Dados do Atlas da Diabetes apontam que o número de diabéticos no mundo pode chegar a 578 milhões em 2030. Essa estimativa representam um aumento de 115 milhões de pessoas com diabetes nos próximos dez anos. Celebrado neste sábado, 27 de junho, o Dia Internacional do Diabético busca a conscientização da sociedade para a doença e a para necessidade de prevenção.
Caracterizada pela produção insuficiente ou má absorção de insulina, a diabetes pode elevar as taxas de glicemia (concentração de açúcar no sangue), causando inflamações nos vasos sanguíneos do corpo e problemas em órgãos como o coração e os rins. Pessoas diabéticas também podem apresentar maior risco de complicações em caso de contaminação pela Covid-19, já que a tempestade inflamatória provocada pelo vírus pode ser intensificada pela diabetes. “A glicose alta é tóxica para as células, que liberam mais citocinas inflamatórias e interleucinas. Esse quadro é muito ruim durante um processo infeccioso ou inflamatório, como o que ocorre pelo novo coronavírus. Um paciente que tenha a diabetes descompensada pode ter uma evolução extremamente grave da Covid-19”, explica a endocrinologista e especialista em Medicina Interna Patrícia Santafê, médica do Hospital São Lucas da PUCRS (HSL).
Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, entre 2006 e 2019 houve aumento de 34,5% nos casos de diabetes no país. A doença atingiu 7,4% da população brasileira no ano passado, sendo uma das doenças crônicas mais incidentes. De acordo com a nutricionista Carla Piovesan, professora do curso de Nutrição da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, os hábitos alimentares interferem diretamente tanto na prevenção e no desenvolvimento quanto no tratamento da diabetes. “O consumo alimentar característico de um estilo de vida corrido e sedentário tem contribuído para o aumento do número de pessoas diabéticas, inclusive jovens e crianças. O excesso de açúcar, decorrente de uma má alimentação, sobrecarrega e diminui a ação da insulina (hormônio responsável por manter os níveis de glicose normais) acelerando o desenvolvimento de diabetes naqueles com predisposição genética”, destaca a nutricionista.
Apesar de o tratamento adequado permitir que pessoas diabéticas convivam com a doença de forma controlada, a diabetes não possui cura. A doutora Patrícia explica que os mecanismos de equilíbrio da glicose são extremamente complexos e que antes mesmo de comermos algo, já há a tendência de produção de alguns hormônios no cérebro, como a insulina. Ela também destaca que quando nos alimentamos existe um pulso maior de insulina e a manutenção do hormônio nos períodos entre as refeições. “Todo esse processo envolve o cérebro, pâncreas, secreção de substâncias no intestino e o equilíbrio da necessidade de consumo e reserva de energia. Esse sistema está relacionado não só com a insulina, mas com todos os outros mecanismos e hormônios contrarrelatórios que vão fazer com que exista o controle da glicose, conforme a alimentação e o nosso sono. Por isso é tão difícil encontrar uma cura específica para a diabetes”, aponta a endocrinologista do HSL.
A médica ainda ressalta que o contexto provocado pela pandemia de Covid-19 exige ampliação na atenção com a saúde e cuidados com a alimentação. “Se deixarmos de nos preocupar em manter uma rotina adequada durante esse período de pandemia, com uma alimentação saudável e praticando exercícios, esse tempo pode representar no futuro de cada um de nós um aumento no risco de desenvolvimento de doenças metabólicas como diabetes, doença cardiovascular e doenças ósseas”, afirma Patrícia.
A professora Carla Piovesan também afirma que dar atenção ao que comemos e como comemos é um pilar imprescindível na nossa saúde, seja para tratar o diabetes, prevenir ou garantir a saúde neste momento de pandemia. A professora ainda aponta que o contexto atual é propenso para o surgimento de ações que desregulam a alimentação, como o comer emocional. “Estamos vivendo um momento ímpar, não fomos preparados para lidar com essa situação tão estressante e ansiogênica. A reposta ao estresse relacionada com a comida é um mecanismo cerebral muito primitivo. É esperado que o ‘comer emocional’ ou a ‘fome emocional’ apareça durante a pandemia. Isto é, não buscar a comida por fome, buscar levado por alguma emoção. Medo, ansiedade, tristeza, raiva, tédio são as mais frequentes”, comenta.
O e-book Estratégias interprofissionais em saúde para lidar com o período da quarentena, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Estilo de Vida e Saúde (Pevs) reúne informações sobre temas como alimentação, exercícios físicos, mindfulness e estratégias voltadas para a saúde de crianças e adolescentes. O material também aborda formas de lidar com o comer emocional e beber emocional. O e-book pode ser acessado de forma gratuita neste link.