Podcast da PUCRS aborda o coronavírus e novos desafios - O Conversa de Fundamento, da Escola de Negócios, debate sobre inclusão digital, economia, saúde e mais

Foto: William Iven/Unsplash

Uma das principais formas de combater uma pandemia é a informação: ter acesso a orientações corretas e conteúdo de qualidade e confiável. O Conversa de Fundamento, podcast da Escola de Negócios da PUCRS, discute temas da atualidade de forma despojada, mesclando comportamento, inovação e muito mais. Durante a quarentena causada pelo coronavírus, uma das preocupações do projeto foi manter os ouvintes atualizados sobre o que está acontecendo.

As pessoas às vezes se incomodam por receber muitas informações sobre o mesmo tema. Para não ser repetitivo, o professor Ely Jose de Mattos – âncora do programa, explica que tudo é uma questão de abordagem. “Da mesma forma que pode parecer cansativo falar da pandemia e da quarentena, também é complicado não fazer. Então, temos tentando abordar o assunto a partir de diferentes óticas, como padrões de consumo, questões políticas e economia, por exemplo. A Covid-19 acaba virando um fio condutor, mas não necessariamente é o foco central”.

O papel de informar

Debater, conversar com base em dados, levar informações apuradas e se informar. Estes são os objetivos do podcast, que mesmo falando de assuntos sérios e importantes, aposta em manter a leveza a descontração.

“Acredito que não falar da pandemia seria um erro. Como universidade, é importante darmos uma contribuição ao debate neste momento. O coronavírus tem afetado praticamente todos os aspectos da nossa vida, é impossível ignorá-lo”, destaca Mattos. O Conversa de Fundamento já tratou de temas sobre:

Confira os novos episódios

Todas as quintas-feiras, o público pode ouvir um assunto novo, nas principais plataformas de streaming, como SpotifyDeezerApple Podcast e Soundcloud. Os bate-papos também contam a presença dos docentes Lelis Balestrin EspartelStefania Almeida e Osmar de Souza.

coronavírus,vírus,infectologia,hsl,hospital são lucas

Técnica foi criada a partir da disciplina de Ecologia de Indivíduos e Populações, do curso de Ciências Biológicas da PUCRS

Na disciplina de Ecologia de Indivíduos e Populações, do curso de Ciências Biológicas da PUCRS, são estudados modelos simples de crescimento populacional. Estes não envolvem estatística bayesiana (avaliação de hipóteses pela máxima verossimilhança), o uso de redes neurais ou os sistemas de Inteligência Artificial. Entretanto, servem para criar simulações compreensíveis, assim como o desenvolvimento de modelos mentais de relação causa-efeito. “Por meio da técnica, que pode ir sendo atualizada, decidi aplicar estes mesmos modelos para analisar a evolução da Covid-19 no Brasil. Os dados foram obtidos na European Centre for Disease Prevention and Control”, destaca o diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, Nelson Fontoura.

Permanecendo as condições atuais, o modelo, que cruzou dados e realizou cálculos em situação média em todo o país, identifica uma redução gradativa da taxa de expansão da doença, com um número de novos infectados de cerca de 2 mil por dia para os próximos dias, e caindo gradativamente. “Ou seja, estaríamos no pico agora ou em futuro muito próximo, se mantido o isolamento social nos mesmos termos e sem relaxamento”, indica o professor. Essa mesma tendência de números pode ser aplicada para os casos de óbitos.

A análise ainda prevê uma estabilização do número de casos em julho, com cerca de 100 mil infectados, com redução considerável em agosto. “Contudo, considerando que apenas 20% dos infectados apresentam sintomas graves e acorre ao hospital, e levando em conta que nem todos são testados, este número pode ser muito maior, de cinco a dez vezes, ou seja, de 500 mil a um milhão de infectados”, frisa.

Segundo Fontoura é preciso destacar que o número de casos positivos devem aumentar nos próximos dias, acima do previsto no modelo, não em função da expansão da doença, mas devido à ampliação da cobertura de testes. “O modelo está limitado não apenas pela qualidade do dado disponível, mas também em função de alterações da política de isolamento e da cobertura de testes”, pontua.

As projeções realizadas se baseiam na manutenção do isolamento social. “Enquanto não houver vacinas, ou uma parcela relevante da sociedade já imune por ter se recuperado de uma infecção, basta relaxar as medidas de distanciamento que uma nova onda de infecções se estabelece”, pondera Fontoura.

Resultados positivos com o isolamento social

O isolamento social trouxe frutos importantes, pois reduziu a taxa de ampliação da pandemia em níveis significativos. Se o isolamento é necessário, também não necessita ser uniforme em todo o território brasileiro. “Uma grande cidade com sistema de saúde colapsado, talvez necessite medidas de isolamento ainda mais rígidas, enquanto que um pequeno município, sem casos registrados, talvez precise apenas testar e isolar os casos suspeitos”, pontua o professor.

 

coronavírus,novo coronavírus,pandemia,covid,covid-19,sono,insônia,sonho,sonhar,sonhos,escola de medicina,inscer,escola de cências da saúde e da vida,inscer,psicologia,psicanálise,dormir,dormindo

Nós sonhamos todas as noites, e não há nada de errado nisso / Foto: Pexels

Desde que a pandemia do novo coronavírus se iniciou e, especialmente, quando o distanciamento social causado pela quarentena se tornou uma realidade, muitas pessoas têm observado mudanças no sono. Sonhar e lembrar dos sonhos – muitas vezes mais perturbadores do que de costume – com uma frequência maior do que a normal é uma delas. Outra questão bastante comentada é a dificuldade para dormir. Se você se enquadra em um desses casos, pode ter certeza de que não está só. E há explicações para isso.

Primeiramente, é importante dizer que todos nós sonhamos todas as noites – e não há nada de errado nisso. Pelo contrário. Segundo a professora da Escola de Medicina e vice-diretora do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) Magda Lahorgue Nunes, sonhar é uma atividade benéfica para o cérebro, demonstrando que sua função está normal. “Existem várias teorias em relação à função dos sonhos, entre elas a de que ajudam a consolidar memórias, a regular o humor e a treinar comportamentos não apresentados quando estamos acordados”, explica.

