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Felipe Vilanova, mestrando do Pós em Psicologia / Foto: Mariana Haupenthal

O mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP), Felipe Vilanova, recebeu o Graduate Travel Award 2019, reconhecimento concedido pela Society for Personality and Social Psychology (SPSP). O universitário é o primeiro brasileiro a ser agraciado pela premiação desde a sua criação, em 2016. O prêmio foca em estudantes que tenham currículos com produções internacionais e cuja proposta de trabalho esteja entre as mais bem avaliadas. A premiação consiste em um destaque nos meios de divulgação da sociedade e auxílio financeiro para participar da convenção anual da SPSP em fevereiro de 2020, nos Estados Unidos.

Vilanova submeteu o trabalho intitulado Evidence for cultural variability in Right-Wing Authoritarianism factor structure in a politically-unstable context. Nele, o mestrando acompanhou as mesmas pessoas por um período de 3 anos (2016, 2017 e 2018) e investigou o que elas pensavam sobre diversos temas relacionados à política. “Concluímos que no Brasil, diferentemente do resto do mundo, governos e leis tendem a ser vistos como algo que não merece respeito, nem obediência. Mesmo mudando o governo e as leis, como mudaram entre 2016 e 2018, o entendimento sobre eles foi altamente estável”, comenta Vilanova. O artigo completo sobre a pesquisa foi aceito recentemente para publicação na revista Social Psychological and Personality Science, e  deve estar disponível no início de 2020.

Motivos para você estudar na PUCRS

Orientado pelo professor Ângelo Brandelli Costa, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, e coorientado pelo professor Taciano Lemos Milfont, da Victoria University of Wellington, na Nova Zelândia, Felipe Vilanova acredita que a parceria internacional do PPGP contribuiu para a conquista. Além disso, pela relevância da SPSP como referência para a promoção da psicologia social mundialmente, o estudante acredita que, com o prêmio, a visibilidade da produção científica nacional também é beneficiada.

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Serviço recebe pessoas acima de 18 anos para escuta em grupo/Foto: Camila Cunha

Com 45 anos de tradição na assistência à comunidade, o Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia (Sapp), da Escola de Ciências da Saúde, abre o seu primeiro Laboratório: Sexualidade, Gênero e Psicanálise. Coordenado pelas professoras e supervisoras de estágio Carolina de Barros Falcão e Luciana Redivo Drehmer, está recrutando interessados para seu grupo piloto. Pessoas com demandas de sofrimento psíquico advindas da sexualidade LGBTQI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, intersexuais e outros) e que tenham mais de 18 anos podem participar de um espaço de acolhimento e escuta de forma gratuita.

A pessoa passa por entrevista, quando conhece a modalidade de trabalho em grupo e a equipe clínica identifica se ela se beneficiará desse tipo de abordagem. É possível que ocorram também encaminhamentos individuais.

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Equipe de profissionais e estagiários/Foto: Camila Cunha

Os atendimentos serão realizados pelos estagiários em psicologia clínica e supervisionados pelas psicólogas responsáveis. Como ocorrerão na sala de espelhos, terão acompanhamento da equipe de apoio, que poderá intervir caso haja necessidade. Os pacientes serão informados de todo o processo. “Reconhecemos que esse público é maltratado em muitos lugares. Usaremos de todos os instrumentos para garantir uma escuta qualificada”, justifica Carolina.

A equipe busca romper com a lógica binária da cultura patriarcal. “A ideia de que os gêneros se dividem em masculino e feminino não dá mais conta da realidade. Há tantos modos de viver”, constata Luciana.

Para qualificar o atendimento, a equipe conta ainda com estudiosos do tema, como o professor Ângelo Brandelli Costa, coordenador do Grupo de Pesquisa Preconceito, Vulnerabilidade e Processos Psicossociais do Programa de Pós-Graduação e Psicologia. “Esse será um serviço pioneiro que poderá compreender as especificidades desse público.” O sofrimento, por exemplo, nem sempre pode ser reduzido a questões de sexualidade e de gênero e o contrário também acontece, adverte o professor, exigindo que esses aspectos sejam levados em conta. “Tampouco podemos negligenciar o preconceito da família, da sociedade e da própria pessoa que traz grandes repercussões na saúde mental.”

Os alunos e profissionais se prepararam para o trabalho no segundo semestre de 2018, com estudo teórico que embasasse a atuação prática. Outra meta do grupo é produzir e disseminar conhecimento científico em Psicanálise.

Demanda

O Laboratório foi idealizado a partir do estímulo dos alunos em sala de aula e dos questionamentos teóricos a respeito das múltiplas formas de sexualidade na atualidade. A demanda por atendimentos no Sapp do público LGBTQI+ também influenciou na decisão.

