O Centro de Pesquisas em Biologia Molecular e Funcional (CPBMF) da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS e a empresa Quatro G, que desenvolve e comercializa produtos de biologia molecular, firmaram uma parceria para desenvolvimento de um kit de detecção do coronavírus por PCR em tempo real com produtos e tecnologias nacionais. As duas organizações estão localizadas no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc).

Para o diretor do Tecnopuc, Rafael Prikladnicki, as parcerias entre diferentes setores contribuem para a gerar soluções que atendem aos padrões de qualidade internacional. “Diversos projetos estão surgindo e conectando as empresas, as startups e centros de pesquisa no Parque, em especial no Biohub PUCRS. O projeto entre o CPBMF e a Quatro G é mais um exemplo do que a união entre Universidades, empresas, governo e sociedade é capaz de fazer, gerando um teste de Covid-19 nos mais altos padrões de qualidade internacional”, comenta Prikladnicki.

Segundo o Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS, Jorge Audy, também estão sendo feitos todos os contatos e esforços no sentido de viabilizar uma parceria com o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) para o desenvolvimento dos testes no laboratório do Hospital.

Laboratório possui alto nível de biossegurança

O Centro de Pesquisas em Biologia Molecular e Funcional é o único no Estado que possui um laboratório com nível de biossegurança 3 (NB3) em funcionamento. Esse nível diminui o risco de contaminação por parte dos operadores, e destina-se ao trabalho com agentes de risco biológico de classe 3, ou seja, com microorganismos que geram elevado risco individual. Diante disso, o diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs), Odir Dellagostin, convidou o Centro para participar de estudos de virologistas sobre SARS-CoV-2, dando origem a parceria entre o CPBMF e a Quatro G.

Um laboratório com certificação de biossegurança nível 3 (NB3) possui o maior grau de dificuldade para o procedimento de certificação. Isso porque existem muitas particularidades sobre sua operação e estrutura. Uma das obrigatoriedades é a certificação anual para que se possa garantir que essas particularidades sejam continuamente regularizadas. Entre os procedimentos de segurança exigidos para um laboratório com a certificação NB3 estão: controles de engenharia, equipamentos de proteção individuais, integridade do estabelecimento e do sistema, protocolo de operação e procedimento, e controles administrativos. Todos os tópicos anteriores minimizam os riscos biológicos de infecção e contaminação aos seres humanos e ao meio ambiente.

Método utilizará insumos brasileiros

Os pesquisadores do Centro de Pesquisas em Biologia Molecular e Funcional e da Quatro G adaptaram o método do Centers for Disease Control and Prevention (CDC)  dos Estados Unidos, utilizando insumos produzidos pelas empresas brasileiras para detectar o SARS-Cov-2 (agente causador da Covid-19) em amostras clínicas. O protocolo é baseado na técnica de PCR em tempo real. A metodologia utilizada permite que os processos de amplificação, detecção e quantificação do material genético sejam realizadas em uma única etapa, agilizando a obtenção dos resultados.

A farmacêutica Ana Christina de Oliveira Dias, que é responsável técnica na Quatro G, explica que o que está sendo realizado é a padronização de um kit de detecção de SARS-CoV-2 por PCR em tempo real. “A ideia é produzir um teste nacional, com produtos brasileiros, unindo as forças nacionais do CPBMF, Tecnopuc e Quatro G. Com todo o conhecimento e expertise da organização, não podemos deixar de servir em um momento como o atual”, comenta a farmacêutica.

Ana Christina ainda destaca que a equipe envolvida no desenvolvimento dos testes é composta por estudantes e pesquisadores de diversos níveis. “Nós produzimos todos os insumos utilizados na montagem do kit, e temos também a parte de conhecimento e diagnóstico por PCR dentro do nosso quadro de colaboradores, entre doutores, pós-graduandos, alunos de graduação. Existe um enfoque bem marcante em pesquisa. A Quatro G é uma empresa que está há muito tempo no panorama de pesquisa e desenvolvimento de biofármacos”, completa.

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Foto: Gerrie van der Walt/Unsplash

Em fevereiro, os primeiros casos da doença foram registrados no México. Já em março, o governo emitiu um alerta epidemiológico que pedia o fortalecimento da vigilância. Durante o mês de abril, a situação já era considerada uma emergência de saúde pública de importância internacional, com os primeiros casos anunciados nos Estados Unidos. E não, não se tratava da pandemia da Covid-19, mas da H1N1. Comumente conhecida como Gripe Suína, a doença assustou o mundo ao matar mais de 18 mil pessoas em 2009. O alumni Henrique Helms, do Programa de Pós Graduação em História da Escola de Humanidades, analisou, ainda em 2018, a influência da aviação para essa e outras crises globais provocadas por doenças, antes mesmo do planeta saber da chegada do novo coronavírus.  Em A aviação como vetor de disseminação de enfermidades: “As doenças que vêm voando”, Helms explica que mesmo com a importante tarefa da integração nacional e internacional, os transportes aéreos acabam favorecendo a disseminação de doenças. “A história pode levar a uma reflexão de longa distância sobre a evolução das mudanças tecnológicas e o impacto disso na saúde pública, […] que não incorpora uma conotação negativa, […] mas que acrescenta no sentido de ampliar o entendimento sobre as dimensões atingidas a partir do desenvolvimento aeronáutico”, destaca um trecho da tese.

“Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”  

A frase do filósofo Edmund Burke se mantém atual, segundo Cláudia Fay, professora e pesquisadora da Escola de Humanidades da PUCRS e orientadora da pesquisa na época. “Quando uma pandemia como a da Covid-19 acontece, olhamos para o passado e perguntamos: como a História pode nos ajudar a compreender o momento atual? Ela pode nos ajudar? Penso que sim! A História talvez não tenha a mesma função da Medicina na descoberta de uma vacina, por exemplo, mas ela nos dá muitas explicações e entendimento sobre aquilo que um dia fomos”, conta.

Aprendizados históricos

O papel da História é verificar as informações, comparar acontecimentos e mostrar os fatos, ao mesmo tempo em que busca evitar os erros do passado, destaca Cláudia. Para a professora, a humanidade evoluiu em muitos aspectos, principalmente tecnologicamente, mas ainda precisa avançar em outros pontos:

A negação da ciência, a descrença na mídia e em veículos e órgãos internacionais também poderiam ser uma “falha no avanço da sociedade”, segundo Cláudia. Para ela, momentos de insatisfação da população, causadas pelo desemprego e a crise, por exemplo, devem ser períodos de atenção e combate aos retrocessos.

