Combate ao câncer

Vários fatores devem ser considerados ao definir o melhor tratamento para cada paciente/ Foto: Giordano Toldo

No começo de 2023, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025. As informações são da publicação Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil e destacam que as regiões Sul e Sudeste concentram cerca de 70% da incidência. A pesquisadora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Fernanda Bueno Morrone explica que o câncer é uma doença caracterizada pelo crescimento descontrolado e anormal de células em qualquer parte do corpo. 

De acordo com a docente, essas células crescem e se dividem mais rapidamente do que as células normais e podem invadir tecidos e órgãos próximos. O câncer pode se espalhar para outras partes do corpo através do sistema circulatório ou linfático, o que é conhecido como metástase. Ao todo, foram estimadas as ocorrências para 21 tipos de câncer mais comuns no Brasil, sendo eles o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%). 

A professora Fernanda atua com pesquisas reconhecidas internacionalmente pelo seu impacto na proposição de novas estratégias para o tratamento farmacológico e combate aos mais diversos tipos de câncer. Ela conta que vários fatores são levados em consideração ao definir o melhor tratamento para cada paciente com câncer.  

“O objetivo dos tratamentos é eliminar o câncer ou controlá-lo por um período de tempo. Alguns fatores para definir a melhor estratégia incluem o tipo e estágio do câncer, a idade e estado de saúde geral do paciente, bem como a presença de outras condições médicas. Os tratamentos mais comuns para o câncer incluem cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia hormonal e imunoterapia”, destaca.  

Busca por novos tratamentos 

Combate ao câncer

Imunoterapia, terapia-alvo, terapia gênica e radioterapia de precisão estão entre os mais promissores tratamentos contra o câncer/ Foto: Giordano Toldo

No mundo, atualmente se discute muito sobre os avanços na ciência e na busca por novos tratamentos, incluindo novas abordagens de imunoterapia, terapia gênica, terapia com células CAR-T (células T modificadas), radioterapia com prótons, terapia de ondas sonoras e nanotecnologia. Fernanda ressalta que também há pesquisas em andamento para identificar novos alvos terapêuticos e desenvolver novos medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais. 

Mais recentemente, houve avanços significativos no desenvolvimento de novos tratamentos para o câncer, e alguns dos mais promissores incluem: imunoterapia, terapia-alvo, terapia gênica, radioterapia de precisão. Esses novos tratamentos estão ajudando a melhorar as taxas de sobrevivência e qualidade de vida dos pacientes com câncer e continuam a ser desenvolvidos e refinados para melhorar ainda mais os resultados do tratamento. 

Na PUCRS, o grupo de pesquisa em Farmacologia do Câncer e Inflamação: aspectos bioquímicos e moleculares, coordenado pela pesquisadora, é responsável por desenvolver pesquisas para encontrar novos tratamentos para várias neoplasias. Em estudos anteriores do grupo, foram encontrados resultados promissores realizando a injeção de células de gliomas com uma enzima que quebra o ATP para diminuir o tamanho do tumor. Conforme salienta a professora, essas descobertas podem contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias farmacológicas para o tratamento dessas neoplasias. 

Atualmente, dois estudos estão em andamento. Uma pesquisa em colaboração com o grupo do professor da Universidade de Harvard Simon Robson, com foco na investigação da resistência do câncer à radioterapia e a resposta imunológica em modelos de tumores cerebrais.  

Além disso, devido à alta prevalência do câncer de esôfago no Rio Grande do Sul, o grupo de pesquisa também está realizando estudos para identificar genes presentes nesse tipo de câncer. Esses estudos são feitos em amostras de pacientes e utilizando grandes bancos de dados internacionais, com a avaliação dos dados obtidos por inteligência artificial. O grupo tem uma parceria com o Centro Internacional de Engenharia Genética e Biotecnologia (ICGEB), ligado à Organização das Nações Unidas, na África do Sul, onde também há muitos casos de carcinoma de esôfago.  

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Autoexame é fundamental para a prevenção da doença

Mais de 80% dos casos de câncer de boca estão relacionados a hábitos do paciente. / Foto: Bruno Todeschini

O câncer de boca é um tumor maligno que acomete os lábios e estruturas da boca como língua, céu da boca, gengiva, amígdalas e glândulas salivares. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2022, mais de 15 mil pessoas foram acometidas pela doença, afetando principalmente homens acima dos 40 anos.  

A Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que o câncer de boca pode ser prevenido de forma simples, por meio da promoção da saúde bucal, da ampliação do acesso aos serviços de saúde e do diagnóstico precoce. A PUCRS é referência na área de Saúde Bucal: o Serviço de Atendimento Odontológico do curso de Odontologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e o Serviço de Estomatologia e Prevenção do Câncer Bucomaxilofacial do Hospital São Lucas (HSL) oferecem assistência odontológica em diversas especialidades para a comunidade em Porto Alegre.  

Além disso, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da PUCRS desenvolvem diversos estudos nas áreas de concentração em Clínica Odontológica e Biologia Oral. A professora Fernanda Salum, que atua na área de Estomatologia, explica quais são as causas do câncer de boca e quais hábitos saudáveis podem ser adotados para evitar a doença. 

Consumo de álcool e cigarro contribui para o aparecimento da doença 

Autoexame é fundamental para a prevenção da doença. / Foto: Pexels

Conforme a docente, mais de 80% dos casos de câncer de boca estão relacionados a fatores externos, ou seja, os hábitos do paciente. Fernanda alerta que o principal fator associado é a exposição ao sol (câncer de lábio), o consumo de tabaco (cigarros, cachimbo, charuto, palheiro e fumo de mascar) e o consumo de álcool.   

Nos últimos anos, o alto número de jovens utilizando cigarros eletrônicos também influenciou os registros de pessoas acometidas pelo câncer de boca, pois o hábito é tão ou mais prejudicial quanto o consumo do cigarro convencional. 

Em 2020, o Atlas de Mortalidade por Câncer relatou que o número de mortes pelo câncer de boca atingiu em sua maioria homens, totalizando 4.767 casos, enquanto o número em mulheres foi de 1.425 casos. A professora explica que o HPV (papiloma vírus humano) também pode causar a doença, podendo então provocá-la principalmente nas regiões mais posteriores da cavidade oral. 

