Pesquisa

A expansão do bullying virtual

segunda-feira, 21 de março | 2016

cyberbullying

Foto: Arquivo – Ascom/PUCRS

Cyberbullying: comportamento agressivo, intencional e repetitivo que é realizado por meios eletrônicos por um agressor ou um grupo de agressores contra uma vítima que apresenta dificuldade em se defender. É assim que Caroline Mallmann, psicóloga e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Humanidades da PUCRS, define a palavra que norteou sua dissertação de mestrado. O trabalho foi orientado pela professora Carolina Lisboa, coordenadora do grupo de pesquisa Relações Interpessoais e Violência: Contextos Clínicos, Sociais, Educativos e Virtuais (Rivi), e teve como tema Cyberbullying, estratégias de coping e esquemas iniciais desadaptativos em adolescentes. No estudo, que envolveu 273 jovens entre 13 e 18 anos, Caroline constatou que 58% destes já haviam vivenciado a situação.

Responderam à pesquisa 133 meninas e 140 meninos. As adolescentes que afirmaram já terem participado de situações de cyberbullying somam 64,7%, número superior ao dos meninos, que totalizam 51,4%. Mas nem todos são apenas vítimas. A psicóloga esclarece que existem três papéis nos episódios de bullying virtual. Os envolvidos podem ser vítimas, agressores ou vítimas-agressores. Do total de adolescentes analisados, 35% integram o terceiro grupo, 13% são vítimas e 10% são agressores. Para a terapeuta, este número traduz a dificuldade das pessoas em admitir que fizeram algo errado. Além disso, o grupo de vítimas e vítimas-agressores utilizam a estratégia de fuga. “Eles tentam não pensar na situação e fazem outras coisas, como dormir demais, comer excessivamente e utilizar drogas”, exemplifica. Caroline também identificou que as vítimas-agressores são mais velhas do que os não envolvidos. Eles têm uma média de 15 anos, enquanto os jovens que não participaram têm, em média, 14 anos.

Cyberbullying - moça olhando monitor

Foto: Arquivo – Ascom/PUCRS

Metodologia de pesquisa

Para reunir dados conclusivos, ela visitou três escolas públicas, duas em Porto Alegre e uma em Taquari, município localizado a 100 km da Capital. Como diz o título da tese, a pesquisadora utilizou as estratégias de coping e esquemas iniciais desadaptativos para estudar o cyberbullying. Coping é uma técnica utilizada pelo ser humano para lidar com situações difíceis. Esquemas iniciais desadaptativos são padrões de interpretação e de processamento de eventos e informações que revelam a imagem que as pessoas têm de si mesmas e dos outros. “É um padrão rígido, distorcido, generalizado e acaba causando sofrimento para o indivíduo”, diz a psicóloga.

Dentro desse conceito de esquemas iniciais desadaptativos, Caroline trabalhou com definições do autor norte-americano Jeffrey Young. Ele divide os esquemas em cinco domínios principais: desconexão e rejeição (medo de ser abandonado e sentimento de inferioridade); autonomia prejudicada (sentimento de incapacidade de vencer os desafios do dia a dia); limites prejudicados (dificuldade com o cumprimento de regras); direcionamento ao outro (indivíduos que priorizam as necessidades do próximo em detrimento das próprias); hipervigilância e inibição (visão crítica sobre as coisas, necessidade de perfeição).

 

Tratamento

Os tratamentos ainda são incipientes, visto que é um tema recente. Mas, segundo a psicóloga, o que é feito nos casos de bullying tradicional pode ser utilizado no cyberbullying. “É importante que não exista apenas uma preocupação com o tratamento, mas com a prevenção. As escolas e os pais precisam mostrar aos adolescentes como identificar os casos para evitar que eles realizem atos agressivos via internet ou compactuem com agressões iniciadas por outra pessoa”.

Ela afirma que a melhor maneira de prevenir é estar atento. “Muitas vezes os pais não identificam pois não supervisionam. Por isso, é importante ter um vínculo pautado no diálogo. Se for uma relação punitiva, o adolescente não vai querer falar sobre o que está acontecendo com receio de retaliações, como a proibição do uso da internet”, esclarece Caroline.

Em sua dissertação de mestrado pela PUCRS, Caroline também buscou entender o que os jovens envolvidos pensam a respeito deles mesmos e como eles agem diante do cyberbullying. Ela acredita que os dados poderão colaborar na elaboração de tratamentos no futuro.