtornos de aprendizagem, deficiências e outras necessidades; e por fim, o Núcleo de Apoio Psicossocial que promove o acolhimento e a escuta qualificada para prevenção, intervenção e mediação de questões relativas à saúde mental dos alunos. “Esses núcleos muito têm contribuído para que as(os) estudantes possam superar as dificuldades e consigam usufruir das melhores condições para alcançar o resultado desejado: a conclusão da graduação prevista para o segundo semestre de 2025”, celebra Ana. 

Valorização da docência deve ser esforço coletivo 

Projetos de incentivo à docência são fundamentais para a valorização da profissão/ Foto: Bruno Todeschini

Ana Regina acredita que projetos de incentivo à formação docente, como a iniciativa da Escola de Humanidades, são essenciais para retomar a valorização da profissão. Apesar de várias universidades, em especial as comunitárias, se esforçarem para manter os cursos de licenciatura, a baixa procura pela formação docente faz com que muitos deles acabem sendo descontinuados. Para a professora, é fundamental que os diferentes setores e estruturas de poder da sociedade compreendam a gravidade dessa situação e percebam a importância da educação como um investimento a longo prazo. 

“Precisamos valorizar a profissão como carreira, entendo que a graduação é parte de um processo de formação continuada. Não teremos resultados positivos nas provas aplicadas aos estudantes da educação básica se não investirmos pesadamente em formação inicial e continuada, valorização da carreira docente, qualificação das escolas e suporte aos estudantes em todos os níveis para que permaneçam nos bancos das escolas e universidades”, afirma ela. 

No entanto, ela pontua que traduzir para a sociedade a importância da formação de novos docentes é um desafio. É necessário um esforço conjunto de universidades e escolas, tanto públicas como privadas, para debater as dificuldades não só de formar novos docentes, mas também de estimular aqueles já formados em diversas áreas do conhecimento, já que muitos não são mais atuantes no mercado, como professores. 

“Na sociedade complexa, ambígua, volátil e incerta na qual vivemos, uma formação que não contemple o reconhecimento da interdisciplinaridade, do trabalho colaborativo, do aprender pela pesquisa, do domínio das tecnologias e da inovação não atenderá as necessidades da realidade”, finaliza. 

Estude na Escola de Humanidades

Pesquisador Alexandre Anselmo Guilherme publica livro sobre os desafios da atuação dos professores/ Foto: Bruno Todeschini

O professor e pesquisador da Escola de Humanidades da PUCRS, Alexandre Anselmo Guilherme, organizou o livro Formação de Professores ao redor do mundo: desafios e oportunidades, publicado recentemente pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco-Brasil) e pela Cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade da Universidade Católica de Brasília (UCB). O docente foi editor em conjunto com o professor Renato de Oliveira Brito, da UCB, no projeto que envolveu 13 países para discutir a formação, condições de trabalho e carreira dos professores em escala global.  

A obra debate o contexto educacional, político, social e cultural mundial, apresentando experiências de pesquisadores vinculados às universidades de liderança mundial do Brasil, Chile, Canadá, Noruega, Suécia, Finlândia, Reino Unido, Índia, Singapura, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e Israel. O objetivo do livro é demonstrar os desafios e oportunidades de desenvolvimento desses respectivos sistemas de educação, ampliando as discussões de forma acessível, com distribuição gratuita em português e inglês. A obra pode ser conferida aqui. 

Alexandre conta que a oportunidade de construir a publicação surgiu através de sua atuação no Ministério da Educação, onde trabalhou com o professor Renato. A partir desta relação, eles se uniram para construir o projeto em rede com contatos internacionais e com o incentivo da Unesco e da Cátedra em Brasília. 

Bernardete Gatti, pesquisadora de Educação da Fundação Carlos Chagas Instituto de Estudos Avançados (Universidade de São Paulo), foi responsável pela apresentação do livro, onde destacou a importância da escolarização básica de grandes parcelas das populações em diferentes países. Conforme a docente explica na introdução, os profissionais da educação cumprem papéis importantes no processo de formação das novas gerações, proporcionando a participação social e cidadã efetiva destes jovens em uma vida em comunidade.  

“Compreender e discutir a formação, as condições de trabalho e carreira dos professores, e, em decorrência sua configuração identitária profissional, se torna importante para políticas e ações formativas que aportam qualidade aos processos educacionais que se realizam nos cotidianos escolares, nos seus diversos contextos e níveis”, destaca Bernardete. 