Com isso, além de evitar o consumo de tabaco e álcool, recomenda-se o uso de filtro solar labial para a prevenção do câncer de boca. Outra forma de combater a doença é o autoexame, pois sempre que o paciente perceber feridas (úlceras) bucais que não cicatrizam, placas brancas ou manchas vermelhas na cavidade oral, deve procurar um especialista. Fernanda destaca que, com o diagnóstico ainda nos estágios iniciais, as chances de cura são altíssimas, sem necessidade de cirurgias mutiladoras. 

Como manter a saúde bucal em dia 

Entre as principais doenças da cavidade bucal estão também a cárie e a doença periodontal (doença da gengiva e dos tecidos de suporte dos dentes). Fernanda pontua que as boas práticas de cuidados bucais para a prevenção destas enfermidades envolvem higiene bucal adequada. Isso inclui escovação com pastas de dentes fluoretadas e uso diário de fio dental, além de visitas regulares ao dentista, determinadas de acordo com as necessidades do paciente.  

“Além de manter adequada higiene bucal, o paciente deve estar ciente dos malefícios do tabaco e do álcool. Manter uma dieta adequada também é importante, assim como a hidratação da mucosa com ingestão frequente de água. Evitar bebidas ou alimentos muito quentes e eliminar qualquer fator traumático bucal como próteses mal adaptadas é fundamental”, conscientiza a professora.   

Leia também: Conheça a importância da vacinação para erradicar doenças

laboratório de infâncias, desenvolvimento infantil

Foto: Pexels

Em 1959, a Organização das Nações Unidas criou a Declaração dos Direitos da Criança, um momento que marcou na história a infância, como um tema global. Desde então, ampliaram-se os olhares e discussões acerca dos direitos das crianças, bem como o papel das escolas e das políticas em prol desta etapa da vida. Atualmente, além destes assuntos, debate-se muito sobre o sentido do brincar no cotidiano infantil e seu impacto no desenvolvimento das crianças.  

De acordo com Andreia Mendes, professora da Escola de Humanidades e coordenadora do Laboratório das Infâncias da PUCRS (LabInf), o brincar permite que o indivíduo, seja criança ou adulto, perceba o mundo e desenvolva suas relações com o meio físico e social. Em pesquisas realizadas na universidade, descreveu-se que a atividade lúdica de jogos e brincadeiras proporciona momentos propícios para socializar, criar, imaginar, aprender, interagir, conhecer e vivenciar o cotidiano. 

Esta compreensão parte da noção de que, no momento em que as pessoas se relacionam com o ambiente e com outros indivíduos, elas desenvolvem suas capacidades de raciocínio, pensamento, linguagem, comunicação e afetividades. Compreende-se também que o ser humano é uma espécie dialógica, ou seja, que necessita da interação para se desenvolver através dos aspectos motor, afetivo e cognitivo, a fim de construir suas aprendizagens. 

O brincar e o desenvolvimento infantil

Ainda que as crianças, enquanto grupo social, sejam consideradas frágeis, é por meio da relação com o outro e o com o mundo, com subsídios, acesso e intervenção disponibilizados a elas, que os pequenos interagem, aprendem, crescem a fim de que, de forma autônoma e sadia, possam se desenvolver. Na pesquisa A psicologia escolar e educacional pensando as infâncias na pandemia, as pesquisadoras da PUCRS Andreia Mendes, Renata Plácido Dipp e Giovanna Bortoli contam que no ato de brincar a criança ou o adulto fruem a sua liberdade de criação.  

Elas também ressaltam o papel da escola para criar uma sinergia entre a proposta pedagógica, a compreensão dos educadores e da instituição, bem como da família, em última análise, para que se estabeleça e se mantenha uma cultura do brincar e da sociedade. De acordo com as pesquisadoras, a escola tende a cumprir este papel, principalmente em contextos familiares com mais fragilidades.  

Em famílias que não experimentaram a educação e não conseguem estimular os filhos, que sobrevivem em contextos econômicos de precariedade, ou que convivem com violências de diferentes ordens, tais cenários podem reduzir as chances de a família estimular a criança ao estudo e às experiências de brincar. Já em casas com contextos sociais privilegiados, do ponto de vista econômico, também se identificam fragilidades familiares.  

laboratório de infâncias, desenvolvimento infantil

Laboratório das Infâncias / Foto: Giordano Toldo

De acordo com o estudo, as exigências de uma sociedade hiperinformada, digital, competitiva e fugaz (em que cada vez mais os pais são exigidos a se ocuparem com o mundo do trabalho), tendem a estimular brincar menos ao livre e mais à tarefa. Andreia, Renata e Giovanna explicam que em ambos os extremos, crianças com pouco espaço para criar, passam apenas a reproduzir. Desta forma, estes contextos podem gerar às crianças o vazio; elas tendem a se entusiasmar menos pela aprendizagem, podem se tornar adultos mais ansiosos e menos criativos e tendem a esperar pela condução do ambiente e exigir que o outro dê conta de lhe oferecer o melhor caminho para a aprendizagem. 

“O Dia Mundial da Infância agrega muito no debate na garantia do direito das crianças, mas precisamos compreender esta etapa da vida como crucial na formação de um novo adulto. Não é apenas uma fase de passagem, as crianças de hoje serão os adultos de amanhã e que o que se passa na infância marca a vida inteira do indivíduo”, alerta Andreia.

Protagonismo frente ao debate 

O LabInf surgiu de uma parceria entre a Escola de Humanidades e o Centro Marista de Promoção dos Direitos da Criança do Adolescente com o objetivo de desenvolver um projeto integrador na Universidade com foco nas infâncias. É uma estrutura de ensino, pesquisa e extensão idealizada para promover propostas interdisciplinares efetivas e de impacto social na construção de uma sociedade que valorize e dê voz às crianças.  

Através de estudos sobre e com as crianças, e por meio da pesquisa-ação, também busca-se ampliar o repertório formativo de nossos alunos para torná-los futuros profissionais com competências e habilidades para trabalhar junto ao campo das infâncias. O conjunto de estudos desenvolvidos pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Infância(s) e Educação Infantil e dos Grupos de Pesquisa sobre Questões Sociais na Escola e Psicologia e Educação são o berço das ações.  

