O professor e pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, Wagner de Lara Machado, irá compor a equipe científica do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Soberanias e Disputas Informacionais (INCT-DSI), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O novo instituto tem como proposta o combate à desinformação. Entre as atividades desenvolvidas estarão estudos e diagnósticos sobre a comunicação de informações falsas ou fakenews de modo a colaborar com a regulamentação e monitoramento por órgãos públicos.
O grupo será composto por pesquisadores de diferentes universidades brasileiras e também terá como objetivo criar mecanismos envolvendo inteligência artificial, ciência de dados e intervenções comportamentais para combater a desinformação. “Nosso papel é reforçar a democracia por meio da garantia de boas práticas informacionais”, garante Wagner, professor dos cursos de graduação e pós-graduação em Psicologia da PUCRS e coordenador do grupo de pesquisa Avaliação em Bem-estar e Saúde Mental (ABES).
Na composição do INCT-DSI, o professor da PUCRS ficará responsável pelo Núcleo de Estudos Estratégicos em Comportamento, Cognição e Comunicação. Ele irá atuar como consultor e pesquisador em temas como letramento científico e combate à desinformação, seja na saúde, na questão da crise climática, política e outras áreas. Além disso, deve integrar pesquisas sobre intervenções de combate à desinformação e sobre os impactos da desinformação na saúde e bem-estar da população brasileira.
O pesquisador responsável pela proposta do INCT-DSI é o professor Afonso de Albuquerque, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Wagner explica que está sendo constituído um núcleo específico sobre as pesquisas envolvendo comunicação e cognição no âmbito do novo Instituto:
“Este núcleo específico irá aproximar a Psicologia e áreas da Comunicação e Ciência de Dados e, assim como os outros, terá bolsas de estudos e concorrerá a editais de pesquisa para gerar oportunidades para que alunas e alunos complementarem sua formação com pesquisa básica e aplicada a situações reais de desinformação”. O Instituto surge com uma missão desafiadora em um cenário de disseminação de fakenews, desinformação e ataques à liberdade de imprensa em todo o mundo.
“Nos EUA, nas últimas eleições, foi investigada a ação de grupos externos disseminando conteúdo falso com a finalidade de alterar os resultados daquele processo. Durante a pandemia, tivemos muitos problemas não só com as informações inverídicas sobre as vacinas, mas também sobre os impactos da doença e do papel do Estado na ação contra a pandemia. O Brasil, que já foi exemplo mundial em vacinação, hoje amarga taxas alarmantes de cobertura vacinal, este é um retrocesso que gera danos incalculáveis para nossa sociedade, e que muitos autores atribuem a informações falsas ligando vacinas à transtornos graves do desenvolvimento”, alerta o pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida.
Outro objetivo do INCT-DSI, segundo o professor, é que o conhecimento científico seja mais valorizado. Para isso, a ideia é levar ao conhecimento da população em geral como este conhecimento é construído nas universidades, apresentando os níveis de evidência para que as pessoas possam compreender as decisões de Estado e tomarem suas escolhas de forma autônoma e informada.
Testar e construir modelos que explicam a relação entre comunicação, crenças e comportamento, especialmente no âmbito da desinformação, também está na pauta do novo Instituto do CNPq. A atuação pretende adaptar e desenhar intervenções que possam prevenir ou dirimir os efeitos da desinformação. Para isso, os estudos terão como finalidade desenvolver programas e protocolos de políticas públicas com foco na soberania informacional.
O professor Wagner, que há cerca de 15 anos trabalha com metodologias quantitativas e qualitativas no desenvolvimento e adaptação de medidas psicológicas, também dedica parte de sua trajetória a adaptar, desenvolver e avaliar o sucesso de intervenções e à área do bem-estar. Coordenador do maior curso de especialização no Brasil sobre Psicologia Positiva, ele se dedica a entender os determinantes (sociais e individuais) e os impactos do bem-estar.
“Sabemos que as fakenews geram um fenômeno chamado de dissonância cognitiva, em linhas gerais se refere ao conflito entre crenças, ou entre crenças e comportamento. A dissonância possui um impacto relevante, diminuindo nossa percepção de bem-estar, ou levando a sintomas psicológicos importantes. Também do ponto das neurociências cognitivas sabemos que alguns vieses comportamentais aumentam a vulnerabilidade às fakenews, como no caso do viés de confirmação, no qual o indivíduo considera válidas ou relevantes apenas informações que confirmam duas crenças prévias”, ressalta.
Neste contexto, Wagner irá auxiliar no desenho e avaliação de intervenções no âmbito da desinformação e nos estudos dos fatores sociais e individuais que aumentam a vulnerabilidade frente a exposição a desinformação.
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