A quinta edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles destacou que a média de rendimentos das regiões metropolitanas do Brasil alcançou o segundo pior nível de toda a série histórica. 

O estudo, elaborado pelo Observatório das Metrópoles, em parceria com a PUCRS e com o Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), mostrou que no segundo trimestre de 2021 a renda média foi de R$ 1.326,34. Apenas no primeiro trimestre de 2012, ano de início da série, os valores atingiram o mesmo patamar, ficando em R$ 1.323,23.  

A pesquisa aponta que a média da renda domiciliar per capita do trabalho vem apresentando tendência de queda desde o quarto trimestre de 2019, e de modo muito acentuado a partir do segundo trimestre de 2020, em consequência da pandemia da Covid-19.  

Perda de renda para todos 

Desigualdade nas metrópolesSegundo André Salata, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS e um dos coordenadores do estudo, no conjunto das metrópoles a redução consecutiva da renda nos últimos seis trimestres mais do que reverteu os ganhos de renda obtidos nos anos anteriores, desde 2017. O pesquisador ainda ressalta a preocupação com a queda contínua no último ano. 

“Tivemos uma queda colossal entre o primeiro e o segundo trimestres de 2020, no início da pandemia. O que mais chama atenção, no entanto, é que desde então a média de renda continua caindo, sem apresentar sinal de recuperação”.  

O estudo também mostra que apesar das famílias mais pobres terem sofrido perdas proporcionalmente maiores em sua renda, em todos os estratos a renda média ainda é significativamente menor que aquela do período anterior à pandemia. Entre os mais ricos, a renda média do segundo trimestre de 2021 era 8,3% menor do que a encontrada no primeiro trimestre de 2020. Entre as famílias que compõem a camada de renda intermediária, essa perda foi de 5,1%. Já entre os mais pobres, a perda foi de 22,1% do rendimento médio.    

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Recuperação lenta entre os mais pobres 

De acordo com Salata, após uma queda abrupta da renda entre o primeiro e o terceiro trimestre de 2020, a renda dos mais pobres tem apresentado tendência contínua de recuperação. “O problema é que esta recuperação tem se dado de modo muito lento, em função de um mercado de trabalho que não consegue se recompor do choque sofrido pela pandemia. O resultado é que há milhares de famílias nos estratos mais baixos de renda que há muitos meses sofrem com uma substantiva redução de seus rendimentos provenientes do trabalho”. 

Para Marcelo Ribeiro, professor da UFRJ e também coordenador do estudo, a exposição ao mercado de trabalho é o principal fator para a recuperação da renda entre os mais pobres. “Como se trata de um segmento populacional que tem grande dependência do mercado de trabalho para composição de sua renda, desde o final do 2020 observamos aumento de sua renda média, mesmo que em patamares ainda muito baixos e significativamente inferiores ao período pré-pandemia”. 

Mais de 23 milhões de pessoas vivem com um quarto do salário mínimo 

De acordo com o estudo, com a Desigualdade nas metrópolesdiminuição dos rendimentos no segundo trimestre de 2021, mais de 23 milhões de pessoas (28,1% da população das metrópoles) passaram a viver em domicílios com renda média per capita de até ¼ do salário-mínimo. Apesar da leve redução em relação ao trimestre anterior, quando essa taxa era de 29,4%, o cenário ainda está distante do alcançado antes da pandemia, de 24,5%. Em termos absolutos, a pandemia adicionou mais 3,2 milhões de pessoas na linha abaixo de ¼ de salário-mínimo nas metrópoles. 

Segundo Salata, essa é uma situação ainda mais preocupante, por se tratar de um processo já de longa duração. Os dados indicam que muito possivelmente há milhares de famílias de baixa renda que há alguns trimestres seguidos vêm tendo que lidar com uma redução substantiva em seus rendimentos.  

“A queda de renda a longo prazo é ainda mais prejudicial, pois as poucas reservas de recursos vão se esgotando, e as soluções paliativas e temporárias também. É urgente adotar medidas para aquecer o mercado de trabalho, a fim de aliviar situação dessas famílias”.  

Confira na íntegra o Boletim Desigualdade nas Metrópoles nº 05 e acesse as tabelas e gráficos do estudo. 