Participam do LabInf mestrandos e doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Educação, Ciências Sociais e demais programas da PUCRS, além de bolsistas de Iniciação Científica, professores, egressos na condição de colaboradores e estagiários. Cada projeto de pesquisa oportuniza investigar sobre mais temas, como a inserção social da criança imigrante, infâncias indígenas, crianças com TEA, educação inclusiva e educação especial, a importância do brincar, entre outros.  

O interesse institucional em contribuir com o tema permite uma atuação integrada em uma sólida parceria com Centro Marista de Promoção dos Direitos da Criança do Adolescente, o Centro Social Marista Irmão Bertolini e a Escola de Educação Infantil Menino Jesus, o Colégio Rosário e o Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia da PUCRS e com uma rede de pais e crianças no estado do Rio Grande do Sul. Saiba mais aqui. 

desigualdade nas metrópoles

Foto: Giordano Toldo

Os dados referentes ao último trimestre de 2022, liberados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), consolidam uma tendência que já vinha sendo observada nas regiões metropolitanas brasileiras: a recuperação da renda do trabalho das famílias combinada a uma inclinação de piora da desigualdade. Entre o primeiro e o último trimestres de 2022, a média da renda domiciliar per capita do trabalho subiu 13%, indo de R$ 1.455 para R$ 1.644. Ao mesmo tempo, a desigualdade de renda, medida pelo coeficiente de Gini – quanto mais alto, maior a desigualdade – subiu de 0,613 para 0,620, com três altas consecutivas. A principal explicação para esse resultado, segundo os dados, está no fato de que os mais ricos têm se aproveitado mais do crescimento da renda do que os mais pobres. 

As informações estão na décima segunda edição do “Boletim – Desigualdade nas Metrópoles”, produzido pelo PUCRS Data Social em parceria com o Observatório das Metrópoles e com a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). Os dados são provenientes da PNAD Contínua trimestral, do IBGE, e dizem respeito à renda domiciliar per capita do trabalho, somente incluindo o setor informal. O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, de acordo com as definições do IBGE. Todos os dados estão deflacionados para o terceiro trimestre de 2022, de acordo com o IPCA. 

Embora cada metrópole apresente comportamentos diferentes, na maior parte delas (12 dentre as 22) se verificou o mesmo comportamento de crescimento das desigualdades. Na grande São Paulo, por exemplo, o Gini aumentou de 0,600 para 0,614, e na Grande São Luís subiu de 0,558 para 0,615. Concomitantemente, em todas as vinte e duas metrópoles foi também constatado aumento da média de renda. Esse aumento foi mais elevado nas Regiões Metropolitanas da Grande São Luís (36,6%), João Pessoa (34,4%), Teresina (29,3%), Goiânia (22,6%) e Vale do Rio Cuiabá (19,0%). 

“A combinação de aumento da média de renda e comportamento de elevação das desigualdades não é incomum no Brasil, e ocorreu porque os estratos mais altos apresentaram, nos últimos trimestres, um aumento proporcionalmente maior de seus rendimentos do que os mais pobres”, declara André Salata, pesquisador do PUCRS Data Social e um dos coordenadores do estudo. 

desigualdade nas metrópoles

André Salata/ Foto: Giordano Toldo

De acordo com o estudo, enquanto a média de renda dos 40% mais pobres cresceu 13,4% ao longo de 2022, entre os 10% mais ricos ela cresceu 17,3%. Consequentemente, se no início do ano os mais ricos ganhavam, em média, 30,2 vezes mais que os mais pobres, essa cifra chegou a 31,2 vezes no final do ano. Ou seja, todos os estratos melhoraram, mas os mais ricos melhoraram proporcionalmente mais, fazendo a distância entre eles e os mais pobres aumentar ao longo do último ano. 

A explicação para o aumento da renda média pode ser decorrente de dois fatores.  

“Em 2022, se verificou redução da taxa de desemprego, colaborando para a ampliação do aumento da renda nos domicílios. Além disso, a taxa de inflação desacelerou a partir dos meses de maio e junho, contribuindo para a manutenção do poder de compra dos rendimentos do trabalho. Aumento do emprego e redução da taxa de inflação são os dois fatores que, conjugados, contribuíram para a elevação da renda média de todos os estratos de rendimento das metrópoles brasileiras”, explica Marcelo Ribeiro, professor do IPPUR/UFRJ e também coordenador do estudo. 

Como o estrato dos 10% mais ricos foi o que mais se beneficiou do efeito desses fatores, a desigualdade de renda se elevou, na medida em que ocorreu aumento da distância do nível de renda dos mais ricos em relação aos demais estratos de rendimento. Os mais ricos saltaram de um rendimento médio de R$ 6.765 para R$ 7.933, entre o primeiro e o último trimestre de 2022. 

Enquanto isso, a recuperação da renda do trabalho entre as famílias mais pobres, que vinha se desenhando desde o terceiro trimestre de 2020 – após brusca queda no início da pandemia –, perde um pouco de seu ímpeto a partir do segundo trimestre de 2022.  

“A recuperação do mercado de trabalho foi suficiente para trazer a média de renda dos mais pobres para o patamar que tínhamos no momento imediatamente anterior à pandemia. No entanto, hoje essa média ainda é 22% menor que aquela encontrada no pico da série histórica, ao final de 2013. Ou seja, avançamos em relação ao tombo dos últimos anos, mas ainda falta muito para nos aproximarmos dos maiores valores da série histórica. Para isso, seria necessário aliar crescimento econômico com melhoria da distribuição de renda”, finaliza André Salata. 

Respeito não tem idade: o combate à violência contra idosos - Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa reforça a importância de promover ações de cuidado para este público - Unati PUCRS

Foto: Envalo Elements

No mesmo ano em que o Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG) da PUCRS completa 50 anos, acontece a 19ª edição do Simpósio Internacional de Geriatria e Gerontologia. Nos dias 29 e 30 de setembro de 2023, no Teatro do Prédio 40 da Universidade, profissionais e estudantes se reúnem com palestrantes e referências da área de gerontologia para debater temas como envelhecimento ativo, e prevenção e tratamento de doenças geriátricas, para garantir um envelhecimento com qualidade de vida, autonomia e independência.  

