Em 2021, a taxa de pobreza entre os negros – categoria que agrega os indivíduos autoidentificados como pretos e partos – no estado do Rio Grande do Sul era de 19,5%, e a extrema pobreza era de 4,3%. Entre os brancos, essas taxas ficavam em 10,8% e 2,2%, respectivamente. Ou seja, a probabilidade de uma pessoa negra estar abaixo da linha de pobreza e/ou extrema pobreza era quase o dobro daquela calculada para as pessoas brancas no estado, refletindo a grande concentração dos negros na base da pirâmide social.
Neste ano, no Estado, 18,9% da população, ou 2,1 milhões de pessoas, era constituída por pretos e pardos. Entre os 20% mais pobres, no entanto, este grupo responde por 28,3% das pessoas, estando representado entre os estratos sociais mais baixos. Por outro lado, quando olhamos para o topo da pirâmide social, o que vemos é uma sub-representação da população negra. Entre os 15% mais ricos, somente 9,7% são negros, e entre os 5% mais abastados apenas 5,5% são pretos ou pardos.
Estes e outros dados sobre o tema estão reunidos no Levantamento Sobre Desigualdade Racial no Rio Grande do Sul, produzido pelo PUCRS Data Social, da Pontifícia Universidade católica do Rio Grande do Sul. A fonte das informações é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo um dos coordenadores do PUCRS Data Social, professor Andre Salata, os dados chamam atenção para as enormes barreiras à mobilidade social que os negros ainda encontram na sociedade gaúcha. Essas barreiras, segundo ele, podem ser constatadas em diferentes momentos da trajetória dos indivíduos negros.
“Elas estão presentes, por exemplo, tanto nas chances de chegar aos níveis mais altos de ensino quanto na oportunidade de obter melhores salários no mercado de trabalho entre aqueles que conseguiram um diploma de ensino superior”, pontua.
De acordo com os dados levantados pelo estudo, a parcela da população negra no Rio Grande do Sul que chegou a ingressar no Ensino Superior é de 16,7%, enquanto para os brancos é de 31,8%. E apesar de a média de anos de escolaridade apresentar trajetória de alta para ambos os grupos, a vantagem educacional dos brancos em relação aos negros parece constante. Em 2021, brancos tinham em média 11,2 anos de estudo completos, enquanto para os negros essa média era de 9,8.
“Mesmo com os impactos positivos das políticas de inclusão que ampliaram as oportunidades dos negros, estas ainda não foram suficientemente capazes de diminuir as persistentes desigualdades enraizadas em nossa sociedade”, destaca a professora Izete Pengo Bagolin, pesquisadora do PUCRS Data Social.
Além disso, os dados do levantamento ainda mostram que, até entre pessoas com o mesmo nível de escolaridade, a renda proveniente do trabalho tende a ser significativamente maior para os brancos: negros tendem a receber 31% menos do que os brancos.
E mesmo quando comparamos apenas pessoas com Ensino Superior completo, constatamos vantagem para os brancos. Entre quem tem um diploma universitário, a média de renda para os brancos é de R$ 5.176, enquanto para os negros fica em R$ 4.363.
“A literatura especializada tem apontado a persistência de diferenciais de salário que não são explicadas por condicionantes tradicionais de produtividade no trabalho, como o nível educacional; ou seja, ainda estamos diante de diferenças de rendimento discriminatórias”, finaliza Ely Jose de Mattos, um dos coordenadores do PUCRS Data Social.