O professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS Roberto Esser dos Reis recebeu na última semana o prêmio Robert H. Gibbs Jr. Memorial Award for Excellence in Systematic Ichthyology, considerado o prêmio de maior prestígio da ictiologia mundial, ramo da zoologia dedicado ao estudo dos peixes. A premiação foi oferecida pela Sociedade Americana de Ictiologia e Herpetologia (ASIH).
Reis é o terceiro brasileiro a receber o reconhecimento, que desde a sua criação já agraciou 33 pesquisadores. “Todos os premiados antes de mim são expoentes mundiais nas suas áreas e figuras muito importantes na ciência mundial, fico extremamente honrado de estar listado entre eles”, celebra o pesquisador.
Na cerimônia de premiação, que aconteceu de forma online, o presidente da comissão julgadora evidenciou a importante contribuição científica e o alto impacto das pesquisas do professor da PUCRS, destacando os 165 artigos publicados e a descoberta de 129 novas espécies de peixes.
“Ressalto que as excelentes condições de pesquisa proporcionadas pela PUCRS e pelo Museu de Ciências e Tecnologia e a qualidade do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade tiveram um papel fundamental no sucesso da minha carreira de pesquisador”, comenta Reis.
Os peixes representam o maior grupo de vertebrados na Terra, com mais espécies do que anfíbios, répteis, aves e mamíferos somados. Existem cerca de 34 mil espécies de peixes, sendo metade de água doce. Na América do Sul, atualmente, existem cerca de 6.200 espécies de peixes de água doce conhecidas, mas a estimativa é que o número chegue a nove mil. “Descobrir essa biodiversidade é muito importante para conhecer os recursos que temos e que precisam ser preservados. Além disso, peixes nos oferecem muitos serviços, como esporte, lazer, aquarismo e, especialmente, alimento”, destaca o professor.
De acordo com Reis, muitas das 129 espécies descobertas durante suas pesquisas foram encontradas no interior da Amazônia, enquanto outras foram registradas em riachos próximos de Porto Alegre. “A parte mais estimulante e aventureira da ictiologia sistemática é o campo, quando participamos de expedições aos locais mais remotos para coletar peixes. Cerca de um terço das espécies de peixes do nosso continente ainda são desconhecidas, e um conhecimento muito detalhado das espécies existentes é necessário para detectar uma espécie nova. Hoje em dia usamos muitas técnicas morfológicas (como estudo de esqueleto e morfologia externa) e moleculares (sequenciamento e comparação de DNA) para delimitar as espécies”, explica.
Reis aponta que a alteração do meio ambiente, especialmente a derrubada das florestas e a degradação do Cerrado, é a principal causa de ameaça para muitas espécies de peixes e, ao mesmo tempo, a principal causa das mudanças climáticas:
“Ao longo dos últimos 40 anos, meu tempo de ictiologia, notei com muita clareza a diminuição da quantidade de peixes em muitos rios do País. Além disso, houve o desaparecimento de muitos riachos e nascentes que antes tinham peixes e hoje não existem, o aparecimento de muitas espécies exóticas (especialmente da Ásia e da África) que foram introduzidas nas nossas águas e a poluição acelerada de algumas regiões”.
O pesquisador ainda ressalta que as usinas hidrelétricas também representam uma ameaça aos peixes de água doce. Reis explica que a transformação de partes de um rio dinâmico em um lago barra o caminho da piracema (migração reprodutiva) dos grandes peixes da América do Sul. “A regulação do regime hídrico dos rios, desregulando os pulsos de cheia e vazante que são fundamentais na reprodução dos peixes, altera profundamente a composição da comunidade de peixes”, alerta o professor.
Roberto Esser dos Reis possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestrado em Zoologia pela PUCRS e doutorado em Zoologia pela Universidade de São Paulo (USP). Tem pós-doutorado na University of Michigan e na University of Central Florida, em Orlando.
É professor na Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS e Regional Chair para a América do Sul do Freshwater Fish Specialist Group da União Internacional para a Conservação da Naturez e Wetlands International. Fundador e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Ictiologia, possui experiência na área de ictiologia, principalmente na descoberta, documentação e descrição da biodiversidade, o estudo das suas relações filogenéticas e a conservação dos peixes de água doce.