Um panorama das pandemias

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Foto: Kelsey Knight/Unsplash

“É difícil dizer como prever o comportamento das pandemias, pois elas são muito diferentes. Mas o conhecimento histórico de como isso modifica o cotidiano das pessoas ajuda a enfrentar melhor esse período e pensar em alternativas”, conta Helms.   Ele aponta que as principais semelhanças são as preocupações das pessoas e a rapidez com que a rotina muda: “Em um dia é apenas um caso de gripe em uma cidade isolada. Em pouco tempo se torna uma situação internacional e pandêmica”. Foi assim durante a peste negra; a varíola; o sarampo; a cólera; as gripes Espanhola, Asiática e de Hong Kong; entre muitas outras doenças.  Como a capacidade de se comunicar atualmente é muito mais ágil, as pessoas tendem a agir mais rapidamente e se antecipar. “É importante que atitudes coletivas sejam tomadas para que a gente tenha segurança. Imagino que a pior ação é não tomar uma ação”, destaca o pesquisador.

O começo da proliferação das doenças

As populações já foram relativamente isoladas umas das outras. No entanto, o contato entre os povos, flora e fauna foi aumentando de forma significativa. Com isso, o movimento das doenças se revelou uma grande força na formação da história do mundo, e com as guerras, cruzadas e migrações, as infecções acabaram sendo levadas às populações mais suscetíveis, explica o pesquisador.  Leia também: Gripe espanhola pelos registros do acervo Benno Mentz da PUCRS

aviação encolheu as distâncias

Ao reduzir o tempo de percursos, apesar do acesso restrito às pessoas com melhores condições financeiras, andar de avião se tornou uma ferramenta de poder. “Tudo que foi conhecido pela aviação modificou a cultura humana oferecendo chaves, visão de mundo e paisagens, mensagens compreendidas acima da barreira das línguas”, diz a pesquisa.  Com a aviação comercial, essa disseminação ficou ainda mais abrangente, conforme o infectologista Stefan Ujvari, citado na pesquisa. “Na história da humanidade, nunca ocorreu tanta locomoção humana como nos dias atuais. […] O mundo é interligado por pessoas que se deslocam para comércio ou lazer (incluindo o ecoturismo), missionários, refugiados, imigrantes, estudantes e peregrinos. Os continentes são ligados continuamente por embarcações marítimas e, muito mais rápido, pelos aviões”, conta.

Sobre os(as) pesquisadores(as)

Apesar de ter se formado em Ciências Aeronáuticas pela PUCRS e ter atuado como piloto por anos, Henrique Helms sempre gostou de História. Durante seu mestrado estudou O panorama da aviação nacional de 1986 e a quebra da Varig e, posteriormente, sobre as pandemias ao longo do tempo no doutorado. Segundo ele, “as questões da humanidade tendem a se repetir” e, para evitar isso, é preciso olhar o passado.  Além de professora e pesquisadora, Cláudia Fay é coordenadora do Grupo Interdisciplinar de estudos do desenvolvimento científico e tecnológico e do Laboratório de pesquisa em história oral da PUCRS.

Dedicação ao estudo da História

Com nota 5 pela Capes, o PPG em História da PUCRS se destaca por ter docentes com formação acadêmica internacional, trabalhar com temas plurais e atuar de forma interdisciplinar. Com pesquisas sobre imigração, arte, política, cidades, crises, cultura e vários outros temas, as inscrições para novos alunos de mestrado e doutorado estão abertas até 19 de junho. Inscreva-se no programa de Pós-Graduação!

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Projeto é um dos estudos focados em encontrar soluções para a pandemia financiado pela Fapergs / Foto: Unsplash

Um projeto realizado dentro do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (PPGCC), da Escola Politécnica, está trabalhando para compreender o impacto do contágio do coronavírus durante a movimentação de grandes populações. Para isso, a equipe envolvida na pesquisa desenvolve simuladores de dinâmicas populacionais. O primeiro estudo de caso, modelado em Porto Alegre, está em fase de experimentação com dados de teste e os primeiros resultados devem ser apresentados em breve.

Coordenado pela professora do PPGCC Soraia Musse, o projeto Dinâmica populacional e o impacto do contágio é um dos estudos focados em encontrar soluções para a pandemia financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). Além de Soraia, a equipe conta com um aluno de Iniciação Científica, dois alunos de mestrado e dois pós-doutores.

A professora conta que, desde sua tese de doutorado, defendida em 2000, trabalha com simulação de comportamento de pessoas (crowd simulation). “Também já havia orientado um aluno de doutorado que trabalhou com simulação de contágio há alguns anos. Quando começou a pandemia, focamos em simular comportamentos de grandes massas e populações de pessoas e integrar um modelo e contágio”, relata.

Pesquisa está na etapa de organização de dados

Para o desenvolvimento do primeiro estudo de caso do projeto, a equipe conta com dados públicos disponíveis em portais da prefeitura de Porto Alegre. Nesta fase, o objetivo é reunir e organizar essas informações, para que possam ser utilizadas nas simulações.

Segundo Soraia, os mestrandos envolvidos estão conseguindo relacionar o projeto as suas dissertações. André Antonitsch, por exemplo, desenvolveu um simulador de dinâmica populacional parametrizado, no qual as populações são criadas – bem como suas origens, destinos, características e localizações no espaço.

O aluno conta que trabalha com a professora Soraia Laboratório de Simulação de Humanos Virtuais (VHLab) desde 2017 pesquisando simulação de multidões. “Meu TCC foi nesta áream mas desejávamos explorar métodos de simulação de mais alto nível, como a simulação de grandes grupos de pessoas, por exemplo. Vimos no projeto relacionado à Covid-19 a oportunidade de explorar métodos de nível ainda maior”, relata. A partir disso, Antonitsch e a professora alteraram a dissertação do mestrando para a construção de um simulador apropriado para as dinâmicas populacionais de Porto Alegre dentro de um contexto de infecção e quarentena.

