ediPUCRS

Com mais de 30 anos de história, ediPUCRS tem amplo catálogo de publicações em diferentes áreas do conhecimento / Foto: Divulgação

Desde 1988, a Editora Universitária da PUCRS (ediPUCRS) apresenta publicações de excelência científica, cultural, social, literária ou didática em diferentes áreas do conhecimento. Dentre seus títulos estão 20 periódicos científicos, em mídia eletrônica, que seguem os princípios recomendados pela Committee on Publication Ethics (COPE) e são de livre acesso à sociedade através do Portal de Periódicos da PUCRS.

A ediPUCRS tem como objetivo publicar obras sobre temas contemporâneos e/ou resultantes de pesquisas acadêmicas, com caráter de divulgação científica, de todas as áreas do conhecimento. Como o livro “Comunicação, infância e imaginário”, da professora Juliana Tonin, apresentado durante a 68ª Feira do Livro de Porto Alegre. Os periódicos contam com o Digital Object Identifier (DOI), código identificador importante para maior inserção, disseminação e divulgação dos periódicos.

Conheça alguns dos periódicos nas áreas de Filosofia, História, Ciências Sociais, Serviços Sociais e Educação:

Periódicos das Humanidades

Caderno Marista de Educação: O Caderno Marista de Educação é um periódico científico da Gerência Educacional e está vinculado à Escola de Humanidades da PUCRS. Tem como principal foco promover a discussão de temáticas relacionadas à Educação Básica, a saber: formação de professores, currículo, aprendizagem, gestão escolar, tecnologias, inclusão, metodologias e políticas educacionais, bem como outras temáticas que envolvam a educação básica. Editor(a): Ederson Luiz Locatelli.

Civitas: revista de Ciências Sociais: é um periódico do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS, editado sob a direção da Edipucrs. A Revista publica artigos inéditos em Ciências Sociais que contribuam para o aprimoramento teórico, metodológico e/ou empírico da área. Editor(a): André Ricardo Salata e Fernanda Bittencourt Ribeiro.

Conversas & Controvérsias: Conversas e Controvérsias é um periódico semestral do curso de graduação e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS, editado sob a direção da Edipucrs. Voltada para a produção científica discente, a revista publica artigos inéditos em Ciências Sociais de autoria de graduandos que contribuam para o aprimoramento teórico, metodológico e/ou empírico da área. Editor(a): Augusto Neftali C. de Oliveira.

Educação: A Revista Educação veicula textos relativos à área da Educação, sendo publicados artigos originais, resenhas de artigos, relatos de casos e entrevistas nos idiomas português, espanhol e inglês, do Programa de Pós-Graduação em Educação. Editora: Andréia Mendes dos Santos.

Educação Por Escrito: A revista Educação por Escrito, criada em 2010, é a revista científica discente do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUCRS. Nela constam artigos originais, resenhas de artigos, relatos de casos, relatos de experiências e entrevistas na área de Educação. Editor: Alexandre Anselmo Guilherme.

Estudos Ibero-Americanos: A revista Estudos Ibero-Americanos (EIA) publica textos relativos à área de História, mas a publicação também aceita contribuições relevantes de outras áreas das Ciências Humanas, como Filosofia, Ciências Sociais e História da Educação. Editores: Luciana Murari e Tatyana de Amaral Maia.

Intuitio: A Intuitio é uma revista científica discente do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Escola de Humanidades da PUCRS. São publicados textos relativos à área de Filosofia, abordando como principais temáticas Ética e Filosofia Política, bem como Metafísica e Epistemologia. Editor: Fabio Caprio Leite de Castro.

Oficina do Historiador: A Oficina do Historiador, instituída em 2009, é a revista discente do Programa de Pós-Graduação em História da Escola de Humanidades da PUCRS. São publicados textos originais relativos à área de História, estando aberta também para contribuições relevantes de outras áreas das Ciências Humanas, produzidos por pesquisadoras/es graduadas/os e pós-graduadas/os, na forma de artigos, resenhas de livros e entrevistas. Editora: Marlise Regina Meyrer.

Revista FAMECOS: A Revista Famecos: Mídia, Cultura e Tecnologia, criada em 1994, é a revista científica oficial do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Escola de Comunicação, Arte e Design da PUCRS. Publica textos relativos à área de Comunicação Social, nos temas do Jornalismo, Cinema, Imaginário, Cibercultura, Audiovisual, Mídia e Cultura, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Comunicação Social, Comunicação Empresarial e Design. EditorA: Beatriz Corrêa Pires Dornelles.

Teocomunicação: A Teocomunicação, instituída em 1970, é a revista científica do Programa de Pós-Graduação em Teologia da Escola de Humanidades da PUCRS. A revista apresenta textos relativos à área de Teologia e outras produções científicas relevantes para essa área do conhecimento, sendo publicados artigos originais, resenhas e recensões de livros. Editor(a): Tiago de Fraga Gomes.

Textos & Contextos (Porto Alegre): A Textos & Contextos, instituída em 2002, é uma revista científica do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Escola de Humanidades da PUCRS. Suas publicações contêm textos relativos à área de Serviço Social, mas também está aberta para contribuições relevantes de outras áreas das Ciências Humanas e Sociais, sendo publicados artigos originais e relatos de casos. Editora: Jane Cruz Prates.

Veritas (Porto Alegre): A Veritas, criada em 1955, é o periódico científico oficial do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Escola de Humanidades da PUCRS. O escopo do periódico consiste em publicar artigos científicos relativos à área de Filosofia, segundo a temática do respectivo número, e conteúdos interdisciplinares, recebendo artigos originais, resenhas, traduções e entrevistas. Editor(a): Nythamar Fernandes de Oliveira.

Pesquisa biográfica aborda memórias sobre a escravidão

Foto: Pexels

A pesquisa biográfica Memórias individuais e coletivas da escravidão e do comércio de escravos: uma comparação contrastiva de diferentes comunidades, gerações e agrupamentos em Gana e no Brasil, desenvolvida, no Brasil, pelo professor Hermílio Santos e pelas estudantes Raphaela Pereira Dellazeri e Giorgia Moreira, será financiada pela Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG), a principal agência alemã de fomento à pesquisa.  

