O que antes era uma subárea da Ciência da Computação se transformou em algo muito maior: hoje, a Inteligência Artificial é uma alternativa moderna de programar — ou ensinar — computadores de maneira mais simples e automatizada. Mas como isso impacta o futuro profissional da sociedade?
Com treinamentos sucessivos, as máquinas conseguem aprender sozinhas o objetivo principal de determinado comando: desde interpretar informações básicas de um exame médico até dirigir um carro ou realizar análises comportamentais ou preditivas. O que fazer, então, para se preparar?
Todas essas dúvidas são muito comuns e, de acordo com Daniel Callegari, coordenador do Curso de Ciência de Dados e Inteligência Artificial da Escola Politécnica da PUCRS, é natural que o ser humano tenha um certo medo do desconhecido.
De acordo com um estudo realizado pela Microsoft, 5 em cada 10 pessoas estão preocupadas em perderem suas funções atuais para ferramentas e soluções que utilizam Inteligência Artificial. Afinal, para o grande público, essa tecnologia ainda é desconhecida, o que torna essa desconfiança natural.
No entanto, segundo Daniel Callegari, existem algumas razões para isso: a falta de contato com essas ferramentas e, para quem utiliza essas soluções, as dúvidas que ficam do quanto é possível confiar 100% ou não nos resultados apresentados. Para ele, o impacto da IA tem um direcionamento mais específico:
“Vejo que as atividades mais repetitivas, sendo elas simples ou mais complexas, têm grandes chances de serem realizadas quase que exclusivamente por máquinas. Historicamente sempre foi assim, da máquina a vapor, aos motores elétricos, por exemplo. O que temos agora, portanto, é um novo patamar de automação que está sendo alcançado. A humanidade chegou em um novo ponto de inflexão no seu desenvolvimento”.
Para entender melhor qual pode ser o impacto da IA em algumas carreiras, pode-se considerar alguns fatores
Ou seja, é esperado um impacto da Inteligência Artificial em diversas carreiras, mas isso não significa apenas o fim de certas funções. Segundo o mesmo estudo da Microsoft, mais de 75% das empresas querem incorporar soluções com IA em suas operações, o que exige algumas profissões, como engenheiros de prompt.
Antes de falar especificamente de uma profissão ou outra, é necessário entender o cenário atual no que diz respeito ao uso de Inteligência Artificial. Tanto por parte da academia quanto por parte da indústria, o grau de investimento tem crescido consideravelmente nos últimos anos.
De acordo com o professor Daniel Callegari, o volume de investimento em IA tem crescido exponencialmente nos últimos 10 anos — embora em 2022 pareça ter atingido um certo patamar, segundo dados do Artificial Intelligence Index Report de 2023.
Curiosamente, o maior volume de publicações científicas nos últimos anos na área advém do extremo oriente. Chineses estão entre aqueles que mais se sentem receptivos a produtos e serviços de IA (78%), ao contrário dos norte-americanos (35%), por exemplo.
Do ponto de vista técnico, a expansão da qualidade dos modelos de IA tem crescido exponencialmente. No entanto, o professor destaca que é preciso separar aquilo que é “hype” do que é realidade em aplicações práticas.
“É exatamente por isso que muitos gestores ainda estão relutantes sobre o uso da IA, embora realizem muita experimentação. Portanto, ainda há uma disputa entre a aceitação e a resistência sobre o uso da IA em alguns campos, especialmente quando envolve lidar com questões éticas e com vieses dos modelos”.
Segundo um levantamento feito pela Goldman Sachs, quase 20% do trabalho realizado em todo o mundo podem ser informatizados, ou seja, substituídos pelo uso da Inteligência Artificial. E a tendência é que isso tenha um impacto maior inicialmente em economias mais avançadas.
Dentro de todo esse cenário, é natural que algumas dúvidas apareçam, não é mesmo? Mas os estudos mostram que é natural a Inteligência Artificial estar presente no dia a dia da sociedade, independentemente do setor no qual você atua ou região onde mora.
