Estamos nos preparando para o enfrentamento de um dos maiores  desafios do período atual: a reconstrução das relações sociais e das novas condições de vida pós este período de isolamento social. Tendo como imposição o afastamento social como estratégia para contenção do coronavírus, muitas são as perdas além das vidas ceifadas pelo inimigo invisível. Como se estivéssemos nos preparando para sairmos da caverna onde procuramos abrigo, precisamos enxergar esperanças de dias melhores que possam   nos conferir significados de uma nova vida e de nova ordem social.

Sem dúvida, o distanciamento social produziu um paradoxo, pois, para nos cuidarmos e cuidarmos do outro, precisamos nos distanciar das pessoas. A orientação é de um distanciamento físico, porém temos observado que isto tem trazido outras consequências. Somos seres de “contato”, desde o mais intenso, o físico, com beijos e abraços até os toques mais sutis nas mãos ou no rosto das pessoas que gostamos ou mesmo “tocamos” com o olhar, com a palavra, com a escuta. As relações, sim estão sendo impactadas, em algumas, a proximidade do confinamento tem produzido maior intimidade, em outras, maior distanciamento, maior dor, conflito e solidão.

O que nos traz segurança e cuidado individual e coletivo, também traz algumas perdas e como toda mudança gerada por uma crise, perdemos e ganhamos. Neste caso, perdemos a rotina conhecida, a sensação de controle sobre nós e sobre os eventos que estavam por vir, um controle ilusório, e essa pandemia se apressou a nos mostrar. Ter a rotina pessoal radicalmente alterada é muito ameaçador, pois esta é um importante organizador de nossa vida. Respondemos a esta perda vivenciando um processo de luto. Neste caso o luto relativo ao mundo presumido, ou seja, o mundo interno, constituído pelo sujeito, como verdadeiro, acerca do que ele conhece, sabe ou pensa de seu passado, presente e futuro e que é significativamente impactado em uma crise, especialmente com as dimensões da que estamos vivendo, Parkes(2009), Luna e Moré(2019). O trabalho, faculdade, escola, compromissos, lazer, encontrar os amigos, abraçar os pais, tudo ficou em suspenso, mobilizando inúmeras reações: incredulidade, medo, raiva, tristeza e frustração. Estas reações são naturais no luto, perdemos coisas que são muito importantes para nós e reagimos emocionalmente a estas perdas.

Além disso, o vírus visto como inimigo invisível não está tão invisível, ele se hospeda no nosso semelhante e é isto que nos assusta e nos causa pânico e medo. O inimigo passa ser o outro e este passa a ser a ameaça personificada. Alguns comportamentos estão sendo observados como: pessoas sendo insultadas nas ruas, profissionais da saúde ameaçados, por serem potencialmente agentes de transmissão da doença. Cabe a reflexão, por que, e a quem estamos atacando? Se isto ocorre no espaço público, podemos imaginar o que acontece no privado. Perdemos o que de mais sagrado defendemos e necessitamos: o nosso reconhecimento no outro porque este passou a ser uma ameaça a nossa própria vida. Isto precisa ser encarado de frente   e não deixa de ser o risco de morte social dos afetos, dos contatos, das proximidades, das gentilezas e de tantos outros sentimentos.

O respeito às pessoas deve vir em forma de cuidado com o outro, para que não sejamos veículos de contágio do vírus e de indiferença e intolerância. A expressão “estamos todos em uma tempestade e os estragos serão diferentes dependendo de que condições temos para nos abrigar” exemplifica bem esta questão. Talvez aí resida uma das maiores representações deste luto que precisa ser vivenciado e ressignificado de forma ampla, nos níveis cognitivo, interpessoal e social para que nos permita sair desta pandemia aprendendo e efetivamente nos transformando como seres humanos.

Reconhecer e identificar por que estamos mais ansiosos, irritados, intolerantes, introspectivos, (in) sensíveis, isolados, com medo e em outros momentos mais produtivos, focados em aprender algo novo, motivados para organizar as atividades acadêmicas ou de trabalho, desejando sair e ver pessoas, mais alegres e confiantes, é uma parte importante do processo de auto-observação e de autoconhecimento que as crises também proporcionam. Estas oscilações são esperadas dentro deste contínuo e precisam ser expressas e compreendidas. O Processo Dual do Luto, proposto por Stroebe & Schut (1999, 2001) indica que esta oscilação, tanto de sentimentos quanto comportamentos é necessária para que o processo de luto avance e a perda possa ser integrada a nossa vida e essa possa avançar.