Primeiros resultados devem ser conhecidos em breve

Soraia conta que a primeira versão do simulador está em finalização. Atualmente, ele está sendo testado, e a próxima fase será a de definir parâmetros para representar a cidade de Porto Alegre, a partir dos dados de seus bairros.

Segundo Antonitsch, essas técnicas de simulação permitem testar hipóteses de relaxamento ou acirramento na quarentena e analisar o impacto dessas medidas nas taxas de transmissão de doenças e do fluxo populacional. “O simulador servirá, por exemplo, como uma ferramenta de planejamento. No caso específico que estamos vivendo, nossa ideia é poder simular a cidade com regiões fechadas ou abertas, com diferentes níveis de distanciamento”, conclui Soraia.

Pesquisa de doutorando dá origem a startup de IA

Outro projeto desenvolvido por um aluno do PPGCC também está contribuindo para o enfrentamento da pandemia da Covid-19. A Noharm.ai, startup de Inteligência Artificial capaz de ler 800 medicamentos e analisar 500 mil prescrições em segundos, nasceu da pesquisa do doutorando Henrique Dias.

Parceira da Navi, hub de inteligência artificial localizado no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc), a startup fechou uma parceria com o Centro de Inovação da Santa Casa e com o Hospital Mãe de Deus. Segundo a professora Renata Vieira, orientadora de Dias, o aluno sempre procurou associar sua pesquisa aos problemas reais enfrentados nos hospitais, procurando soluções que pudessem trazer diferenças positivas na área da gestão de eventos adversos. Saiba mais sobre essa iniciativa.

PPG em Ciência da Computação recebe inscrições

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação está com inscrições abertas para mestrado e doutorado. O PPG abrange seis linhas de pesquisa e prepara os estudantes para atuar tanto na academia, quanto no desenvolvimento de aplicações de alta complexidade e de conteúdo tecnológico relevante para grandes organizações. Interessados em ingressar ainda neste ano podem se inscrever até o dia 19 de junho. Neste edital, a entrega da documentação será feita online.

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Um grupo multidisciplinar da Universidade, em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), está desenvolvendo a análise de imagens radiológicas dos pulmões para o auxílio ao diagnóstico da Covid-19.

Como o vírus ataca os pulmões e provoca pneumonia, imagens de pulmão como radiografia de tórax e tomografia computadorizada têm a possibilidade de auxiliar no diagnóstico e até no prognóstico da doença.

Segundo a professora Ana Maria Marques da Silva, coordenadora do Laboratório de Computação em Imagens Médicas da PUCRS, o objetivo da pesquisa, já aprovada no Comitê de Ética da Universidade, é buscar as diferenças entre indivíduos positivos para a Covid-19 e outras doenças pulmonares infecciosas e inflamatórias, correlacionando-os com os desfechos dos pacientes que desenvolveram a Covid-19.

“Em estágios mais avançados, as imagens podem indicar qual é a extensão ou o avanço do comprometimento dos pulmões em diferentes momentos do tratamento. No entanto, nos estágios iniciais da doença, essas mudanças podem ser bastante sutis, pois ela pode avançar rapidamente ou não afetar os pulmões de maneira mais grave. Assim, pouco se sabe sobre como os exames de imagem podem prever a gravidade da doença (prognóstico). Nossa pesquisa tem por objetivo exatamente investigar como as características das imagens radiológicas extraídas computacionalmente, denominada assinatura radiômica, podem estar relacionadas com fatores de prognóstico e gravidade da doença”, explica.

Ferramenta para qualificar diagnóstico e tratamentos

Considerando que no início do inverno sempre há um aumento das doenças pulmonares, o que  leva um maior número de pessoas a buscar a realização de exames de imagem para verificar o comprometimento pulmonar, a pesquisadora prevê uma ampliação na base de imagens para a pesquisa, o que amplia também a confiabilidade dos resultados.

A previsão é de que quando for concluída a primeira fase de estudos com as radiografias de pulmão, o grupo poderá fornecer uma ferramenta computacional que deve ajudar os médicos a identificarem imagens de pulmão com Covid-19. Na segunda fase, com as imagens de tomografia computadorizada, a análise pode ser melhorada e ampliada para indicar fases da doença.

A professora Ana Maria ressalta que nenhuma ferramenta substituirá totalmente os testes para identificar a Covid-19, mas que, na medida que vão surgindo, elas poderão auxiliar a classificar os pacientes em função da maior probabilidade de agravamento e direcionar melhor os tratamentos.

Resultados obtidos até o momento

Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) foi desenvolvida uma rede neural artificial (Figura 1) que diferencia as imagens de radiografia de indivíduos saudáveis e indivíduos com Covid-19. Segundo os pesquisadores, todo o treinamento da rede neural foi feito com centenas de imagens de raios X de pulmão que estão sendo disponibilizadas em bases de dados públicas criadas com radiografias enviadas de todo mundo.

Na PUCRS estão sendo coletadas radiografias de pacientes diagnosticados com Covid-19 para avaliar o desempenho da rede neural artificial e aumentar a sua confiabilidade. Também na PUCRS foi implementada uma ferramenta de segmentação automática dos pulmões nas radiografias (Figura 2) e tomografias computadorizadas (Figura 3), que está em fase de validação.

Além disso, o time de pesquisadores, que conta com físicos, engenheiros, cientistas da computação e médicos, está coletando também a maior quantidade possível de exames de radiografia e tomografia computadorizada de indivíduos diagnosticados e que estão em tratamento ou tiveram diferentes progressões da doença. De acordo com a líder do projeto na universidade gaúcha, saber como os pacientes evoluíram ao longo da doença permitirá investigar quais as características radiômicas das imagens que podem dar uma indicação sobre a evolução da doença.

Na PUCRS, o projeto é liderado pela professora Ana Maria Marques da Silva, coordenadora do Laboratório de Computação em Imagens Médicas, com a participação dos professores Bruno Hochhegger e Rodrigo Coelho Barros, além de estudantes de graduação e pós-graduação. Na UFU a pesquisa é liderada pela professora Ana Cláudia Patrocínio, do Laboratório de Engenharia Biomédica, contando com uma equipe de estudantes de graduação e pós-graduação.