Relatório desigualdade nas metrópoles

Queda na renda per capita média do trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre foi de R$ 258, em 2020, para R$ 152 em 2021/Foto: Gordon Shukwit/Flickr

A quarta edição do Boletim – Desigualdade nas Metrópoles levanta dados extremamente preocupantes acerca dos efeitos que a pandemia da Covid-19 provocou, ao longo de um ano, no que diz respeito à renda e sua distribuição entre os moradores da região metropolitana de Porto Alegre. O estudo é fruto de uma parceria entre a PUCRS, o Observatório das Metrópoles e a RedODSAL. Os dados utilizados são provenientes das PNADs Contínuas, produzidas IBGE.

De acordo com os dados levantados pelo estudo, o percentual de pessoas vivendo em domicílios com renda per capita do trabalho menor que ¼ do salário mínimo, na região metropolitana de Porto Alegre, era de 17% no início da série histórica (2012). Já no primeiro trimestre de 2020 chegava a 20%. E apenas um ano depois, no 1º trimestre de 2021, alcançou o patamar de 28%. Em termos absolutos, isso significa que em apenas um ano o número de pessoas nessa situação passou de 899.092 para 1.182.172. Ou seja, mais de 280 mil pessoas caíram abaixo desse patamar de renda durante a pandemia na metrópole gaúcha.

Segundo Andre Salata, professor da PUCRS e um dos coordenadores do estudo, os números que trazemos expressam o que qualquer morador da grande Porto Alegre percebeu ao longo do último ano, com o aumento sensível do número de pedintes, desempregados, vendedores ambulantes e pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade. “Em um cenário de diminuição acentuada da renda média, e de uma piora substantiva na sua distribuição, os resultados não poderiam ser diferentes, fazendo milhares de famílias caírem para estratos de rendimentos mais baixos”, ressalta.

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Os dados mostram que no primeiro trimestre de 2021 a média móvel do coeficiente de Gini na Região Metropolitana de Porto Alegre, que mede a desigualdade de rendimentos do trabalho (quanto mais alto o valor, maior a desigualdade) atingiu seu maior valor na série histórica, iniciada em 2012, chegando a 0,631. Isso significa que o nível de desigualdade da renda do trabalho foi o mais elevado em todo o período observado. Um ano atrás, no primeiro trimestre de 2020, antes de sermos atingidos pela crise da Covid-19, essa média do Gini era de 0,601. Nas regiões metropolitanas de Curitiba e Florianópolis a desigualdade também aumentou, chegando a 0,585 e 0,593, respectivamente.

Boletim desigualdade nas metrópoles

Efeitos sociais da pandemia não mostram sinais de arrefecimento no primeiro trimestre, motivo pelo qual a manutenção do auxílio emergencial é imprescindível/Foto: Pixabay

Segundo Salata, o aumento das desigualdades na grande Porto Alegre já vinha ocorrendo desde 2015. Ou seja, já partimos de um patamar extremamente elevado.

“No último ano, no entanto, há um enorme salto nessa desigualdade, fruto de um contexto onde quase todos perdem, mas os mais pobres perdem relativamente muito mais. O resultado é que, na metrópole gaúcha, enquanto no início de 2020 os 10% do topo da distribuição de renda ganhavam, em média, 27 vezes mais do que os 40% da base da distribuição de renda em nossas metrópoles, agora eles ganham 42 vezes mais. Portanto, hoje a metrópole de Porto Alegre é muito mais desigual do que era no primeiro trimestre de 2020, antes da pandemia”, destaca o pesquisador.

A pesquisa mostra ainda que entre os 40% mais pobres, na região metropolitana de Porto Alegre, o rendimento per capita do trabalho caiu 41% entre o 1º trimestre de 2020 e o 1º trimestre de 2021. Para os 50% de renda intermediária a queda foi de 9%. E para o estrato de renda dos 10% do topo da distribuição a queda foi de 10%. Portanto, apesar de ter ocorrido redução de rendimento em todos os estratos de renda, a queda foi muito mais pronunciada para os mais pobres, cuja renda per capita média do trabalho passou de R$258 para R$152 entre o 1º trimestre de 2020 e o 1º trimestre de 2021.

Segundo os pesquisadores, os dados ainda mostram que os efeitos sociais da pandemia em nossas metrópoles não mostram sinais de arrefecimento no primeiro trimestre de 2021. “O auxílio emergencial continuará cumprindo um papel fundamental por mais alguns meses, até que se façam sentir os efeitos do avanço da vacinação e de um eventual aquecimento do mercado de trabalho, que deveria ser induzido pelo governo”, afirma Salata.

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