Leia também: Sandra Einloft, decana da Escola Politécnica, recebe título de Doutora Honoris Causa

Pesquisas mostram que o número de leitores no Brasil vem diminuindo / Foto: Igor Bandeira

A população brasileira está lendo menos. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo IBOPE, entre 2015 e 2019, o Brasil perdeu mais 4,6 milhões de leitores, o que significa uma queda de 56% para 52% no número de pessoas que leem no país. Fatores como gênero, idade, escolaridade e renda acabam influenciando a criação e o mantimento do hábito de não só ler como comprar livros e frequentar bibliotecas. O estudo mostrou que o número de leitores é maior nos anos escolares (5 e 17 anos), com incidência maior entre os 11 aos 13 anos, onde 81% das crianças se consideram leitoras. 

A leitura acaba sendo muitas vezes estimulada na escola e em casa por professores, pais e responsáveis. Para o professor do curso de Escrita Criativa da PUCRS Cristiano Baldi o espaço em que a criança está inserida faz toda a diferença nesse processo.  

“Aqui fala minha experiência de pai mais do que qualquer outra coisa: o ponto decisivo é o ambiente e o exemplo. Ter livros, ler livros, fazer atividades que envolvam livros. Eu, por exemplo, gosto de pedras e cogumelos. Magicamente, meu filho gosta de pedras e cogumelos, sem que eu jamais tenha forçado qualquer coisa.” 

O hábito, se não construído constantemente, pode acabar se perdendo na vida adulta: a pesquisa mostra que o número de pessoas leitoras no país começa diminuir depois dos 18 anos. Cristiano considera que a manutenção do hábito só acontece se ele for atrelado a boas experiências. 

Não vejo o que se possa fazer com um adolescente, além de manter um ambiente em que a leitura seja um hábito – e que seja fácil e mais ou menos livre. Por outro lado, ler demanda algum tempo minimamente ininterrupto, além de concentração, ativos que estão mais raros na vida contemporânea do que costumavam ser.”  

Para escrever, é preciso ler  

35 anos da Oficina de Criação Literária: inscreva-se para a turma de 2021

Leitura e estudo são essenciais para se tornar um bom escritor/ Foto: Pexels

Quando a leitura se torna algo prazeroso é comum que surja também uma vontade de escrever sua própria história. Intimidante para algumas pessoas, o ato de escrever acaba sendo o sonho para outras. Mas o que é necessário para colocar a ideia no papel e efetivamente escrever? Parece simples, mas não é. Para o professor, existem três pontos que toda pessoa que pretende seguir por esse caminho precisa entender.

1. Leia muito

A primeira recomendação é ler. A leitura nos coloca em contato direto com a instância mais material da composição literária: a língua. A partir da leitura, vamos compreendendo o potencial expressivo da linguagem e a dinâmica oculta do nosso idioma – seus ritmos e sua lógica.

2. Estude 

É preciso estudar a literatura, é claro, porque sempre escrevemos dentro de uma tradição. Mas estudar também técnica literária, como fazemos no curso de Escrita Criativa da PUCRS. Existe uma visão, felizmente bastante anacrônica hoje em dia, segundo a qual para escrever bastaria talento. Isso que chamamos talento, ainda que de forma pouco precisa, é sem dúvida importante. Mas provavelmente o caminho mais seguro para expressar esse talento seja o estudo da técnica.    

3. E não menos importante: escreva

Para escrever é preciso escrever. Ler e estudar escrita é importante, mas só a experiência de escrever cria uma consciência dos limites da linguagem, de sua capacidade, sempre insuficiente, de cobrir a realidade e a vida, de figurá-las, de discuti-las. Imagine a argila ou a pedra-sabão. Se você estudasse escultura, poderia conhecer a tradição artística desses materiais; poderia dominar, teoricamente, seus limites térmicos e físicos, sua resistência; saberia com que instrumentos trabalhar cada material. Mas é apenas ao manusear a argila ou a pedra-sabão que você entende de fato seus limites e pode até mesmo, se for um grande artista, distender um pouquinho esses limites. 

Como se colocar no mercado 

Como transformar o hábito da leitura em uma profissão

Mercado literário aquecido é promissor para graduados em Escrita Criativa/ Foto: Giordano Toldo

O mercado do livro se encontra em constante movimento e crescimento. O faturamento das editoras brasileiras em 2022 teve um crescimento de 8,3%, com as vendas aumentando quase 3% em relação ao ano de 2021. A indústria do livro não é feita apenas de escritores, existe uma enorme cadeia de produção que conta com editoras, distribuidoras, livrarias físicas e virtuais, gráfica, diagramadores, ilustradores entre outros.  