Estudantes e pesquisadores interessados em participar podem inscrever seus pôsteres virtuais até dia 31 de maio. As inscrições estão abertas até dia 28 de setembro. No dia 28, acontecerão também workshops, de forma presencial, nas salas 801 e 803 do Prédio 40. As atividades promovidas pelo IGG serão ministradas pelos pesquisadores Lucas Schilling e Gabriel Behr Gomes Jardim com o tema “Como eu trato o quadro demencial?”, e José Roberto Goldim e Livia Haygert Pithan, com o tema “Tomada de decisões em fim de vida”. As inscrições podem ser feitas aqui. 

Confira a programação preliminar do Simpósio 

Sexta-feira (29/09/2023) 

8h às 9h – Palestra de Abertura Supercentenários e envelhecimento saudável, palestrante Yasumichi Arai (Keio University – Toquio, Japão). 

9h às 10h15 – Atualizações em Doenças neurodegenerativas, coordenação Douglas Sato e palestrante Jaderson Costa da Costa (InsCer/PUCRS) Carlos Roberto de Mello Rieder (UFCSPA). 

10h30 às 12h – Casos complexos em Geriatria e Gerontologia, coordenação Rodolfo Herberto Schneider e palestrantes Edgar Nunes de Moraes (UFMG) e Eduardo Garcia (UFCSPA). 

12h às 13h30 – Almoço. 

13h30 às 15h – Prescrição, desprescrição e iatrogenia medicamentosa, coordenação Cristiane Regina Guerino Furini e palestrantes Pedro Ferreira (HSL) e Vanessa Sgnaolin (PUCRS). 

15h15 às 17h – Cuidados Paliativos, palestrante Claudia Burlá e Lucas Ramos (HSL/PUCRS) 

17h às 18h30 – Inovações Tecnológicas, palestrantes Cesar Augusto Missio Marcon (PUCRS), Johannes Doll (UFRGS) e Ana Carolina Bertoletti de Marchi (UPF). 

Sábado (30/09/2023) 

8h às 9h – Cardiogeriatria, palestrantes Emílio Moriguchi (HCPA) e Virgílio Olsen (UFCSPA).  

9h às 10h15 – Atualização em transtornos do humor, coordenação Alfredo Cataldo Neto e palestrantes Marco Antônio Caldieraro (Inscer), Sérgio Blay (UNIFESP) e Lucas Spanemberg (PUCRS). 

10h30 às 12h – Fragilidade e Sarcopenia, coordenação Carla Helena Augustin Schwanke e palestrante Tiago da Silva Alexandre (UFSCar) e Paulo Rocha (Instituto Português do Desporto e Juventude, Portugal). 

12h às 13h30 – Encerramento. 

Sobre o Instituto de Geriatria e Gerontologia 

Foto: Bruno Todeschini

O IGG foi oficialmente inaugurado em 1973, por meio de um intercâmbio médico-científico entre os governos do Brasil e do Japão, via Japan International Cooperation Agency (Jica). Atualmente, o IGG tem como diretor o professor e pesquisador da Escola de Medicina Douglas Kazutoshi Sato, que dedica sua trajetória científica nas áreas de medicina, neurociências e envelhecimento. 

Atualmente o IGG conta com oito pesquisadores e seis grupos de pesquisa: Grupo de Pesquisa em Epidemiologia, Neurologia e Imunologia (GENIM), Grupo de Estudos em Risco Cardiometabólico (GERICEN), Envelhecimento e Nutrição, Grupo de Pesquisa de Envelhecimento e Saúde Mental (GPESM), Grupo de Estudos em Segurança e Saúde Pública, Grupo de Estudo em Envelhecimento Osteomuscular e Osteoporose (GEOMO), e o grupo de Atenção Multiprofissional ao Longevo (AMPAL). Dentro da sua estrutura conta com o Laboratório de Bioquímica e Genética Molecular. 

Também compõe o IGG a Universidade Aberta da Terceira Idade (UNATI), que proporciona cursos e atividades para idosos e profissionais que visam atuar no processo de envelhecimento. A UNATI tem por objetivo central contribuir para a longevidade com qualidade de vida e autonomia estimulando boas práticas relacionadas à saúde física, mental e funcional às pessoas idosas.   

Entre as ações recentes realizadas no IGG está o Programa de Incentivo a Atividade Física (PIAFI), sob a coordenação do Prof. Dr. Douglas Sato, que beneficia pessoas idosas carentes de Porto Alegre proporcionando a realização de atividades físicas de diversas modalidades, fomentado pelo Fundo Municipal do Idoso de Porto Alegre. 

Leia também: Universidade desenvolve projetos na Capital com mais idosos do Brasil 

ingo sarlet

Foto: Divulgação

O professor e pesquisador da Escola de Direito Ingo Wolfgang Sarlet foi homenageado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) durante o Fórum de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Direito, realizado na Universidade de São Paulo (USP), no final do mês de março. Sarlet foi reconhecido pela sua atuação como representante da área entre 2018 e 2019, e por participar da comissão de avaliação de trienais e quadrienais desde 2004. 

O encontro reuniu os representantes da Área do Direito na CAPES. A homenagem foi voltada àqueles que marcaram a história do Direito ao longo dos anos e participaram da construção e aperfeiçoamento dos critérios da avaliação dos programas de pós-graduação na área. 

Para o pesquisador, que atualmente coordena o Programa de Pós-Graduação em Direito da PUCRS (PPGD), o destaque representa “um sentimento de dever cumprido e reconhecimento por um trabalho de elevada responsabilidade, com significativo dispêndio de tempo”. 

Avanço da pós-graduação em Direito 

Para Sarlet, a pós-graduação em Direito no Brasil tem evoluído muito, seja na perspectiva quantitativa (hoje são cerca de 130 Programas, incluídos cerca de 50 cursos de doutorado) ou qualitativa. Em termos de distribuição regional ainda persistem assimetrias, mas a oferta de muitos Mestrados e Doutorados Interinstitucionais – MINTER e DINTER – alavancou de modo significativo o surgimento de novos programas. 