Ficar triste, assustado e desanimado em alguns momentos e em outros esperançoso e confiante é esperado e desejável, como um pêndulo que se move entre dois polos, um voltado para a perda (dor, tristeza, sofrimento) e outro voltado para a restauração (transformar a dor em ação, descobrir novos interesses e criar, por exemplo). Dar sentido a perda é necessário e permite aprender com a mesma, passando o enlutado de vítima a sobrevivente, como traz Worden (2013).

O “ficar em casa” tem também colocado luz sobre um potente sentimento, a solidão. É necessário diferenciar entre estar só e estar solitário. Estar só significa estar desacompanhado de outras pessoas é a realidade de muitas pessoas atualmente. Estar sofrendo de solidão abarca estar triste, desamparado, afastado de relações íntimas, significativas e próximas que possam ser suporte nos diferentes momentos da vida, assim como, a pessoa não se perceber como uma boa companhia para si mesmo, mesmo na companhia de outros. A solidão tem várias faces, uma delas nos mostra a dor produzida pelo contato mais íntimo consigo mesmo e com algumas das questões pessoais que são difíceis de lidar e no cotidiano não são olhadas, pois temos outras demandas, geralmente externas como do trabalho, estudos, outros. Estar confinado “consigo mesmo” pode ser uma dolorosa experiência, mas que também pode ser transformadora, com o apoio e suporte adequados.  Desencadeando a experiência do autoconhecimento, do mergulho em nós mesmos na busca de reconstrução de sentidos e significados de vida.

E as perdas por morte? As despedidas e o suporte dispensado por familiares e amigos no final de vida, que permite a esses seguir o processo natural de luto, não são permitidos, pois os rituais de despedidas também se tornaram de risco.  Enxergamos e testemunhamos quase que a barbárie humana em que pessoas são enterradas em covas comuns e nesta hora derradeira, são privadas de uma despedida digna, literalmente despidas de sua identidade individualizada. Sofrem os que morrem, sofrem os que sobrevivem, sofremos todos que assistimos, mesmo que não tenhamos perdido ninguém próximo. Todos somos impactados, todos fazemos parte dos afetados pelos eventos desencadeados pelo COVID-19. Falar sobre isto é importante, assim como é fundamental identificar o que isso nos produz e como vamos processar e seguir a diante.

As determinações vividas de forma intensa nestes últimos meses terão sérios impactos nas nossas vidas daqui para frente. Nesta difícil tarefa de elaborar perdas, que saibamos ressignificar as nossas vidas e as   vidas de todos que fazem parte de nossas redes de relações. Não podemos assistir como mero espectadores porque somos sujeitos desta   construção histórica e os principais   envolvidos. Como podemos nos posicionar frente a tudo isso de desenvolver nossa resiliência? Como elaborar o luto de tudo o que perdemos neste período? Com tudo isto, estamos construindo a experiência de viver em uma sociedade enlutada com muitos sentimentos de perdas a serem elaborados:  perdas de vidas humanas, perda da liberdade de ir e vir, perda do direito de sermos, perda do direito de nos manifestarmos, perda do direito ao lazer, perda de direitos essenciais como trabalho, saúde, educação, entre tantos outros. Perda do conhecido e do que julgávamos ter sob controle e medo do desconhecido e da morte. O desafio é vivenciar esse processo de luto como uma oportunidade de mudança, que pode ser difícil em muitos momentos, mas transformadora em sua essência.

Saiba mais: Centro de apoio discente da PUCRS segue com atendimentos online

Leia também: Cuidados com a saúde mental em tempos de isolamento social

Webinar Rede Marista-cardA Rede Marista Internacional de Instituições de Educação Superior promoverá no dia 14 de maio, às 14h, o webinar Cenários e Oportunidades para a Rede Marista Internacional de Instituições de Educação Superior. O encontro virtual acontecerá na plataforma Zoom, acessando este link.

A abertura será conduzida pelo Ir. Luis Carlos Gutiérrez, Vigário Geral do Instituto de Irmãos Maristas. Em seguida, três convidados abordam temáticas relacionadas ao ensino superior no momento atual de pandemia:

Organização acadêmica em tempos de pandemia: Construindo possibilidades: Prof. Dra. Adriana Justin Cerveira Kampff – Diretora de Graduação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) – Brasil.

As IES Maristas no contexto pós-pandemia: Cenários e perspectivas: Prof. Dr. Ir. Marino Latorre Ariño – Diretor da Escola de Pós-Graduação da Universidad Marcelino Champagnat (UMCh) – Peru.

