As profissões se contornam no exercício dos trabalhos e nas mudanças dos arranjos trabalhistas, envoltos em questões políticas, econômicas e culturais. A introdução de novas tecnologias vem há séculos modificando as relações de trabalho. Modificações essas que no contemporâneo podem ser pensadas em termos de força, de processamento de grandes volumes de dados, automação e centralização de sistemas automatizados em tempos cada vez mais acelerados.
Devemos pensar que as transformações que vivemos impactam no contorno das profissões e modificam profundamente as relações de trabalho e de produção, com efeitos no modo como nos relacionamos entre nós e com a vida. Prospectar sobre o futuro do trabalho, das ocupações e das formações exige, então, refletir sobre o atravessamento das tecnologias e das relações humanas nisso.
“Os sistemas técnicos, por mais incríveis, “inteligentes” e promissores que sejam, não substituirão algumas capacidades humanas, tais como a criatividade e a intuição.”
O certo é que os sistemas técnicos, por mais incríveis, “inteligentes” e promissores que sejam, não substituirão algumas capacidades humanas, tais como a criatividade e a intuição, entre tantas outras. Muito vem se discutindo sobre o trabalho repetitivo e alienador, bem descrito no filme Tempos Modernos, estrelado por Charlie Chaplin. Todavia, precisamos ter cuidado com o discurso que prega que as novas tecnologias vêm libertar o sujeito dessa alienação para promover afazeres mais complexos. O processo em que as vagas de trabalho são substituídas por máquinas não acompanha a formação dessas pessoas para ingressarem em outras modalidades de ocupação em um país desigual como o nosso. Daí a importância de políticas educacionais sérias e consistentes, buscando congregar as novas profissões que estão surgindo com investimento rigoroso na educação. Do mesmo modo, nunca se necessitou tanto de profissões vinculadas ao cuidado de humanos, à educação, à filosofia e às artes, que dificilmente perderão espaço para máquinas num futuro próximo.
“Nunca se necessitou tanto de profissões vinculadas ao cuidado de humanos, à educação, à filosofia e às artes.”
A formação superior sempre foi orientada para o desenvolvimento humano e para o pensamento crítico, sendo que a técnica sempre esteve e estará presente no currículo, mesmo numa profissão que derive do ensino universitário. Porém, é necessário reconhecer que as técnicas são efêmeras: as ferramentas, as formas de fazer, os princípios e os propósitos se modificam. A ação de ensinar e de aprender, de mobilizar conhecimentos para conhecer, fazer, conviver e se constituir como sujeito – ou seja, a formação – é a grande questão requerida hoje e amanhã na universidade e em suas relações com o trabalho e as profissões. A potencialização do humanismo é uma tendência nas grandes instituições de ensino superior pelo mundo.
Vivemos um apagão de empregos que, alguns dizem, pode se acentuar em tempos de “uberização” do trabalho. Mas ainda temos muito a fazer, quando pensamos em nossa reponsabilidade com o Planeta, com a batalha contra a fome, a miséria, a violência e a indignidade de milhares de pessoas, encontrando um caminho sustentável para seguir adiante no curso da vida. Ainda há e haverá muito trabalho, e continuamos formando para profissões existentes e ainda inexistentes. As universidades podem ser pensadas como lugar atento a essas modificações e responsável por pensá-las de forma mais colaborativa. A formação de futuros empreendedores deve funcionar dentro de um discurso que os construa para uma profunda responsabilidade social, econômica e ambiental, problematizando, inclusive, o consumismo e as desigualdades.
“A ação de ensinar e de aprender, de mobilizar conhecimentos para conhecer, fazer, conviver e se constituir como sujeito – ou seja, a formação – é a grande questão.”
Podemos afirmar que há escassez de empregos, que as profissões ganham novos contornos, que ainda há muito trabalho a ser feito, e que, mais do que formar profissionais que dominam técnicas, as universidades precisam formar gente.