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Catieli Lindholz realizando testes. Foto: Arquivo pessoal

Desenvolvido pelo Grupo de Parasitologia Biomédica da PUCRS, em parceria com a University of Queensland e a University Of Western Australia, ambas da Austrália, o método de diagnóstico para esquistossomose chamado Helmintex foi adotado como “Padrão Ouro” em um estudo coordenado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde do Brasil. O “Padrão Ouro” é o processo de diagnose que apresenta maior sensibilidade para detecção de uma doença, e por isso serve de referência para o estudo de outros procedimentos de diagnóstico. Reconhecendo a competência do Helmintex, o Ministério decidiu realizar uma pesquisa multicêntrica de avaliação de métodos com o objetivo de verificar a eficiência no Brasil de um teste rápido de urina, que é indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), comparado ao método criado na PUCRS.

Para a execução do estudo foram escolhidas oito áreas endêmicas a serem monitoradas pelas instituições PUCRS, Universidade Federal do Ceará (UFC), Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz Minas) e Instituto Evandro Chagas(IEC). O grupo liderado pelo coordenador do Grupo de Parasitologia Biomédica e integrante do Comitê de Assessoramento Técnico para esquistossomose do Ministério da Saúde, professor Carlos Graeff, ficará responsável por duas regiões, uma região de controle negativo no interior do Rio Grande do Sul e outra no Sul do Sergipe.

A segunda região foi local de recentes expedições de campo que compuseram o trabalho de duas alunas dos Programas de Pós-Graduação em Zoologia e em Medicina, Catieli Lindholz e Vivian Favero. O artigo, intitulado “Study of diagnostic accuracy of Helmintex, Kato-Katz, and POC-CCA methods for diagnosing intestinal schistosomiasis in Candeal, a low intensity transmission area in northeastern Brazil” foi aprovado e será publicado em 8 de março próximo, na revista PLoS Neglected Tropical Diseases (PLoS NTD), publicação que é referência internacional em doenças tropicais.

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Professor Carlos Graeff, Dra. Carolina Verissimo e equipe de vigilância epidemiológica da Secretaria Municipal de Estância, Sul do Sergipe.

Helmintex

O desenvolvimento do método teve início há 13 anos, quando uma aluna de doutorado, sob supervisão do professor Graeff, da Escola de Ciências da Saúde, fez uma descoberta inédita nas dependências do Grupo de Parasitologia Biomédica. Estudando os ovos do parasita Schistosoma, causador da esquistossomose, Cândida Teixeira descobriu que eles possuem comportamento magnético. Essa característica é o principal fator do método e o que o torna tão sensível e eficiente na detecção da doença, pois auxilia a separar os ovos de todo o resto da amostra ao colocar magneto na parede do frasco e atrair uma parte dos ovos através do campo magnético.

De acordo o professor, o Helmintex, já patenteado pelo Escritório de Transferência de Tecnologia da PUCRS (ETT), possui mais duas principais utilidades além do uso como referência na avaliação de métodos e antígenos.  Devido a sua alta sensibilidade de diagnóstico, pode ser aplicado para certificar a eliminação da esquistossomose em regiões de baixa endemicidade, auxiliando no direcionamento de verbas públicas voltadas para a saúde. Além disso, é eficiente como método diagnóstico clínico individual, uma vez que seu alto valor preditivo negativo assegura o atestado de cura do indivíduo. O pesquisador destaca também a contribuição social do projeto, uma vez que a esquistossomose é uma doença que acomete grupos mais vulneráveis e de baixa renda, mais especificamente, 206 milhões de pessoas em 52 países em 2016, de acordo com dados divulgados pela OMS.

Internacionalização da pesquisa

Além da atuação do Grupo de Parasitologia Biomédica, o estudo do método conta com a participação direta de duas instituições australianas há mais de 8 anos. A primeira parceria foi firmada em 2007, com o professor e especialista em esquistossomose Malcolm Jones, da Escola de Ciências Veterinárias da University of Queensland. Na época, voltado para o estudo dos ovos de Schistosoma, Jones teve conhecimento do estudo através da primeira publicação sobre as propriedades magnéticas do ovo do parasita, publicada na revista PLoS NTD naquele mesmo ano. Três anos mais tarde, o professor Tim Saint Pierre da Escola de Física da University of Western Australia, que havia desenvolvido um método de diagnóstico de malária utilizando propriedades magnéticas, envolveu-se com o estudo da PUCRS para analisar a quantidade do elemento ferro na casca desses ovos.

O projeto segue investindo na sua internacionalização, e este ano vai receber ano um aluno da Universität Osnabrück (Alemanha) por meio da Assessoria para Assuntos Internacionais e Interinstitucionais da PUCRS (AAII), e um aluno da University of West Indies (Jamaica), para realizarem um período de estágio. Além disso, o Grupo vem colaborando com o Center for Disease Control and Prevention(CDCP) dos Estados Unidos e a Queens University Belfast (Irlanda) na avaliação de testes sorológicos comparados aos resultados do Helmintex.