Conheça o projeto de pesquisa biográfica 

O estudo é realizado utilizando métodos das sociologias do conhecimento e da figuração para reconstruir as interrelações entre diferentes práticas de memória, a individual e a coletiva. O objetivo é comparar a memória sobre a escravidão em diferentes regiões, gerações e agrupamentos em Gana e no Brasil. Para isso, serão realizadas entrevistas familiares (se possível, com várias gerações de uma mesma família), discussões em grupo e entrevistas temáticas ou etnográficas com visitantes e guias em espaços de memória. O projeto, que será realizado entre 2022 e 2025, conta com uma equipe de pesquisadores de diferentes países:  

No Brasil e em Gana, as memórias sobre a escravidão estão presentes tanto a nível individual quanto coletivo, com muitas pessoas conhecedoras do fato de que seus ancestrais foram escravizadores ou escravizados. No entanto, dentro de cada país, as atitudes em relação a essa história são muito diferentes e, por vezes, controversas. Contrastando essas narrativas, é possível examinar de perto essas diferenças e mostrar como elas se devem a diferentes trajetórias históricas e configurações sociais em mudança.  

Como recorte geográfico, são estudadas as cidades ganesas de Elmina e Cape Coast, de onde partiam os navios negreiros, e duas regiões do norte do país, onde pessoas foram capturadas e vendidas no mercado de escravos. Já no Brasil, o trabalho focará na região litorânea de Salvador, na Bahia, em que a maioria dos atuais habitantes são descendentes de ex-escravizados, e na região de Pelotas, onde a população descende, em sua maioria, de europeus.  

Como tudo começou  

Hermílio Santos

Professor Hermílio Santos/Foto: Bruno Todeschini – Ascom/PUCRS

O projeto aprovado para o financiamento da DFG teve origem em uma parceria entre o professor Hermílio (PUCRS) e a professora Gabriele (Universität Göttingen) em uma iniciativa de internacionalização do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, com financiamento da Fapergs que tem como objetivo a difusão na sociologia brasileira da abordagem reconstrutiva de pesquisa biográfica. Fazem parte dessa iniciativa, além do projeto que receberá o financiamento alemão, a pesquisa Herdeiras: Narrativas Biográficas de Três Gerações de Mulheres Pretas e a produção da série Herdeiras 

Leia também: Projeto Herdeiras: as consequências da exploração dos povos negros e indígenas 

Parceria Brasil e Alemanha

A PUCRS participa de diversos programas de internacionalização em cooperação com universidades alemãs. Inclusive, em parceria com a UFRGS, é sede do Centro de Estudos Europeus e AlemãesEm relação à Universität Göttingen, o acordo de cooperação é mantido desde 2014. Desde esse ano, a PUCRS tem recebido anualmente estudantes de pós-graduação em Ciências Sociais e encaminhado doutorandos para participar de atividades de treinamento no método de narrativas biográficas. Além disso, estudantes da graduação também tiveram a oportunidade de realizar mobilidade acadêmica com financiamento da Universidade alemã.  

Os pesquisadores do projeto agraciado com o financiamento da DFG também fazem parte dessa história. Hermílio já foi pesquisador visitante na instituição no exterior e Gabriele já esteve presente na PUCRS proferindo paletras, seminários e como professora visitante junto ao PPGCS. Ela já publicou duas obras pela Edipucrs, ambas com apresentação e revisão técnica da tradução realizadas por Hermílio. 

Saiba mais sobre internacionalização no site da PUCRS Internacional. 

Conheça iniciativas que visam auxiliar e dar protagonismo aos povos indígenas

Foto: Pixabay

Mais de 150 povos indígenas já foram infectados pela Covid-19, com 55.667 casos confirmados até a data de hoje, 18 de junho, de acordo com dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). No entanto, essa não é a única realidade que preocupa essas populações: disputas pelas terras, violência e dificuldades econômicas estão entre os problemas enfrentados pelos indígenas na atualidade.  

A partir das realidades vivenciadas por esses povos, estudantes e professores da Escola de Humanidades da PUCRS desenvolveram ações que têm os povos indígenas como protagonistas. Confira duas delas: 

Tecnologia aliada à prevenção 

Por meio de um projeto de extensão, o Núcleo de Estudos em Cultura Afro-brasileira e Indígena (Neabi) da PUCRS, ligado ao programa de Pós-Graduação em História, desenvolveu a iniciativa Tecnologia UV-C no auxílio ao combate à pandemia de Covid-19 em aldeias indígenasEssa ação visa capacitar agentes de saúde que atuam em comunidades das etnias Potiguara, Gavião, Tabajara e Tubiba Tapuya, no Ceará, a utilizarem um equipamento de luz ultravioleta, denominado UV-C INFO, na esterilização de ambientes 

Essa tecnologia é produzida pela Hüttech, empresa que integra o ecossistema do Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc) e que realizou doações do equipamento para que pudesse ser utilizado nas comunidades. Sua ação consiste na quebra das ligações de DNA e RNA de fungos, vírus e bactérias pela radiação ultravioleta, esterilizando o ambiente. Dessa forma, o ar e as superfícies que contém uma boa iluminação para a ação do UV-C INFO ficam livres desses microrganismos que podem ser nocivos ao ser humano.  

O professor Edison Hüttner, um dos responsáveis pelo projeto, explica que essa iniciativa é importante pois os povos indígenas estão suscetíveis a diferentes enfermidades. “Não apenas o coronavírus acomete essas populações, mas bactérias e fungos, também. Por isso, disponibilizamos essa tecnologia aos agentes de saúde, para que as comunidades indígenas pudessem lutar contra a Covid-19, atuando na prevenção de forma mais efetiva”. 

Povos Indígenas por eles próprios 

Reunindo representantes de oito etnias indígenas (Kaigang, Xokleng-Konglui, Kaiapó, Boe Bororo e Terena, Suiá, Yawalapiti e Puyanawa) de quatro estados diferentes (Acre, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Pará), o Centro de Análises Econômicas e Sociais da PUCRS (Caes) em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS e o Centro de Estudos Europeus e Alemães (CDEA), realizou o evento Povos Indígenas por eles Próprios no dia 17 de junho.  A mediação do foi realizada pelo professor Hermílio dos Santos.

