No dia 7 de junho de 1977, em plena ditadura militar, durante o governo do general Ernesto Geisel, cerca de três mil jornalistas assinaram um manifesto pela liberdade de imprensa. A data ficou marcada como o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, em um ato corajoso da categoria de enfrentamento aos censores que atuavam nas redações dos jornais na época. Atualmente, a organização não governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou que o Brasil subiu 18 lugares no ranking mundial de liberdade de imprensa.
Na PUCRS, pesquisadores da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) desenvolvem estudos para compreender o papel da imprensa ao longo da história do Brasil. O recém-doutor no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social pela Universidade, Otávio Daros, apresentou sua tese sobre a história da historiografia da imprensa e do jornalismo no Brasil do século 19 ao 21, com a orientação do pesquisador Antonio Carlos Hohlfeldt.
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Em suas pesquisas, Daros evidenciou que o conceito de imprensa é variável e o papel do jornalista e dos grandes veículos foi visto de diferentes formas em cada época. Conforme o pesquisador, a imprensa tem desempenhado um papel chave no processo de reestabelecimento e amadurecimento do regime democrático no Brasil, desde o fim da ditadura militar.
“Enquanto instituição de caráter público, a imprensa atua no sentido de formação da opinião pública. Se entendermos a informação como direito público e a imprensa como meio de produção e difusão, seu papel é de relevância maior no fortalecimento da democracia”, destaca.
O professor e pesquisador Antonio Hohlfeldt é especialista nas áreas de Teoria da Comunicação e História do Jornalismo, atuando principalmente nos seguintes temas: artes cênicas, criação dramática, teoria e história do jornalismo, comunicação social e teoria da comunicação. O docente explicou no capítulo Perspectivas e desafios para compor uma história da imprensa do livro Imprensa & Sociedade brasileira que a prática jornalística no Brasil foi influenciada diretamente pela história e as mudanças culturais do país.
O docente resgata desde a criação da imprensa no país, com a Gazeta do Rio de Janeiro e o surgimento do Correio Braziliense, em 1808, para exemplificar que existem diferentes práticas jornalísticas. Hohfeldt conta que desde o surgimento da imprensa no Brasil, já existiam dois modelos diferentes e complementares: o jornalismo enquanto publicidade e ilustração; e o jornalismo enquanto expressão literária e política.
O pesquisador também conta que fatos históricos como a abdicação de Dom Pedro I, em 1831, influenciaram a história do jornalismo no país. A imprensa passou a atuar com um jornalismo intenso, do ponto de vista quantitativo e variado. Em seguida, o desenvolvimento industrial e a influência da imprensa europeia e norte-americana permitiram o surgimento de jornais-empresas.
Outros fatores elencados por Hohfeldt foram o crescimento das cidades, a evolução educacional e a diversidades de público que permitiram a segmentação do jornalismo para perfis de leitores variados. Neste processo de desenvolvimento do jornalismo no Brasil, o pesquisador também destaca o surgimento da televisão (nos anos 1950), a expansão do rádio com a onda curta e o FM (anos 1960) e o aparecimento da internet (anos 1990), que criaram fortes áreas de atrito e de competição com a imprensa.
Daros analisou em sua tese os diferentes papéis atribuídos à imprensa ao longo dos últimos dois séculos. O aluno da Famecos evidenciou que no Brasil, durante o Império até a Primeira República, houve consenso de que a imprensa deveria servir como um meio de instrução pública. Já entre as ditaduras do Estado Novo e do Regime Militar, o entendimento foi outro e a imprensa virou, muitas vezes, sinônimo de manipulação. Em seguida, com a redemocratização, outros modos de pensar o fenômeno passaram a ser privilegiados, tal como sua função enquanto instituição mediadora do debate público.
“Estas mudanças ao longo dos anos ajudaram ao desenvolvimento do jornalismo: se, em algum momento, a variedade de meios de comunicação gerou a preocupação com o furo e a rapidez da informação, logo devolveram tais práticas ao que é essencial ao jornalismo: veracidade e, por consequência, credibilidade”, finalizou Hohfeldt.
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