Percursos para Graduação Online: Compartilhando experiências: Prof. Dr. Vidal Martins – Vice-Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)  – Brasil.

Sobre a Rede Marista Internacional de IES

A Rede Internacional Marista de Instituições de Ensino Superior integra 27 instituições espalhadas pelo mundo, em países como Austrália, Argentina, Brasil, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, Quênia, México, Peru e Timor Leste. A rede busca, desde 2004, criar conexões multidirecionais em comunicação interinstitucional entre as universidades maristas. O Pró-Reitor de Graduação e Educação Continuada Ir. Manuir Mentges foi eleito, em 2019, presidente do Comitê Gestor da rede.

startup-garagem-onlinePrograma de Modelagem de Negócios do Tecnopuc Startups (Startup Garagem), voltado para empreendedores em geral – alunos de graduação e pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) matriculados na PUCRS, professores, funcionários e Alumni da PUCRS. Com inscrições abertas até o dia 14 de maio, às 12h, os interessados podem participar por meio deste link.

Pela primeira vez em modalidade on-line, o Startup Garagem é uma iniciativa que disponibiliza um espaço de acolhimento de ideias, projetos inovadores e de base tecnológica. Os empreendedores participantes, recebem apoio para o desenvolvimento de um modelo de negócios. A iniciativa é promovida pelo Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc).

As atividades do Programa, se iniciam no dia 18 de maio, entre elas estão palestras e workshops, mentorias e acompanhamentos individuais para cada um dos projetos. Mais informações podem ser conferidas aqui.

E é em Universidades como a PUCRS que nascem descobertas importantes em resposta às questões mais incertas. Durante a pandemia do novo coronavírus, toda a comunidade acadêmica se mobilizou para combater a proliferação da Covid-19 e prestar assistência à sociedade.

Após a suspensão das aulas e da maior parte dos serviços presenciais, diversas iniciativas foram realizadas em prol da comunidade e do contingenciamento da pandemia. Pesquisadores desenvolveram um novo teste mais rápido e barato para o coronavírus; diferentes artistas e personalidades se apresentaram para levar cultura, entretenimento e conhecimento aos lares de quem está em casa; laboratório da PUCRS fizeram testes em equipamentos utilizados por pacientes; parcerias com outras empresas possibilitaram expandir a disponibilidade de materiais para hospitais; foram produzidas 2,5 mil máscaras para a rede de saúde; e inúmeras outras iniciativas que mostram que você pode conferir clicando aqui.

Professores(as) e técnicos(as) adaptaram suas aulas e atividades para as plataformas online, de forma que os(as) alunos(as) não precisassem se expor ao vírus. Juntos(as), com colaboração e empenho, foi possível realizar aulas síncronas ao vivo; trabalhos em grupo se transformaram em novas formas de se conectar; a saudade do convívio se tornou uma motivação para cuidar do coletivo, mesmo que de longe. Para isso, é preciso aprender. Reaprender. Reinventar.

Estar em uma universidade é trilhar caminhos que acompanham as rápidas e constantes transformações da vida. Mesmo aquelas mais inesperadas. E é isso que você vive na PUCRS. Uma experiência única de aprender com excelência e ao mesmo tempo gerar soluções que impactem o presente e o futuro. O seu, e o de toda a sociedade.

Inscrições abertas para todos os processos de ingresso

2020_05_10-mes_de_maria(907x605)Neste domingo, celebramos o Dia das Mães. A data é anualmente comemorada em maio, Mês de Maria. Um mês marcado pela reflexão e pela gratidão a alguns dos sentimentos mais puros: o amor, o cuidado e a ternura. Sentimentos que se relacionam à figura materna, inspirada no olhar afetuoso da Boa Mãe.

O Mês de Maria é uma tradição originária da Grécia Antiga. Porém, Marcelino Champagnat teve um papel importante em sua expansão. Quando era sacerdote, ele introduziu em sua paróquia essa prática, distribuindo inúmeros exemplares de obras que propagavam a devoção à Mãe de Deus. Com isso, o costume se difundiu pela França e se mantém vivo no Instituto Marista, ao redor do mundo.

É um período especial para nós, Maristas. Tempo de recordar a presença amorosa da Boa Mãe, a profunda afeição e a total confiança que Marcelino Champagnat tinha por Ela. De resgatar o exemplo de Maria, que nos inspira a construir relações baseadas na afeição e no amor. E de homenagear as mães e todas as mulheres a nossa volta que tanto têm a nos ensinar.