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Aumento da vigilância e do monitoramento pode ser uma das consequências da pandemia / Foto: Pexels

A pandemia da Covid-19 evidenciou para todos um cenário novo e, diariamente, levanta questões importantes de serem discutiras – não só pela saúde, mas por todas as áreas de conhecimento. Com ruas e espaços públicos vazios e pessoas praticamente confinadas em suas casas, o período que vivemos traz, ainda, mudanças menos visíveis – mas que também têm impactos importantes na sociedade.

Uma questão que pode passar despercebida e que envolve grande parte das pessoas é o aumento da vigilância e do monitoramento. Algo que pode parecer controverso, em tempos de distanciamento social. Mas a verdade é que as políticas de isolamento se tornam uma oportunidade de aprofundamento dos efeitos de uma era digital. Se a comunicação interpessoal passou a acontecer majoritariamente através de plataformas digitais, tanto para fins profissionais quanto para manter contato com amigos e familiares, há também uma face não menos importante. Trata-se da possibilidade de montagem de um sistema tecno-totalitário – uma vez que o conjunto de dados produzidos livremente por todos está longe de ser neutro e inofensivo.

“Todos os dias, fornecemos, por dispositivos pessoais, um enorme manancial de informações, apto a alimentar um profundo aparato de controle, inclusive de predição matemática de futuros possíveis”, diz o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais (PPGCcrim), da Escola de DireitoAugusto Jobim do Amaral. O docente, que também integra o Programa de Pós-Graduação em Filosofia, da Escola de Humanidades, lidera o Grupo de Pesquisa Criminologia, Cultura Punitiva e Crítica Filosófica, voltado, dentre outros temas, a estudar práticas de controle social.

Vigilância aumentada

Amaral considera refletir sobre as práticas de vigilância ainda mais importante no contexto que estamos vivendo, quando podem ser recodificadas e ampliadas. Para ele, é preciso pensar, sobretudo, nos efeitos securitários que a pandemia pode implicar para a democracia. O professor observa que, na situação em que estamos vivendo, uma espécie de ‘solucionismo’ tecnológico pretende resolver todos os problemas. “Mas, se nossa realidade está imersa em plataformas digitais e torna-se incontornável vivermos desconectados, é importa interrogar quais são as questões que disso decorrem”, questiona.

Para dar um exemplo prático, Amaral relata o que está acontecendo no estado do Rio de Janeiro, onde as câmeras da Companhia de Engenharia de Tráfego têm sido utilizadas para detectar aglomerações. Esse controle é feito por meio de um software conectado ao Centro de Operações, capaz de identificar grupos de pessoas a uma distância mínima de até meio metro entre elas, acionando o “disque aglomeração”, permitindo operações em tempo real, mas com pouco esclarecimento quanto ao gerenciamento e à disponibilidade dos dados produzidos.

Brasil: um caso que exige ainda mais atenção

Para o doutorando do PPGCrim Eduardo Salles, atualmente na Espanha pelo PUCRS-PrInt, os algoritmos têm sido dispostos como grandes aliados no desenvolvimento de “soluções inovadoras” para a resposta à pandemia, através do controle populacional para o gerenciamento dos riscos de contágio. Sobre esses impasses tecnopolíticos, em breve será lançada a obra coordenada pelo professor Amaral, Algoritarismos, fruto das pesquisas do grupo de pesquisa em parceria com estudiosos europeus e latinoamericanos sobre as interfaces da tecnologia, do poder e da política. “Estudar o controle social dentro dessa perspectiva auxilia a identificar os reflexos da pandemia em nossa sociedade e como a crise tem feito com que a ânsia por soluções fáceis para a manutenção de nossa ‘normalidade’ coloque em xeque a democracia”, alerta.

Amaral chama a atenção, ainda, para a colaboração entre governos e empresas de tecnologia privada neste “futuro” executado por Inteligência Artificial (AI). Como dado relevante, apresenta o Covid-19 Civic Freedom Tracker, que mostra que 84 países já decretaram estado de emergência/exceção e outros 27 já adotaram medidas que afetam as liberdades das pessoas.

Conforme o professor, pesquisas nessa área são importantes para se compreender o que está em operação em termos de controle social, confrontar e alertar as práticas de vigilância que estão sendo executadas – agora, de modo ainda mais naturalizado. “Não esqueçamos que uma tal democracia securitária, no caso brasileiro, é ainda mais necessária de se estudar, dada sua ampla orientação através de operações militares interventoras. Brutalidade e emprego de força letal, histórica das forças de segurança no país, em contexto de lockdown e principalmente em favelas e periferias, agravam-se mais”, conclui.

Portanto, cabe uma reflexão proposta por Salles, sobre se vale a pena retornarmos à “normalidade” anterior, que nos conduziu até a pandemia, ou se vamos ter que adotar novas formas de vida. “E essas novas formas nos importam bastante: vamos seguir em um caminho de hipervigilância ou reconfigurar o que pensamos ser a nossa liberdade?”.

Somos todos vigiados, mas alguns são mais vigiados que outros

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Superlotação de presídios agrava ainda mais o contexto de pandemia / Foto: Unsplash

Diante desse contexto de pandemia e controle social, existe ainda uma parcela da população que é ainda mais vigiada e controlada – os presidiários. E a realidade que eles enfrentam – principalmente, mas não só, em momentos de crise de saúde – é outra questão que merece destaque. Dentro do PPGCcrim, através do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Segurança e Administração da Justiça Penal (Gpesc), que criou em 2005, o professor Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo desenvolve pesquisas na área.

Em conversas com pesquisadores internacionais com quem o grupo mantém vínculos, surgiu a discussão sobre o que estava acontecendo no contexto penitenciário em diferentes países, especialmente na América Latina, analisando as iniciativas que vinham sendo tomadas. “O nosso continente é marcado por superlotação carcerária, por falta de condições de higiene, de limpeza e até de alimentação, que, muitas vezes, é suprida por visitação de familiares. Então, preocupamo-nos com a possibilidade de uma tragédia nesse ambiente tão propício ao desenvolvimento da pandemia”, relata.

Na teoria, uma perspectiva promissora

Em março, logo que a quarentena teve início no Brasil, o País apresentava uma perspectiva promissora, com a aposta no distanciamento social para impedir o aumento do contágio pelo coronavírus. E a expectativa também era confortante em relação ao contexto carcerário: no dia 17, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou uma recomendação para todo o Poder Judiciário, com o objetivo de reduzir superlotação dos presídios.

