Neste mês de novembro de 2022, o Catar irá sediar a Copa do Mundo, o principal torneio de futebol masculino de seleções do planeta. Como cidade anfitriã deste grande evento internacional, o país vem se preparando nos últimos anos, investindo em infraestrutura tanto para os estádios quanto para os outros setores do país que receberão uma grande quantidade de turistas. Neste momento, a PUCRS é representada pelo professor e pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Luís Henrique Rolim que está em Doha, capital do Catar, realizando uma missão cultural.
Com mais de 12 anos de experiência no país, o docente revisita a cidade como produtor cultural do mural Borderless, realizado pelo artista visual brasileiro Kelvin Koubik, comissionado pela Embaixada do Brasil em Doha e do Centro Cultural Katara, em homenagem ao Bicentenário da República e a realização da Copa do Mundo no Catar. Além disso, suas atividades visam a produção de conteúdo pré-Copa para redes sociais e realizar visitas a exposição Is it a Beautiful Game? da galeria Media Majlis da Northwestern University in Qatar, na qual é curador convidado e ao Qatar Olympic and Sports Museum, um dos maiores museu de esportes do mundo, na qual foi diretor de pesquisa e consultor de curadoria para as galerias sobre a cultura esportiva do Catar.
Professor da PUCRS inaugura exposição em Doha, no Catar.
Em sua estadia no país-sede da Copa do Mundo, Rolim tem participado de entrevistas com redes de televisão, tanto local quanto brasileira sobre a cultura esportiva do Catar. Em suas redes sociais, compartilha diversos conteúdos e curiosidades de esporte e cultura, apresentando os preparativos de Doha para receber o mundo inteiro em menos de um mês. O PUCRS Pesquisa conversou com o professor para saber mais sobre sua trajetória, curiosidades da cidade e sobre o momento da Copa do Mundo no país, confira a entrevista na íntegra:
Faltando menos de um mês para a Copa do Mundo, como está o clima, emoção e os preparativos do país para receber o grande evento?
Ao mesmo tempo que existe uma euforia na população local, há também uma grande preocupação com influxo de torcedores, mídia e profissionais relacionados ao evento. A cidade já apresenta várias estruturas temporárias prontas e há uma movimentação 24h por dia de trabalho para entregar tudo nas próximas semanas. Não se fala em outro assunto, pois praticamente toda a Copa será realizada em uma cidade, a capital Doha. E isso também gera uma perspectiva de que haverá grandes aglomerações e possivelmente problemas de locomoção na cidade.
Quais principais pontos da cidade que os visitantes que estarão para a Copa do Mundo precisam conhecer?
O mercado tradicional Souq Waqif e a área central da cidade Mushaireb é um passeio imperdível. Para quem curte esportes, a Sports City na área do Estádio Khalifa, onde se encontra o Museu do Esporte e o parque da Aspire. A ilha artificial Pearl é um passeio mais luxuoso, mas igualmente interessante. Aos amantes de cultura, o Centro Cultural Katara. E, claro, aqueles que visam fugir das aglomerações, um passeio no deserto ao sul do país é o local para experienciar uma imensidão de dunas e praias.
Como é a cultura esportiva do Catar e qual a relação do país com o futebol?
Os Cataris são apaixonados por futebol, é o esporte que todos acompanham e torcem, tanto para clubes locais como para clubes da Europa. O rei, Xeque Tamim Al Thani, sempre foi relacionado com o esporte, sendo atleta de tênis e depois como dirigente do Comitê Olímpico do Catar. Então o incentivo à prática esportiva é governamental, não só em investimentos para sediar eventos, mas também para questões de saúde e mudança de hábitos de vida voltado para a prática do exercício físico, pois as taxas de obesidade são altíssimas.
O que veremos de diferente nessa edição da Copa do Mundo no Catar?
