memorizar conteúdos

Foto: Pixabay

Estudar costuma a exigir uma dedicação especial, além de concentração e disposição. Porém, o que fazer quando mesmo após horas de estudos a sensação é de que o aprendizado não foi absorvido; ou então, quando pouco tempo depois já se esqueceu o conteúdo? A professora Cristiane Furini, pesquisadora do Centro de Memória do Instituto do Cérebro (InsCer), preparou algumas dicas para auxiliar na memorização durante o estudo. Mas atenção, não existe uma única maneira de aprender. Assim, é essencial experimentar diferentes técnicas e escolher a que funcione melhor para você. Confira as dicas:

1. Evite distrações e tenha pausasa atenção voltada para o que você está estudando é muito importante e a melhor maneira de mantê-la é minimizar as distrações no ambiente de estudo. Ou seja, televisão e smartphones só devem estar presentes se usados como ferramenta de aprendizado. Pesquisas têm demonstrado que o celular pode atrapalhar a capacidade de atenção em uma tarefa específica e que o simples fato de saber que há uma notificação em seu telefone, causa a mesma distração ocorrida com o uso efetivo do aparelho.

A fadiga mental também pode dificultar a manutenção da atenção por um tempo muito longo, assim, é necessário fazer pequenas pausas para descanso. Por isso, dividir a jornada de estudo pode auxiliar a manter o foco. Uma alternativa é realizar um intervalo de 5 a 10 minutos a cada 45 ou 50 minutos de estudo.

2.Faça testes e repetiçõesrealizar testes, quizzes e se “forçar” a recordar informações auxilia mais na formação e retenção de memórias do que simplesmente rever anotações. Uma pesquisa mostrou que estudantes universitários apresentaram melhor desempenho no aprendizado de uma língua estrangeira quando eram testados, sugerindo que a formação da memória ocorre em situações em que se tem repetição das informações. Ou seja, a prática de recuperar essas referências favorece a consolidação do conteúdo que se quer memorizar.

3. Realize a prática espaçadapesquisas têm demonstrado que espaçar as sessões de estudo é mais eficaz e benéfico para o aprendizado do que uma única e longa sessão de estudos. Ou seja, dividir o conteúdo em pequenas partes e estudá-las durante vários dias é mais produtivo do que tentar absorver todas as informações de uma só vez. Para isso, é importante criar um cronograma e distribuir as atividades, lembrando de criar espaços para rever informações.

4. Intercale os conteúdos de estudoem uma abordagem tradicional e amplamente aplicada ao aprendizado, conhecido como “estudo em bloco”, as habilidades são aprendidas sequencialmente e você não passa para um novo assunto até dominar o  Mas estudar o dia inteiro a mesma matéria pode não ser a estratégia mais eficiente para manter o foco. Assim, a ciência tem mostrado que misturar a prática de várias habilidades inter-relacionadas pode melhorar a performance a longo prazo. Esta abordagem é conhecida como estudo intercalado e pode ajudar no aprendizado. Consiste em alternar entre tópicos enquanto se estuda, ou seja, após o estudar o tema X por um tempo, se passa para o estudo do tema Y e Z. Em uma próxima vez, altera-se a ordem de estudo dos conteúdos, sempre observando que tipo de novas conexões eles podem fazer entre si.

5.Cuide bem do seu sonodormir é extremamente importante para consolidar/armazenar memórias. A etapa ocorrida durante o sono não apenas fortalece os traços de memória, mas também pode produzir mudanças nas representações das recordações. Através de um processo ativo de reorganização, o cérebro realiza a formação de novas associações e a extração de recursos generalizados, facilitando, inclusive, a produção de novas soluções e ideias. Benefícios significativos para a memória são observados após uma noite de sono de 6 a 8 horas, mas também depois de cochilos mais curtos de 30 minutos a uma hora. Assim, garantir boas noites de sono ajuda a fixar o conteúdo visto anteriormente e a nos preparar para aprendizados novos no dia seguinte.

Sobre a professora

Cristiane Regina Guerino Furini atualmente é professora da Escola de Medicina da PUCRS e pesquisadora do Instituto do Cérebro. Possui como tema principal de trabalho o estudo dos mecanismos farmacológicos e bioquímicos envolvidos na consolidação, persistência, extinção e reconsolidação de memórias.

