A evolução da ciência sobre os buracos negros no universo foi o foco principal da palestra da astrofísica norte-americana Janna Levin durante o evento Fronteiras do Pensamento, ocorrido na última segunda-feira, dia 2 de setembro, no Salão de Atos da UFRGS. A pesquisadora, escritora – autora do livro A música do universo – e doutora em física teórica no Massachusetts Institute of Technology (MIT) comentou das grandes conquistas da física, como: ouvir pela primeira vez o som produzido pela colisão de buracos negros e fotografar um desses intrigantes corpos celestes.
“Vivemos na beira, não estamos no centro do universo. São milhares de estrelas e galáxias e só conseguimos identificar porque emitem luz, já os buracos negros são fenômenos escuros, literalmente sombras”, comenta a pesquisadora. Utilizando animações em sua apresentação, Janna mostrou uma simulação de quando uma estrela vira um buraco negro. “Por dentro, a aparência seria como estivesse a beira da morte. Sabe aquela luz que se enxerga bem no final do túnel, quase se apagando? É essa a imagem”, exemplifica.
Uma das maiores descobertas da física foi escutar os ruídos provocados pelos buracos negros, captados em 2016. Há três bilhões de anos, dois grandes corpos celestes colidiram, resultando em uma explosão intensa e formando um objeto solitário 49 vezes maior do que o Sol. “Quando orbitam, os buracos negros criam ondulações e produzem sons por meio de ondas gravitacionais. As contrações e as expansões fazem com que os sons mudem quando vão se aproximando um do outro, do mais grave ao mais agudo. Quando se colidem também emitem um som”, diz a astrofísica, que inseriu, para a plateia, os ruídos comentados.
Para que essa descoberta fosse concretizada, Janna lembrou de todo o trabalho dedicado, durante 40 anos, do seu amigo Rainer Weiss, físico alemão e um dos principais pesquisadores do Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory (LIGO), local aonde foram captados os sons e que fica situado em duas cidades nos Estados Unidos, nos estados de Washington e Louisiana. O LIGO conta com mais de 800 colaboradores de vários países. Por este trabalho, Weiss recebeu o Prêmio Nobel de Física de 2017.
A astrofísica americana também mencionou outro grande marco para a física realizado neste ano: a revelação da primeira imagem de um buraco negro. Essa captação foi possível por meio da conexão de potentes radiotelescópios espalhados pelo mundo, que, por mais que esse corpo celeste não emita luz, foi possível enxergá-lo no meio do anel de matéria brilhante que gira em torno do mesmo. “São cerca de um bilhão de buracos negros em nossa galáxia. É por isso que é difícil acreditar que não exista vida em outros lugares”, analisa.
Quando questionada sobre as próximas descobertas que estão por vir, Janna salientou que, no último século, devido às grandes conquistas por parte da física, permite acreditar que o futuro seja promissor. “Conseguimos captar algo que nem pensávamos, o som no buraco negro”, ressalta.
Ainda, segundo Janna, 95% do universo é escuro, sendo que 25% é matéria escura. “Mostra que tem muito para ser descoberto pela ciência. O universo possui dimensões extras. É possível demonstrar que o Bing Bang não tenha sido o único”, projeta.
Indagada pela astrofísica gaúcha Thaisa Storchi Bergmann, que contextualizou os recentes cortes, por parte do Governo Federal, em relação às bolsas de pesquisas no Brasil, Janna foi perguntada sobre a importância destes investimentos e como estão os incentivos nos Estados Unidos. A pesquisadora americana frisou que também existem problemas de investimentos em seu país e que, em alguns casos, o dinheiro arrecadado é proveniente de outros tipos de receitas. “As pesquisas inspiram as pessoas, realizam mudanças maiores. Costumamos fazer descobertas maravilhosas. Em nossos projetos, temos cientistas de vários países, inclusive do Brasil. O que proporcionamos com esses estudos são presentes que damos ao mundo”, finaliza.