Para isso, algumas das medidas seriam a liberação para a prisão domiciliar de presos de grupos de risco (desde que não tenham praticado crimes contra a pessoa) e em prisão preventiva, que pudessem ser colocadas sob outro tipo de medida e controle. Para Azevedo, iniciativas como essa são fundamentais no Brasil, onde há, em média, dois presos por vaga. “Essa recomendação é importante inclusive para a saúde dos servidores penitenciários, para quem a orientação seria fornecer equipamentos de proteção individuais (EPIs)”, aponta.

Na prática, uma situação que foge do controle

Após ser pioneiro com o documento do CNJ, que serviu de base até mesmo para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o que se observou no Brasil, segundo Azevedo, foi um “descontrole”. Não houve uma adesão às recomendações em relação à soltura de presos e, quanto às iniciativas de saneamento, limpeza e proteção dentro do sistema penitenciário, o professor revela que a avaliação também é negativa.

Azevedo destaca que a testagem dentro dos presídios é baixa: em um sistema com 750 mil presos, a notícia que se tem é que cerca de 3,5 mil foram testados. Ainda assim, os resultados mostram um número muito alto de contaminados. “Tem-se pouca informação sobre isso. Mas, o pouco que se tem, mostra um cenário desolador: pessoas presas, muitas vezes com vulnerabilidades de outras patologias, e que não têm nenhum tipo de proteção, de prevenção, causando prejuízos para si próprias, para os agentes penitenciários, e para o meio externo, uma vez que os agentes circulam entre a prisão e o mundo externo”, pontua.

Momento para refletir sobre a questão penitenciária

A pesquisa, desenvolvida através de agências estatais, como Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, está coletando dados relacionados à pandemia e o sistema penitenciário. Alguns resultados preliminares já foram apresentados em um debate online do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (InEAC). O trabalho ainda deve dar origem a publicações, uma vez que, para Azevedo, a situação provoca uma reflexão sobre como o Estado brasileiro trata a questão penitenciária.

Na avaliação do professor, a pandemia deixa claro que manter o preso em condições insalubres acaba sendo mais importante do que garantir sua integridade física e de saúde. “Isso responde, de alguma forma, a um clamor social de uma sociedade punitivista e pouco aberta a pensar em possibilidades de reintegração social e de prevenção ao crime que não passem pelo sofrimento e pela punição de maneira exorbitante, extrapolando, inclusive as previsões legais”, ressalta.

Por isso, pontua Azevedo, pesquisas que analisem esses fatos e que dialoguem com a sociedade civil são importantes. “Existe a Pastoral Carcerária, que tem feito um trabalho importante de denúncia desse quadro, vindo a público, manifestando-se sobre essa situação toda. E esse também é o nosso objetivo: que, diante desses dados que estamos produzindo, possamos promover um debate público a respeito do tema”, conclui.

PPG em Ciências Criminais recebe inscrições 

Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais está com inscrições abertas para mestrado e doutorado. Com área de concentração em Sistema Penal e Violência, abrange as linhas de pesquisa Sistemas Jurídico-Penais Contemporâneos e Violência, Crime e Segurança Pública. Interessados em ingressar ainda neste ano podem se inscrever até o dia 19 de junho. Neste edital, a entrega da documentação será feita online.
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Colaboradores, estudantes e familiares de todos os empreendimentos da Rede Marista têm direito a valores diferenciados para a realização de testes laboratoriais para identificação da Covid-19. Os exames poderão ser feitos por meio de agendamento prévio.

Para receber o benefício na hora de realizar o teste, é necessário apresentar crachá ou carteira de estudante ou documento de identidade com filiação. Alinhado às diretrizes e medidas vigentes dos órgãos oficiais de saúde, os testes serão realizados no Hospital São Lucas (HSL).

HSL oferece dois tipos de testes

Dois tipos de testes estão disponíveis, de acordo com o nível de sintomas de cada paciente. Confira:

Teste RT-PCR 

Indicação do teste: do terceiro ao 10º dia após o início dos sintomas
Resultado: até dois dias úteis
Amostra coletada: swab nasal e de orofaringe

Teste Sorológico

Indicação do teste: início dos sintomas há pelo menos 10 dias ou suspeita de contágio há mais de 14 dias, mesmo sem sintomas
Resultado: até 24 horas
Amostra coletada: sangue

Consulta de valores e agendamento podem ser feitos pelo telefone (51) 3320-5049. A coleta acontece no Laboratório Clínico do Hospital São Lucas da PUCRS (térreo do Centro Clínico da PUCRS, sala 117), de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e aos sábados, das 7h às 13h.

Quem tem direito ao benefício?

Têm direito ao desconto no teste colaboradores e estudantes de todos os empreendimentos da Rede Marista (colégios e unidades sociais, Hospital São Lucas, Instituto do Cérebro e PUCRS) e seus familiares (pai, mãe, irmãos, cônjuge e filhos).

PsiCOVIDa lança cartilha de combato à Covid-19 para idosos - Pessoas com doenças crônicas e acima de 60 anos são principal grupo de risco do coronavírus

Foto: Shutter Stock

Com objetivo de gerar informações importantes para o combate ao coronavírus e entender a sua provável distribuição no espaço geográfico de Porto Alegre, mais de 50 profissionais da PUCRS, do InsCer e do Hospital São Lucas (HSL) desenvolveram o InCare. A plataforma não substitui a necessidade de atendimento médico, mas visa fornecer uma primeira orientação complementar, pautada em conhecimentos sequenciados de médicos e de agentes de saúde.

DBServer, empresa sediada no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc), foi a responsável pela criação do site, elaborado com a participação da força-tarefa. A ideia surgiu da necessidade de ajudar as unidades do sistema de saúde, de forma geral. Os dados obtidos pelo InCare poderão auxiliar previamente no mapeamento e análise de suspeitas de contaminação por sexo, idade e sintomas. A avaliação também leva em consideração se os respondentes fizeram alguma viagem recente, o que potencializaria a possibilidade de exposição à Covid-19.