“Tanto o PPGD, quanto o Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da PUCRS, tem contribuído muito nesse processo, com a oferta de MINTER e DINTER nas regiões Norte e Nordeste (Rondônia, Maranhão, Piauí e Alagoas). Houve avanços decisivos também com relação ao controle na aprovação de propostas de cursos novos, assim como na ficha de critérios e exigências para as avaliações da CAPES”, comenta.  

Outro aspecto destacado pelo coordenador é o aumento gradual das notas (conceitos) obtidos pelos programas em Direito nas avaliações da CAPES. No caso dos dois programas da Escola de Direito da PUCRS, ambos têm reconhecida excelência e reputação nacional e internacional, com nota 6 (Direito) e 5 (Ciências Criminais). 

Sobre o pesquisador 

Ingo Wolfgang Sarlet é jurista, advogado e ex-magistrado brasileiro, professor titular de direito constitucional e coordenador do PPGD da Escola de Direito da PUCRS, além de atuar como docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da mesma Escola. Foi pesquisador e professor visitante em várias Universidades estrangeiras (EUA, Portugal, Alemanha e Espanha). Foi Juiz de Direito e Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJ-RS), tendo composto também o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS).  

Conhecido principalmente por seus trabalhos acadêmicos sobre direito constitucional, direitos humanos, direitos fundamentais, dignidade da pessoa humana e direito ambiental, é membro catedrático da Academia Brasileira de Direito Constitucional. É pesquisador produtividade do CNPQ, foi pesquisador destaque FAPERGS para a área de humanidades em 2011.

Autor de mais de duzentas e cinquenta publicações entre livros próprios, coordenação de obras coletivas, capítulos de livros e artigos em periódicos no Brasil e no exterior, em diversos países e línguas. Tem sido apontado como o autor mais citado no Brasil na área de direito público no Google Scholar, atualmente com mais de 28 mil referências. 

Leia também: Pelo quarto ano consecutivo, PUCRS é a melhor universidade privada do Sul do País segundo o MEC

estudantes diversidade

Programa visa o respeito às diferenças e busca contribuir para a redução de assimetrias e desigualdades no SNPG. / Foto: Envato Elements

Três projetos submetidos por professores da PUCRS foram contemplados no Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação (PDPG) Alteridade na Pós-Graduação. O programa da CAPES trabalha o conceito de alteridade, envolvendo o reconhecimento, o respeito às diferenças e a capacidade de se colocar no lugar do outro, e busca contribuir para a redução de assimetrias e desigualdades no Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG). 

O programa tem o objetivo de apoiar projetos voltados à formação de recursos humanos altamente qualificados e ao desenvolvimento de investigação acadêmico-científica em projetos com foco no conceito de alteridade e com vistas ao seu diagnóstico, sua aplicação e representação. Ao todo, foram 13 projetos contemplados, oriundos de instituições brasileiras de ensino superior públicas e privadas. Cada proposta terá duração de 40 meses e direito a duas bolsas de mestrado, uma de doutorado e três de pós-doutorado. 

Para o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da Universidade, Carlos Eduardo Lobo e Silva, o edital traz um assunto importante e em debate na PUCRS.  

“Alteridade é um tema que dialoga diretamente com os direcionadores do nosso Planejamento Estratégico e, por isso, ficamos especialmente felizes com a notícia de três propostas contempladas. Os projetos poderão contribuir com avanço contínuo da nossa pós-graduação”, adiciona. 

Conheça os projetos contemplados 

O professor de filosofia da PUCRS Agemir Bavaresco é o coordenador do projeto “Critérios de criação, desenvolvimento e modelagem de dados sobre Alteridade na estruturação da Pós-Graduação nas regiões Norte, Sul e Centro Oeste do Brasil”. O objetivo do projeto é ajudar a entender o conceito de Alteridade como fator na construção das estruturas dos corpos discentes dos PPGs, pelo viés de gênero, com apontamentos críticos e criar mecanismos e políticas que auxiliem na efetivação plural e inclusiva no SNPG. 

A partir de uma revisão conceitual sobre alteridade, o projeto vai buscar criar critérios de mapeamento de análises acerca da paridade de gênero no corpo discente de PPGs das Ciências Humanas, nas regiões Norte, Sul e Centro Oeste, desenvolvendo uma ferramenta de coleta de informação de dados sobre as estruturas dos PPGs.   

O projeto coordenado pela professora Edla Eggert do PPG em Educação da PUCRS, intitulado “Trajetórias educativas de discentes e egressas(os) de programas de pós-graduação em educação na perspectiva da interseccionalidade”, é uma parceria entre docentes de quatro PPGs em Educação, localizados em Porto Alegre (PUCRS e UFRGS), Campo Grande (Universidade Católica Dom Bosco), e Aracajú (Universidade Federal de Sergipe).  

Foto: Envato Elements

Em uma análise prévia, o projeto constatou que, embora as ações afirmativas existam dentro dos Programas de Pós-graduação, as ações estão em estágios diferentes. Sendo assim, o projeto quer identificar as diferentes experiências nessas Universidades para depois realizar intercâmbios e integrações sobre as implementações de ações afirmativas já existentes. Com a utilização de depoimentos de alunos e egressos, o projeto vai buscar identificar se as dificuldades de acesso e permanência podem contribuir na reordenação dos planejamentos e processos de admissão de novos estudantes.   

Políticas de permanência e temas de interesse de pessoas negras, indígenas e refugiadas que estudam na Pós-Graduação em cursos da área de Ciências Sociais Aplicadas na região Sul, Centro-Oeste e Norte é o tema do projeto coordenado pelo professor e coordenador do curso de jornalismo da PUCRS, Deivison Moacir Cezar de Campos. O objetivo do projeto é cartografar as políticas de permanência de estudantes negros, indígenas e refugiados em programas de pós-graduação da área de Sociais Aplicadas nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte do país.  