Leia também: Hábito de leitura estimula o cérebro e promove benefícios para a saúde mental

Hoje, o/a profissional que deseja ingressar nessa indústria percebe que existem muitas portas se abrindo nesse meio. Para Cristiano, o mercado editorial, pelo menos no que diz respeito a literatura, costumava ser bem fechado e existem muitas produtoras pequenas e médias com bons padrões de produção. Por ser um mercado em constante mudança, existem demandas que exigem profissionais cada vez mais qualificados.  

“Temos uma demanda por revisão, arte, diagramação, preparação de originais, entre várias outras funções – e boa parte delas pode ser exercida por quem sai do nosso curso de graduação. Além disso, para quem estuda Escrita Criativa na PUCRS, há possibilidades fora da cadeia produtiva do livro, em alguns mercados que estão em franca ascensão, como o de games e o do audiovisual.”  

O curso de Escrita Criativa é um dos pioneiros no Brasil sendo o primeiro tecnólogo de graduação criado na área. Nele, alunos e alunas têm acesso a um ensino que contempla escrita literária, editoração com conteúdo e revisão de texto, planejamento de eventos culturais além de oficinas literárias.

Conheça o curso de Escrita Criativa da PUCRS

laboratório de infâncias, desenvolvimento infantil

Foto: Pexels

Em 1959, a Organização das Nações Unidas criou a Declaração dos Direitos da Criança, um momento que marcou na história a infância, como um tema global. Desde então, ampliaram-se os olhares e discussões acerca dos direitos das crianças, bem como o papel das escolas e das políticas em prol desta etapa da vida. Atualmente, além destes assuntos, debate-se muito sobre o sentido do brincar no cotidiano infantil e seu impacto no desenvolvimento das crianças.  

De acordo com Andreia Mendes, professora da Escola de Humanidades e coordenadora do Laboratório das Infâncias da PUCRS (LabInf), o brincar permite que o indivíduo, seja criança ou adulto, perceba o mundo e desenvolva suas relações com o meio físico e social. Em pesquisas realizadas na universidade, descreveu-se que a atividade lúdica de jogos e brincadeiras proporciona momentos propícios para socializar, criar, imaginar, aprender, interagir, conhecer e vivenciar o cotidiano. 

Esta compreensão parte da noção de que, no momento em que as pessoas se relacionam com o ambiente e com outros indivíduos, elas desenvolvem suas capacidades de raciocínio, pensamento, linguagem, comunicação e afetividades. Compreende-se também que o ser humano é uma espécie dialógica, ou seja, que necessita da interação para se desenvolver através dos aspectos motor, afetivo e cognitivo, a fim de construir suas aprendizagens. 

O brincar e o desenvolvimento infantil

Ainda que as crianças, enquanto grupo social, sejam consideradas frágeis, é por meio da relação com o outro e o com o mundo, com subsídios, acesso e intervenção disponibilizados a elas, que os pequenos interagem, aprendem, crescem a fim de que, de forma autônoma e sadia, possam se desenvolver. Na pesquisa A psicologia escolar e educacional pensando as infâncias na pandemia, as pesquisadoras da PUCRS Andreia Mendes, Renata Plácido Dipp e Giovanna Bortoli contam que no ato de brincar a criança ou o adulto fruem a sua liberdade de criação.  

Elas também ressaltam o papel da escola para criar uma sinergia entre a proposta pedagógica, a compreensão dos educadores e da instituição, bem como da família, em última análise, para que se estabeleça e se mantenha uma cultura do brincar e da sociedade. De acordo com as pesquisadoras, a escola tende a cumprir este papel, principalmente em contextos familiares com mais fragilidades.  

Em famílias que não experimentaram a educação e não conseguem estimular os filhos, que sobrevivem em contextos econômicos de precariedade, ou que convivem com violências de diferentes ordens, tais cenários podem reduzir as chances de a família estimular a criança ao estudo e às experiências de brincar. Já em casas com contextos sociais privilegiados, do ponto de vista econômico, também se identificam fragilidades familiares.  

laboratório de infâncias, desenvolvimento infantil

Laboratório das Infâncias / Foto: Giordano Toldo

De acordo com o estudo, as exigências de uma sociedade hiperinformada, digital, competitiva e fugaz (em que cada vez mais os pais são exigidos a se ocuparem com o mundo do trabalho), tendem a estimular brincar menos ao livre e mais à tarefa. Andreia, Renata e Giovanna explicam que em ambos os extremos, crianças com pouco espaço para criar, passam apenas a reproduzir. Desta forma, estes contextos podem gerar às crianças o vazio; elas tendem a se entusiasmar menos pela aprendizagem, podem se tornar adultos mais ansiosos e menos criativos e tendem a esperar pela condução do ambiente e exigir que o outro dê conta de lhe oferecer o melhor caminho para a aprendizagem. 