Na ocasião, o cacique Moritororeu Boe Bororo, do Mato Grosso, iniciou sua apresentação realizando uma saudação em sua língua nativa e relembrando o multiculturalismo dos povos indígenas brasileiros. Essa população não é homogênea e isso ficou nítido no evento, visto que cada etnia participante possuía uma língua própria pertencente a diferentes troncos linguísticos, como Pano, Aruak, Bororo e Jê. A resistência cultural desses povos também foi um dos assuntos abordados no encontro. 

Além disso, foi discutida a disputa pela terra, uma das principais lutas desses povos na atualidade. A ideia do encontro era observar a perspectiva indígena sobre esses temas, por isso, representantes de alguns dos povos do território indígena do Xingu puderam abordar a questão da extração ilegal de madeira na região, apresentando, além de dados, suas vivências e explicando a importância da relação dos indígenas com a terra em que habitam. Um relatório da ONU de 2018 já demonstrava que as regiões habitadas pelos nativos preservam mais o meio ambiente. 

Por fim, foram abordadas características culturais específicas das etnias participantes do evento e suas perspectivas futuras em relação a seus povos.  

Em breve, esse e outros encontros que discutiram questões indígenas com a presença desses povos, receberão legendas em língua inglesa e serão divulgados para acesso de todos os interessados.  

Pesquisar é cuidar das pessoas: conheça o impacto da pós-graduação em Humanidades

Foto: Pexels

Sem pesquisa não há como produzir conhecimento e realizar trabalhos de qualidade. Mas talvez o principal senso comum quando se pensa em ciência ou tecnologia é associar esses temas às áreas de exatas, como matemática e física, por exemplo. Porém, quando se trata de estudos mais subjetivos e igualmente complexos que impactam a vida em sociedade, profissionais de diferentes áreas das Humanidades entram em cena. 

Durante a pandemia do coronavírus pesquisadores e pesquisadoras da Escola de Humanidades da PUCRS têm atuado em iniciativas para ajudar a comunidade. Para quem compartilha do mesmo propósito e quer aprofundar o conhecimento sobre as diferentes dimensões da humanidade, diferentes PPGs incentivam estudantes a examinar os mais diversos aspectos da realidade contemporânea, como: crise, democracia, tolerância e intolerância a populações minorizadas, novas relações de trabalho, empreendedorismo e desenvolvimento sustentável, entre outros. 

Os cursos de mestrado e doutorado estão com inscrições abertas até o dia 18 de junho. Os Programas de Pós-Graduação (PPGs) com vagas disponíveis são Filosofia, História, Letras e Teologia. 

Transformar a paixão em pesquisa e em carreira 

Desde pequeno eu queria estudar línguas. Conhecer novos idiomas e culturas sempre foi uma atividade prazerosa para mim. Quando ingressei no curso, um dos aspectos que mais me chamou a atenção foi a variedade das áreas de estudo, conta Anderson Smidarle, doutorando em Linguística, no PPG em Letras, pela PUCRS. 

Para Smidarle um dos principais aprendizados do mestrado e do doutorado foi o de como identificar e abordar as lacunas observadas na ciência. “Durante a minha formação, aprendi a analisar criticamente os motivos que levaram a tais lacunas e a propor soluções fundamentadas em evidências empíricas e científicas, além de conduzir estudos interdisciplinares e conciliar diferentes teorias”. 

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Desigualdade nas Metrópoles, coeficiente de Gini

Evolução da média do coeficiente de Gini no conjunto das regiões metropolitanas do Brasil / Fonte: Boletim – Desigualdade nas Metrópoles

O ano de 2020 consolidou o maior nível de desigualdade nas metrópoles brasileiras desde 2012, em relação à disparidade de rendimentos do trabalho. Este é o resultado apontado pela terceira edição do Boletim – Desigualdade nas Metrópoles, desenvolvido pela PUCRS, pelo Observatório das Metrópoles e pelo Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). O levantamento utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Segundo o estudo, para os 40% mais pobres das regiões metropolitanas brasileiras o rendimento médio do trabalho teve queda de 34,2% no comparativo entre o quarto trimestre de 2019 e de 2020. Em termos absolutos, a renda desse estrato diminuiu de R$ 237,18 para R$ 155,95. Para os 10% mais ricos, a queda de rendimentos foi de 6,9%. Como resultado, os mais ricos passaram a ganhar, em média, 39 vezes mais do que os mais pobres. Essa é a maior vantagem do topo em relação à base já verificada em toda a série histórica.  

A região metropolitana de Porto Alegre teve o pior resultado entre as metrópoles do Sul do País, com os mais ricos passando a ganhar, em média, 38,4 vezes mais do que os mais pobres. No quarto trimestre de 2020 a média móvel do coeficiente de Gini, um importante indicador de desigualdade, na metrópole gaúcha atingiu o nível de 0,625 na escala que varia de zero a um, sendo a maior média registrada desde 2012, e num patamar bem acima das demais regiões metropolitanas da região Sul. 

coeficiente de Gini mede o grau de distribuição de rendimentos entre os indivíduos de uma população, sendo o valor zero representativo de uma situação de completa igualdade, em que todos teriam a mesma renda; e o valor um a situação de completa desigualdade, em que uma só pessoa deteria toda a renda.  O estudo ainda destaca que a média móvel do indicador nas regiões metropolitanas do Brasil atingiu o nível de 0,631, sendo o pior índice da série histórica. 

Perda de renda e retrocesso 

André Salata, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS e um dos coordenadores do estudo, ressalta que a renda do trabalho da população mais pobre no final do ano passado permanecia muito abaixo do patamar encontrado antes da pandemia provocada pela Covid-19 e que a interrupção do auxílio emergencial pelo Governo Federal ampliou o quadro de pobreza.  

Desigualdade nas Metrópoles“Durante o segundo semestre de 2020, o auxílio emergencial conseguiu compensar grande parte das perdas, evitando que 23 milhões de pessoas caíssem na pobreza nas metrópoles, como verificamos no segundo boletim. Porém, o corte dos pagamentos freou a recuperação de renda e ampliou um quadro trágico de aumento da pobreza e da extrema pobreza. Sem dúvida, a interrupção do auxílio foi equivocada e não levou em consideração dados como esse que trazemos aqui”. 

