Ensino

Elas valorizam a educação

terça-feira, 08 de março | 2022

Adriana Kampff

Pró-Reitora de Graduação e Educação Continuada da PUCRS, Adriana Kampff destaca a importância da educação para o protagonismo das mulheres na sociedade / Foto: Bruno Todeschini

O Dia Internacional da Mulher foi oficializado pela Organização das Nações Unidas em 1975. Sua origem remonta ao início do século 20, e a data hoje simboliza a luta das mulheres para terem suas condições equiparadas às dos homens no que diz respeito à desigualdade salarial, além do combate ao machismo e à violência.

Sabemos o quanto essa luta pelo protagonismo feminino na sociedade ainda precisa ganhar força em diversas esferas e uma delas é a educação. Para a Pró-Reitora de Graduação e Educação Continuada da PUCRS, Adriana Kampff, a educação deve ser trabalhada como um dos fatores que vai motivar as meninas, adolescentes e mulheres a seguirem buscando seus espaços de protagonismo na sociedade.

“A educação transforma realidades individuais, mas, sobretudo, transforma sociedades. O mundo ainda é marcado por grandes desigualdades de gênero, restringindo, em muitas culturas, as possibilidades de desenvolvimento e atuação feminina. Felizmente, no Brasil, a educação tem criado espaços igualitários de desenvolvimento e, progressivamente, barreiras culturais antiquadas e sem razão de ser têm sido derrubadas. Hoje, nos cursos de graduação, predominam as pessoas do sexo feminino”, destaca.

Nessa mesma linha, o Papa Francisco traz a temática como um dos pontos de atenção do Pacto Educativo Global: favorecer a plena participação das meninas e adolescentes na formação integral. A partir de tantas realidades de discriminação, violência contra a mulher e falta de oportunidades, o Papa reforçou em sua mensagem enviada para o Fórum das Mulheres, em 2021, em Milão, o quanto a educação pode ser o fio condutor que irá oportunizar uma sociedade em que as mulheres possam se desenvolver plenamente. Segundo a mensagem do pontífice, as meninas e jovens de todos os países devem receber uma formação de qualidade: “de modo que possam desenvolver o próprio potencial e os próprios talentos e fazer a sua parte para o progresso de sociedades coesas”, afirmou.

Enquanto maristas, também acreditamos que a educação é uma forma de oportunizar um futuro mais digno e justo para as mulheres. Somos uma instituição que gera oportunidades para as meninas, jovens e mulheres que estão em nossos espaços.

Dia da MulherNo ensino básico, a Rede Marista tem 49,36% de estudantes e educandas matriculadas em nossos Colégios e Unidades Sociais. Na PUCRS, o número de mulheres na graduação era de 48,9% no segundo semestre de 2021. Ampliando o olhar para o quadro de colaboradoras em nível de Brasil Marista, composto por mais duas unidades administrativas além da nossa, há 63,1% de mulheres empregadas em nossa missão, totalizando mais de 17 mil postos de trabalho.

A educação como motivadora de protagonismo

No cenário da educação superior e do mercado de trabalho, ainda é preciso romper a barreira de termos mais mulheres graduadas, porém nem sempre são elas que conquistam as vagas de emprego. É o que destaca o relatório Education at Glance de 2019, que aponta como pistas delineadas para explicar essas disparidades as áreas do conhecimento escolhidas e respectivas empregabilidades e rendas diferentes, a progressão de carreira, os tipos de contratos estabelecidos e os impactos da vida familiar na ascensão profissional.

“Na medida em que as mulheres têm maior escolarização, se tornam mais independentes, planejam suas carreiras e suas famílias”, comenta Adriana Kampff. “Em espaços que eram antes predominantemente ocupados por homens, como a pesquisa, a gestão e a política, o número de mulheres cresce a cada dia. Ainda há espaço para crescimento em muitas áreas de atuação, o que, na minha opinião, é só uma questão de tempo”, afirma.

O espaço feminino na pesquisa

Na área de pesquisa, a presença feminina teve um avanço nos últimos anos nas mais variadas áreas do conhecimento. Mesmo assim, os dados mundiais apresentados pela Unesco, em 2020, apontam que apenas 30% dos cientistas são mulheres.

Para a coordenadora do Centro de Pesquisa e Investigação Clínica do Instituto do Cérebro (InsCer), Magda Lahorgue Nunes, esse cenário continua sendo um reflexo do período em que as mulheres só tinham espaço de trabalho e formação em outras áreas distintas do ramo científico.