Tecnologia e colaboração em favor da vida

Eduardo Peres, diretor de inovação da DBServer, conta que, quando receberam o convite para contribuir com a iniciativa, não pensaram duas vezes. “No DBLAB aprendemos a transformar dúvidas e incertezas em soluções centradas nas pessoas. E foi com este olhar que nosso time de User Experience se dedicou intensamente para a concepção e implementação do InCare”, ressalta Peres, enfatizando o propósito da empresa em estar no Tecnopuc: viabilizar a construção colaborativa e multidisciplinar de soluções tecnológicas para a sociedade como um todo.

Saiba mais: Força-tarefa multidisciplinar da PUCRS é formada contra a Covid-19

A iniciativa em si demonstra o poder da cooperação e da interdisciplinaridade, com profissionais de diferentes áreas do conhecimento unidos em prol de um bem maior, que é a preservação da vida, destaca Rafael Prikladnicki, diretor do Tecnopuc e professor da Escola Politécnica da PUCRS. “Em poucos meses, o mundo acelerou um futuro que vinha sendo desenvolvido e a tecnologia teve um papel fundamental nisso tudo. Não apenas nestas transformações, mas também em diversas soluções que tem melhorado o trabalho dos profissionais de saúde no combate à esta pandemia”, acrescenta.

A conscientização é aliada da saúde

Força-tarefa - Notícia_Prancheta 1Regis Lahm é professor da Escola de Humanidades da PUCRS e está à frente do projeto. Ele salienta que a plataforma não deve ser utilizada como orientação única, sendo necessário buscar atendimento médico sempre que o respondente achar pertinente.

No site, estão disponíveis informações sobre o que é o coronavírus; quais são e como identificar os sintomas; formas de transmissão; e como se prevenir. Os dados obtidos de forma anônima, cruzados com outros tantos possíveis, resultam em informações importantes para as tomadas de decisões relacionadas à contingência do vírus e a um melhor atendimento.

A força-tarefa

Mais de 50 profissionais e pesquisadores da PUCRS, incluindo docentes da Escola de Medicina, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, da Escola de Humanidades, da Escola Politécnica, do Instituto do Cérebro do RS (InsCer), do Parque Científico e Tecnológico (Tecnopuc) e do Hospital São Lucas estão mobilizados na busca de soluções para diferentes questões que envolvem a pandemia do novo Coronavírus (Covid-19).

Participam do grupo responsável pelo projeto do InCare os profissionais Regis Alexandre Lahm, Rafael Prikladnicki, Everton Quadros, Guilherme Brito, Mirian Rosa, Andressa da Silva, Yasmin Noronha, Tatiana do Nascimento Ximenes, Mauricio Portela de Melo e Marcos Vinicius Costa.

Para contribuir com o banco de informações, clique aqui para responder!

Com o avanço do novo coronavírus, estudos interdisciplinares se tornaram cada vez mais necessários. Dentre os diversos campos da ciência envolvidos nesta tarefa, a Física tem contribuído com conhecimentos e técnicas que permitem modelar, medir e prever o comportamento dos sistemas biológicos causadores da doença. “Um exemplo dessa contribuição é que a estrutura molecular do vírus SARS-CoV-2 foi determinada através de uma análise de cristalografia por raios X e de microscopia eletrônica. Outro ponto importante, é os medicamentos e as vacinas que podem combater a Covid-19 devem ser previamente simulados computacionalmente e, na fase de produção, investigados usando as técnicas físicas de microscopia eletrônica, difração e espalhamento de raios X”, explica a professora Ana Maria Marques, relatando os experimentos realizados por diversos grupos de pesquisa descritos na revista Physics Today, publicada neste mês.

A professora Michele Andrade, docente da Escola Politécnica, ainda destaca que a física é fundamental para a compreensão da extensão do contágio do coronavírus, pois trabalha diretamente nas simulações da dispersão de gotículas liberadas nos espirros e o nível de proteção de máscaras. “As simulações da física das partículas mostram que as gotículas maiores não viajam por uma distância longa por serem mais pesadas, mas as gotículas menores formam uma espécie de ‘nuvem gasosa’ que acaba se movimentando pelo ambiente e pode permanecer suspensa por várias horas”, salienta Michele.

A física também está presente nos hospitais que recebem os pacientes com sintomas da Covid-19, como dificuldade respiratória. De acordo com a professora Ana Maria, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Imagens Médicas (NIMed), as técnicas de diagnóstico por imagem utilizando raios X são essenciais para a avaliação da gravidade do quadro dos pacientes. “As imagens da radiografia e da tomografia computadorizada mostram a extensão das áreas afetadas pela inflamação no pulmão devido a contaminação pelo novo coronavírus. A medicina nuclear também contribui para o diagnóstico, através da cintilografia de perfusão pulmonar, um exame que possibilita visualizar a extensão da perda de troca gasosa entre o sangue e o pulmão, auxiliando na avaliação da gravidade da doença”, ressalta a professora.

Físico médico: um profissional da saúde

Físicos médicos Daniela Estácio, Diego Teixeira e Mayara Prata, que atuam no serviço de Radioterapia do Hospital São Lucas, realizando testes de controle de qualidade no novo acelerador Varian Halcyon 2.0, que realiza tratamentos de pacientes com câncer / Foto: Arquivo Pessoal

Físicos médicos Daniela Estácio, Diego Teixeira e Mayara Prata, que atuam no serviço de Radioterapia do Hospital São Lucas, realizando testes de controle de qualidade / Foto: Arquivo Pessoal

A Física Médica é um campo da física aplicada altamente interdisciplinar, que combina os conhecimentos da física, matemática e computação, com a biologia, anatomia e fisiologia para solucionar problemas relacionados à saúde e à medicina. No combate à Covid-19, os físicos médicos estão integrados na equipe de saúde, atuando diretamente no diagnóstico e tratamento de pacientes.

Além de garantirem a qualidade dos equipamentos envolvidos no diagnóstico por imagem, eles atuam no desenvolvimento de sistemas computacionais de comunicação, processamento e análise digital de imagens. “Estes sistemas apoiam o médico no diagnóstico e possibilitam uma avaliação mais exata da condição de saúde do paciente e da extensão da doença, sendo útil para tomada de decisões em relação ao tratamento. Adicionalmente, os físicos médicos atuam no apoio à qualidade da telerradiologia, que é um braço da telemedicina”, comenta a professora Michele Andrade.

