A busca por um corpo considerado ideal é cada vez mais comum entre homens e mulheres de diferentes idades. Mas, muitas vezes, para tentar atingir esse objetivo, os caminhos escolhidos são prejudiciais ao organismo. Em torno de 10% dos homens e 18% das mulheres com o Índice de Massa Corporal (IMC) considerado normal realizam, ao menos, um comportamento como uso de diuréticos, laxantes ou inibidores de apetite, vômitos forçados, jejum prolongado e exercícios físicos exaustivos com frequência para perder peso. Os dados são da pesquisa realizada pela enfermeira Sabrina Chapuis de Andrade durante o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde da PUCRS. Das mulheres com IMC normal, índice que leva em conta o peso e a altura, 15% relataram o uso de diuréticos e laxantes. Da mesma forma, 12,2% admitiram provocar vômitos ao menos às vezes, enquanto apenas 2,2% dos homens fizeram essa afirmação.
A pesquisa é inédita no Brasil e contou com 27,5 mil participantes de todo o País. Os questionários foram respondidos por internautas de 18 a 55 anos por meio do site www.temperamento.com.br, que se baseia no estudo conhecido como Brazilian Internet Study on Temperament and Psychopathology (Brainstep), coordenado pelo professor da Faculdade de Biociências Diogo Rizzato Lara, orientador da dissertação. A ação mais comum entre os homens é a intensa rotina de exercícios, enquanto entre as mulheres é o jejum prolongado. Por outro lado, mulheres com o IMC normal forçam mais o vômito do que homens com IMC maior de 30, com nível elevado de obesidade. A análise dos dados identificou ainda que pessoas com maior IMC praticam de dois até seis comportamentos objetivando o emagrecimento. “Isso nos surpreendeu, pois acreditávamos que os resultados indicariam as práticas por pessoas com o índice mais baixo. Com isso, concluímos que os indivíduos não conseguem manter o peso perdido devido às consequências no organismo”, explica Sabrina.
Quanto ao diagnóstico, a pesquisadora percebeu que os transtornos são mais facilmente identificados em mulheres, mesmo que a vigorexia – obsessão pelo corpo musculoso – seja cada vez mais comum entre os homens. Mais de 8 mil participantes do sexo masculino relataram a realização de intensos e exaustivos exercícios físicos diariamente, por mais de três horas. “O diagnóstico ainda é complicado. Algumas vezes, mesmo tendo cinco comportamentos mais de três vezes na semana, o transtorno não é identificado. Para homens, é ainda mais difícil e apenas 30% deles com seis comportamentos são diagnosticados”, conta a enfermeira. Por haver um estigma em relação a distúrbios alimentares ocorrerem somente em mulheres, os homens são mais relutantes em reconhecer seus distúrbios psiquiátricos e buscar ajuda. Para Sabrina, os profissionais de saúde precisam estar atentos aos hábitos dos pacientes para que as atitudes não cheguem a se tornar patologias como a anorexia, bulimia e vigorexia.
A imposição de padrões de beleza pela sociedade e reforçada pela mídia são, para a pesquisadora, fatores determinantes para o crescimento de práticas inadequadas para a redução do peso. “Na internet, é possível encontrar diversas dietas restritivas, mas não existe mágica. O ideal é uma mudança de hábitos com orientação de profissionais especializados, pois o que funciona para uma pessoa, pode não dar certo para a outra”, destaca. O acesso fácil a medicamentos também facilita tais atitudes. A enfermeira alerta para as consequências com a manutenção desses hábitos. O jejum, por exemplo, pode resultar em anemia, alterações fisiológicas e imunológicas no organismo. Exercícios físicos intensos e uso de medicamentos inibidores de apetite podem ocasionar em problemas cardiovasculares.