De acordo com Marcelo Ribeiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisador do Observatório das Metrópoles e um dos coordenadores do estudo, o retrocesso no nível de remuneração média do trabalho no Brasil foi de praticamente oito anos. “No final de 2020 houve um patamar próximo ao verificado no primeiro trimestre de 2012, quando começou a série história da PNADc. Ou seja, estamos em níveis próximos daqueles apresentados há oito anos. Esse retrocesso é decorrente da crise econômica existente no País há alguns anos e que foi aprofundada durante a pandemia. As consequências, porém, recaem principalmente sobre a população mais pobre, que além de ter baixa remuneração, é também a que mais perde”, comenta. 

Mais pobres sofrem impacto na educação 

O estudo também traz evidências de que as desigualdades têm impacto não apenas no nível de consumo e conforto das famílias no momento, como também nas oportunidades futuras de vida de crianças e jovens. Seus efeitos, portanto, são duradouros, e atingem as próximas gerações. Como indicador desses efeitos, os pesquisadores levantaram dados relativos à escolarização das crianças e jovens nos diferentes estratos de renda de nossas regiões metropolitanas. 

Os dados mostram que entre os mais pobres no Brasil, 8,8% das crianças e jovens com idade correspondente ao Ensino Fundamental, e 26,9% dos jovens com idade correspondente ao Ensino Médio, tinham escolaridade abaixo da esperada, indicando atraso escolar. No estrato dos 10% mais ricos, esses valores eram de apenas 2,7% e 4,4%, respectivamente. 

“Como a desigualdade de renda aumentou substancialmente ao longo da pandemia, com perdas muito grandes para os estratos mais baixos, haverá consequências para o sucesso escolar de crianças e jovens provenientes das famílias mais pobres num futuro muito próximo, em termos de atraso, evasão e ingresso nos níveis mais altos de ensino”, destaca Salata. 

Desigualdade nas Metrópoles

Porcentagem de jovens entre 18 e 24 anos que ingressam no Ensino Superior, por estrato de rendimento / Fonte: Boletim – Desigualdade nas Metrópoles

Com relação ao atraso escolar entre os mais pobres, novamente Porto Alegre detém o pior resultado entre as metrópoles do Sul. Os dados mostram que, nesse estrato, 15,5% das crianças e jovens no Ensino Fundamental e 38,69% dos jovens no Ensino Médio tinham escolaridade abaixo da esperada. Entre os mais ricos, porém, esses valores eram de apenas 1,23% e 1,44%, respectivamente.   

Acesso a oportunidades também é desigual 

De acordo com os dados da pesquisa, apenas 16,8% dos jovens entre 18 e 24 anos que fazem parte do estrato mais pobre do País haviam ingressado no Ensino Superior na média dos últimos quatro trimestres. Entre os mais ricos, esse valor era de 66,4%. 

Para Ribeiro, podemos estar jogando fora os ganhos que estávamos acumulando como sociedade referente às oportunidades de crianças e jovens, principalmente daqueles inseridos em famílias mais pobres. O pesquisador salienta que desde 2012 estava sendo observada redução da taxa de atraso escolar, além do maior ingresso de jovens no Ensino Superior. “Com a redução da renda familiar per capita decorrente da crise econômica e do agravamento da pandemia, essas crianças e jovens podem ser levados a abondar a escola ou a universidade e terem que trabalhar para ajudar na composição da renda familiar. Isto é, as consequências do que estamos vivendo não se restringem apenas ao momento atual, mas se referem também ao futuro das crianças e jovens”. 

Pesquisa com repercussão nacional 

Os resultados da terceira edição do Boletim – Desigualdade nas Metrópoles foram publicados pelos jornais Folha de S. Paulo e Zero Hora. A pesquisa também foi tema de uma reportagem veiculada no Jornal do Almoço, da RBS TV. 

Sobre o estudo 

A pesquisa tem como objetivo produzir um conjunto de informações relevantes acerca das desigualdades de rendimentos no interior das regiões metropolitanas do País. A publicação tem o intuito de colaborar para um debate público mais bem informado a respeito da grave situação das metrópoles brasileiras no que concerne às desigualdades sociais.    

O levantamento utiliza microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do IBGE, em especial de sua divulgação trimestral. Ao todo são analisadas 20 regiões metropolitanas: Manaus, Belém, Macapá, Grande São Luís, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju, Salvador, Belo Horizonte, Grande Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Vale do Rio Cuiabá e Goiânia; além do Distrito Federal e da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento da Grande Teresina. 

Confira o relatório completo da terceira edição do Boletim- Desigualdade nas Metrópoles. 

Curso sobre migrações acontece nos dias 4 e 5 de maio de 2021

Curso de extensão gratuito sobre migrações contará com pesquisadoras da PUCRS e da Universidad de Granada, da Espanha / Foto: Sebastien Goldberg/Unsplash

Tema importante em pesquisas nas áreas de História e das Ciências Sociais, a migração é um conceito complexo de definir. De forma geral, trata-se do deslocamento geográfico de pessoas ou grupos sociais – o que inclui tanto indivíduos que migram de um país para o outro quanto aqueles que saem de suas casas e percorrem determinado trajeto todos os dias para trabalhar. Nesse sentido, não seria errado dizer que, em algum nível, salvo raras exceções, somos todos migrantes. 

Existem diferentes qualificações para esse fenômeno relacionadas ao tempo, forma, frequência e distância, por exemplo. Para aprofundar esse assunto a Escola de Humanidades promove, nos dias 4 e 5 de maio, o curso de extensão gratuito Contextos de Migração: Categorias que emergem desde distintos cenários. 

A atividade irá reunir pesquisadoras da PUCRS e da Universidad de Granada, da Espanha, propondo um diálogo entre seus caminhos de estudo e favorecendo pontos de intersecção. Para a mediadora do evento e bolsista de pós-doutorado pelo Projeto de Cooperação Internacional Migrações: Perspectivas Histórico-conceituais e Análise de Fenômenos Contemporâneos no âmbito do Projeto Institucional de Internacionalização (PUCRS-PrInt)Cláudia Guedes, esta é uma oportunidade para que essa troca atravesse fronteiras para que, ao fim dos dois dias, os participantes tenham aprendido um pouco mais sobre o tema. 

Por que migrar? 

Economia, religião e desastres naturais são alguns dos motivos pelos quais as pessoas migram. Outro fator que desencadeia esse fenômeno é a tentativa de escapar de situações graves de conflito, guerra e fome, como o caso dos refugiados sírios em função da guerra civil iniciada em 2011. Ao mesmo tempo, há casos de migração no qual os indivíduos estão simplesmente buscando melhores condições de vida, seja em relação a trabalho, saúde ou bem-estar. 