Segundo ela, na telerradiologia, exames de imagem realizados em áreas rurais ou mesmo em hospitais podem ser enviados e analisados remotamente por vários médicos. Além disso, a rápida disseminação do coronavírus amplificou o valor das ferramentas de telerradiologia, pois permitem que o médico radiologista trabalhe fora do hospital e isso reduz o risco de contágio desse profissional da saúde.

Já no ambiente hospitalar, os físicos médicos atuam nas áreas de diagnóstico por imagem e na radioterapia. “Na área de diagnóstico por imagem, a função do físico médico é garantir que as imagens produzidas pelos equipamentos de radiografia, tomografia computadorizada, medicina nuclear, ressonância magnética e ultrassom tenham qualidade e confiabilidade para um diagnóstico confiável e seguro para os pacientes e para a equipe técnica. Na radioterapia, o físico médico é responsável por planejar, em conjunto com o médico, a melhor forma de tratar pacientes com câncer, utilizando feixes de radiação emitidos por aceleradores lineares, para destruir células malignas e preservar as células saudáveis”, resume a professora Ana Maria Marques, como pode ser visto em mais detalhes na Associação Brasileira de Física Médica.

Pesquisa busca soluções para o diagnóstico da Covid-19

Configuração geral da rede neural artificial utilizada para realizar a classificação dos casos de Covid-19 e outras doenças, a partir das imagens de radiografia de tórax / Imagem: Medicom

Configuração geral da rede neural artificial utilizada para realizar a classificação dos casos de Covid-19 e outras doenças, a partir das imagens de radiografia de tórax / Imagem: Medicom

Uma das pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Computação em Imagens Médicas (Medicom) da PUCRS vem utilizando métodos de inteligência artificial para identificar padrões e analisar a extensão do comprometimento dos pulmões durante a Covid-19. A pesquisa, que conta com uma equipe interdisciplinar de físicos, cientistas da computação e médicos, está desenvolvendo algoritmos que pretendem auxiliar o diagnóstico por meio da diferenciação das imagens de raios X da Covid-19 e de outras doenças, além de possibilitar a identificação de características nas imagens que estejam relacionadas com a maior probabilidade de agravamento da doença.

A professora Ana Maria, coordenadora do Medicom, destaca que os resultados iniciais demonstraram uma alta porcentagem de sensibilidade. “Os primeiros resultados, utilizando redes neurais artificiais na diferenciação da Covid-19 de outros tipos de doenças respiratórias com base em imagens de radiografia de tórax de bancos de dados públicos, apresentaram uma sensibilidade de 95%”, relata. A pesquisa está sendo realizada em cooperação com o Laboratório de Engenharia Biomédica da Universidade Federal de Uberlândia.  A coordenadora do laboratório ainda comenta que a pesquisa segue com novas fases. “Imagens estão sendo coletadas para ampliar a base de dados em melhorar o desempenho da rede neural. Adicionalmente, a investigação com as imagens de tomografia computadorizada está em andamento”, destaca Ana Maria.

Como se forma o físico médico

No curso de graduação em Física Bacharelado: Física Médica, os estudantes desenvolvem competências para a formação de um profissional com perfil interdisciplinar. O curso oferece uma base sólida em física e matemática e conhecimentos específicos e práticos nas áreas aplicadas, como radiologia, medicina nuclear, radioterapia e proteção radiológica.

A graduação habilita os estudantes para atuar em instituições de saúde, como hospitais e clínicas, indústria, centros de pesquisa e órgãos públicos. Assim como na formação médica, após a graduação, os físicos médicos podem realizar uma residência multiprofissional de dois anos em hospitais credenciados, como no Hospital São Lucas, escolhendo uma das três áreas de atuação: medicina nuclear, radiodiagnóstico e radioterapia.

Ficou interessado? Acesse o site Estude na PUCRS e saiba mais sobre o curso.

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Objetivo é manter as pessoas atualizadas sobre assuntos importantes na atualidade / Foto: Pexels

Logo que a quarentena teve início por aqui, a Universidade passou a oferecer aulas online gratuitas e ao vivo com professores do PUCRS Online. Com o objetivo de informar e atualizar as pessoas sobre negócios, carreira e futuro durante a pandemia da Covid-19, as lives, que tratam de assuntos relacionados a diversas áreas do conhecimento, permanecem disponíveis no YouTube.

Selecionamos cinco delas para você entender algumas questões relacionadas aos impactos do coronavírus, que também podem auxiliar a enfrentar desafios impostos pelo atual contexto. Confira:

1. Covid-19 e o futuro do trabalho: a aula foi ministrada por Tiago Mattos, professor da Singularity University e cofundador da Perestroika. Impactos do coronavírus no futuro do trabalho; inovação, tecnologia e crise; e home office são alguns dos tópicos abordados na live, que faz uma reflexão sobre o que está por vir, a partir das alterações impostas pela pandemia. Clique aqui para assistir.

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Christian Barbosa é um dos professores que participa das aulas gratuitas / Foto: Divulgação

2. Gestão do tempo em 2020: produtividade e gerenciamento do tempo são o foco da aula de Christian Barbosa, empresário e palestrante conhecido como “senhor do tempo”. O professor fala sobre a importância de gerenciar o tempo para ser produtivo tanto profissionalmente quanto na vida pessoal. Clique aqui para assistir.

3. Covid-19 e a ciência de dados: Ricardo Cappra, cientista-chefe do Cappra Institute, que cria métodos para simplificar a ciência de dados, apresenta uma live explicando o que significa cultura de dados e por que essa ciência é tão relevante. O professor fala sobre como os dados e a tecnologia da informação podem atuar em contextos de pandemia. Clique aqui para assistir.

4. Como administrar emoções em tempos de isolamento social: o tema da aula são as emoções humanas e como administrá-las neste período de distanciamento social. A live é ministrada por Carla Tieppo, conhecida por ser um dos maiores nomes brasileiros em neurociência aplicada à educação. Clique aqui para assistir.