Com isso, o projeto vai buscar discutir o avanço das políticas afirmativas nessas regiões e, ao mesmo tempo, levantar dados para fomentar políticas públicas eficazes de acesso e permanência de estudantes da pós-graduação que fazem parte desse grupo. O projeto tem a parceria com outros dois PPGs em Comunicação da Universidade Federal do Mato Grosso e da Universidade Federal Roraima. 

Foto: Divulgação

Baseada na série de videogame de mesmo nome, o seriado The Last of Us se tornou um fenômeno mundial, sendo um sucesso tanto entre os fãs do jogo que a inspirou quanto entre aqueles que tiveram contato com esse universo através da série. Produzida pela HBO Max, a narrativa retrata um cenário pós-apocalíptico, no qual o planeta foi devastado por um fungo que passou a infectar seres humanos, controlando suas mentes e se apoderando de seus corpos. O organismo, chamado cordyceps, de fato existe na vida real – no entanto, não como na série.  

Mas, afinal, como o cordyceps age na natureza? Conversamos com Nelsa Cardoso, professora de Micologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS, para esclarecer essa e outras questões relacionadas ao universo dos fungos. 

O que é o cordyceps?

Se em The Last of Us a humanidade foi despedaçada graças ao cordyceps, na vida real as maiores vítimas desse fungo são os insetos. Incapazes de atacar seres humanos, os fungos desse gênero entram em organismos como os de formigas, mariposas e cascudos. Segundo a professora, há mais de 600 espécies de fungos cordyceps, e cada um se especializa em insetos específicos. 

Por exemplo, o fungo que ataca formigas as paralisa e domina o sistema nervoso delas, matando-o, enquanto o corpo segue em movimento. A formiga, então, gruda na nervura principal de uma folha e o fungo começa a crescer a partir da cabeça da formiga, criando uma espécie de antena com uma bola na ponta, que é o que chamamos de esporângio. É assim que o fungo faz para liberar pequenas partículas de reprodução, que são os esporos”, detalha. 

Não há registros do cordyceps atacando organismos humanos ou de qualquer outro mamífero – apenas artrópodes. No entanto, Nelsa ressalta que uma evolução não é impossível, e que há dois fatores que podem contribuir para isso: temperatura e umidade. Você já viu que, muitas vezes, você sai para caminhar num parque onde choveu no dia anterior e ele está cheio de cogumelos? O cordyceps não é do grupo dos cogumelos, mas como fungo, ele também trabalha com essas duas variáveis”, exemplifica.  

Ela destaca, no entanto, que a chance de o cordyceps evoluir e atacar seres humanos pode existir em um futuro distante, mas, no momento, não é, nem de longe, uma possibilidade.  

Fungos: vilões na ficção, aliados na vida real 

Segundo a pesquisadora, os fungos estão entre os organismos mais adaptáveis da natureza: foram descobertas espécies que podem se desenvolver até mesmo em estações espaciais, tanto dentro como fora delas. Elas evoluíram aproveitando a radiação enviada pelo sol, e desenvolveram melanina para não se queimar. 

Além disso, ela comenta que, apesar de não serem seres autotróficos (que produzem seu próprio alimento), os fungos conseguem, tanto os de solo firme quanto os do fundo do mar, englobar pequenos torrões de terra onde eles aprisionam bactérias e produzem substâncias de que eles se alimentam. Ainda assim, por serem heterotróficos, precisam consumir alimentos que venham de fora de seus organismos. Ela também explica que, apesar de um processo chamado digestão extracelular, os fungos garantem o alimento de diversos outros seres: 

“Os fungos se alimentam assim: a hifa vem sobre a matéria, regurgita, como se fosse uma mosca ao se alimentar. Solta um ácido sobre o alimento, o alimento se liquefaz e ele suga aquilo. Parte desse material sobra e vai parar na natureza. Tudo o que estiver sobre uma mesa, por exemplo, um fungo pode destruir. A gente tem percebido, até mesmo de materiais sólidos, que o fungo é, em geral, muito bom para desmanchar celulose, mais que qualquer outro ser.” 

Foto: Pexels

Apesar de a série retratar os fungos como os grandes vilões, na vida real eles têm variadas utilidades para os seres humanos. Entre elas, uma das mais famosas é a penincilina, medicamento utilizado para diversos tratamentos médicos, que é derivado do fungo penincilium.  Outra grande utilidade é a alimentação: cogumelos, como o champignon e o shitake, são comestíveis e trazem benefícios para a saúde, como o fortalecimento do sistema imunológico e a prevenção de problemas cardíacos. Outro fungo comestível – apesar de não fazer parte do grupo dos cogumelos – é a famosa trufa, tida como uma refinada iguaria.  

“Temos uma lacuna no mercado alimentício, que é o fato de muita gente não conhecer tanto o valor nutritivo quanto o sabor mesmo dos cogumelos em geral. Os fungos servem como uma bela fonte de alimentação. A gente tem descoberto alguns que nos mostram que em 100g de um produto há mais proteína em fungo do que em carne vermelha”, comenta Nelsa. 

Qual a área ideal para quem quer conhecer mais sobre os fungos? 

Para quem se interessa pelo assunto, Nelsa dá a dica: o curso de Biologia (disponível nas modalidades Bacharelado e Licenciatura na PUCRS) é a escolha perfeita. “É o melhor curso para acessar os conhecimentos sobre fungos de uma maneira em que você vai poder ser um especialista naquilo”, ressalta. “De outra forma, tem especialização, mestrado, doutorado. Aqui, nesse momento, a gente tem um pessoal de um Grupo Hospitalar, que lida com os fungos que causam doenças.” 

Conheça a graduação em Biologia da PUCRS

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Projeto de um casarão na Rua Mostardeiro. / Imagem: Acervo Delfos

Neste domingo (26), Porto Alegre faz aniversário: a capital está completando seus 251 anos. A PUCRS é parte integrante da história da cidade, abraçando-a e guardando um pedaço de sua memória – tendo, inclusive, um espaço exclusivamente para isso: o Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural.  

O Delfos tem como objetivo a promoção da cultura e a preservação da memória no que diz respeito aos documentos doados ao Espaço. O acervo é composto por documentos ligados à cultura gaúcha ou a escritores, entidades ou autoridades representativas para o Estado do Rio Grande do Sul. O Espaço preserva, acondiciona e disponibiliza a pesquisadores cadastrados os documentos confiados ao Delfos. 