A imagem da Boa Mãe

Ao longo de sua vida, Champagnat conservou diferentes imagens de Maria. De todas elas, destaca-se a da Boa Mãe. Nessa imagem, Maria segura Jesus nos braços, inspirando ternura e demonstrando sua presença amorosa. A figura do menino, calmo e seguro, demonstra plena confiança na mãe – atitude fundamental na vida e na espiritualidade de Champagnat.

Amor que inspira

Além de marcar o nome do nosso Instituto, a presença de Maria inspira o Jeito Marista. Champagnat sempre ensinou a tornar realidade o espírito de família, baseado no convívio amoroso e no aconchego. E a Boa Mãe inspira a desenvolver as características para isso: afeição e ternura em todas as relações.

Seguir Jesus do Jeito de Maria é a essência do Carisma Marista. Asim, esse mesmo espírito de família baseia o relacionamento entre Irmãos, alunos e comunidade.

A música Boa Mãe

A música Boa Mãe foi criada por um grupo de Irmãos Maristas da Espanha, chamado Grupo Kairoi. A letra evidencia algumas atitudes e desejos, tais como a vontade de seguir Jesus do Jeito de Maria, com confiança, fé e simplicidade e na oração. O Coral da PUCRS gravou a canção. Confira:

Na peça de teatro do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1882), a ação passa-se numa pequena cidade na costa meridional da Noruega cuja maior fonte de renda advém de sua estação balneária. O Dr. Stockmann identifica que a água está poluída, aparentemente devido a lançamentos de impurezas dos curtumes da cidade. Médico dedicado à ciência, sente-se no dever de levar a verdade ao povo, mas a denúncia representará o encerramento do balneário, o que causaria um transtorno para a cidade, que deixaria de lucrar com o turismo. E então ele é apontado como inimigo do povo! Inimigo do povo! Inimigo do povo!

Há espaço para equilibrarmos as ações promotoras da vida com as necessidades econômicas?  Nesta pandemia, enfrentamos um inimigo invisível que dizima populações. Não é de hoje que as decisões duras impostas pelo dilema da preservação da vida e as repercussões econômicas vêm ao debate público. Todos admitimos que o princípio sagrado da preservação da vida prevalece sobre qualquer outro. Mas também todos concordamos que o caos econômico pode se tornar letal à vida até então preservada. A despeito das questões ideológicas, os interesses mesquinhos e particulares, devemos entender que a pandemia do novo coronavírus é única, com padrões de transmissão, distribuição etária e viabilidade no meio externo desconhecidos de todos nós. Ainda que o curso dessa pandemia seja impossível de prever, sabemos que a fase inicial é o momento  adequado de agir com celeridade.

Como na prática médica em geral, por vezes, os tratamentos são realizados em etapas ou ciclos e estes ocorrem em tempos diversos. A primeira etapa envolve a conscientização da população e a forte participação dos meios de comunicação, da academia e de toda a sociedade para o preparo e entendimento da gravidade da pandemia, acompanhado de medidas restritivas severas com repercussões na vida de cada cidadão e na economia. O distanciamento social nunca é popular. O objetivo não é conter a doença, mas atenuar seus efeitos para reduzir a mortalidade e o número de indivíduos que necessitará de atendimento hospitalar, mormente de tratamento intensivo. E, assim, evitar a falência do sistema de saúde e as escolhas de Sofia!

Não podemos “matar da cura”, mas temos que evitar de apontar o Inimigo do Povo. Infelizmente com custos para a vida e para a atividade econômica, pois sabemos que tais consequências são inevitáveis, embora trabalhemos para minimizá-las. Mas, para isso, temos que passar pelo primeiro ciclo do tratamento e evoluir para o seu aprimoramento contínuo.

Não há caminhos mágicos, mas a prevenção no tempo certo é a melhor escolha para salvaguardar a vida e, ao mesmo tempo, uma economia voltada a sustentar uma casa compartilhada por todos.

Sobre Jaderson Costa da Costa

O professor Jaderson é graduado em Medicina, tem especialização em Neurologia, mestrado em Ciências Biológicas (Fisiologia e Neurociências), doutorado em Ciências Biológicas (Fisiologia) e Research Fellowship em Neurologia (Neurofisiologia Clínica) na Harvard Medical School. É docente da PUCRS há 48 anos. Atualmente é professor titular da Escola de Medicina, professor adjunto associado da Universidade de Miami, além de vice-reitor da PUCRS e diretor do Instituto do Cérebro (InsCer).