Acredito que teremos um foco na arquitetura e tecnologia dos estádios. Todos os estádios foram construídos especialmente para a Copa, apenas um foi renovado. Então, vamos ter uma cobertura midiática com possibilidades até então não vistas, com ângulos e câmeras que irão aumentar ainda mais espetacularização do evento. Será uma Copa também voltada aos costumes da região e cultura árabe, algo que deverá gerar um debate sobre multiculturalismo e geopolítica no esporte.
Em 12 anos de experiência no país, quais aspectos do Catar são mais marcantes para você?
A capacidade de transformação da cidade, da capital Doha. É um local que está sempre em constante mudança, com muitas atividades acontecendo. Você realmente sente que há um mundo dentro da cidade, devido as inúmeras possibilidades de entretenimento, seja na área esportiva como cultural. Mas o que me impressionou mais dessa vez é a abertura aos costumes ocidentais. Há uma evidente transformação cultural na nova geração dos Cataris, principalmente das mulheres que estão cada vez mais empoderadas pela família real. Um olhar de fora, de quem não conhece a cultura local ainda é estereotipado, mas quem conhece a cultura local, percebe que foram feitas mudanças importantes em um curto período de tempo. A Copa está aí para demonstrar algumas dessas mudanças.
O artista visual e muralista, natural de Porto Alegre, Kelvin Koubik, foi convidado para criar uma obra de arte pública no Centro Cultural Katara em Doha. Esta oportunidade surgiu através da Embaixada do Brasil em Doha que buscava uma ação cultural em comemoração ao Bicentenário da Independência do país e celebrar o momento histórico do Catar enquanto país sede da Copa do Mundo de Futebol Masculino. O artista gaúcho foi responsável pela pintura do mural na parte leste do prédio 6, em frente à Rua da Cultura da PUCRS, relembre.
Localizada no coração do Katara, a obra intitulada Borderless terá aproximadamente 10 metros de altura e traz um diálogo entre a cultura do Catar e do Brasil tendo pássaros como protagonistas. A produção da obra é realizada pelo professor da PUCRS e curador Luis Henrique Rolim.
Desde que a pandemia do novo coronavírus se iniciou e, especialmente, quando o distanciamento social causado pela quarentena se tornou uma realidade, muitas pessoas têm observado mudanças no sono. Sonhar e lembrar dos sonhos – muitas vezes mais perturbadores do que de costume – com uma frequência maior do que a normal é uma delas. Outra questão bastante comentada é a dificuldade para dormir. Se você se enquadra em um desses casos, pode ter certeza de que não está só. E há explicações para isso.
Primeiramente, é importante dizer que todos nós sonhamos todas as noites – e não há nada de errado nisso. Pelo contrário. Segundo a professora da Escola de Medicina e vice-diretora do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) Magda Lahorgue Nunes, sonhar é uma atividade benéfica para o cérebro, demonstrando que sua função está normal. “Existem várias teorias em relação à função dos sonhos, entre elas a de que ajudam a consolidar memórias, a regular o humor e a treinar comportamentos não apresentados quando estamos acordados”, explica.
O motivo de nem sempre lembrarmos do que sonhamos é que essa recordação depende da transferência de conteúdo da memória recente para a remota, e isso só é possível quando existe algum grau de despertar (chamado de microdespertar) após o sonho ter acontecido.
Do ponto de vista da psicanálise, sonhar também é algo positivo e até mesmo importante – principalmente em um contexto de pandemia. Conforme a professora do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Carolina de Barros Falcão, trata-se de uma atividade elaborativa, uma via por meio da qual podemos significar o que estamos vivendo.
O sonho é uma atividade mental que acontece enquanto estamos dormindo. Ele é consequência da ativação cortical que ocorre na fase REM (rapid eye movement, ou movimento rápido de olhos) do sono. Esse estágio chega após três outras fases: N1 (transição da vigília para um sono mais profundo, mas ainda leve), N2 (desconexão do cérebro com os estímulos do mundo real) e N3 (sono profundo, com descanso da atividade cerebral).