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memória de reconhecimento social

Foto: Gilson Oliveira

Fundamental para estabelecer relações entre indivíduos, a memória de reconhecimento social é um mecanismo que contribui para a formação e o funcionamento de grupos sociais, essenciais para a organização da sociedade. Através da interação entre os pares, espécies como seres humanos e roedores desenvolvem comportamentos sociais ligados à adaptação e à sobrevivência.

Assim como em outras formas de aprendizado, as informações sociais recentes passam por uma etapa de consolidação, sendo processadas por diversas regiões do cérebro, dentre elas, o córtex pré-frontal. Além de ser crucial para a memória de reconhecimento, essa região desempenha um papel importante em aspectos da cognição, da atenção e da tomada de decisão. Alterações no córtex pré-frontal se associam a doenças como a esquizofrenia e os transtornos do espectro do autismo, que cursam com prejuízo do funcionamento social.

Lançando luz sobre os mecanismos envolvidos na memória de reconhecimento social, uma pesquisa desenvolvida pelo estudante Lucas Marcondes, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia Biomédica da PUCRS, pode auxiliar no entendimento de doenças neuropsiquiátricas que se caracterizam pela disfunção das interações sociais. “Para compreendermos o processo dessas doenças, primeiro é preciso analisar como o processamento de informações sociais ocorre fisiologicamente, quando tudo está bem. Por isso, investigamos a formação e a consolidação da memória de reconhecimento social através do córtex pré-frontal medial dos roedores, que são uma espécie sociável, assim como os humanos”, destaca Marcondes.

O estudo teve a coordenação das pesquisadoras Jociane de Carvalho Myskiw e Cristiane Regina Guerino Furini, professoras da Escola de Medicina da PUCRS. A pesquisa também contou com auxílio dos colaboradores do Centro de Memória, vinculado ao InsCer. O estudo foi publicado na revista internacional Neurobiology of Learning and Memory.

Descobertas do presente para entender o futuro

Principal neurotransmissor excitatório do cérebro, o glutamato é responsável pela comunicação entre os neurônios no sistema nervoso central. Uma das mais importantes descobertas da pesquisa está relacionada ao tempo de ação dos receptores de glutamato no córtex pré-frontal. No estudo, foram analisados os receptores NMDA e AMPA/cainato. Os pesquisadores descobriram que ambos os receptores são necessários durante a consolidação inicial da memória, mas que, três horas após o aprendizado, apenas os receptores AMPA/cainato são requeridos, deixando de serem necessários após seis horas.

“Essa descoberta pode fazer com o sistema dessa memória seja visto de uma forma mais ampla. Pesquisas voltadas ao tratamento das doenças neuropsiquiátricas poderão, inclusive, ter como base esses resultados para o desenvolvimento de procedimentos mais efetivos em relação a essas patologias”, ressalta Cristiane Furini.

Marcondes ainda frisa que o estudo auxilia a abrir o caminho para entender a evolução das interações sociais. “A forma como nos relacionamos hoje é totalmente diferente do que era anos atrás. Atualmente, vivemos muitas interações a distância, por meios digitais, e a maneira como o cérebro processa esse tipo de informação pode ser diferente. Certamente é um campo que ainda tem muito para ser descoberto”, afirma.

Segundo a professora Cristiane, é preciso estar atento às mudanças nas relações para compreender se geram benefícios ou prejuízos. “Nas redes sociais, muitas vezes, temos a interação visual, mas o contato físico, a presença do outro, acaba sendo deixada de lado. Em um outro estudo com roedores, publicado no ano passado, descobrimos, por exemplo, que a presença de um companheiro é benéfica para a resposta do cérebro a uma memória de medo”, completa.

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Foto: Aquivo pessoal

O coordenador do Centro de Memória do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer/RS), Ivan Izquierdo, conquistou o Prêmio Internacional Unesco-Guiné Equatorial para Pesquisa em Ciências da Vida. O reconhecimento, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi obtido por suas descobertas em elucidar os mecanismos de processos de memória, em consolidação e recuperação, e suas aplicações clínicas em distúrbios psicológicos e de idade e doenças neurodegenerativas, levando a uma melhoria da qualidade de vida humana. A entrega ocorreu no dia 30 de março, em Sipopo, na Guiné Equatorial.