“O Dia Mundial da Infância agrega muito no debate na garantia do direito das crianças, mas precisamos compreender esta etapa da vida como crucial na formação de um novo adulto. Não é apenas uma fase de passagem, as crianças de hoje serão os adultos de amanhã e que o que se passa na infância marca a vida inteira do indivíduo”, alerta Andreia.

Protagonismo frente ao debate 

O LabInf surgiu de uma parceria entre a Escola de Humanidades e o Centro Marista de Promoção dos Direitos da Criança do Adolescente com o objetivo de desenvolver um projeto integrador na Universidade com foco nas infâncias. É uma estrutura de ensino, pesquisa e extensão idealizada para promover propostas interdisciplinares efetivas e de impacto social na construção de uma sociedade que valorize e dê voz às crianças.  

Através de estudos sobre e com as crianças, e por meio da pesquisa-ação, também busca-se ampliar o repertório formativo de nossos alunos para torná-los futuros profissionais com competências e habilidades para trabalhar junto ao campo das infâncias. O conjunto de estudos desenvolvidos pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Infância(s) e Educação Infantil e dos Grupos de Pesquisa sobre Questões Sociais na Escola e Psicologia e Educação são o berço das ações.  

Participam do LabInf mestrandos e doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Educação, Ciências Sociais e demais programas da PUCRS, além de bolsistas de Iniciação Científica, professores, egressos na condição de colaboradores e estagiários. Cada projeto de pesquisa oportuniza investigar sobre mais temas, como a inserção social da criança imigrante, infâncias indígenas, crianças com TEA, educação inclusiva e educação especial, a importância do brincar, entre outros.  

O interesse institucional em contribuir com o tema permite uma atuação integrada em uma sólida parceria com Centro Marista de Promoção dos Direitos da Criança do Adolescente, o Centro Social Marista Irmão Bertolini e a Escola de Educação Infantil Menino Jesus, o Colégio Rosário e o Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia da PUCRS e com uma rede de pais e crianças no estado do Rio Grande do Sul. Saiba mais aqui. 

manuscrito jesuita

Foto: Giordano Toldo

A descoberta de pesquisadores da PUCRS liderados pelo professor da Escola de Humanidades, Ir. Edison Huttner, foi capa da primeira edição de 2023 da revista científica Visioni LatinoAmericare com sua pesquisa acerca do Manuscrito jesuíta de 1730, descoberto em 2017, na cidade de Panambi, no Rio Grande do Sul. O docente apresentou, em um dos periódicos mais importantes da Europa, suas recentes descobertas no Manuscrito – descrevendo a presença de conteúdos interdisciplinares, em versão bilíngue espanhol e latim –  escrito por jesuítas e indígenas Guarani em papel fabricado em Gênova, na Itália. 

O Manuscrito foi identificado quando Liane Janke, de Panambi, entrou em contato com Ir. Edison, relatando a existência da obra por herança familiar. Desde então, o docente e outros pesquisadores da PUCRS vêm realizando estudos para analisar o conteúdo e a estrutura física do Manuscrito. De acordo com o professor, a riqueza da obra está em suas temáticas agora explicadas e catalogadas, relatando em várias mãos a identidade de mais de 140 mil pessoas que viveram entre os séculos de XVII-XVIII nas 30 Reduções jesuítas da Província do Paraguai, cujas ruínas se encontram ainda hoje na Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.  

“Os jesuítas e indígenas tinham em mãos um Manuscrito com conhecimentos de teologia, de cultura geral, das missões dos jesuítas na China e Japão, sobre os santos católicos, de astronomia e signos do zodíaco. Além disso, foram identificados importantes estudos de astronomia elaborados por Buenaventura Suárez, o primeiro astrônomo nascido na América”, destacou Ir. Edison.  