Para Daniel, trata-se de um caminho sem volta e, por isso, é necessário que o profissional acompanhe e, principalmente, experimente a IA no seu dia a dia.
“Em especial, recomendo prestar mais atenção à IA generativa, aquela capaz de produzir imagens, sons, textos, resumos, designs para protótipos e assim por diante. Em particular, creio que a área do direito e a área da saúde serão rapidamente tomados pelo uso desse tipo de solução”.
Além disso, o professor destaca alguns outros elementos, como veremos a seguir.
Deve-se tomar cuidado com falsas promessas de cursos rápidos que, muitas vezes, têm o foco no mero uso de ferramentas ou scripts de programação. A baixa qualificação será substituída pela máquina, portanto, para manter-se relevante e realmente agregar valor ao seu trabalho, sempre de maneira ética, o profissional deve compreender profundamente a ciência, a técnica e, inclusive, os seus limites.
Assim como já foi aprender um novo idioma, deve-se estimular o uso, a experimentação e a avaliação dos resultados. Pensamento crítico, aqui, é fundamental. Para além dos benefícios, é necessário atentar-se para o uso ético e transparente dessas tecnologias, garantindo a qualidade dos dados de treinamento dos modelos e no cuidado com a interpretação dos resultados fornecidos por qualquer sistema de IA. E é aqui que as pessoas são mais valiosas.
Por fim, provavelmente será necessário haver algum tipo de regulamentação no uso da IA, especialmente para os casos com maior impacto para a população.
Com todos esses dados, algumas alternativas aparecem para quem quer se atualizar sobre o assunto. E, como destaca Daniel Callegari, o estudo e o uso de Inteligência Artificial é multidisciplinar, o que reforça a importância de considerar a qualificação sobre esse tema, independentemente da área de atuação.
“Um curso pode ser um grande diferencial para quem pretende, por exemplo, fazer parte de equipes que trabalham na identificação de genes associados a determinadas doenças; atuar com segurança e identificação de pessoas; lidar com inteligência de marketing para ajudar na identificação de nichos de mercado; aplicar-se na prevenção de desastres; e trabalhar na automação de tarefas em um escritório jurídico”.
Tanto o mercado de pós-graduação, quanto o de mestrado ou doutorado já abarcam, hoje, estudos em IA. Para a graduação, há também o curso de bacharelado em Ciência de Dados e Inteligência Artificial da PUCRS. Lançado em 2021, é pioneiro na área e o único presencial no Sul do Brasil.
O objetivo é proporcionar aos alunos uma base sólida sobre os fundamentos matemáticos, estatísticos e computacionais necessários para uma atuação de sucesso na área, em conjunto com os conhecimentos mais modernos sobre os modelos e as técnicas de ciência de dados e inteligência artificial.
“Nossa intenção é formar profissionais aptos a exercer múltiplas atividades, atuando como cientistas de dados, engenheiros ou arquitetos de dados, engenheiros de IA e Machine Learning, analistas de inteligência de mercado, entre outras possibilidades. Nosso curso também tem atraído profissionais formados em outras áreas (por exemplo, médicos e economistas). Eles obterão, assim, uma segunda graduação. Isso é um fenômeno interessante porque demonstra o quão multidisciplinar a sua utilidade e a sua aplicação podem ser”.
O professor lembra que a IA também é estudada de forma tangencial em diversos outros cursos da PUCRS, como nos demais cursos da computação (Ciência da Computação, Sistemas de Informação, Engenharia da Computação e Engenharia de Software). Até mesmo os cursos da área de ciências humanas vêm tratando do tema nos seus currículos.
As possibilidades com Inteligência Artificial se estendem a todas as áreas, da linguística ao Agronegócio, da Odontologia à prospecção de petróleo. O primeiro passo, portanto, é conhecer mais sobre essa tecnologia e se preparar para o futuro em que a IA faz parte do cotidiano.