O motivo de nem sempre lembrarmos do que sonhamos é que essa recordação depende da transferência de conteúdo da memória recente para a remota, e isso só é possível quando existe algum grau de despertar (chamado de microdespertar) após o sonho ter acontecido.

Do ponto de vista da psicanálise, sonhar também é algo positivo e até mesmo importante – principalmente em um contexto de pandemia. Conforme a professora do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Carolina de Barros Falcão, trata-se de uma atividade elaborativa, uma via por meio da qual podemos significar o que estamos vivendo.

Mas o que é o sonho, afinal?

O sonho é uma atividade mental que acontece enquanto estamos dormindo. Ele é consequência da ativação cortical que ocorre na fase REM (rapid eye movement, ou movimento rápido de olhos) do sono. Esse estágio chega após três outras fases: N1 (transição da vigília para um sono mais profundo, mas ainda leve), N2 (desconexão do cérebro com os estímulos do mundo real) e N3 (sono profundo, com descanso da atividade cerebral).

No estágio REM, o cérebro volta a ficar ativo, tanto quanto o de uma pessoa acordada. Por isso, conforme Magda, a atividade fásica que ocorre nessa fase se relaciona com a imagética visual dos sonhos, permitindo que tenhamos sonhos complexos, semelhantes a histórias. Em uma noite, podemos ter entre quatro e seis ciclos de sono, incluindo os estágios não-REM e REM, sendo que cada um deles dura cerca de 90 minutos.

Conforme a professora Carolina, a psicologia tem muitas teorias diferentes para o sonho – algumas que coincidem mais com o olhar médico, outras que se afastam um pouco. “A psicanálise vai trabalhar com uma leitura e com um modelo de psiquismo que não descarta o corpo e o orgânico, mas que pensa que os processos psíquicos não estão apenas relacionados com os processos biológicos”, ressalta.

Para a leitura psicanalítica, o sonho é uma produção psíquica muito importante. “Temos, no sonhar, uma atividade muito privilegiada de trabalho psíquico, porque estamos ‘protegidos’ da realidade. E é por isso que podemos sonhar as coisas mais malucas que existem”, destaca Carolina.

Por que estamos sonhando mais?

Segundo a vice-diretora do InsCer, os sonhos são construídos com base em experiências remotas e em preocupações atuais. E a vivência intensa do tema coronavírus e de tudo o que essa pandemia implica pode ser uma explicação para estarmos nos lembrando mais dos sonhos. “As restrições de convívio social, a quebra de rotina, questões financeiras, o medo e a ansiedade sobre a gravidade do que está acontecendo já são motivos fortes o suficiente para sonharmos mais”, aponta Magda.

Carolina complementa dizendo que a pandemia da Covid-19 fez com que todos precisassem mobilizar suas vidas de forma muito rápida, fazendo adaptações no modo de viver e tolerando perdas muito contundentes na rotina. “Um motivo para que tantas pessoas estejam sonhando mais pode ser porque estão recorrendo a todas as possibilidades de trabalhar psiquicamente. O sonho tem sido uma forma muito importante de descarga dessas intensidades que estamos vivendo, do psiquismo encontrar uma forma de dar conta e de elaborar tudo isso”, diz.

A professora de Psicologia ainda aponta que, além dos acontecimentos atuais, na hora de se analisar um sonho e tentar entendê-lo, é preciso levar em consideração todo o contexto da pessoa que o sonhou: “Não sonhamos só por causa do coronavírus, da pandemia ou das restrições que estão impostas. Sonhamos porque essas situações de hoje tocam naquelas que já eram as nossas questões, nossos conflitos. Quando sonhamos, resolvemos essa dupla mobilização: a interna, do nosso mundo psíquico; e a externa, daquilo que nos invade – nesse caso, o tema da morte, do adoecimento”. Carolina conclui reforçando que o fato de as pessoas estarem sonhando significa que estão metabolizando as situações traumáticas que estão vivendo nesse momento de pandemia, e que isso é algo muito positivo.

Insônia pode ser consequência da quebra da rotina

coronavírus,novo coronavírus,pandemia,covid,covid-19,sono,insônia,sonho,sonhar,sonhos,escola de medicina,inscer,escola de cências da saúde e da vida,inscer,psicologia,psicanálise,dormir,dormindo

Seguir uma rotina ajuda a manter um sono saudável / Foto: Pexels

Em relação à dificuldade para dormir, Magda destaca que as mudanças na rotina podem ser um dos causadores. “Queixas de insônia estão sendo muito frequentes durante a quarentena. Isso certamente é decorrente de quebras nas rotinas, da falta de necessidade de cumprir horários, além do relaxamento nos aspectos de higiene do sono, como variações no horário de dormir e de acordar e o uso excessivo de telas”, afirma.

Para manter a saúde do sono, apesar de todas mudanças e das preocupações causadas pela pandemia, é importante tentar seguir uma rotina. “Ter um horário para dormir e acordar, evitar o uso de telas pelo menos 30 minutos antes de dormir, não fazer uso excessivo de álcool, optar por refeições leves à noite e evitar bebidas com cafeína podem ajudar”, sugere Magda.

Pesquisa vai avaliar sono da população durante a quarentena

O InsCer desenvolveu uma pesquisa para avaliar como está o sono da população brasileira durante a quarentena. O participante, de acordo com sua idade e/ou a idade de seus filhos, é direcionado a um questionário específico para fazer essa avaliação. Ao fim, será redirecionado a uma página com informações sobre como é o sono normal nas diferentes faixas etárias e receberá dicas, conforme a idade, de como dormir bem. A pesquisa está disponível neste link.

Leia mais: Estudo investiga impactos do confinamento domiciliar no sono de adultos e de seus filhos

covid,covid-19,covid 19,novo coronavírus,coronavírus,pesquisa,inscer,Instituto do Cérebro,Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul,estresse,ansiedade,depressão,traumaEntender o impacto traumático da pandemia do novo coronavírus é o objetivo principal de uma pesquisa desenvolvida por profissionais da PUCRS. A iniciativa surgiu a partir de integrantes da força-tarefa multidisciplinar criada pela Universidade para buscar soluções para as diferentes questões que envolvem a Covid-19. O professor da Escola de Medicina e pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) Rodrigo Grassi de Oliveira é um dos nomes que compõem o grupo de saúde mental da força-tarefa e que está por trás desse estudo. Segundo ele, a ideia é fazer um mapeamento e um monitoramento das questões relacionadas a estresse e trauma na população brasileira durante e após a pandemia.