Curso de extensão       

Neste semestre ocorrerá ainda o primeiro curso de extensão organizado pelo Laboratório: Dissidências Sexuais e Gêneros Plurais: a Psicanálise Revisitada pelas Subjetividades Atuais. Será nos dias 10 e 11 de maio, com o psicanalista argentino Facundo Bleschter, com notória experiência teórica e clínica no tema. Visa apresentar uma leitura psicanalítica contemporânea acerca das múltiplas expressões da sexualidade contemporâneas.

Como participar dos grupos de escuta

Quando: Quartas-feiras, às 16h, com duração de uma hora e 15 minutos

Público-alvo: pessoas com 18 anos ou mais que apresentam demandas de sofrimento psíquico e que sejam advindas das comunidades LGBTQI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, intersexuais e outros)

Agendamentos pelo telefone: (51) 3320-3561

Entenda melhor

Os transexuais possuem uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento.

Os queers questionam os rótulos que restringem a amplitude e a vivência da sexualidade.

Os intersexuais apresentam variações anatômicas e/ou genéticas que dificultam sua identificação como tipicamente masculino ou feminino.

 

Angelo Brandelli

Foto: Bruno Todeschini/PUCRS

A discussão em torno do suposto jogo Baleia Azul levantou a necessidade de abordar o tema da saúde mental de jovens, especialmente no contexto escolar. O que se observou foi a desmedida divulgação de imagens e relatos de situação de vulnerabilidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) possui um guia para profissionais da mídia no qual pede cautela sobre como são tratados casos de suicídios de forma a evitar situações de contágios.[1] A recomendação da OMS vai ao encontro de evidências na literatura científica que identificaram que a espetacularização de casos suicídio pode levar a um aumento da prevalência desse agravo.[2] No contexto das mídias sociais, em que cada um de nós se torna produtor de conteúdo, tais recomendações se tornam ainda mais importantes. Segundo a OMS, a sociedade deve estar atenta para: não publicar fotografias explícitas ou cartas suicidas; não informar detalhes específicos do método utilizado; não fornecer explicações simplistas; não glorificar o suicídio ou fazer sensacionalismo sobre o caso; não atribuir culpas.

Alguns dados chamam a atenção para a importância do debate sério e comprometido a respeito deste tema. A região Sul é a que apresenta os maiores índices de suicídio do Brasil, 9.3 casos por 100,000 habitantes contra 4.4 – 5.7 por 100,000 habitantes nacionalmente.[3] Além disso, no período de 1980-2000 ocorreu um aumento de 1900% nas taxas de suicídio em jovens de 15-24 anos no Brasil, tornando essa faixa etária a mais vulnerável.[4] O aumento nesta faixa etária também foi maior na região Sul do País.[5]

O suicídio é um fenômeno complexo. Dificilmente pode ser atribuída a uma única causa, no entanto, experiências de violência e discriminação relacionadas à orientação sexual, gênero, deficiência, raça/cor/etnia e status socioeconômico podem atuar como fator de risco. [6]

É por essa razão que a atenção à saúde mental de jovens é fundamental. Familiares, professores e profissionais de saúde devem estar atentos para necessidade de acolhimento desse grupo. O encaminhamento para redes de atenção psicossocial e profissionais de saúde mental, tanto no âmbito público quanto privado, deve ser considerado sempre que necessário. Gestores de políticas públicas, instituições de saúde e de ensino também devem fomentar campanhas e ações na direção da prevenção, identificação e tratamento destas situações.

 

[1] http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/67604/7/WHO_MNH_MBD_00.2_por.pdf?ua=1

[2] Stack, S. (2003). Media coverage as a risk factor in suicide. Journal of epidemiology and community health, 57(4), 238-240. https://dx.doi.org/10.1136/jech.57.4.233

[3] Lovisi, Giovanni Marcos, Santos, Simone Agadir, Legay, Letícia, Abelha, Lucia, & Valencia, Elie. (2009). Epidemiological analysis of suicide in Brazil from 1980 to 2006. Revista Brasileira de Psiquiatria31(Supl. 2), S86-S93. https://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462009000600007

[4] Mello-Santos, Carolina de, Bertolote, José Manuel, & Wang, Yuan-Pang. (2005). Epidemiology of suicide in Brazil (1980 – 2000): characterization of age and gender rates of suicide. Revista Brasileira de Psiquiatria, 27(2), 131-134. https://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462005000200011

[5] Souza, Edinilsa Ramos de, Minayo, Maria Cecília de Souza, & Malaquias, Juaci Vitória. (2002). Suicide among young people in selected Brazilian State capitals. Cadernos de Saúde Pública18(3), 673-683. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2002000300016

[6] Costa, A. B., Pasley, A., de Lara Machado, W., Alvarado, E., Dutra-Thomé, L., & Koller, S. H. (2017). The experience of sexual stigma and the increased risk of attempted suicide in young Brazilian people from low socioeconomic group. Frontiers in psychology, 8. https://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2017.00192.

