As doenças respiratórias são uma das principais causas de morbidade e mortalidade em pediatria. Esse cenário gera altos custos para o sistema de saúde e causa impacto significativo na qualidade de vida das crianças e suas famílias. Essas doenças podem ser classificadas como agudas, como a bronquiolite viral aguda, ou como crônicas, que tem como exemplo a asma e a fibrose cística. Para isso, a fisioterapia respiratória é uma especialidade relevante para a prevenção e para o tratamento de praticamente todas as doenças que atingem o sistema respiratório.
Os pacientes acometidos por essas doenças sofrem diversas complicações, dentre elas, a limitação física e aeróbica, o que acarreta sintomas como dispneia, fadiga e dificuldade de respiração durante e após as atividades físicas. Esses sintomas afetam o condicionamento físico do paciente, que aliado à inatividade, pode provocar um círculo vicioso, comprometendo sua qualidade de vida.
Para estes casos, a fisioterapia respiratória surge com um papel fundamental para definir, junto ao paciente, técnicas de remoção de secreções, ajustar a terapia inalatória, recomendar exercício físicos específicos e tratar alterações musculoesqueléticas.
“A modalidade é um conjunto de técnicas manuais que podem ser preventivas ou terapêuticas e tem como objetivo mobilizar secreções, melhorar oxigenação do sangue, desobstruir os brônquios e vias aéreas superiores, diminuir o trabalho respiratório, reeducar a função respiratória e prevenir complicações”, explica o professor e pesquisador da Escola de Medicina da PUCRS Márcio Donadio.
No grupo de pesquisa em Avaliação Funcional, Atividade Física e Desenvolvimento da Criança e do Adolescente da PUCRS, estão sendo desenvolvidas pesquisas apontando a especialidade da fisioterapia respiratória como forma eficaz de tratamento para pacientes com diagnóstico de doenças como a fibrose cística. Os pesquisadores que atuam no Laboratório de Atividade Física em Pediatria do Centro Infantil da Escola de Medicina analisaram o uso de exercício físico e testes de avaliação física para estes casos.
O professor Donadio explica que pacientes com fibrose cística apresentam além da infecção crônica, episódios agudos de sintomas respiratórios, chamados de exacerbações pulmonares. Esses eventos impactam negativamente a qualidade de vida dos pacientes, com repercussões físicas e psicossociais, além dos pacientes apresentarem uma deterioração mais rápida da função pulmonar e uma piora do prognóstico, com diminuição da sobrevida. Além disso, em muitos casos, também acontece a hospitalização para tratamento com antibióticos, intensificação da fisioterapia respiratória e do suporte nutricional, gerando um grande impacto nos custos para a saúde.
Com isso, a pesquisa desenvolvida pelo grupo da PUCRS propõe a aplicação do teste do degrau de três minutos, utilizado para avaliar a capacidade física. O pesquisador explica que esse teste tem suas vantagens porque pode ser realizado fora de um laboratório, com o benefício adicional de ser mais próximo dos padrões usuais de atividade física, sem depender de motivação e nem de espaço amplo para sua realização.
Os resultados da pesquisa apontam que o teste do degrau de três minutos pode auxiliar na identificação de episódios de exacerbação pulmonar em pacientes com fibrose cística e que pode ser realizado de forma remota. Desta forma, o teste pode ser uma ferramenta auxiliar para identificar episódios de exacerbação pulmonar, apresentando um bom desempenho quando realizado de forma remota, permitindo a avaliação de pacientes à distância e sem a necessidade de deslocamento até o centro de referência.
Para desenvolver um dos estudos, o grupo de pesquisa da PUCRS contou com a colaboração do Hospital Universitario Niño Jesús de Madrid, da Espanha, por meio do Programa CAPES-PrInt na PUCRS. Donadio atuou como professor visitante na Universidad Europea de Madrid, onde também a aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Pediatria Natália Evangelista Campos realizou doutorado sanduíche pelo período de um ano.