Grassi explica que o grupo percebeu a necessidade de se realizar uma pesquisa nesse sentido em função das preocupações que o contexto atual pode gerar, como medo da morte, incerteza sobre o futuro e distanciamento social. Conforme o professor, essas questões podem ser muito estressantes e contribuir para o aparecimento ou piora de transtornos metais, principalmente ansiedade e depressão.

Uma das possíveis explicações para um aumento do estresse nesse período pode ser justamente a rápida disseminação das informações associadas à pandemia. Número de casos confirmados, óbitos, modo e taxa de transmissão podem ser facilmente monitorados por todas as pessoas com acesso à televisão ou à internet – além dos problemas socioeconômicos consequentes do distanciamento social. “Essa ampla cobertura da mídia pode influenciar a percepção cognitiva da população em relação à ameaça da doença, levando a uma maior ou menor proliferação de medo. A partir disso, começam a emergir questões importantes acerca dos impactos que a pandemia pode ter na saúde mental”, aponta.

Leia também: Força-tarefa multidisciplinar da PUCRS é formada contra a Covid-19

Pesquisa é respondida de forma online e não exige identificação

Para que a pesquisa possa atingir o maior número possível de pessoas em todo o Brasil, ela foi desenvolvida para que pudesse ser respondida de forma online e anônima – o que exige uma série de cuidados metodológicos. Ao longo de toda a entrevista, são coletadas informações relacionadas a sintomas de estresse, ansiedade e depressão, além de outros dados que, de alguma forma, possam estar afetando as pessoas, como o uso de mídias sociais e o quanto seu uso influencia ou não no estresse.

A ideia é que o questionário permaneça aberto ao longo de todo o período da pandemia e também no pós-pandêmico. Outro ponto relevante é que a mesma pessoa pode responder a pesquisa quantas vezes quiser, ao longo dos diferentes meses – lembrando sempre de sinalizar, no começo, que já respondeu às perguntas antes. Para se ter esse controle, cada pessoa tem um identificador (CEP e últimos quatro dígitos do celular, únicas informações solicitadas aos participantes).”Assim, teremos como saber quantas vezes alguém respondeu a pesquisa. Além de fazer esse mapeamento transversal, conseguiremos ter diferentes fotografias da população brasileira ao longo do ano”, pontua Grassi.

A meta é que pelo menos 9 mil pessoas respondam à pesquisa nessa primeira onda de coletas e, se possível, que voltem a responder nos próximos meses. “É um desafio a gente conseguir isso. Estamos pedindo para todo participante que nos siga nas redes sociais, pois será lá que faremos o anúncio público da segunda onda de coletas. Mesmo que essas pessoas não voltem a responder, tendo 9 mil respondendo agora, 9 mil daqui a três meses e mais 9 mil daqui a seis meses, a gente consegue generalizar estatisticamente esse diagnóstico do mapeamento de sintomas estressantes e traumáticos”, destaca.

Participantes recebem feedback e orientações em caso de estresse

Ao fim da pesquisa, os participantes têm acesso a um feedback baseado nas suas respostas. Aqueles que manifestaram estar sofrendo com a pandemia recebem orientações sobre como podem buscar ajuda. Se alguém expressar algum tipo de pensamento relacionado à morte ou a suicídio, automaticamente a pesquisa abre uma tela, instrui essa pessoa a ligar para o Centro e Valorização da Vida (CVV) e explica que há como essa pessoa ser ajudada, que o serviço não tem custo. “Tivemos uma preocupação com a pessoa que está respondendo a pesquisa, de forma que ela também seja psicoeducada por onde buscar ajuda”, completa Grassi.

O professor destaca que qualquer intervenção de saúde precisa ter base científica e que, como essa pandemia se desenvolveu de forma veloz, é preciso ser igualmente rápido para gerar bases de dados científicos e, a partir deles, estruturar políticas de intervenção, principalmente de saúde pública. “Investigar trauma ou estresse é importante porque a gente sabe que quanto mais cedo for a intervenção, melhor do ponto de vista de não deixar um adoecimento efetivamente se estabelecer”, reforça.

Outro ponto importante em relação a esse mapeamento é o fato de um aumento do adoecimento mental, em especial da depressão, gerar também questões econômicas importantes: “Uma das maiores causas de afastamento do trabalho é doença mental. Se a gente espera que, após esse período de recessão, o número de doenças mentais aumente, também tem que ficar preparado para tentar prevenir ou contornar essa situação, porque esse eco pós pandemia continuará corroendo a estrutura econômica”.

Ciência que é feita por todos

Grassi relata que o momento atual também é difícil para a ciência, uma vez que cada um está em sua casa e que uma série de materiais de pesquisa não estão podendo ser utilizados nesse momento. Por isso, chama a atenção para a importância de que as pessoas entendam que a ciência não é feita só pelo cientista: “Quem se voluntariar e dedicar de 10 a 15 minutos do seu dia respondendo essa pesquisa, vai estar ajudando a produzir ciência de qualidade no País. E isso é importante para mostrar como está sendo essa experiência de pandemia para o Brasil. A gente precisa medir, mensurar, registrar. É isso que um cientista faz”.

Além de Grassi, integram a equipe de desenvolvimento da pesquisa o vice-reitor da PUCRS e diretor do InsCer, Jaderson Costa da Costa; a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, professora Carla Bonan; os professores da Escola de Ciências da Saúde e da VidaChristian Kristensen e Thiago Viola (também professor da Escola de Medicina); e o professor da Escola Politécnica Felipe Meneguzzi, além do pós-doutorando Bruno Kluwe-Schiavon, bolsista do Projeto Institucional de Internacionalização (PUCRS-PrInt) na modalidade Jovem Talento com Experiência no Exterior, e do aluno de Doutorado em Psicologia Lucas Bandinelli.

A pesquisa está disponível neste link.