Sobre o Manuscrito e suas revelações 

Por meados de 1607, no início da implementação das 30 Reduções, os ensinamentos eram transmitidos na catequese e nas escolas, por livros vindos da Europa. Conforme explica o pesquisador, a criação artesanal de manuscritos foi uma alternativa no aspecto pedagógico, proporcionando aprendizagem e incentivando a prática da caligrafia, assim como possibilitou a produção de temas variados em um só livro, em formato conceitual de manuscrito.  

manuscrito jesuita

Foto: Giordano Toldo/PUCRS

Desta forma, o Manuscrito se destaca por sua perspectiva didático-pedagógica e de transmissão de conhecimentos, destinado para os mestres jesuítas que utilizavam o conteúdo para sua formação teológica, de magistério e de estudos como astronomia para a localização da redução. Os indígenas também eram leitores nas escolas das missões em sua formação de cultura geral. As pesquisas, realizadas pelo grupo da PUCRS composto por Ir. Edison, Eder Abreu Hüttner, Fernanda Lima Andrade e Rogerio Mongelos, revelaram que a astronomia e os 12 signos do zodíaco chegaram nas escolas das Reduções para fazer parte do conhecimento e do cotidiano já naquele período. 

Em outras páginas analisadas, foram encontradas a descrição do Reino do Japão e da China, citações sobre o cientista italiano Matteo Ricci e o jesuíta irlandês Richards Archdekin. Constam também estudos do famoso matemático e astrólogo alemão Cristovão Clávio, responsável por reformar o calendário gregoriano, ainda usado atualmente no mundo todo. Em outras partes do Manuscrito, também é citado Clemente XII, que foi Papa de 12 de julho de 1730 até 1740, demonstrando o conhecimento global que aquela população tinha na época e contexto. 

“Outro elemento importante do Manuscrito é a boa caligrafia. Os jesuítas ensinaram caligrafia para os indígenas das missões, tendo em mãos alguns livros trazidos da Espanha. Com isso, o Manuscrito é legível em todas as páginas, escrito por várias mãos, essa confecção artesanal é resultado da prática da boa caligrafia aprendida nas escolas das missões. Modificando algumas percepções, os indígenas escreviam bem e a escrita se tornou arte no período das Reduções jesuítas”, conta Ir. Edison.  

Astronomia e Buenaventura Suárez 

O pesquisador da PUCRS contextualiza que Buenaventura Suárez é responsável pelo primeiro telescópio construído em solo americano com materiais locais e com auxílio de indígenas missioneiros. Com os estudos em astronomia, tornou-se possível ter conhecimento sobre cada localização das Reduções no mapa, bem como ter ciência da localização de outras cidades famosas no mundo. Graças a disseminação dos estudos do pioneiro Buenaventura Suárez, as 30 Reduções se situavam no tempo e espaço, além disso seus estudos foram referência para matemáticos e cartógrafos que projetaram os melhores mapas daquele período. 

manuscrito jesuita

Foto: Giordano Toldo/PUCRS

Na época de publicação do Manuscrito, Suárez era referência para matemáticos e cartógrafos que projetavam mapas precisos e confiáveis, assim como era o astrônomo de confiança para as 30 Reduções. Sua participação na obra corresponde a 128 páginas sobre astronomia nunca publicados antes, ou seja, uma prova verídica dos estudos de transferência de conhecimento de astronomia realizado por Buenaventura Suárez.  

Com a análise dos pesquisadores da PUCRS, foi possível confirmar que as coordenadas presentes no Manuscrito foram utilizadas para o desenho dos primeiros mapas da região da época. Além disso, pela primeira vez na história, um manuscrito jesuíta apresenta símbolos da astrologia, como planetas e signos do horóscopo, graças aos estudos de Buenaventura Suárez, concluindo que indígenas e jesuítas das Reduções sabiam qual eram seus signos a partir de sua data de nascimento. Para Ir. Edison, estes conteúdos da Astronomia de Buenaventura Suárez alcançam uma nova visão de mundo daquele tempo, em plena ação e ideias de modernidade. 

“Os estudos e a prática da astronomia presente no Manuscrito revelam a consciência de espacialidade missioneira presente nas Reduções. Foram revelados conhecimentos de arquitetura de construção de observatório astronômico, relógios solares, torres (campanários), assim como a construção de mapas cartográficos. Desta forma conseguimos concluir que indígenas e jesuítas se moviam pelas matas para estabelecer novas reduções unindo conhecimentos ancestrais com noções de astronomia”, explica o docente.  Leia o artigo na íntegra

Leia também: Recuperação Judicial: pesquisadora explica como empresas podem sair da falência