No estágio REM, o cérebro volta a ficar ativo, tanto quanto o de uma pessoa acordada. Por isso, conforme Magda, a atividade fásica que ocorre nessa fase se relaciona com a imagética visual dos sonhos, permitindo que tenhamos sonhos complexos, semelhantes a histórias. Em uma noite, podemos ter entre quatro e seis ciclos de sono, incluindo os estágios não-REM e REM, sendo que cada um deles dura cerca de 90 minutos.
Conforme a professora Carolina, a psicologia tem muitas teorias diferentes para o sonho – algumas que coincidem mais com o olhar médico, outras que se afastam um pouco. “A psicanálise vai trabalhar com uma leitura e com um modelo de psiquismo que não descarta o corpo e o orgânico, mas que pensa que os processos psíquicos não estão apenas relacionados com os processos biológicos”, ressalta.
Para a leitura psicanalítica, o sonho é uma produção psíquica muito importante. “Temos, no sonhar, uma atividade muito privilegiada de trabalho psíquico, porque estamos ‘protegidos’ da realidade. E é por isso que podemos sonhar as coisas mais malucas que existem”, destaca Carolina.
Segundo a vice-diretora do InsCer, os sonhos são construídos com base em experiências remotas e em preocupações atuais. E a vivência intensa do tema coronavírus e de tudo o que essa pandemia implica pode ser uma explicação para estarmos nos lembrando mais dos sonhos. “As restrições de convívio social, a quebra de rotina, questões financeiras, o medo e a ansiedade sobre a gravidade do que está acontecendo já são motivos fortes o suficiente para sonharmos mais”, aponta Magda.
Carolina complementa dizendo que a pandemia da Covid-19 fez com que todos precisassem mobilizar suas vidas de forma muito rápida, fazendo adaptações no modo de viver e tolerando perdas muito contundentes na rotina. “Um motivo para que tantas pessoas estejam sonhando mais pode ser porque estão recorrendo a todas as possibilidades de trabalhar psiquicamente. O sonho tem sido uma forma muito importante de descarga dessas intensidades que estamos vivendo, do psiquismo encontrar uma forma de dar conta e de elaborar tudo isso”, diz.
A professora de Psicologia ainda aponta que, além dos acontecimentos atuais, na hora de se analisar um sonho e tentar entendê-lo, é preciso levar em consideração todo o contexto da pessoa que o sonhou: “Não sonhamos só por causa do coronavírus, da pandemia ou das restrições que estão impostas. Sonhamos porque essas situações de hoje tocam naquelas que já eram as nossas questões, nossos conflitos. Quando sonhamos, resolvemos essa dupla mobilização: a interna, do nosso mundo psíquico; e a externa, daquilo que nos invade – nesse caso, o tema da morte, do adoecimento”. Carolina conclui reforçando que o fato de as pessoas estarem sonhando significa que estão metabolizando as situações traumáticas que estão vivendo nesse momento de pandemia, e que isso é algo muito positivo.
Em relação à dificuldade para dormir, Magda destaca que as mudanças na rotina podem ser um dos causadores. “Queixas de insônia estão sendo muito frequentes durante a quarentena. Isso certamente é decorrente de quebras nas rotinas, da falta de necessidade de cumprir horários, além do relaxamento nos aspectos de higiene do sono, como variações no horário de dormir e de acordar e o uso excessivo de telas”, afirma.
Para manter a saúde do sono, apesar de todas mudanças e das preocupações causadas pela pandemia, é importante tentar seguir uma rotina. “Ter um horário para dormir e acordar, evitar o uso de telas pelo menos 30 minutos antes de dormir, não fazer uso excessivo de álcool, optar por refeições leves à noite e evitar bebidas com cafeína podem ajudar”, sugere Magda.
O InsCer desenvolveu uma pesquisa para avaliar como está o sono da população brasileira durante a quarentena. O participante, de acordo com sua idade e/ou a idade de seus filhos, é direcionado a um questionário específico para fazer essa avaliação. Ao fim, será redirecionado a uma página com informações sobre como é o sono normal nas diferentes faixas etárias e receberá dicas, conforme a idade, de como dormir bem. A pesquisa está disponível neste link.
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