Home Office, Dia do Trabalho

Professor Eugênio Hainzenreder Júnior / Foto: TRT4

Nunca se imaginou que o Dia do Trabalho pudesse fazer tanto sentido para o mundo, como acontece neste momento que vivemos a pandemia da Covid-19. Com ela, além de todas as angústias e receios sobre a nossa saúde, passamos a viver incertezas também no mundo do trabalho. Da noite para o dia, sentimos a necessidade de expandir a tecnologia, entender a economia de compartilhamento e até mesmo reformular nosso setting de trabalho.

Estamos vivendo tempos antes impensáveis, com crise sanitária, população desamparada, trabalhadores com seus ofícios ameaçados e empresas com suas receitas comprometidas. Todas essas questões graves suscitaram um esforço coletivo. Pode parecer ambivalente: embora isolados, em pleno confinamento, nunca estivemos tão próximos uns dos outros, repensando a solidariedade e a nossa própria condição humana.

No universo do trabalho, o contexto pandêmico veio como um terremoto. As fissuras que se abriram colocaram o Direito do Trabalho a criar soluções jurídicas com a finalidade de mediar os interesses de seus protagonistas: empregado e empregador. Ademais, a problemática dos autônomos e informais é outra resultante dessa atividade sísmica.

Neste momento de crise, novas discussões sobre ideias de proteção social e do trabalho surgiram, e o Estado foi obrigado a repensar programas para garantir a renda básica, preservar os empregos e as empresas. Trata-se de um momento de reinvenção e de superação nos mais diversos âmbitos de nossas vidas: o home office deixou de ser um fantasma; muitas famílias ressignificaram sua convivência; as pessoas passaram a temer menos o encontro consigo mesmas; e, principalmente, nunca se viu uma corrente de solidariedade tão forte.

Nos últimos anos se chegou a cogitar a extinção da Justiça do Trabalho, e inúmeros foram os comentários no sentido de que o Direito do Trabalho não tinha mais utilidade. Porém, essa doença veio nos lembrar de seu inquestionável papel como regulador da sociedade. Assim como os profissionais da saúde estão sendo expoentes no front de combate à pandemia no que diz respeito à saúde fisiológica e mental das pessoas, o Direito do Trabalho tem se mostrado indispensável no sentido de zelar pela saúde econômica do país, harmonizando seus pilares de sustentação: valor social do trabalho e livre iniciativa.

Foto: Divulgação HSL

Foto: Divulgação HSL

Na manhã desta quarta-feira, dia 29 de abril, os profissionais de saúde do Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) foram homenageados pelos trabalhos prestados frente à pandemia Covid-19. Escalando o prédio do Hospital, de 10 andares (aproximadamente, 40 metros de altura), dois alpinistas foram até o topo e desceram abrindo um banner de cinco metros de altura com a frase Eles dedicam sua vida para cuidar da nossa! Homenagem aos profissionais da saúde.

Na sequência, ambos se deslocaram pelas janelas do prédio para mostrar aos profissionais do HSL cartazes fornecidos por cada hospital com frases de incentivo como Nossa união nos dá a certeza de que não estamos sós.

Uma iniciativa conjunta dos hospitais

A ação tem o intuito de valorizar quem permanece na beira do leito, nos bastidores ou no cuidado com o funcionamento de todas as atividades para acolhida, segurança e bem-estar, seja aqui ou em outras instituições hospitalares.

A iniciativa é organizada em conjunto pelos hospitais São Lucas da PUCRS, Mãe de Deus, Santa Ana, Santa Casa e Moinhos de Vento. De forma voluntária, os profissionais de rapel foram cedidos pela Executar Alpinismo Industrial.

Confira a galeria de fotos:

saúde mental, isolamento social, Núcleo de Apoio Psicossocial

Foto: Getty Images/iStockphoto

A humanidade está passando por uma de suas maiores crises, que terá sérios impactos econômicos, sociais, políticos e, principalmente, sobre a saúde da população. Iniciamos o nosso ano letivo com muitas perspectivas e expectativas de novos projetos e sonhos. De repente, um inimigo invisível nos obriga a retornarmos para as nossas casas e nos faz experimentar uma vivência sem precedentes: a vivência do isolamento social com uma das principais estratégias de protegermos. Este isolamento está causando sérios impactos que precisam ser compreendidos e analisados a partir do contexto social que estamos vivendo.