Populações indígenas e aldeias contra o coronavírus - No Dia do Índio, povos lidam com fontes de renda comprometidas e desafios ambientais históricos

Foto: Deb Dowd/Unsplash

O Brasil é o país com o maior número de contaminados pelo novo coronavírus entre povos originários, segundo dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Mesmo com as ações de contingenciamento dos órgãos oficiais, diversos são os desafios dos profissionais da área da saúde frente à Covid-19. A doença preocupa tanto a população indígena que vive em aldeias afastadas, quanto os grupos que moram próximo aos centros urbanos e sobrevivem com o que conseguem vender, como artesanatos, artes e frutos.

Ao longo das últimas semanas, os principais veículos de comunicação do Brasil só falam sobre um tema: a pandemia provocada por uma família de vírus que causam infecções respiratórias graves e podem levar ao óbito. Seu nome é uma referência à data de descoberta, que aconteceu em dezembro de 2019, na China, e acabou se alastrando pelo mundo inteiro.

Em 48 horas, o número de nativos infectados pelo coronavírus aumentou 156%. Entre os dias 13 e 15 de abril, o total de casos disparou de nove para 23, conforme o Sesai. Três mortes já foram registradas entre as etnias kokama, tikuna e ianomâmi. O Amazonas, estado que concentra o maior número de pacientes, 95% do todo, contabilizou duas delas. Outros 23 casos suspeitos aguardam os resultados dos exames.

“Isso é uma coisa nova para todo mundo. A orientação é o isolamento, mas no Rio Grande do Sul já temos suspeitas dentro das aldeias”, explica Edison Hüttner, professor da PUCRS e coordenador do Núcleo de Estudos em Cultura Afro-Brasileira e Indígena (Neabi). 

Leia também: Famecos cria serviço de curadoria de conteúdos sobre a Covid-19

As culturas evoluem para sobreviver

Os nativos retiram os materiais necessários para fazer os artesanatos, como cipó e outras raízes, do mato e das florestas. Porém, nesse período, eles não podem vender sua arte porque correm mais risco de transmissão. “O artesanato é a fonte de renda das aldeias. Com essa situação, os índios ficam dependentes de ajuda. Em alguns casos, os municípios entregam cestas básicas para eles não precisarem sair”, conta Hüttner.

As pessoas doentes são encaminhadas aos hospitais do município, onde pegam os remédios. Porém, outros fatores históricos podem agravar a situação. “Em geral, os indígenas têm muitos problemas respiratórios, principalmente as crianças, causados, em parte, pelos costumes milenares – como fazer fogueiras e utilizar cachimbos nas ocas, com a fumaça dentro de casa, por exemplo” explica o professor.

Saúde indígena

Populações indígenas e aldeias contra o coronavírus - No Dia do Índio, povos lidam com fontes de renda comprometidas e desafios ambientais históricos

Foto: Alexander Paul/Unsplash

Por viverem em isolamento por muito tempo, praticamente durante toda a sua existência, os indígenas não têm imunidade para as doenças das pessoas que vivem na cidade. Conforme informações da Fundação Nacional do Índio (Funai), divulgadas no jornal El País, se uma doença não for tratada, ela pode exterminar de 50% a 90% de um grupo. No caso da Covid-19, esse potencial poderia se intensificar.

Edison Hüttner explica que, mesmo com seis polos de Saúde no Rio Grande do Sul, muitas regiões sofrem com a precarização do sistema e a falta de recursos. Na BR 116, por exemplo, que abrange os municípios de Guaíba, Barra do Ribeiro e Camaquã, encontram-se 13 aldeias, com 749 indígenas Guaranis. “Têm apenas dois enfermeiros que trabalham ali, não têm médicos ou dentistas atuando no momento”, explica.

Conforme os órgãos oficiais de saúde, a população idosa – e indígena – é o principal grupo de risco do coronavírus. Desses 749 indígenas citados, 48 membros têm entre 70 e 80 anos e são os que correm mais risco em caso de contágio. Hüttner destaca que a expectativa média de vida dos nativos no Brasil é de 49 a 59 anos, enquanto a das demais pessoas é de 75 anos, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Atendimento à população

No Brasil, existem espaços criados para prestar atendimento qualificado de atenção à saúde indígena, com uma organização etnocultural, dinâmica e geográfica delimitada. São 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) espalhados pelo território nacional. Sua estrutura conta com unidades básicas de saúde, polos base e as Casas de Saúde Indígena. Na região Sul do País, existe apenas um desses distritos, com sede em Santa Catarina.

Conforme o portal do Ministério da Saúde, os polos são a primeira referência para as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI), que atuam nas aldeias. Eles podem ficar em terras nativas (tipo 1), com atividades de saúde, ou no município de referência (tipo 2), com funções técnicas e administrativas. “Os nativos são atendidos pelo SUS desde 1999, pela Lei no 9.836, mas o ideal seria que as referências em saúde estivessem dentro das comunidades, porque são realidades diferentes, que exigem especialistas com experiência na área. Em Manaus, existe a Casa De Apoio à Saúde Indígena, que acolhe e atende os doentes na região. Na Aldeia Kaingang Fág Nhin (Lomba do Pinheiro), em Porto Alegre, existe uma Unidade de Saúde Indígena, por exemplo”, acrescenta Hüttner.

Leia também: Pesquisadores da PUCRS compõem comitê de enfrentamento à Covid-19

Povos originários

O nome “indígena” é uma referência aos primeiros habitantes de um território não colonizado. Segundo Julie Dorrico, indígena Macuxi e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Escola de Humanidades da PUCRS, essa é a forma mais adequada de se referir a esses povos. “Os indígenas têm procurado ressignificar as palavras, e indígenas refere-se aos originários, às populações tradicionais que já habitavam este território antes da chegada dos colonizadores europeus. Nossos povos não se veem como ‘tribos’, que é algo do contexto de grupos urbanos. Nós nos vemos como nações. ‘Índio’ é um termo muitas vezes utilizado pejorativamente”, explica.

Julie também é escritora, palestrante do TEDx e ativista pelas causas indígenas, e lembra em seus depoimentos sobre a importância da ancestralidade. “Existe um desafio em descolonizar as visões sobre a população nativa, colocando em xeque a própria história tida como oficial. Esse é um grande enfrentamento social, ideológico e, principalmente, político, onde há uma pequena representação”, destaca.