“Este prêmio é muitíssimo especial, pois reconheceu o lado mais importante da minha vida, que é a contribuição dos meus estudos para a qualidade de vida da população. Essa sempre foi a minha motivação final”, avalia o professor Izquierdo. O prêmio também foi destinado ao professor Rui Luis Gonçalves dos Reis, da Universidade do Minho (Portugal), e à Organização de Pesquisa Agrícola do Centro Volcani, em Israel. Cada um dos vencedores recebeu 100 mil dólares, uma estatueta feita pelo artista Leandro Mbomio e um certificado.

Sobre o prêmio

O Prêmio Internacional Unesco-Guiné Equatorial para Pesquisa em Ciências da Vida reconhece projetos de pesquisa notáveis de indivíduos, instituições e outras entidades que trabalham com Ciências da Vida e que tenham levado a uma melhora da qualidade de vida humana. Esta é a quarta vez que o prêmio é realizado.

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Camila Cunha/PUCRS

A diretora-geral da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Irina Bokova, anunciou nesta segunda-feira, 24 de julho, os três vencedores do Prêmio Internacional Unesco-Guiné Equatorial para Pesquisa em Ciências da Vida 2017. Entre os premiados está o coordenador do Centro de Memória do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), Iván Izquierdo. Ele é o único pesquisador do Brasil entre os agraciados e recebeu a premiação por suas descobertas na elucidação de mecanismos dos processos de memória, incluindo consolidação, recuperação e sua aplicação clínica em envelhecimento, distúrbios psicológicos e doenças neurodegenerativas, promovendo a qualidade da promoção da vida humana. A cerimônia de premiação será realizada em 4 de dezembro em Djibloho, na Guiné Equatorial. Cada um dos três vencedores receberá um prêmio em dinheiro, uma estátua feita pelo artista Leandro Mbomio e um certificado.

As recomendações para os vencedores são feitas por um júri composto de especialistas internacionais da área de ciências da vida, como Wagida Anwar, diretora do Ain Shams University Center for Molecular Biology, Biotechnology and Genomics do Cairo, no Egito; e Indrani Karunasagar, diretora da Unesco Mircen for Marine Biotechnology, na Índia. Ao saber da premiação, Izquierdo disse estar surpreso e feliz com o reconhecimento. “Isso representa muito, é um prêmio importante que a Unesco fornece. E é um grande estímulo ao nosso laboratório, ao InsCer e à Universidade”, revelou. O coordenador do Centro de Memória já recebeu mais de 60 prêmios ao longo de seis décadas de pesquisa dedicadas ao tema.

 

Pesquisadores estão no Brasil, Portugal e Israel

Além do professor Izquierdo, também foi premiado Rui Luis Gonçalves dos Reis, da Universidade do Minho, em Portugal, por suas contribuições nas áreas de biomateriais e suas aplicações biomédicas, incluindo engenharia de tecidos e medicina regenerativa, entre outras. A terceira agraciada é a instituição Organização de Pesquisa em Agricultura, de Israel, que foi reconhecida por desenvolver inovações e metodologias de ponta em pesquisa agrícola, com aplicação prática para a construção de programas de segurança alimentar em áreas de deserto e solos árido e semiárido.

Cérebro com fios

Foto: Arquivo – Ascom/PUCRS

Pesquisadores do Centro de Memória da PUCRS, liderados por Iván Izquierdo, publicaram uma revisão bibliográfica na área da memória do medo no periódico Physiological Reviews. Foram estudados cerca de 800 artigos divulgados nos últimos 60 anos em todo o mundo. “Trata-se da maior revisão bibliográfica já realizada na área”, afirma Izquierdo. Desses artigos publicados, 90 foram realizados no Centro de Memória, que é ligado ao Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul.

A convite da publicação, Izquierdo e as pesquisadoras Cristiane Furini e Jociane Myskiw passaram dois anos trabalhando no artigo. As referências bibliográficas utilizadas abordam temas como a definição da memória do medo, as estruturas envolvidas, como são reguladas e estudadas e os mecanismos bioquímicos, entre outros. O artigo pode ser acessado mediante assinatura ou download pago.