No Dia da Terra, o combate às mudanças climáticas ganha ainda mais evidência
Em 2023 muitos países registraram incêndios nas florestas. / Foto: Victor Moriyama/Greenpeace
O planeta terra está ficando cada vez mais quente. Em 2023, notícias sobre ondas de calor e temperaturas extremas se tornaram rotineiras: no hemisfério norte os termômetros passaram dos 45 °C em agosto, e aqui no Brasil o mês de novembro foi marcado por temperaturas acima da média para a primavera, chegando na marca 42,5 °C graus no Rio de Janeiro. Para o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, essas ondas de calor indicam que o planeta já passou da fase de “aquecimento” e que agora entramos na era da ebulição global.
O conceito de ebulição global acende o alerta para o aumento das catástrofes relacionadas às mudanças climáticas, como, por exemplo, as queimadas florestais ao redor do mundo, que pioram a qualidade do ar. O diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS (IMA) e professor da Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade, Nelson Fontoura, explica que apesar do termo ebulição ser uma figura de linguagem, a frequência com que esses eventos climáticos estão acontecendo está cada vez maior. O docente também ressalta que apesar das altas temperaturas, a ebulição global não está acontecendo por um fato isolado e sim por uma sequência de acontecimentos.
“Alguns artigos feitos por especialistas há 20 anos já projetavam que o aquecimento do planeta se tornaria mais frequente, assim como eventos climáticos como furacões e ciclones. Em 2004 tivemos o Furacão Katrina no Hemisfério Sul, nesse ano também acompanhamos as fortes chuvas no Rio Grande do Sul, que causaram inundações pelo Estado, passando de 300 milímetros por dia. Ao mesmo tempo, vemos queimadas extensas que já ocorreram no Amazônia e no Pantanal, mas também observamos incêndios florestais no Chile, na Grécia, Canadá e Portugal. A Espanha também teve seu período de seca. Então é um conjunto de eventos muito significativos para entendermos a situação do planeta.”
O mês de julho foi marcado por uma forte onda de calor no hemisfério norte. / Foto: Agência Brasil
Não é de hoje que cientistas e especialistas se preocupam com a temperatura do planeta. Acordos de cooperação entre países firmados com a ONU como o Protocolo de Quioto (1997) e Acordo de Paris (a COP 21, em 2015) se comprometeram a tomar medidas que visam diminuir as emissões de gases estufa e absorver os já emitidos, combatendo diretamente as causas do problema. Os acordos também tinham o objetivo administrar as consequências já visíveis das mudanças climáticas. Especialmente em 2015, uma das ações do tratado era limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5 °C.
Apesar do compromisso firmado em 2015, o relatório lançado pela ONU em setembro de 2023 mostrou que se as mudanças não forem cada vez mais fortes, a temperatura mundial deve aumentar 2,6 °C até 2100. Como não é possível frear totalmente o aumento da temperatura no planeta, a ONU tem reforçado cada vez mais o papel das nações, estados, empresas, instituições e cidadãos nesse cenário das mudanças climáticas.
Na tentativa de pensar uma nova perspectiva sobre clima, institutos de pesquisa e universidades tem redirecionado esforços para mudarem essa dinâmica ambiental. Já existem diversas iniciativas em andamento com parcerias governamentais e acadêmicas pensadas na construção de outras perspectivas ecológicas. Nelson Fontoura explica que a PUCRS tem duas iniciativas grandes de atuação nesse cenário.
Uma delas é o programa PELD, um projeto de pesquisa ecológica de longa duração financiado pelo CNPq e FAPERGS e desenvolvido na RPPN Pró-Mata. Nele, uma equipe de pesquisadores da PUCRS, UFRGS e UNISINOS realiza monitoramento da Biodiversidade, analisando os padrões de alteração de abundância da fauna e da flora ao longo do tempo.
“Além disso, temos o projeto Change the Climate, financiado pela Comunidade Europeia através do programa Erasmus+, que induziu o desenvolvimento na PUCRS deum programa de gestão ambiental, visando minimizar o impacto ambiental da Universidade, olhando a pegada de carbono, o consumo de energia e a melhor gestão de resíduos”, afirma.