Segundo Cláudia, pesquisas sobre o tema surgem quando a migração revela algum impacto ou esclarece uma composição social do presente. Tanto o caso da Síria quanto outros que chamam a atenção, como os africanos que migram para a Europa e os mexicanos que vão para os Estados Unidos, são exemplos do fluxo migratório do Sul em direção ao Norte do planeta – que gera muitos impactos conhecidos:  

“Podemos destacar o caráter marginal da inclusão destes grupos no território de destino, a dificuldade de integração e novos conflitos que podem vivenciar em um lugar no qual não se sentem bem-vindos”. 

Como exemplos de outros fluxos, a pesquisadora comenta sobre dois que serão debatidos no curso de extensão sobre migrações de caráter Sul-Sul: a migração haitiana no Chile e a chegada de palestinos no sul do Brasil. Em outra mesa, se discutirá nas práticas os programas de asilo europeus e migrações internas dos caboclos brasileiros. 

Desafios das migrações 

A partir das migrações, surgem outros temas e categorias para a pesquisa social, como pertencimento, gênero, racismo, identidade e colonização. Em muitos casos, os migrantes não são bem-vindos e acabam sofrendo preconceito – além dos outros inúmeros desafios que enfrentam ao chegarem a um lugar novo.  

Na Europa, os programas de asilo são frequentemente questionados. “Os governos mais progressistas tendem a apoiá-los e defendem seu aperfeiçoamento. Já os mais conservadores apresentam um discurso de ‘proteger’ sua população da invasão estrangeira. Na prática, de todas as formas, há muita contradição”, explica Cláudia. 

A pesquisadora acredita que falar sobre o tema, ler, ouvir especialistas, buscar entender melhor as migrações e até mesmo viajar contribui para favorecer a conscientização sobre a complexidade desse tema. “Vemos situações precárias de migrantes que deixam seu país de origem e são barrados na busca por integração em seu destino. E o que dizer daqueles que são deslocados de seu próprio território e deixados na precariedade para favorecer um grupo que chega depois?”, questiona. 

Confira detalhes do curso de extensão sobre migrações 

O curso de extensão gratuito Contextos de Migração: Categorias que emergem desde distintos cenários acontece nos dias 4 e 5 de maio, a partir das 18h. A atividade é promovida pelo grupo de estudos Movimentos Migratórios na América Latina: Uma perspectiva histórica do Programa de Pós-Graduação em História da Escola de Humanidades. 

No dia 4 de maio, a mesa redonda será composta pela doutoranda em História da Escola de Humanidades Caroline Nunes e pela doutora em Estudos Migratórios pela Universidad de Granada (Espanha) Lissette Madriaga Parra. Já no dia 5, a mesa será formada pela doutoranda em Estudos Migratorios da Universidad de Granada Diana Garcés-Amaya e pela mestre em História pela PUCRS Milliann Carla Strona. A moderação será feita por Cláudia Guedes. 

Para participar do curso, é preciso preencher este formulário. 

Sobre Cláudia Guedes 

Cláudia Guedes é doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe e doutoranda em Ciências Sociais pela Universidad de Granada, Espanha (desde 2018). Bacharel em Ciências Sociais e mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atuou no exterior na Università di Pisa, na Universidad Nacional de Costa Rica e na Universidad de Granada. Tem experiência na área de Sociologia, Ciência Política e Relações Internacionais, com publicações e apresentações na área de desenvolvimento, políticas públicas, colonização. Nos últimos anos, estas questões têm como foco a questão indígena. 

Atualmente é pesquisadora visitante da Escola de Humanidades pelo PUCRS-PrInt, com bolsa Jovem Talento. Em sua pesquisa, investiga as origens indígenas ignoradas no Sul do Brasil e suas razões. O recorte geográfico escolhido é a região serrana catarinense, por sua relação com o tropeirismo e por características gerais que divergem de outros índices do estado. A pesquisa está prevista para ser concluída no mês de maio. 

Sobre o PUCRS-PrInt 

O Projeto Institucional de Internacionalização da PUCRS (PUCRS-PrInt) tem por objetivo desenvolver e integrar a dimensão internacional no âmbito do ensino de pós-graduação stricto sensu e da pesquisa da Universidade, visando a excelência acadêmica e soluções transformadoras para questões globais da sociedade.  

Ao todo são três temas prioritários que estão alinhados com os eixos temáticos de pesquisa e inovação previamente estabelecidos pela Universidade. Eles refletem problemas complexos da sociedade, nos quais a Universidade tem as competências necessárias para o aprofundamento e busca de alternativas que representem mudanças da realidade. Benefícios de mobilidade discente e docente para o Brasil e para o exterior estão disponíveis em editais de diferentes modalidades. Saiba mais acessando o site do projeto.

Cadeia

Unsplash

Mestre pelo Programa de pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da Escola de Humanidades, Marcelli Cipriani Rodrigues recebeu o prêmio de melhor dissertação do Brasil em concurso realizado pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpoc), que selecionou a melhor tese e dissertação em Ciências Sociais em 2020. Sob orientação do professor Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, Marcelli estudou a relação entre o aumento dos homicídios em Porto Alegre e a queda desses crimes na Cadeia Pública da capital. 

A dissertação intitulada Os coletivos criminais de Porto Alegre: entre a “paz” na prisão e a guerra na rua já havia sido premiada na etapa regional do concurso , em dezembro, representando o Sul e o Centro-Oeste. Posteriormente, foi escolhida por um júri internacional como a melhor dissertação do Brasil na área.  

“O prêmio conquistado por Marcelli é consequência direta da excelência do trabalho da pesquisadora. Isso também evidencia a qualidade do trabalho desenvolvido pelo nosso PPG – representado aqui pelo professor Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, orientador de Marcelli  – na formação de mestres e doutores. Finalmente, cabe destacar que essa conquista é mais um indicador consistente da presença da PUCRS no âmbito da pós-graduação brasileira”, afirma o coordenador do PPGCS Rafael Madeira. 