Mão, Pessoa, Remédios

Foto: jarmoluk / pixabay.com

Uma pesquisa realizada na PUCRS com 626 pessoas trans alerta para uma situação grave: 66,3% das mulheres não consultam um médico para utilizar hormônios. Das 291 que responderam sobre esse tema, 39,2% compram hormônios pela internet e 27,1% conseguem com amigos ou conhecidos. “Utilizar hormônios sem monitoramento pode ocasionar problemas de saúde graves do ponto de vista cardíaco, ósseo e até oncológico”, alerta o coordenador da pesquisa e professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Humanidades da PUCRS Ângelo Brandelli Costa.

O estudo, intitulado Healthcare Needs of and Access Barriers for Brazilian Transgender and Gender Diverse People, foi realizado em parceria com os Hospitais de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foram consultadas 626 pessoas trans de 18 a 64 anos do Rio Grande do Sul e de São Paulo, que responderam a questionário pela internet e nos hospitais citados. Entre os pontos abordados nas perguntas estavam questões relacionadas ao acesso livre a hormônios, monitoramento médico, procedimentos cirúrgicos e discriminação durante o tratamento.

Professor Ângelo Brandelli Costa

Ângelo Brandelli Costa

Os motivos para a negativa na procura por especialistas também foram abordados no estudo: 43,2% disseram evitar os serviços de saúde quando precisaram por serem trans. A maioria das pessoas, 58,7%, que afirmaram ser vítimas de discriminação durante um atendimento médico de saúde, se privaram de procura-lo quando necessário. O número cai para 17,8% quando os entrevistados não sofreram discriminação. Entre as opções do questionário estavam: profissional de saúde alegou não ter conhecimento suficiente para prestar atendimento; não utilizou o nome social da pessoa; a ridicularizou durante o atendimento. Para Brandelli, o dado é grave, porque esse público já tem problemas para acessar os serviços por motivos financeiros e por causa do desenho do Sistema Único de Saúde (SUS). “Quando as pessoas trans conseguem superar essas barreiras institucionais, existem as barreiras dos profissionais que as tratam com diferença e isso faz com que elas evitem buscar serviços de saúde, mesmo quando precisam”, ressaltou o professor. De acordo com ele, é preciso deixar as políticas públicas mais inclusivas e incorporar discussões sobre o tema nas formações dos profissionais de saúde.

Brandelli esclarece que o objetivo da pesquisa é expor a necessidade de abordar o preconceito no tratamento não só de pessoas trans, mas também em relação à raça e classe social, por exemplo. “Muitos profissionais podem dizer ‘eu nunca vi uma pessoa trans’, mas é possível que essa população não acesse esses serviços com receio da forma de tratamento. Então é preciso desenvolver campanhas contra essas atitudes”, propõe. Agora, o coordenador conta que está escrevendo um novo artigo sobre essa coleta de dados. O foco será o acesso aos procedimentos de HIV, como medicamentos e testes. “Esse é um dos agravos mais prevalentes nas mulheres trans, principalmente no Rio Grande do Sul, que é um dos estados com maior índice dessa epidemia”.

 

Outras descobertas

O projeto também revela que de 83 homens trans, 46 nunca encontraram um médico para prescrever hormônios, ou seja, 55,4%. Por outro lado, de 56 mulheres trans, 22 contam que nunca conseguiram um médico para receitar o medicamento, o que representa 39,3%. Em relação a procedimentos médicos, como modificações do corpo, cirurgias de afirmação de gênero, implante de silicone, entre outros, 64,2% alegam não ter dinheiro para pagar, ou seja, 278 de 433 pessoas trans. O professor Angelo diz que essas questões mostram uma discrepância. “O SUS cobriria esses procedimentos. Então por que as pessoas não estão conseguindo fazer?”, questiona ele. Entre as 102 mulheres trans que já fizeram procedimentos médicos, 76,8% optaram por clínicas privadas e apenas 18,6% por clínicas públicas. Para o professor, os números falam por si. “São questões graves que mostram a falha do sistema de saúde, que dificulta o acesso à saúde das pessoas trans”, analisa.

 

Perfil dos participantes

Brandelli explica que, para definir o perfil dos participantes, foram feitas duas perguntas: “qual o sexo que foi designado ao nascer?” e “como se identifica agora?”. Qualquer discordância entre os dois questionamentos inclui a pessoa no estudo. A maioria dos integrantes são homens e mulheres trans, mas também responderam ao questionário pessoas com outra identidade de gênero, por exemplo aquelas que se identificam como não binárias, agêneras, queer, entre outros. Só no Facebook do Brasil estão disponíveis 17 opções de gênero.

 

Origem da pesquisa

O professor conta que esteve no Canadá há aproximadamente dois anos e conheceu a professora da University of Western Ontario, Gretha Bauer, coordenadora de um projeto chamado TransPulse. A iniciativa é um levantamento sobre a vida das pessoas trans composto por perguntas envolvendo problemáticas enfrentadas por esse grupo. “Achamos a iniciativa importante, porque não temos muito diagnóstico da vida das pessoas trans aqui no Brasil em vários aspectos, principalmente na saúde, então adaptamos esse questionário para cá”.