A autora ressalta a importância do trabalho realizado pelas lideranças indígenas, artistas e da mídia, que têm ajudado a dar visibilidade para o tema. Entre eles, a Rádio Yande, com conteúdo especializado; a ativista e pedagoga Raquel Kubeo; e Iracema Nascimento, a kujá (xamã) kaingang e líder política.

Segundo o levantamento realizado pelo último Censo do IBGE, existem mais de 800 mil indígenas no Brasil. No Rio Grande do Sul, são quase 33 mil e, desses, 23 mil vivem nas aldeias, em 65 municípios. Segundo a Agência France Presse (AFP), são pelo menos 107 povos que vivem em isolamento e “intocados”, ou seja, nunca tiveram contato com o mundo exterior.

Por estarem longe, além de ficarem expostos a diversos perigos, também podem representar riscos – uma vez que costumam reagir violentamente. Mesmo assim, exploradores de recursos naturais representam um perigo ainda maior aos grupos afastados. “O narcotráfico constitui outra ameaça crescente à vida dos povos em isolamento voluntário e contato inicial”, afirma a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em um parecer.

Leia também: Força-tarefa multidisciplinar da PUCRS é formada contra a Covid-19

Descolonizando as visões

Populações indígenas e aldeias contra o coronavírus - No Dia do Índio, povos lidam com fontes de renda comprometidas e desafios ambientais históricos

Foto: Trevor Cole/Unsplash

“No campo da literatura, temos um grande desafio em descontruir a imagem que se formou sobre a figura indígena, ora como bom selvagem ora demonizado, ou com tradições distintas homogeneizadas. Uma grande característica dos indígenas é ter uma formação que possa contribuir com suas aldeias e povos” enfatiza Julie, dando o exemplo de indígenas que se formam em Direito, Medicina e outras profissões para ajudar suas comunidades.

Dario Agustin Ferreira é estudante Psicologia na PUCRS e já estudou Filosofia e Teologia, mas, aos 30 anos, uma das suas paixões é a Linguística. Nascido no Paraguai, cresceu falando guarani e espanhol e, agora, é a principal referência para as traduções do Naebi. “Dependendo do contexto familiar, o guarani paraguaio é muito parecido com o falado nas aldeias indígenas brasileiras, com poucas variações na pronúncia”, conta.

Ele já morou em Buenos Aires e na província de Santa Fé, na Argentina, mas está no Brasil desde 2015 e enfatiza a importância de conhecer a ancestralidade. “Indígenas são pessoas autônomas da terra, muitas vezes marginalizadas. Mesmo após o período de colonização, teve uma miscigenação cultural. Conhecer a cultura indígena é conhecer os nossos antepassados. Eles trazem a nossa identidade e, para tentar preservar a cultura, tentam fechar a sua cultura em si mesmos, vivendo o Tekoa, modo de ser e viver guarani”, conclui.

Leia também: Mil máscaras de proteção serão doadas para instituições de saúde

Guardiões da terra

Com a suspensão e os rodízios de trabalhadores em diversas áreas, o enfraquecimento da fiscalização é uma das principais preocupações dos nativos. “Pedimos a retirada imediata de todos os invasores das terras indígenas e dos territórios para impedir o avanço do vírus: os garimpeiros, madeireiros, caçadores, narcotraficantes, grileiros, missionários e turistas que são vetores de transmissão”, disse Nara Baré, presidente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), durante uma entrevista publicada pela agência Reuters.

Esses fatores causam o aumento da exploração ilegal de madeira na Amazônia e, consequentemente, das terras indígenas. A partir de informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o jornal O Estado de São Paulo identificou que as áreas desmatadas dobraram de 2.649 quilômetros quadrados, para 5.076 quilômetros quadrados no período de quarentena.

álcool gel

Foto: Pinterest

As professoras do curso de Farmácia Denise MilãoCristina Maria Moriguchi Jeckel e Temis Weber Furlanetto Corte, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, produziram álcool gel 70% no Laboratório de Tecnologia Farmacêutica. Para contribuir com o combate à Covid-19, a iniciativa foi realizada atendendo a uma solicitação do Centro de Produção de Radiofármacosdo Instituto do Cérebro (InsCer). Além de suprir as necessidades do InsCer, metade da produção também foi doada para Casa Menino Jesus de Praga, instituição que acolhe e promove atendimento especializado gratuito para crianças com necessidades especiais. 

De acordo com a professora Denise Milão, coordenadora da graduação em Farmácia, foram produzidos cerca de 15 quilos do produto. “Fizemos o que conseguimos, pois estávamos com pouca matéria prima. Ainda sim foi uma sensação muito boa produzir um produto que pode auxiliar nesse momento tão delicadoFizemos de coração”, afirma. 

A professora Cristina Jeckel conta que durante a produção todas as medidas de segurança foram seguidas em prol da solidariedade. “Cuidamos o tempo todo para manter o distanciamento físico entre nós, além de usar máscaras e luvas. Sabemos que o que fizemos foi pouco, foi como ser uma gota no oceano. Mas também sabemos que a solidariedade é isso, cada um fazendo o pouco que pode fazer”, comenta. Além do distanciamento e dos cuidados pessoais, as professoras também efetuaram a limpeza e higienização dos materiais equipamentos e utensílios utilizados. 

Sobre o curso de Farmácia 

O estudante aprofunda conhecimentos para o cuidado em saúde na área de fármacos e medicamentos, com análises clínicas e toxicológicas. Também são desenvolvidas habilidades para atuar em toda a cadeia de produção de medicamentos, dos manipulados aos industriais, sua distribuição comercial e em redes de saúde hospitalar, acompanhamento e atenção ao paciente. 

Leia também: Por que as pessoas precisam parar de praticar a automedicação 

ergonomia,home office,coronavírus,quarentena,fisioterapia,trabalho em casa, estudos em casa,dicas de home office,dcas de ergonomia

Postura, luminosidade do ambiente e posicionamento dos equipamentos são pontos a serem observados / Foto: Pexels

Em tempos de quarentena, ter um ambiente adequado para estudar ou trabalhar em casa auxilia a manter a saúde mental e física em dia. Alguns cuidados simples fazem toda a diferença para um home office mais confortável e saudável. É importante estar atento em relação à postura, à luminosidade do espaço onde as tarefas costumam ser desempenhadas e ao posicionamento do computador e demais equipamentos utilizados durante o expediente, por exemplo.