  

Movimentos de guerra e paz 

  

Em sua pesquisa, Marcelli teve o objetivo de investigar a coexistência entre a progressiva redução dos índices de mortes, motins e rebeliões ocorridos na Cadeia Pública de Porto Alegre – a “pacificação” – e o considerável aumento de homicídios ocorridos nas ruas, durante o período que ficou conhecido como “a guerra das facções”. “Pude apurar que a guerra resultou de uma reordenação das dinâmicas do crime no município, que passou a se articular não meramente em grupos criminais, mas mobilizando suas ações, primordialmente, de duas formas: frentes de aliança compostas por vários grupos e redes de favores e serviços que marcam, por oposição, quem são os inimigos 

Com isso, os confrontos adquiriram outra dimensão, passando da escala micro local – enfrentamentos pontuais entre um e outro grupo – para outro nível, que agrega uma gama de aliados e inimigos. Além disso, como conta Marcelli, a guerra não estava associada, inicialmente, a disputas territoriais, mas à afirmação do poder e à necessidade de desqualificar os rivais, o que fez com que os homicídios adquirissem um caráter simbólico, tornando-se um meio de possível provocação ao rival.  

“Apurei, também, que, para consolidarem-se nas ruas, os coletivos lançam mão do espaço prisional, onde grandes trocas comerciais são firmadas e alianças estratégicas são estabelecidas. Durante o conflito, esse recurso possibilitou a entrada de novos adeptos às organizações das facções fora da prisão, projetando essas alianças no território urbano”, explica Marcelli.  

Entretanto, para assegurar a autonomia e o controle das galerias prisionais, os presos devem contribuir na manutenção do sistema em “paz”, além de serem incorporados em inúmeras funções e atividades necessárias à operacionalização cotidiana do presídio. Assim, a “pacificação” tornou-se vantajosa tanto aos grupos criminais quanto à administração: os primeiros se fortalecem e expandem cada vez mais suas alianças, enquanto a segunda assegura o funcionamento da prisão com tranquilidade, apesar do baixo investimento no sistema prisional e do índice galopante de aprisionamentos. 

A desigualdade social aumentou no Brasil durante a pandemia. É o que mostra um estudo realizado em uma parceria entre PUCRS, Observatório das Metrópoles e Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). A pesquisa inspirou uma série de reportagens, exibida no Jornal Nacional nos dias 8, 9 e 12 de fevereiro de 2021. Os pesquisadores utilizam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicam, trimestralmente, boletins da desigualdade. 

Composta por três episódios, a série de reportagens abordou a desigualdade em diferentes aspectos: na educação, na economia e no mercado de trabalho. André Salata, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS e um dos coordenadores da pesquisa, concedeu entrevistas ao Jornal Nacional. Entretanto, como apontado por Salata, essa não é a primeira grande divulgação da pesquisa: os resultados do estudo já foram manchete de capa em importantes jornais brasileiros, o que demonstra que os pesquisadores conseguiram atingir seu propósito – romper com a “barreira” entre a academia e a sociedade, levando a público suas descobertas em uma linguagem acessível a todos 

“Infelizmente o Brasil é um país muito propício para quem trabalha com desigualdades, pois, há décadas, é um dos mais desiguais do mundo. Além disso, desde 2015, essa questão começou a se agravar, tendo sido ainda mais intensificada durante a pandemia. As desigualdades trazem diversas consequências, como a pobreza”. Explica o professor, que acrescenta ser necessário chamar atenção para esse assunto de forma que o debate público sobre a desigualdade aconteçaPara Salata, o fato de a pesquisa ter sido divulgada na TV aberta e em rede nacional demonstra que esse objetivo foi alcançado.  

O que mostram as reportagens 

Desigualdade na Educação: De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação, os alunos devem dedicar, no mínimo, quatro horas diárias para os estudos. Entretanto, durante a pandemia, a média foi de 2,37 horas por dia e a desigualdade é visível: alunos de classes sociais mais altas ultrapassaram esse tempo, tendo estudado, diariamente, 3,19 horas, enquanto os mais pobres apenas dedicaram 2,04 horas ao aprendizado. Regionalmente, também há desigualdades: os alunos da região Norte foram os mais excluídos, enquanto alunos do Sudeste, de Goiás, do Distrito Federal, do Pauí e do Ceará foram os que mais tiveram tempo para dedicar aos estudos. A educação pode ser a chave para a mudança de vida das pessoas de baixa renda e a desigualdade nessa área, com a dificuldade de acesso às aulas por estudantes das classes mais baixas, causa danos muito grandes, aumentando, também, a desigualdade de oportunidades.  

Desigualdades na Economia: Além de as pessoas estarem perdendo renda, André Salata explica que sua distribuição não está sendo feita de maneira igualitária. Com a queda na atividade durante a pandemia, no período de recuperação, ricos tendem a ficar ainda mais ricos e pobres, mais pobres: os 10% mais ricos do País perderam apenas 3% de sua renda na pandemia, enquanto a quantidade perdida entre os 40% mais pobres foi de 32%, descontando o auxílio emergencial, que amorteceu o impacto e reduziu, um pouco, a desigualdade. Mesmo assim, o professor aponta que o mercado de trabalho não deve se recuperar tão rápido e que o fim do auxílio traz um cenário preocupante.  

Desigualdades no Mercado de Trabalho: Nmercado de trabalho. o cenário também é desigual: para conseguir manter sua posição social e o rendimento, é necessário ter qualificação, o que muitas vezes não é a realidade das classes sociais mais baixas, retornando ao problema da Educação desigual, aponta Salata. Após a queda causada pela pandemia, deverão se recuperar os setores financeiro, tecnológico, telecomunicações, imobiliário e parte do varejo; enquanto continuarão em queda o lazer e a hotelaria, as viagens, a alimentação, os serviços domésticos e outros serviços. Os trabalhadores informais, que não têm proteção, são os primeiros a sentir os efeitos da crise, sendo facilmente descartados pelo mercado de trabalho e, tendo as maiores perdas na renda.  

A série de reportagens pode ser conferida no site do Jornal Nacional e a pesquisa completa está disponível no site do Observatório das Metrópoles. 

Leia mais emDesigualdade social cresce nas metrópoles brasileiras durante a pandemia 

 

Capa do Boletim - Descigualdade nas metrópolesUma pesquisa desenvolvida pela PUCRS, pelo INCT – Observatório das Metrópoles e pelo Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL) mostra que a taxa de pobreza no conjunto das regiões metropolitanas caiu de 19% para 16% entre 2019 e agosto de 2020. Porém, sem os auxílios emergenciais, teria subido para 28%. Em 2019, havia 15.698.435 indivíduos em situação de pobreza no conjunto das regiões metropolitanas e, em agosto de 2020, eram 13.279.156. Na ausência dos auxílios emergenciais, entretanto, seriam 23.365.591 pessoas em situação de pobreza em agosto de 2020 nas metrópoles do país. As informações completas constam no segundo Boletim – Desigualdades nas Metrópoles, lançado trimestralmente. Clique aqui para baixar o documento na íntegra.

