Fundada no dia 26 de março de 1772, Porto Alegre completa seus 250 anos neste sábado. Para marcar a data, ao longo dos próximos dias serão publicados conteúdos desenvolvidos a partir dos estudos de pesquisadores da Universidade sobre diversos temas que envolvem a Capital gaúcha. O tema que abre esta série especial é o 4.º Distrito, região da cidade que vem passando por mudanças.
Assim como outras grandes capitais brasileiras, Porto Alegre é marcada por sua constante transformação. Atualmente, a arquitetura da Capital é exemplo dessa evolução, pois passa por diferentes épocas e estilos, fazendo com que especialistas debatam sobre novas possibilidades e estratégias para permitir o contínuo desenvolvimento da cidade.
O 4º Distrito de Porto Alegre é um exemplo de como a cidade é um organismo vivo: uma região histórica, que já foi o centro da atividade social e industrial da capital gaúcha e sofreu certo abandono. Mas que, nos últimos anos, vem sendo pauta para diversos estudos que buscam revitalizar a região.
A professora e pesquisadora da Escola Politécnica Cibele Vieira Figueira realiza pesquisas desde 2014 referentes aos bairros históricos de caráter industrial. Atualmente atua como líder do grupo de pesquisa intitulado Cidade, Projeto e Gestão e coordena a linha de pesquisa Função da Propriedade Urbana na Cidade Formal, na qual desenvolveu vários estudos com foco na região do 4.º Distrito de Porto Alegre.
“As pesquisas desenvolvidas visam contribuir para a construção de um olhar sobre a cidade e suas possibilidades de resolver os desafios urbanos, que não fique restrito ao mundo acadêmico, mas que se torne do conhecimento da comunidade em geral e dos agentes envolvidos”, comenta a professora.
O denominado 4º Distrito de Porto Alegre possui uma área de 1.191 hectares, é composta por cinco bairros (Floresta, São Geraldo, Navegantes, Farrapos e Humaitá). A região está no centro de vários debates que acontecem nas últimas décadas por sua riqueza em potencialidades e problemas de naturezas distintas.
Com suas pesquisas, Cibele explica que cada um dos bairros do 4º Distrito apresenta peculiaridades bem definidas, porém todos abrangem a mesma situação que demanda por requalificação de grandes zonas em áreas já consolidadas. Questões de mobilidade, habitação social e patrimônio histórico exigem debates constantes de especialistas e órgãos governamentais.
“O primeiro passo é conhecer em profundidade o que ali existe, permitindo uma leitura adequada da área, identificando suas necessidades e possibilidades, para ser possível a definição de estratégias de intervenção que garantam a desejável qualidade do resultado”, ressalta.
A região, antes uma potente zona industrial, ligada ao principal acesso à cidade e muito próxima ao centro urbano, atualmente se encontra abandonada. A área sofreu com o abandono das fábricas e com o afastamento gradativo de residentes, e por conta disso, Figueira comenta que o 4º Distrito clama por mudança.
Atualmente há um processo espontâneo promovidos por pequenos empresários que apostam no lugar por sua história, patrimônio e localização. Muitos negócios e iniciativas nos últimos anos estão retomando a qualidade da região, como o Hostel Boutique, o Centro Cultural Vila Flores e, mais recentemente, diversos novos bares. Dentro deste contexto, a pesquisadora da PUCRS acredita que as possibilidades de intervenção devem atuar pela reabilitação e requalificação urbana do 4.º Distrito.
“Entende-se que seria necessário para Porto Alegre estimular exemplos que permitam combinar propriedades urbanas dentro de um projeto que reconheça sua capacidade de reabilitação e requalificação, favorecendo sua preservação e integração à vida urbana, em novas dinâmicas. Somando as ações, torna-se possível realizar melhores transformações e desenvolvimento local”, destaca a pesquisadora.
Em 2017, os estudos produzidos para pesquisa resultaram na participação do maior concurso universitário de urbanismo do Brasil, o Urban 21, sendo a proposta apresentada intitulada Reconhecer: olhar o urbano através do detalhe a vencedora da 3.ª edição do concurso. O trabalho foi realizado em conjunto com alunos da Escola Politécnica, Francine Franco, Carol Solaro, Lucas Gomes, Eduarda Rossato, Aloisio Gianesini Junior, Barbara Remussi, Ricardo Rossi e Gustavo Franco. O objetivo da premiação é incentivar e mobilizar os estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo a pensar novas possibilidades sobre transporte, acessibilidade, densidade urbana, geração de energia e outros assuntos relacionados para construir cidades mais vivas e saudáveis.
Atualmente, através da integração dos professores Caroline Kuhn e Jaime Federice, da Escola Politécnica, a pesquisa investiga em profundidade o território, georreferenciando as informações e buscando equações de análise que evidenciem os valores da região. Entende-se que o material produzido possa ser base para traçar novas possibilidades de desenho urbano para o 4.º Distrito em diferentes aspectos como mobilidade, arquitetura e sustentabilidade social.
A professora salienta que, dada a extensão da área analisada, foram fundamentais a integração de estudantes através de diferentes projetos que promoveram conhecimento de softwares e sua aplicação no território.
Em etapa de finalização, o artigo Metodologia para reconhecimento de áreas de renovação e requalificação em zonas urbanas com tecido histórico. Aplicação em região industrial obsoleta do 4°distrito de Porto Alegre, RS apresentará cenários possíveis que envolvem questões de requalificação e renovação do território. As propostas se dão a partir do patrimônio existente da região, sem demolir ou apagar a história presente na área, com o discurso de vislumbrar o futuro, aprender com o passado e valorizar a memória urbana da cidade.
Esta etapa de recopilação e revisão envolve também os bolsistas de Iniciação Científica Fernando Feitoza e Carolina Rogatti, que estão engajados com o desafio que envolve estudo analítico para o planejamento urbano.
“É de extrema importância a discussão sobre a noção de patrimônio, o valor do espaço construído e a complexidade de gerência de sua preservação, especialmente quando envolve propriedade privada para realmente não desenvolvermos cidades a partir da destruição”, destacaram os pesquisadores na apresentação do projeto.
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