Com a presença do professor e da estudante da PUCRS, foi possível dar início ao projeto que visa analisar os efeitos de um programa de exercício físico com foco na força muscular, supervisionado à distância, para pacientes com fibrose cística. Os resultados parciais obtidos até o momento indicam que o programa de exercício está gerando ganhos na capacidade muscular e na composição corporal.
“São evidências de que programas de exercício também podem ser administrados e monitorados de forma remota, além de que podem contribuir de forma importante para o aumento da adesão a essa terapia de tantos benefícios para pacientes com doenças respiratórias crônicas”, finaliza o pesquisador.
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Em resposta à pandemia de Covid-19 foram adotadas medidas como o confinamento, distanciamento social, o uso de máscaras pela população e a higienização constante das mãos, incluindo o uso de álcool em gel. Essas intervenções tiveram impacto não só na transmissão do novo coronavírus (SARS-CoV-2), mas também em outras doenças de transmissão respiratória, como pneumonia, bronquiolite aguda, influenza e vírus sincicial respiratório (VSR).
Essa conclusão foi destacada em pesquisas realizadas pelo grupo liderado pelo decano da Escola de Medicina, Leonardo Araújo Pinto, durante a pandemia. O docente atua no Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança da PUCRS e possui uma jornada reconhecida por diversas contribuições científicas nas especialidades ligadas a doenças respiratórias.
A pneumonia é uma forma de infecção respiratória aguda que é mais comumente causada por vírus ou bactérias, sendo responsável por 15% de todas as mortes de crianças menores de cinco anos em todo o mundo. Araújo Pinto explica que o momento em que as estratégias de contenção da pandemia de Covid-19 foram implementadas no Brasil coincide com o aumento já documentado de internações por pneumonia no mesmo período de anos anteriores.
O pesquisador desenvolveu o estudo Impacto das intervenções não farmacológicas de COVID-19 nas internações por pneumonia infantil no Brasil, para avaliar o impacto das medidas de contenção da pandemia nas internações por pneumonia em crianças de 0 a 14 anos no Brasil. Foram utilizados dados de internações por pneumonia do banco de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde no período de 2015 a 2020 e analisados por macrorregiões e faixas etária. Com isso, foram comparados os números de 2015 a 2019 com os números de 2020.
Os resultados apresentaram uma redução de 82% na incidência média de internações de crianças menores de quatro anos; 83% em crianças entre cinco e nove anos; 77% entre os 10 e 14 anos; e 82% para todas as crianças menores ou com 14 anos. Com isso, a pesquisa realizada pelo pesquisador Araújo Pinto, concluiu que as medidas aplicadas para o controle de Covid-19 resultaram na diminuição significativa dos casos de pneumonia de todas as causas em menores de 14 anos.
“Nossos resultados podem fornecer insights sobre maneiras pelas quais as medidas restritivas adotadas também podem ser aplicadas a outras doenças respiratórias”, concluiu o pesquisador.
A bronquiolite aguda está entre as principais doenças transmissíveis da infância e é a causa mais frequente de hospitalização em lactentes em todo o mundo. No Brasil, a doença representou aproximadamente 6% do total de internações em crianças com menos de um ano de idade durante o período de 2008 a 2015. O vírus sincicial respiratório (VSR) é o principal agente etiológico da bronquiolite aguda e apresenta alta transmissibilidade, principalmente nas estações de outono e inverno.
A pesquisa intitulada Impacto precoce do distanciamento social em resposta à doença do coronavírus nas internações por bronquiolite aguda em bebês no Brasil, também realizada pelo professor Araújo Pinto, utilizou dados das internações pela doença do Departamento de Informática da Base de Dados de Saúde Pública no Brasil para o período de 2016 a 2020.
