Estamos nos aproximando de mais um final de ano, que descortina um novo que ainda aguarda para nascer. Tanto o Natal quanto o ano-novo se complementam como tempo de espera e de esperança. Não celebramos propriamente um nascimento, tampouco um retorno no tempo, como espécie de um passado de inocência que não volta, um romantismo que busca seu alento no consumo de muitas coisas superficiais ou uma forma de compensação para minimizar a ansiedade.
O Natal, na verdade, é a festa da proximidade de Deus, desde a fragilidade e despojamento de uma criança, que se manifesta como cuidado e delicadeza para conosco, humanos. Emerge a consciência de que também nós somos seres frágeis, como o crepúsculo matutino escurecido pelas nuvens das nossas decepções e fracassos. Nossa humanidade é vestida de fragilidade e a levamos em nossas rugas e nos sinais de nossas limitações…
A única coisa que podemos tomar como certeza é de que tudo muda. Nossas necessidades básicas, no entanto, continuam as mesmas: de pertencer, de estar próximo, de ser cuidado e querido, e de um pouco de amor! O ser humano é, por sua natureza e essência, um ser de cuidado. Sente a predisposição de cuidar e a necessidade de ser, ele também, cuidado. O mesmo acontece com o amor. Todos necessitamos amar e sermos amados. O cuidado somente surge quando a existência de alguém tem importância para mim e eu me disponho a participar de seu destino, de suas buscas, de seus sofrimentos e de suas conquistas.
Cuidar significa, então, desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção, bom trato. Não habitamos o mundo apenas pelo nosso trabalho, onde interagimos e intervimos, tornando nosso modo de viver mais cômodo, adaptando o meio ao nosso desejo e conformando nosso desejo ao meio. Somos no mundo também pelo cuidado, que confere ao nosso trabalho uma modalidade diferente. Pelo cuidado, deixamos de ver como objetos a natureza e tudo que nela existe. A relação passa a ser de convivência e não de domínio, de comunhão e não de pura intervenção.
O grande desafio para o ser humano é combinar trabalho e cuidado. Eles não se opõem, mas se compõem. Dois terços da humanidade, na verdade, são condenadas a uma vida insustentável. Perdeu-se a visão do ser humano como ser-de-relações ilimitadas, ser de criatividade, de ternura, de cuidado, de espiritualidade, portador de um projeto sagrado e infinito.
O Natal e o novo ano se descortinam como proposta e promessa. Podem ser um convite para nos voltarmos para nós mesmos e descobrir nosso modo de ser-cuidado. Desacelerar para cuidar melhor… talvez seja disso que precisemos.