Seguir a rotina como se estivesse saindo para estudar ou trabalhar pode ser o primeiro passo para manter a qualidade de vida no home office. Para o professor do curso de Fisioterapia da Escola de Saúde e da Vida e Líder da Fisioterapia do Centro de Reabilitação HSL/PUCRSPedro Henrique Deon, trocar de roupa, tomar café da manhã e se preparar para a jornada de trabalho ou estudo ajuda a manter o foco nas atividades. “Outra sugestão é que se respeite os horários de pausa e de refeição que você teria no ambiente físico. Essas atitudes ajudam a desenvolver um comportamento de trabalho”, pontua.

Saiba mais: Rotina em casa: gerenciar o tempo auxilia a manter a produtividade

Sofá só para as horas de lazer

Estando em casa, nem sempre é fácil resistir à tentação de trabalhar no sofá. Porém, segundo o professor Deon, além de descaracterizar um ambiente de trabalho, o sofá não permite um alinhamento adequado da coluna vertebral para se trabalhar com um notebook, por exemplo. “Esse hábito é contraindicado, pois pode resultar em dores na região cervical e lombar”, destaca.

Ainda em relação a quem utiliza notebook, o ideal seria contar com teclado e mouse extras, uma vez que ele foi criado originalmente para trabalhos em ambiente externo ou de transporte. “Para realizar uma atividade que demanda um tempo prolongado de trabalho, esses acessórios são importantes para a saúde postural”, indica.

Dentro do possível, mexa-se

Antes, durante e depois do expediente, é importante realizar alguns exercícios de alongamento, pois isso permite que o corpo tolere a postura de trabalho. Além disso, Deon sugere intervalos ou pausas rápidas durante o dia. “Cerca de 10 a 15 segundos são suficientes para mudar a nossa postura de trabalho, espreguiçar ou realizar um alongamento. Se você trabalha sentado, levante-se e estique seu corpo. Se trabalha em pé, agache-se e relaxe suas costas. Esses comportamentos fazem com que a atividade seja mais produtiva e evita dores indesejadas”, recomenda o professor, pontuando que, quem utiliza notebook e não possui teclado e mouse extras, deve realizar essas pausas com ainda mais frequência.

Confira algumas sugestões de alongamentos para serem feitos ao longo do dia:

ergonomia,home office,coronavírus,quarentena,fisioterapia,trabalho em casa, estudos em casa,dicas de home office,dcas de ergonomia

Leia também: Exercícios físicos são benéficos no combate ao estresse

Dicas simples de ergonomia para seu home office

Pensando na importância da ergonomia para a saúde de quem está trabalhando em casa durante a quarentena, a equipe de Segurança do Trabalho da Gerência de Gestão de Pessoas da PUCRS elaborou um material com dicas para organizar da melhor maneira um escritório em casa. Confira abaixo algumas delas, juntamente com recomendações do professor Deon:

Para o uso de computador desktop

Para o uso de notebooks

Para o ambiente

Carta aberta aos estudantes da PUCRS e suas famíliasEste não é um comunicado convencional. Venho refletindo sobre as dúvidas, as angústias, as inquietudes que vocês têm manifestado das mais diversas formas nas últimas semanas. Tenho lido com atenção tudo que chega até mim, por todos os canais. Por isso me dirijo a vocês, de maneira franca e transparente, detalhando os principais aspectos que este momento requer.

Sei o quanto esses longos dias têm sido difíceis. Somos seres essencialmente sociáveis, e conheço os efeitos que a necessidade de distanciamento pode acarretar. Mesmo na era das “solidões conectadas”, como chamam alguns sociólogos, sabemos que é difícil conviver com a ausência de contato, de proximidade, do afeto de um abraço. Há também o desafio de adaptar a rotina de uma vida pulsante para dias inteiros dentro do mesmo lugar, e, diante da impossibilidade de manter os processos habituais de ensino-aprendizagem, ter de (re)aprender a aprender, agora de maneira totalmente mediada. Sabemos que não é fácil. Para nós, também foi desafiador adaptar, em tempo recorde, o funcionamento integral da Universidade.

É um tempo que desafia a humanidade como um todo, de incontáveis maneiras. De nossa parte, depois de mais de 70 anos atuando quase que totalmente presencialmente, tivemos que reorganizar rapidamente todas as atividades desse ecossistema complexo que caracteriza a nossa Universidade. Nesse contexto, destaco o empenho irrestrito dos nossos docentes. Eles têm se dividido entre a euforia de explorar novas possibilidades e a angústia da incerteza de saber se tudo o que estão fazendo é suficiente. Assim como vocês, há quem tenha mais habilidade para lidar com recursos tecnológicos, e há quem sinta dificuldades, mas posso assegurar que todos, absolutamente todos, estão se esforçando ao máximo para dar continuidade a suas aulas.

Se você notar que melhorias são necessárias, não deixe de nos contar por meio dos canais de atendimento.

Estamos continuamente acompanhando nossos professores e repassando as impressões dos estudantes que chegam até nós, e, com base nesses retornos, assessoramos os docentes para que consigam fazer o melhor que for possível, dentro das limitações que esse contexto emergencial nos impõe. Não esqueçam que esta não é uma escolha nossa, é uma situação excepcional, de alto risco, que exige que sigamos todas as normativas e recomendações para garantir a saúde e a proteção de todos nós.

Sei que alguns de vocês estão com dificuldades de manter o mesmo rendimento e temem não aprender tanto quanto gostariam. Por isso, buscamos formas de manter disponíveis os recursos de apoio à aprendizagem, como o apoio psicossocial e as monitorias para quem precisa de reforço nas áreas de Letras, Física, Química, Matemática, Estatística e Desenho. Não deixem de contar com nosso apoio quando encontrarem qualquer dificuldade. Busquem o(a) Coordenador(a) do seu Curso, ou o(a) professor(a) com quem tenham mais afinidade, estejam abertos ao diálogo e não hesitem em procurar ajuda.