Inspirado em oráculo grego, Delfos abriga tesouros históricos de Porto Alegre 

Inaugurado em 4 de dezembro de 2008, o espaço tem seu nome derivado do Oráculo de Delfos, situado na cidade de mesmo nome na antiga Grécia. Tratava-se de um templo consagrado ao deus Apolo, onde as sacerdotisas, conhecidas como pitonisas, profetizavam em uma espécie de transe. O antigo povo do Mediterrâneo tinha tanta fé nessas profecias que nenhuma decisão era tomada sem antes consultar o Oráculo de Delfos. No entorno do oráculo estavam pequenas capelas que abrigavam tesouros, donativos e ex-votos, frequentemente valiosos. O espaço cultural da PUCRS recebeu o mesmo nome do oráculo pois cumpre a mesma função: a de abrigar verdadeiros tesouros.  

O Delfos abriga diversos documentos relacionados às áreas de Letras, Artes, Jornalismo, Cinema, História e Arquitetura. Também contém raridades como quadros, originais de livros, correspondências de autores escritas de próprio punho, fotografias, documentos pessoais, como óculos e vestimentas, livros com anotações particulares, plantas de arquitetura, jornais antigos, documentos referentes à imigração alemã no Rio Grande do Sul, entre outros. 

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Projeto de um casarão na Rua Mostardeiro. / Imagem: Acervo Delfos

Aberto ao público, o acervo pode ser visitado por qualquer pessoa, mediante agendamento – o Delfos fica localizado na Biblioteca Central Ir. José Otão, 7º andar. São mais de 60 mil documentos catalogados físicos, sendo 5 mil documentos digitalizados (há o Delfos Digital, que pode ser acessado aqui). Entre eles, destacam-se registros de grandes artistas gaúchos, como Caio Fernando Abreu, Moacyr Scliar e Maria Dinorah. 

Acervo ajuda a manter a identidade da cidade viva 

Para Ricardo Barberena, diretor do Instituto de Cultura da PUCRS (onde o Delfos está inserido) e ex-coordenador executivo do acervo, este possibilita acompanhar as transformações de Porto Alegre ao longo dos anos. 

“É possível resgatar várias imagens, várias plantas arquitetônicas de uma Porto Alegre do século XIX, do século XVIII, e também entender quais foram os principais vetores, os principais acontecimentos históricos, as principais transformações históricas que a nossa cidade foi palco”, comenta ele. 

O Delfos é um acervo de diferentes registros de uma Porto Alegre que não existe mais, mas que tem resíduos e registros que ainda permanecem e sofreram constante transformação.

“Afinal de contas, uma cidade sem memória é uma cidade sem identidade, é uma cidade que não sabe o que foi, que não saberá o que será”, pontua Barberena.  

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Sociedade Germania de Porto Alegre / Imagem: Acervo Delfos

Ele também destaca a importância de visitar todos esses documentos, que mostram como fomos habitando esse grande “livro de pedra” que é essa cidade. “Uma cidade é um grande livro de pedra em que se escrevem muitas histórias”. 

Quem também destaca a importância do Delfos é Daniela Christ, bibliotecária do acervo: ele contém, além de documentos sobre a história do Estado em geral, muito da história da capital, que já foi lar e oficina de trabalho de diversos escritores, jornalistas, arquitetos e políticos. “Está tudo documentado: Porto Alegre desde o século XIX até os anos 2000, passando por todas as décadas do século XX”, ressalta. 

Ao falar de seu trabalho, Daniela diz que entende a importância de sua função de bibliotecária quando muitos pesquisadores agradecem e ficam agradecidos por poderem usufruir de materiais tão únicos como os do Delfos para seus trabalhos. 

“O Delfos é uma rica fonte de pesquisa histórica. Temos fotografias, documentos oficiais, manuscritos, projetos arquitetônicos de prédios imponentes da cidade. Temos correspondências trocadas entre escritores relatando sobre ruas e bairros, festas e reuniões governamentais. É uma infinidade de obras originais – até inéditas – e é muito prazeroso organizar e mergulhar em uma Porto Alegre ‘antiga’.”

Leia também: Aniversário de Porto Alegre: pesquisador é referência sobre história da cidade

história de porto alegre

Foto: Flávio Carneiro e Thales Farias

Porto Alegre está completando 251 anos em neste dia 26 de março. Hoje, abordamos a história da cidade, fundada de 1772, com a criação da Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, um ano depois alterada para Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre. A fundação da cidade está inserida no processo de conquista e expansão dos domínios portugueses ao sul do Brasil em direção ao Rio da Prata, conforme explica o professor e pesquisador da Escola de Humanidades Charles Monteiro. 

O docente dedica sua trajetória acadêmica para desenvolver diversas publicações e pesquisas em torno da história de Porto Alegre e do estado do Rio Grande do Sul. Em sua tese de doutorado, por exemplo, que resultou no livro Porto Alegre e suas escritas, o Charles propôs uma série de reflexões sobre como a história da capital gaúcha foi escrita por historiadores e literários a partir dos anos 40.

Fundação de Porto Alegre

Em participação no livro Viva o Centro a Pé, Charles apresenta uma breve linha do tempo dos acontecimentos que constituíram a cidade. O pesquisador conta que a província e a população do Rio Grande do Sul foram se formando a partir dos conflitos, das trocas comerciais e dos acordos políticos-militares entre portugueses e espanhóis.

Ambos os países foram polos de conquista e colonização do território meridional e disputavam a região povoada por vários grupos indígenas. Nesse período, em 1752, por conta do Tratado de Madri e do projeto da Coroa portuguesa de assentar colonos no território de Missões Jesuíticas, deu-se início ao processo de povoamento do Porto do Dorneles.

