Pesquisa

Pesquisador explica os diferentes tipos de testes para Covid-19

quarta-feira, 15 de julho | 2020

Inteligência Artificial ajuda a estimar quantos leitos são necessários na pandemia - Pesquisadores da PUCRS desenvolvem tecnologia que pode ajudar na avaliação e nas ações dos órgãos de saúde

Foto: Unsplash

Diante de um cenário de incertezas sobre a pandemia do novo coronavírus, a testagem de indivíduos e de uma possível vacina para a doença se tornam uma esperança na área da saúde. Existem dois exames diferentes para a detecção da SARS-CoV-2: os testes sorológicos (aqueles que utilizam sangue) e os testes moleculares (aqueles que obtêm o material da mucosa do nariz e da garganta).

Resumidamente, os testes sorológicos identificam os anticorpos produzidos pelo próprio paciente contra o vírus que o infectou, já os testes moleculares reconhecem a presença do material genético do vírus diretamente nas vias aéreas superiores das pessoas infectadas. Confira a explicação de Daniel Marinowic, pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) e professor da Escola de Medicina da PUCRS.

Testes Sorológicos

Os testes sorológicos se destinam a identificar se um indivíduo já teve contato com algum antígeno (substância estranha ao organismo) e estão sendo utilizados como alternativa aos testes moleculares, principalmente em infecções agudas. Esse tipo de teste é de fácil manuseio e obtém resultados rápidos, porém, existem muitas incertezas em relação a sua precisão.

Atualmente, existem três tipos de testes sorológicos: os ensaios ELISA, os ensaios de quimioluminescência e os ensaios fluxo lateral, conhecidos como testes rápidos. Os dois primeiros geralmente são realizados em laboratórios, pois exigem equipamentos específicos para leitura dos resultados; enquanto os testes rápidos podem ser utilizados em qualquer local.

Em uma revisão com 40 estudos sobre essas metodologias foram identificados fatores que podem influenciar nos resultados dos testes, pela sensibilidade. As variações acontecem de acordo com o ambiente e o tipo de kit utilizado. Os ensaios ELISA e de quimioluminescência são considerados promissores, com uma média de especificidade (capacidade de diagnosticar corretamente pessoas saudáveis) de 96,6%. Os testes rápidos também apresentaram um bom desempenho, mas alguns têm especificidade de apenas 80%.

Os testes rápidos são os mais preocupantes quando falamos de sensibilidade. Alguns ensaios apresentaram sensibilidade de apenas 21% para detecção da imunoglobulina M (IgM), 41% para imunoglobulina G (IgG) e 47% para testes combinados (ambas as imunoglobulinas)

Testes moleculares

Os testes moleculares também apresentam grandes desafios para contemplar o diagnóstico do novo coronavírus, particularmente envolvendo o equilíbrio entre diversas etapas necessárias para o bom desempenho da técnica. O diagnóstico pela técnica conhecida como PCR (Polymerase Chain Reaction) consiste em coletar pequenas frações do vírus, gerar cópias de diferentes regiões e detectar a emissão de um sinal relativo à geração das cópias dessas partículas virais. Chegando assim a um diagnóstico de “detectado” ou “não detectado” para o novo coronavírus.

Essa técnica não observa a resposta do organismo à infecção, mas sim a presença do vírus na mucosa do indivíduo testado. O PCR necessita de cuidados pontuais a fim de evitar resultados inconsistentes, e precisa considerar alguns pontos importantes, que são:

  • Detectar pequenas moléculas virais para reduzir os casos de falsos negativos;
  • Diferenciar o sinal positivo de outros possíveis contaminantes virais (principalmente respiratórios);
  • Poder ser aplicado em larga escala e com entrega dinâmica de resultados.

Pesquisadores da PUCRS desenvolvem novo teste para coronavírus - Alternativa de exame possibilita diminuir custos e ter resultados mais rápidos,pesquia

Novo teste para Covid-19 / Foto: Divulgação/InsCer

Estudos utilizando dados da infecção por SASR-CoV-1 apresentaram que a sensibilidade foi superior no PCR quando comparado aos testes sorológicos. Existem diferentes metodologias nesse caso:

  • Uma delas é chamada de one step (um passo), que consiste em adicionar o material coletado diretamente no processo de análise, reduzindo o tempo e possíveis contaminações pela menor exposição da amostra;
  • Outra é a two steps (dois passos), que adiciona uma etapa prévia ao processo de análise e pré-amplifica a amostra. Essa técnica desprende mais tempo, porém pode agregar sensibilidade ao teste.

O teste desenvolvido pelo InsCer contempla essas duas metodologias, pois inicialmente faz uma triagem utilizando two steps com intercalantes fluorescentes e, após, aplica a one step com sondas nas amostras positivas detectadas na primeira etapa.

Precisão do teste PCR

Atualmente, se tem falado sobre os falsos negativos da técnica de PCR. Porém, esse risco não está associado à técnica em si, mas sim à uma série de cuidados necessários durante a testagem:

  • Tempo de coleta: Para a detecção das partículas virais na mucosa naso/orofaríngea de pacientes, é necessário estar em uma fase bastante ativa da infeção (aproximadamente de 3 a 6 dias após o aparecimento dos sintomas). Em pacientes com sintomas, coletas muito precoces ou tardias, podem gerar falsos resultados negativos. Infecções atípicas ou alteração no curso dos sintomas também podem dificultar a assertividade da coleta.
  • Qualidade da amostra: a coleta bem realizada é o ponto de partida para um exame de qualidade. É necessária uma equipe qualificada em contínuo treinamento.
  • Tipo de amostra: cada amostra carrega diferentes quantidades de partículas virais. A mais assertiva para um teste de PCR é o lavado brônquio alveolar, porém, só é possível esse tipo de coleta em pacientes internados sob intubação endotraqueal. O escarro induzido também é uma ótima fonte de coleta, além do uso de cotonetes na nasofaringe.

*Texto adaptado do artigo originalmente publicado no site do InsCer.