Em relação à modalidade das aulas, seguiremos as recomendações dos Ministérios da Saúde e da Educação e o decreto estadual, que prevê a impossibilidade de aulas presenciais até 30 de abril. Por isso, daremos continuidade às aulas online até esta data, nas disciplinas em que isso é viável.

Destaco que nossas equipes especializadas estão há semanas debruçadas no estudo das adaptações do calendário acadêmico, junto às Escolas, olhando individualmente cada disciplina, prevendo todos os cenários e impactos possíveis. O resultado do estudo aponta que não é viável uma decisão única para os mais de 50 cursos de graduação da Universidade, assim como para os Programas de Pós e cursos de Especialização e MBA.

É fundamental um olhar personalizado e cuidadoso para cada programa de ensino. Assim, algumas disciplinas, naturalmente não poderão prosseguir nessa modalidade, e devem ser suspensas. Você receberá o detalhamento do impacto na grade de disciplinas do seu curso ao longo dos próximos dias, por meio da Coordenação do seu curso. Em relação às avaliações, na última segunda-feira, 6/4, foi chancelada pela Reitoria a resolução que possibilita a alteração dos processos avaliativos previstos no plano de ensino. Ao longo dos próximos dias, cada professor irá detalhar como será a avaliação da sua disciplina, à luz dessa orientação institucional.

Um dos pontos que mais tem inquietado parte dos nossos alunos é a manutenção das mensalidades.

Existe um imaginário na sociedade, de modo geral, que a virtualização das aulas poderia significar uma redução expressiva de custos. Porém, nossas despesas permaneceram praticamente inalteradas e, além disso, tivemos custos extras em decorrência das necessidades que surgiram no contexto da pandemia. Todos os nossos profissionais seguem trabalhando integralmente para viabilizar a continuidade não só das aulas, mas de todos os processos que envolvem o funcionamento da nossa Universidade.

Outro fator importante é que dois terços das despesas da Universidade dizem respeito aos custos de folha de pagamento dos nossos docentes e técnicos. São mais de 3 mil famílias, e mesmo diante dos impactos econômico-financeiros que afetam as organizações neste momento, temos a prerrogativa de preservá-las. Da mesma forma, cientes de que esse impacto se estende também às famílias, iremos ofertar um atendimento personalizado para estudantes que tiverem dificuldade em manter o pagamento das mensalidades. Sabemos que a realidade de cada família é muito particular, e medidas generalizadas provavelmente não atenderiam os que mais precisam. Com isso, analisaremos individualmente cada situação, para buscarmos, juntos, a melhor solução, a fim de evitar que estes estudantes abram mão de seus estudos.

Ressalto, ainda, os diversos esforços que estamos empreendendo para auxiliar nosso Estado e País no contingenciamento e combate ao Covid-19.

Dezenas de pesquisadores, profissionais e estudantes da PUCRS estão mobilizados na busca de soluções nas mais diversas frentes. Nossos laboratórios estão em pleno funcionamento, produzindo EPIs para profissionais de saúde. Outros estão sendo usados para a busca de diagnósticos mais rápidos e de menor custo ou possíveis fármacos que auxiliem no tratamento da doença, entre inúmeras outras iniciativas. E fazemos tudo isso cientes do nosso papel enquanto Universidade e da importância da ciência para este – e tantos outros – momento da nossa história.

Sei que me alonguei. Como vocês costumam dizer, desculpem-me pelo “textão”. Mas não gostaria de finalizar sem antes compartilhar algumas reflexões sobre tudo que estamos vivendo. Transcrevo parte do artigo que escrevi para a Zero Hora:

“Nestes tempos abissais em que vivemos, e que de algum modo marcará nossas vidas para sempre, que as nossas experiências sejam transformadas na mudança que queremos para mundo. Se todas as nossas seguranças emudeceram, que possamos aprender que no interior de cada pessoa encontra-se também a força mais poderosa do universo”.

Se me perguntassem onde habita essa força mais poderosa do universo, eu diria: dentro dos nossos estudantes, que buscam, por meio da educação, do pensamento, da ciência, ser pessoas melhores e gerar impacto positivo na comunidade que os rodeia. Sei que no interior de cada estudante da PUCRS vive essa força, capaz de salvar outras vidas pelas suas atitudes de hoje e de gerar mudanças sem precedentes.

Espero encontrar em vocês o exercício constante da solidariedade, da empatia e da compreensão em tempos tão difíceis. Que, ao final de tudo isso, tenhamos aprendido a conciliar razão e sensibilidade, eficácia e afetos, individualidade e compromisso social, economia e compaixão, espiritualidade e sentidos, eternidade e instante.

Assino esta “carta” recuperando um hábito do nosso fundador São Marcelino Champagnat, em nome de todos os docentes e técnicos da PUCRS, que abraçam virtualmente cada um de vocês.

Clique aqui e confira a nossa FAQ sobre o funcionamento da Universidade durante esse período.

Heróis da saúde, por Juremir Machado

Foto: Ashkan Forouzani/Unsplash

Há categorias que não podem parar numa pandemia. Não param nunca. Mais do que isso, tornam-se mais essenciais do que nunca. Os seus ombros suportam o nosso mundo de tanta fragilidade, medo, incerteza e desconhecimento. No hospital da PUCRS, eu acompanhei o trabalho heroico de médicos e enfermeiros da equipe do doutor Fabiano Ramos. A qualquer hora da noite, sorriam, consolavam, agiam, entregavam-se serenamente ao que estavam fazendo. Eu ficava pensando em cada um deles, moças, rapazes, tão jovens, tão corajosos, tão generosos, tão fundamentais.