Casais açorianos rumando para as missões foram obrigados a aguardar transporte e a pacificação da região envolvida nas Guerras Guaraníticas. Eles então se instalaram próximos ao Arroio Dilúvio, nomeando a região como Porto de São Francisco dos Casais. Mais tarde então, o povoamento se torna a capital da Província, em 1773, passando a ser chamada Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, que futuramente seria a cidade de Porto Alegre.

história de porto alegre

Foto: Joseph Zakauska e Pedro Cavalheiro

Crescimento industrial e populacional da cidade

Avançando para o período da Proclamação da República, em 1889, o pesquisador Monteiro demarca a data como a fase do fenômeno urbano de reorganização social no espaço urbano, decorrentes das mudanças de estrutura política, social e econômica da sociedade brasileira.

“Porto Alegre era o centro político e o porto comercial de exportação e importação em expansão no fim do século 19. Esta evolução comercial e industrial da cidade acarretou seu crescimento populacional e urbano, na modernização dos espaços e dos serviços e nas mudanças de sociabilidade pública”, destaca o professor.

De acordo com Monteiro, Porto Alegre foi uma das primeiras capitais do país a ter um plano urbanístico voltado a atender o crescimento da cidade. Foram propostos alargamentos das ruas principais e construção de novas avenidas, dando início ao processo de industrialização e expansão populacional da cidade, no começo do Século 20.

Imagens de uma cidade moderna

O pesquisador Charles Monteiro também atua na linha de pesquisa em fotografia realizando ligações com sua formação em história. Um exemplo das publicações de sua autoria se destaca o estudo Imagens sedutoras da modernidade urbana: reflexões sobre a construção de um novo padrão de visualidade urbana nas revistas ilustradas na década de 1950. Com a pesquisa, o docente problematiza a forma como revistas ilustradas nos anos 1950 geriram a imagem de um país em transformação e em acelerado processo de urbanização através da fotografia.

Nos anos 50, no Brasil, aconteceu uma “revolução verde”, ocasionada pela introdução de novas técnicas agrícolas e pelo desenvolvimento capitalista no campo. De acordo com Monteiro, este período foi marcado por migrações em massa das regiões agrícolas para os estados mais industrializados. Um grande exemplo deste movimento foi o deslocamento de populações nordestinas para a construção de Brasília.

Neste período, as revistas ilustradas semanais e quinzenais surgiram como alternativa aos jornais cotidianos. Eram periódicos que ofereciam uma nova abordagem dos acontecimentos com imagens e elementos visuais mais chamativos. Elas desempenhavam um papel social influente na forma como a população brasileira passaria a pensar sobre uma variedade de assuntos – como política, artes, vida de famosos, esportes, opinião e entretenimento.

Na pesquisa realizada pelo docente da Escola de Humanidades, foi analisada a fotorreportagem Porto Alegre cresce para o céu e para o rio, da Revista do Globo, que destaca o processo de modernização da capital gaúcha. As fotos realizadas por Thales Farias ilustram a matéria ressaltando grandes construções civis que surgiram na época, como novos edifícios do centro, obras da Avenida Beira-Rio e a ponte sobre o Guaíba, porém os bairros populares da cidade e os problemas advindos desse crescimento não eram foco da revista.

O pesquisador comenta que ao analisar o discurso das revistas deste período é possível notar um maior engajamento pelo discurso de incentivo pelo desenvolvimento das grandes cidades, como Porto Alegre.

“Os principais periódicos passaram a focalizar essencialmente o processo de transformação e modernização da sociedade urbana, deixando de lado as críticas e as contradições que acompanhavam este processo. Com isso, concretizaram a utopia da cidade moderna numa verdadeira pedagogia social, dando velocidade ao processo de mudança de uma forma positiva”, explica Monteiro.

história de porto alegre

Foto: Flávio Carneiro e Thales Farias

Memórias de uma cidade em transformação

No início dos anos 1970, Porto Alegre continuava seu processo de crescimento e transformação. A população da capital passou de 590 mil habitantes para 1 milhão e 530 mil em 1970, marcando o período por uma evolução dos espaços urbanos da cidade. Em sua pesquisa, intitulada como Duas leituras sobre as transformações da cultura urbana de Porto Alegre nos anos 1970: entre memória e ficção, o professor Charles Monteiro analisa narrativas sobre a década na cidade de Porto Alegre e como estas memórias influenciam os dias atuais.

O docente explica que mesmo com a modernização do espaço urbano, demolição acelerada de prédios antigos e a retirada dos bondes existia outro movimento que buscava preservar a memória da cidade. Cronistas, como Nilo Ruschel eram responsáveis por retratar a cidade do passado, uma cultura urbana que se organizava em cafés, bares e restaurantes. Com isso, foi criado o Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo e foram publicados diversos livros sobre a história da capital gaúcha.

Já os escritores, como Moacyr Scliar abordavam a capital do presente e do futuro, relatando seus problemas e contradições nas crônicas. Naquele período, o processo de crescimento da cidade parecia não ter mais volta. Bairros como Bom Fim, Cidade Baixa e Moinhos de Vento cresciam comercialmente e ganhavam vida noturna. Além disso, Porto Alegre tornava-se palco para grandes eventos, como a missa campal com a presença do Papa João Paulo II, em 1980.

Novas alternativas para problemas urbanos

De acordo com Monteiro, a transformação de Porto Alegre segue acontecendo com o passar dos anos. Entre 1991 e 2000, o IBGE apresentou uma taxa de crescimento populacional de 0,93%. Além disso, foram realizados diversos grandes eventos como o Fórum Social Mundial, que colocou a cidade no mapa político e turístico internacional, e a Bienal do Mercosul, que a cada dois anos promove debates artísticos-culturais e promove a integração entre diversos países.

O último grande evento que aconteceu na cidade foi a Copa do Mundo de Futebol de 2014, que atraiu turistas e hospedou as seleções esportivas da Argentina, Honduras, Alemanha, França, Holanda, Argélia, Nigéria, Coreia do Sul e Austrália. O episódio gerou calorosos debates sobre a infraestrutura da capital, e assim, foram propostos novos projetos de revitalização da Orla do Gasômetro, do Cais Mauá e do 4.º Distrito de Porto Alegre.

“Porto Alegre continua a defrontar-se com os desafios que o passado e o presente lhe deixaram, mas parece haver, mais do que em qualquer outro período anterior, maior consciência e participação da sociedade civil na discussão e na busca por alternativas viáveis para o enfrentamento dos problemas urbanos”, finaliza o docente.