“A ciência é uma área que necessita de uma dedicação muito grande, em tempo integral: pesquisar, procurar recursos, orientar alunos, dar aula, publicar. A questão da dupla jornada a que as mulheres ainda são expostas como cuidar da casa, dos filhos, são barreiras que impedem a dedicação exclusiva”, avalia.

Segundo ela, a presença feminina no ambiente de pesquisa traz diversidade de olhares para a academia, e os benefícios são imensuráveis. Quando reflete sobre os desafios, mais do que as questões de equidade de oportunidades para as mulheres, nesse espaço, a falta de incentivos para a realização de estudos é o que mais preocupa: “precisamos de editais, de bolsas e de auxílio para poder colocar as nossas ideias de pesquisa em práticas e transformar isso em resultados para o bem da população em geral, não só em saúde, mas em todas as áreas que abrangem as ciências”, avalia.

jenniffer bittencourt, mulheres na computação

Jenniffer Bittencourt ingressou na graduação em Ciência da Computação através do programa de incentivo da PUCRS e Poatek / Foto: Luciana Marques

Como uma forma de incentivar o protagonismo feminino na ciência, a PUCRS desenvolve diferentes atividades, conheça algumas delas neste link. Entre esses projetos, está o Programa Mulheres na Computação, uma parceria entre a Universidade e a empresa Poatek.

Com o projeto, as estudantes recebem uma bolsa de estágio nos grupos de pesquisa e orientação de professores do PPG em Ciência da Computação. Atualmente, cinco meninas participam do programa e têm acesso à área de pesquisa, trabalham com estudantes de mestrado e doutorado e participam de publicações, desenvolvimentos avançados e inovadores.

Para Jenniffer Bittencourt, de 24 anos, participar do programa é uma oportunidade de realizar seus sonhos e inspirar outras meninas. “Quando fiquei sabendo do projeto, achei a ideia super incrível, primeiro por ser uma bolsa 100% gratuita, segundo por ser apenas para mulheres. As pessoas têm em mente que a área da tecnologia é feita apenas por homens. Quando comecei a participar das etapas e vi o tanto de mulheres inscritas fiquei muito feliz!”, relata.

O desejo da estudante é que oportunidades como essa se multipliquem e que outras mulheres também se empoderem por meio do conhecimento.

Pretendo sempre ser uma inspiração para as novas gurias que estão entrando e queria dizer para todas que têm esse sonho que a área de exatas não é uma área para homens ou feita por homens, é uma área na qual nós somos cada vez mais protagonistas, nós também conseguimos e vamos além, levamos outras mulheres conosco”, avalia Jenniffer.

O que elas sonham para o futuro

Nossas estudantes e educandas sonham com uma sociedade que valorize as juventudes em sua integralidade e abram oportunidades para que meninas e meninos sejam protagonistas do seu futuro.

Na pesquisa Vamos falar sobre Ensino Médio?, as estudantes reforçam como se sentem vivendo a sua juventude em nosso contexto social. “Às vezes, as pessoas acham que, por sermos jovens adolescentes, a gente é menos gente que as pessoas adultas. Tem também aquela visão de que temos que aproveitar agora porque no futuro não vai dar. Mas, sabe, a gente tem que ter uma ideia de que vai dar e que, se tudo der certo, você vai poder aproveitar durante a vida inteira”, avalia uma das participantes da pesquisa.

Para elas, a convivência com as educadoras é uma forma de inspiração para traçar os seus próprios projetos de vida. “Tem alguns professores que eu vejo como imagem, como eu quero ser, como a professora de biologia. Eu quero ser essa mulher quando crescer”, avalia.

O mesmo sentimento é reforçado pelas famílias quando pensam em formas de contribuir para a formação integral das meninas. “Precisamos oferecer um ambiente seguro, acolhedor, em que elas tenham exemplos de mulheres reais e, acima de tudo, saibam que ser mulher não é um fator limitante de suas potencialidades”, avalia Karina Agra, mãe de estudante marista.

Iniciativas para celebrar o Dia Internacional da Mulher

Sendo a educação a nossa principal missão, a celebração do Dia Internacional da Mulher também está ancorada em ações que ofereçam formação e qualificação para elas.

No dia 8, às 11h, o Parque Científico e Tecnológico da PUCRS promove o Tecnopuc Talks com o tema Ciência&Negócios: existe um segredo para trilhar este caminho?

No bate-papo, quatro painelistas irão dialogar sobre suas trajetórias como cientistas e empreendedoras com a mediação da Pró-Reitora de Graduação e Educação Continuada da PUCRS, Adriana Kampff. O evento será híbrido: online, com transmissão ao vivo no Youtube da PUCRS, e presencial, com número restrito de participantes. Saiba mais no link de inscrição.