Sempre penso nessas pessoas que escolhem as profissões mais difíceis. Como é complexa a natureza humana. Existem os que não sentem medo, os que se dedicam aos outros, os que exercem a grandeza moral com a tranquilidade de quem, fazendo pequenas ou grandes coisas, sabe entregar a vida ao cuidado do próximo. A emoção ainda não me permite falar dos nomes que têm me ajudado. É como se eu guardasse algo sagrado para um momento especial. Penso neles com carinho. Revejo-os por trás de suas máscaras. Lembro-me de cada palavra que me disseram, da tranquilidade, da serenidade, do conhecimento, do sentido de missão,

Sempre digo que heróis são professores, especialmente professores de ensino fundamental e médios, essas mulheres e homens que andam por este Brasil profundo levando luzes, esperanças, consolo, conselhos e informações. Devo acrescentar que o pessoal da saúde não fica atrás. Cada um que entrava no meu quarto, eu me perguntava: como teria escolhido a saúde? De onde viria? Como chegaria em casa depois de uma jornada de trabalho? Como manter a calma em tempos de tanta tensão e incerteza? No entanto, heroicos e impávidos, lá estavam eles todos os dias e noites, tendo a cada entrada de vestir roupas complicadas.

Quero saudar esses profissionais idealistas em geral, hostilizados em alguns lugares, que escolheram cuidar de nós. Neste mundo de serviços, muitas vezes não pensamos que esse não é um serviço como outro qualquer. Deve ser mesmo uma vocação. Vi médicos e enfermeiros, homens e mulheres, jovens ou menos jovens, que carregavam sabedoria nas expressões francas e cristalinas. Eu me sentia tão desemparado. Eles me passavam tanta confiança, tanta força de presença, tanto amparo psicológico. Nessas situações, parece inevitável, há um momento em que a gente se pergunta: por que eu? Por que comigo?

juremir_machado

Foto: Bruno Todeschini

Os profissionais da saúde, heróis do cotidiano, pareciam me responder silenciosa e empaticamente: não importa, estamos aqui contigo para o que der e vier. Eu me sentia constrangido em incomodá-los, em tocar a campainha por um desconforto qualquer, eles liam meus pensamentos e me estimulavam a não hesitar. Imagino o combate desses heróis em todo o Brasil. Eles são os soldados na linha de frente. A luta será longa e com meios limitados. Cada ato será de valentia, de missão e de humanidade. Quantas vezes, por alguma coisa irrisória ou nem tanto, desacreditamos na humanidade. Os heróis da saúde renovaram a minha crença na humanidade, no humanismo e no humanitarismo. Meus heróis agora têm nome, profissão, rostos por trás das máscaras.

“Imagino o combate desses heróis em todo o Brasil. Eles são os soldados na linha de frente. A luta será longa e com meios limitados. Cada ato será de valentia, de missão e de humanidade.”

Arte: PsiCOVIDa

Arte: PsiCOVIDa

Situações de pandemia, como a que estamos vivendo atualmente causada pelo novo coronavírus, geram impactos na vida de todos. Em um contexto de mudança de rotina, distanciamento físico, excesso de notícias e consequências econômicas e sociais, é comum que surjam sentimentos como emoções negativas, como medo, tristeza, raiva, solidão, estresse e ansiedade. Pensando nessa realidade, pesquisadores e estudantes de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS e da PUC-Campinas se uniram com o objetivo de ajudar as pessoas a lidarem com esse desconforto emocional, dando origem à Força-Tarefa PsiCOVIDa.

O grupo surgiu com a missão de contribuir para o bem-estar das pessoas com conhecimento científico durante a pandemia. Para isso, os integrantes desenvolvem produtos de comunicação e orientação, como cartilhas, folhetos, minicursos e vídeos, baseados na ciência da psicologia e de áreas afins.

Ideia surgiu a partir de matéria para o site da PUCRS

Conforme conta Wagner de Lara Machado, professor da graduação e do PPG em Psicologia e um dos coordenadores gerais da FT-PsiCOVIDa, tudo teve início com uma matéria para o site da PUCRS sobre sugestões de cuidados com a saúde mental neste período de pandemia, para a qual foi convidado a ser fonte. Ele e a mestranda Juliana Weide começaram a traduzir conhecimentos teóricos em práticas, fundamentadas na Psicologia Clínica, que poderiam ser acessíveis às pessoas em situação de quarentena/distanciamento social. “Essas sugestões tinham por objetivo a regulação emocional e o controle do estresse. Pedimos uma revisão do material para a professora Sônia Enumo, do PPG de Psicologia e Ciências da Saúde da PUC-Campinas, e, como não conseguimos incorporar todas as sugestões na matéria, decidimos por dar continuidade ao projeto”, conta Machado.

Sônia incorporou mais dois alunos à equipe: Eliana Vicentini e Murilo Araújo, ambos doutorandos em Psicologia na Puc-Campinas. A equipe começou a se reunir de forma online e a conversar para alinhar a proposta. “Reconduzimos a revisão da literatura e localizamos estudos indicando estressores e estratégias de enfrentamento específicos para situações de crise, especialmente a pandemia da Covid-19. Assim, deu-se início à redação da Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia”, pontua o professor.

Cartilha pode ser utilizada por toda a comunidade

Arte: PsiCOVIDa

Arte: PsiCOVIDa

O material é dividido em três grandes seções. A primeira apresenta informações sobre estresse e seu enfrentamento; a segunda aborda a identificação de sinais que indicam que a capacidade de lidar com o estresse pode não estar sendo suficiente; e, a última, fala sobre a identificação de estressores e estratégias de enfrentamento específicas para o contexto da epidemia da Covid-19. Segundo Machado, a ideia do grupo é que, por ser um material acessível, a Cartilha seja compartilhada e utilizada não apenas por profissionais, mas por toda a comunidade neste momento de desafio.

Para o professor, o grande diferencial do material é o embasamento teórico atual, enfatizando o bem-estar psicológico e a saúde mental em tempos de calamidade. “As sugestões de enfrentamento presentes na Cartilha podem prevenir o agravamento de dificuldades no manejo do estresse e promover qualidade de vida neste contexto de pandemia”, conclui.

Material será traduzido e distribuído gratuitamente

A força-tarefa originada a partir do grupo que se reuniu para o desenvolvimento da Cartilha já conta com mais de 100 integrantes de 12 universidades, entre pesquisadores, alunos de graduação e pós-graduação, profissionais de diversas áreas e professores. Dividida em times de trabalho, a equipe está desenvolvendo cerca de 20 novos produtos. A Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia está sendo traduzida para o inglês e para o espanhol e, posteriormente, será distribuída gratuitamente por meio de universidades e entidades científicas.

Clique aqui para acessar e baixar a Cartilha