O estudo mostra que se não fossem esses auxílios, a taxa de pobreza teria aumentado significativamente em todas as regiões metropolitanas. Em agosto de 2020, por exemplo, seriam a valores como 51%, em Macapá; 50%, em Manaus e 46%, na Grande São Luís. A extrema pobreza, por sua vez, chegaria a 22,7% em Macapá, 21,3% em Manaus, 18% em Aracaju e 16,9% em Salvador. A partir desses números, é possível compreender que os auxílios emergenciais tiveram um importante papel em evitar uma situação crítica nas metrópoles brasileiras.

A pesquisa também mostra que a desigualdade de renda nas regiões metropolitanas do Brasil teve uma redução de 11% considerando todas as fontes de rendimento dos indivíduos que moram no País. Essa queda se deve à implementação de auxílios emergenciais durante a pandemia. Caso não houvesse esses auxílios, a desigualdades teria aumento 4%.

O método de medição de rendimentos  

A pesquisa utilizou o Coeficiente de Gini como método para medir o grau de distribuição de rendimentos entre os indivíduos de uma população, variando de zero a um. O valor zero representa a situação de completa igualdade, em que todos teriam a mesma renda. Já o valor um representa uma situação de completa desigualdade, em que uma só pessoa deteria toda a renda. Dessa forma, é possível comparar a desigualdade de renda entre dois momentos ou locais a partir desse coeficiente.

Reconhecimento é importante, mas há pouco a ser comemorado

Segundo o professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS e um dos coordenadores do estudo André Salata, é importante reconhecer que os auxílios cumpriram com sua função de proteger os mais pobres nesse momento de crise, uma vez que a desigualdade e a pobreza diminuíram e sua renda chegou inclusive a aumentar.

Pela média do coeficiente de Gini das Regiões Metropolitanas no Brasil, a desigualdade de renda caiu de 0,538 para 0,477 entre o ano de 2019 e agosto de 2020. Considerando todas as fontes de rendimento, a redução foi de 11,3% devido aos auxílios emergenciais. Realizando um comparativo, se não tivesse acontecido esses implementos de renda, a desigualdade teria aumentado em 4%. A diferença entre o que de fato ocorreu (queda da desigualdade) e o que poderia ter acontecido (aumento da desigualdade) é de 17,3%.

Gráfico do Boletim - Descigualdade nas metrópoles, onde constam as informações completas da pesquisa sobre auxílios emergenciais, mostrando variações de rendimento

No conjunto das metrópoles, a variação de rendimentos dos 40% mais pobres foi de +4% entre o ano de 2019 e agosto de 2020. Sem os auxílios emergenciais, teriam sofrido uma perda de -32% em sua renda.

Gráfico do Boletim - Descigualdade nas metrópoles, onde constam as informações completas da pesquisa sobre auxílios emergenciais, mostrando variações de rendimento

Por outro lado, a maioria da população sofreu uma queda expressiva em seus rendimentos. “A redução que verificamos nas desigualdades não se traduz em maior bem-estar para a maioria da população, mas sim a um nivelamento por baixo. E, portanto, não há quase nada a comemorar, a não ser o sucesso em evitar que os estratos mais vulneráveis fossem brutalmente atingidos pela crise, o que só foi conseguido em função dos auxílios emergenciais”, destaca.

No Boletim – Desigualdades nas Metrópoles constam microdados extraídos de pesquisas domiciliares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Excepcionalmente, nesta edição, foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) de 2019 e da PNAD-Covid-19 de agosto de 2020 da qual foi possível analisar de modo mais completo como andam as desigualdades das 20 regiões metropolitanas do Brasil em meio à crise provocada pela pandemia. Nos próximos boletins, o grupo voltará a utilizar os dados da PNADc de base trimestral.

A relevância dos auxílios emergenciais

Foto de uma metrópole

Para muitas pessoas nas metrópoles brasileiras os auxílios emergenciais têm sido de suma importância / Foto: Kaique Rocha/Pexels

A pesquisa também mostrou que no conjunto das regiões metropolitanas, em agosto de 2020 40,4% dos domicílios receberam auxílios emergenciais; nesses domicílios, os auxílios correspondiam, em média, à 43,2% dos rendimentos totais; e em 31,1% destes domicílios os auxílios representavam mais da metade dos rendimentos. Com efeito, nas metrópoles brasileiras há um enorme contingente de pessoas para as quais os auxílios emergenciais têm sido de suma importância para enfrentar a crise provocada pelo coronavírus.

Nesse sentido, Salata destaca que, diante da perspectiva de encerramento do auxílio emergencial do Governo Federal, é importante que a sociedade brasileira discuta medidas de proteção aos mais pobres. “A pandemia ganhou novo fôlego nas últimas semanas, e o cenário econômico que se anuncia não é muito positivo. Assim, a renda do trabalho ainda deve demorar para se recuperar, e será preciso continuar protegendo a população mais vulnerável para evitar uma situação ainda mais preocupante”, conclui o professor.

O contexto da adoção dos auxílios emergenciais

Até o dia 31 de agosto de 2020 (mês de referência deste estudo), havia, aproximadamente, 4 milhões de casos acumulados de Covid-19 no Brasil, resultando em mais de 121 mil óbitos. Com o intuito de atenuar as crises sanitária, econômica e social resultantes da pandemia do novo coronavírus, diferentes medidas foram adotadas pelo Governo Federal e, também, por cada uma das Unidades da Federação. Entre as iniciativas destaca-se a implementação de auxílios emergenciais.

Publicada em abril de 2020, a Lei de n. 13.982/2020 estabeleceu o pagamento de três parcelas de R$ 600, tendo sido posteriormente prorrogado por mais dois meses, totalizando cinco parcelas com o valor inicialmente estabelecido. Já em setembro, foi anunciado o pagamento de mais quatro parcelas adicionais, até o final de 2020, no entanto no valor de R$ 300.