Com a comparação ano a ano com os números de internação de 2020, foram obtidos os resultados de uma redução de 70% na hospitalização por bronquiolite aguda em crianças menores de um ano de idade no Brasil. De acordo com o decano, os dados sugerem um importante impacto do distanciamento social na redução da transmissão de vírus relacionados à bronquiolite aguda e que este conhecimento pode orientar estratégias de prevenção da disseminação viral. Os estudos tiveram importante colaboração do aluno de doutorado do PPG em Pediatria da PUCRS Frederico Friedrich e de estudantes de iniciação científica vinculados ao grupo.
Outro estudo com a colaboração dos professores Leonardo Pinto, Marcelo Scotta e Renato Stein buscou relatar a detecção de vírus sincicial respiratório (VSR) e influenza durante o período de distanciamento social devido à pandemia de Covid-19 durante o outono e inverno de 2020 em dois hospitais do Sul do Brasil. Foi realizada uma prospecção com adultos e crianças que buscaram atendimento nos hospitais por sintomas de Covid-19.
Foram realizados testes de RT-PCR para SARS-CoV-2, influenza A, influenza B e vírus sincicial respiratório (VSR) em mais de 1.400 participantes suspeitos de Covid-19 entre maio e agosto. Destes testes, 469 apresentaram resultados positivos para o SARS-CoV-2, enquanto influenza e VSR não foram detectados.
Com isso, Araújo Pinto explica que medidas para reduzir a transmissão do SARS-CoV-2 provavelmente exerceram um enorme impacto na redução da disseminação de patógenos respiratórios alternativos.
“Essa pesquisa contribui para o conhecimento sobre a dinâmica de propagação dos vírus. Além disso, pode ser considerada para orientar as escolhas preventivas e terapêuticas para redução do impacto dos vírus respiratórios”, completa.
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A qualidade e relevância da produção acadêmica, a inserção dos graduados em um número importante de instituições de ensino superior brasileiras, a internacionalização, financiamentos para pesquisa e ações de impacto social são os destaques do Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança, que está com as inscrições abertas para o mestrado e o doutorado até o dia 30 de novembro. O Programa é considerado como nível de excelência pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e tem parcerias consolidadas multidisciplinares com universidades nacionais e estrangeiras. “Essa rede de trabalho promove a associação de diferentes áreas do conhecimento e consequentemente, a produção de artigos de alta qualidade”, afirma a coordenadora, professora Rita Mattiello.
Entre as pesquisas de alto impacto do programa estão asma (epidemiologia, genética e estudo de mecanismos básicos), avaliação funcional e reabilitação em doenças respiratórias crônicas, células-tronco e doenças neurodegenerativas, disfunção orgânica na criança, resposta imune a infecções respiratórias virais, epidemiologia clínica, epigenética e mecanismos moleculares do estresse no desenvolvimento, epilepsia clínica e experimental, intervenções diagnósticas e terapêuticas no recém-nascido crítico e neurologia do comportamento e desenvolvimento. “A infraestrutura da Universidade permite o desenvolvimento de estudos acadêmicos e também ensaios clínicos multicêntricos e internacionais de excelência”, afirma a coordenadora do Programa.
Entre as parcerias estão com as Universidades Concordia (Canadá), Munique e Hannover (Alemanha), Queensland (Austrália), Edimburgo (Reino Unido), Duke, Carolina do Norte (EUA) e PUC Chile.
SAIBA MAIS |
Inscrições até 30 de novembro de 2018 (mestrado e doutorado) |
Valor da bolsa integral Capes/CNPq |
Mestrado: R$ 1.500
Doutorado: R$ 2.200 |
Mestres e doutores diplomados pelo Programa desde 1995 |
Mestres: 250
Doutores: 92 |
Professores titulados (doutores e pós-doutores) |
13 doutores |
Professores bolsistas de produtividade do CNPq |
10 bolsistas docentes permanentes e 1 bolsista colaborador |
Alunos de fora do Estado |
12 (Dinter) de Vitória/ES |
Alunos em estágio pós-doutoral |
7, sendo 4 bolsistas do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD) da Capes |
Professores integrantes de comitês e diretorias de associações |
10 |
Bolsas de estudo |
57 |