5. O impacto da Covid-19 na segurança do paciente: a live contou com a participação de Aline Chibana, médica e diretoria da Fundação de Segurança do Paciente; e Cristiano Englert, médico, investidor-anjo, mentor de startups e cofundador da Grow. A aula fala sobre a segurança do paciente neste período de pandemia, considerando também os possíveis impactos causados pelos fatores humanos. Clique aqui para assistir.

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Modelos matemáticos têm sido muito utilizados para determinar a disseminação do vírus / Foto: Pexels

Nos últimos meses, os noticiários têm sido invadidos por gráficos relacionados à pandemia da Covid-19. Um, em especial, tornou-se extremamente conhecido: o que mostra a curva de transmissão, que se fala tanto em “achatar”. E, para a elaboração e compreensão desses gráficos, além dos profissionais da saúde envolvidos, é necessária também a atuação de profissionais de uma área que não lida diretamente com pessoas, mas com números: a matemática.

Conforme o professor da Escola Politécnica da PUCRS Filipe Zabala, a relação entre saúde e matemática não é algo novo. Segundo o artigo The first epidemic model, a primeira contribuição da área para a epidemiologia é atribuída ao médico e matemático Daniel Bernoulli. Em de abril de 1760, Bernoulli fez uma palestra na Academia Real de Ciências de Paris, na qual demonstrou as vantagens da inoculação contra a varíola – prática muito debatida na época.

Desde então, outros estudos foram surgindo, mostrando informações relevantes para a área da saúde, como identificar qual o risco de contaminação por uma doença a partir do número de casos registrados na população. Em relação a epidemias, percebeu-se que a transmissão avança constantemente em diminuição da velocidade, até atingir seu ponto mais alto – o chamado “pico” da curva. Quando isso acontece, ela começa a cair.

Atualmente, existe uma área da matemática, chamada biomatemática, que estuda, entre outras questões, o crescimento de populações de seres vivos perante o convívio com outros seres vivos. Ao mesmo tempo, a estatística vem trabalhando constantemente junto à área da saúde, colaborando, por exemplo, em estudos de efeitos de tratamentos em populações de controle e em problemas de epidemiologia. “Quando se trada de uma pandemia, as duas ciências também contribuem muito no que diz respeito à economia – que, em período de quarentena mundial, está intimamente ligada à saúde”, destaca o coordenador dos cursos de Matemática da Escola Politécnica, professor Augusto Vieira Cardona.

Modelos auxiliam a entender o comportamento da pandemia

Mas, afinal, como matemática e estatística ajudam a enfrentar a Covid-19? Conforme conteúdo produzido pelo Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS (MCT), disponível aqui, modelos matemáticos têm sido muito utilizados para determinar a disseminação do vírus, bem como os números de infectados, de mortes e de hospitalizações. Todos esses modelos, conforme explica Zabala, são simplificações e idealizações da realidade: “A ideia de que complexos sistemas físicos, biológicos ou sociais possam ser precisamente descritos por um modelo é pouco verossímil”. Ainda assim, essas representações são fundamentais para análises científicas e de mercado, pois podem direcionar decisões em situações de incerteza.

“Os modelos são baseados nos dados disponíveis e no conhecimento técnico do profissional de modelagem. O confronto entre os valores preditos e realizados é a forma mais eficiente para comparar a capacidade preditiva dos modelos e fornecer ideias para a calibragem dos mesmos”, aponta Cardona. Assim, matemática e estatística ajudam a simular o comportamento futuro da pandemia, levando em consideração os dados colhidos e possíveis ações de controle do crescimento da enfermidade.

Segundo Zabala, o modelo Susceptible-Infected-Recovered (SIR) é um dos mais simples que se tem para explicar a propagação de um vírus em uma população. E, quanto mais preciso for o modelo, melhores são as decisões que podem ser antecipadas. “Como a situação que estamos vivendo é totalmente nova, não temos informações que nos apresentem uma ideia do que vai acontecer. Dessa forma, qualquer modelo que nos dê uma noção de como a disseminação do vírus acontece entre a população mundial é importante para garantir que não haja uma sobrecarga no sistema de saúde e que o governo possa retomar a economia com segurança”, aponta.

Outra área que pode auxiliar em contextos de pandemia, principalmente no que diz respeito à orientação de governantes, é a análise de riscos. Através dela, é possível ter uma ideia de possíveis cenários mediante ações de controle do crescimento do contágio. Isso é importante para estabelecer de que forma o movimento da população poderá ser liberado, sem perder o controle da situação – o que levaria a uma incapacidade de atendimento aos infectados.

Leia também: Ciências Biológicas auxiliam a entender a evolução dos vírus

Hora de encarar a matemática com outros olhos

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Entender o quanto a matemática é relevante para a sociedade pode mostrar outro lado dos números / Foto: Pixabay

Muitas pessoas torcem o nariz para a matemática por considerarem algo difícil e, talvez por isso, não se interessam pelo assunto. Conforme Cardona, é o “patinho feio das ciências”. Por isso, entender o quanto ela é relevante para a sociedade pode mostrar outro lado dos números. Para o professor, este pode ser um momento de mostrar a importância da matemática e da estatística para a simulação de um mundo melhor. “Os modelos propostos podem indicar o caminho mais eficiente para a humanidade alcançar a sustentabilidade e o melhor convívio com a natureza”, conclui.

Há uma subárea da matemática e da estatística aplicadas que se dedica ao estudo e à análise da distribuição, de padrões e de determinantes das condições de saúde e doença. Trata-se da Epidemiologia, uma modelagem multidisciplinar, que também pode envolver profissionais de áreas como Biologia, Economia e Física. Um bom exemplo de que como trabalhar com números tem impactos práticos na sociedade.

Graduação em Matemática oferece diferentes possibilidades de trajetória

A PUCRS oferece dois cursos de graduação em Matemática: Licenciatura e Bacharelado (Empresarial), permitindo que o aluno vivencie experiências pedagógicas ou empresariais.

Os estudantes podem participar de projetos de pesquisa de mercado, políticas ou mesmo voltadas para a saúde, dentro da área da estatística. Há ainda a possibilidade de se dedicar mais especificamente a pesquisas sobre o ensino da disciplina. Na Matemática Aplicada, por exemplo, os estudantes têm contato com as áreas de estudos dos professores do curso.

Ficou interessado? Confira mais sobre os cursos de Matemática da Universidade no site Estude na PUCRS.

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