Foto: Pixabay

Entre o final de 2019 e o segundo trimestre de 2020, ocorreu um grande aumento da desigualdade de renda do trabalho nas metrópoles no Brasilresultante da crise econômica do período, e tendo como agravante a pandemia da Covid-19. É o que aponta o estudo desenvolvido pela PUCRS, pelo Observatório das Metrópoles e pelo Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). Estes dados são correspondentes ao primeiro Boletim – Desigualdades nas Metrópoles, que será lançado trimestralmente.    

Um dos coordenadores da pesquisa, André Salata, professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRSacredita que as informações apuradas demonstram claramente os efeitos da crise provocada pela pandemia sobre as desigualdades na distribuição da renda do trabalho. “O que vemos é que os rendimentos do trabalho estão empurrando as desigualdades para cima. Cabe ao Estado continuar adotando políticas que façam um contrapeso a essa tendência do mercado de trabalho”, analisa.   

Também coordenador do estudo, Marcelo Gomes Ribeiro, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ)  e pesquisador do INCT – Observatório das Metrópoles, analisa que a trajetória da desigualdade de renda nas metrópoles brasileiras na última década apresenta três características marcantes. Primeiro, sempre se encontrou em patamar bastante alto. Segundo, nos últimos anos, tem comportamento de elevação, sendo que essa foi ainda mais expressiva nos dois primeiros trimestres de 2020, associando a crise econômica que já se apresentava com os efeitos da pandemia. Terceiro, mesmo havendo diferenças entre os níveis de desigualdades na comparação entre as regiões metropolitanas do país, os níveis de desigualdades em todas elas estão em patamares muito elevados”, destaca.  

Neste levantamento foram utilizadomicrodados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em especial de sua divulgação trimestral. Ao todo estão envolvidas 20 regiões metropolitanas: Manaus, Belém, Macapá, Grande São Luís, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju, Salvador, Belo Horizonte, Grande Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Vale do Rio Cuiabá e Goiânia; além do Distrito Federal e da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento da Grande Teresina.  

Forma de medição da distribuição dos rendimentos  

A pesquisa utiliza, entre outras medidas, o Coeficiente de Gini, que mede o grau de distribuição de rendimentos entre os indivíduos de uma população, variando de zero a um. O valor zero representa a situação de completa igualdade, em que todos teriam a mesma renda. Já o valor um representa uma situação de completa desigualdade, em que uma só pessoa deteria toda a renda. Dessa forma, é possível comparar a desigualdade de renda entre dois momentos ou locais a partir desse coeficiente.

Foto: Pixabay

Disparidade aumenta entre ricos e pobres

A média do coeficiente de Gini para o conjunto das regiões metropolitanas do Brasil subiu de 0.603 no 4º trimestre de 2019, para 0.610 no 1º trimestre de 2020 e, por fim, 0.640 no 2º trimestre deste anoEstes números representam um aumento de 6.1% no espaço de apenas dois trimestres. Segundo Salata, “a desigualdade no interior de nossas Regiões Metropolitanas já se encontrava em um patamar bastante elevado, e a crise faz o cenário se tornar ainda mais dramático.”  

De modo geral, todos os estratos de rendimento apresentaram uma queda de renda do trabalho no último trimestre, mas essa diminuição foi proporcionalmente maior entre os 40% mais pobres (a base da pirâmide social). O conjunto dos 10% do topo (os mais ricos) de cada região metropolitana teve redução de -3.2% em seus rendimentos, enquanto entre os mais pobres a queda foi -32.1%. Em algumas metrópoles a disparidade encontrada no último trimestre se destaca. É o caso de São Paulo, onde o estrato superior apresenta rendimentos médios per capita da ordem de R$ 8.305,12, enquanto o estrato inferior tem média de R$ 202,92. Já no Rio de Janeiro, onde os 10% mais ricos auferem renda média per capita de R$7.032,01, os 40% mais pobres têm renda média de apenas R$ 102,08.

Houve um aumento da distância entre o topo e a base da pirâmide no interior das metrópoles ao longo dos últimos anos, com aceleração desse crescimento no último trimestre. A razão entre a renda per capita do topo (10% superiores) e da base (40% inferiores) vem crescendo de forma permanente desde 2015. Com base em valores que determinam a distância entre os mais ricos e mais pobres (quanto maior o número mais desigual), em um comparativo, na média das metrópoles, no terceiro trimestre de 2015, essa razão era de 22.5subindo para 30.2 no primeiro trimestre de 2020 até chegar a 32.6 no último trimestre.   

Em relação à vulnerabilidade relativa (pessoas cuja renda domiciliar per capita não chega à metade do valor mediano), foi identificado um substantivo aumento do percentual no interior das metrópoles no período mais recente. No 1º trimestre de 2020 eram 23.5 milhões de pessoas nesta situação, correspondendo a 28.4% da população. No último trimestre deste ano aumentou para 25.8 milhões de pessoas, o equivalente a 31.3% da população metropolitana.  

Desigualdade racial elevada  

A desigualdade racial tem se mantido em nível elevado no interior das metrópoles. Analisando os dados se percebe que a renda relativa dos negros teve um pequeno aumento nos dois últimos anos (de 56.3% para 57.4%), indicando uma leve redução da desigualdade racial para a média das metrópoles. No entanto, não é possível afirmar que esse é um fenômeno que se replica da mesma forma em todas as regiões metropolitanas.   

Os dados indicam um cenário de queda gradual e constante das desigualdades raciais nos últimos anos nos casos de Manaus (de 43.9% para 61.1%), Teresina (de 53.7% para 60.6%) e Belo Horizonte (de 52.4% para 56.4%). Por outro lado, em metrópoles como Grande Vitória (de 54.8% para 51%), Rio de Janeiro (de 53.4% para 47.4%) e São Paulo (de 46.1% para 42.8%), os dados indicam uma tendência de aumento dessas desigualdades.  

Mais sobre o levantamento  

Boletim – Desigualdade nas Metrópoles tem como objetivo produzir um conjunto de informações relevantes acerca das desigualdades de rendimentos no interior das regiões metropolitanas do país. A publicação tem o intuito de colaborar para um debate público mais bem informado a respeito da grave situação das metrópoles brasileiras no que concerne às desigualdades sociais.  

O conteúdo completo pode ser acessado no site do Observatório das Metrópoles.