Passamos por uma situação de crise e apesar de sabermos da necessidade de realizarmos o isolamento social e dos riscos que corremos ao não fazê-lo, estar nesta situação é uma experiência desagradável, pois ela reflete em separação de entes queridos, perda da liberdade, incerteza sobre o status da doença e uma boa dose de tédio.

As pessoas reagem e sentem a situação de forma diferente. Algumas se sentirão sobrecarregadas, confusas, desorientadas, amedrontadas, ansiosas, anestesiadas ou insensíveis. Estas reações podem ser leves ou extremas e dependem de fatores como a natureza do evento que provoca a crise; as vivências anteriores de situações como esta; estado de saúde física e mental; fatores culturais e idade. Estes fatores fazem com que as pessoas desenvolvam suas próprias estratégias para lidar com a situação, que vai da negação à aceitação do problema e da realidade. A maioria das pessoas consegue enfrentar estes impactos e, progressivamente, se adapta ao novo contingente.

No entanto, também podemos nos tornar mais vulneráveis e tender a reações psicológicas diversas à crise. Estas podem se manifestar através de sintomas físicos como, por exemplo, tremores, palpitação, agitação, dores de cabeça e cansaço. Outros sinais como choro, tristeza, sentimento de solidão, medo, incapacidade e frustração; ou ainda sintomas como ansiedade, alterações no sono, desorientação, entre outros.

“…estarmos atentos a nós mesmos, ajuda a detectar os impactos e as reações psicológicas e nos possibilita adotar estratégias que contribuam para minimizar possíveis consequências.”

Uma medida favorável em momentos como o que estamos passando é a capacidade de auto-observação, estarmos atentos a nós mesmos, ajuda a detectar os impactos e as reações psicológicas e nos possibilita adotar estratégias que contribuam para minimizar possíveis consequências. A atitude de buscar somente informações adequadas de órgãos oficiais e uma ou poucas vezes ao dia contribui para uma compreensão real do problema e não alimenta fantasias.

Reduzir o tédio, mantendo uma rotina de estudos e trabalho da forma mais aproximada do que acontecia anteriormente, ajuda a evitar a sensação de descontinuidade. Para isto é muito importante que a comunidade acadêmica entenda que este é um momento histórico e global, em que as decisões e estratégias são contextualizadas a partir de uma realidade macro para garantir minimamente o bem-estar de toda sociedade.

Contar com a rede social primária e secundária (familiares e amigos) possibilita a continuidade dos vínculos de afeto e, para isto, pode-se acionar as redes sociais digitais. Abrir-se e disponibilizar-se para aprender conteúdos e novos saberes através de leituras e aulas na modalidade online, pode se constituir em momentos prazerosos e de satisfação de que o tempo esteja sendo aproveitado da melhor forma possível. Construir um entendimento de que a humanidade está passando por esta crise contribui para que continuemos nos sentindo pertencentes a uma grande rede de relações diminuindo o sentimento de solidão em relação ao problema e proporcionando maior probabilidade de se colocar no lugar do outro. Mais do que nunca, precisamos saber nos colocar no lugar do outro.

Neste sentido, a empatia pode ser compreendida como colocar-se no lugar do outro, acolhê-lo, recebê-lo, escutá-lo com o objetivo de compreender a sua situação, sem julgamento prévio. No momento atual em que vivemos sob o medo de um inimigo invisível aos olhos da humanidade, a empatia também se expressa em nos recolhermos em nossas casas para nos protegermos e protegermos aqueles que fazem parte da nossa rede de relações.  O inimigo invisível nos obriga ao isolamento e, com isto, voltamos à caverna para nos protegermos, porque sabemos que o perigo está lá fora, não sabemos onde, mas sabemos que ele está lá.

É preciso saber se colocar no lugar do outro, entender que o outro talvez necessite muito mais do que eu, da última máscara e do álcool gel da farmácia. Empatia, solidariedade e compaixão, uma tríade para compreendermos melhor a nossa condição humana em tempos em que precisamos cuidar da nossa saúde mental. Isso para enfrentarmos os desafios que o mundo nos impõe, mesmo que muitas vezes, o inimigo seja invisível, não palpável, mas pode ser letal, e levar à finitude da vida se não tomarmos uma decisão responsável de cuidarmos de nós e dos outros  com um verdadeiro  sentimento de unidade.

O Núcleo de Apoio Psicossocial composto por uma equipe multidisciplinar, vinculado ao Centro de Apoio Discente da PUCRS, tem na sua identidade de serviço institucional, uma longa história de acolhimento, apoio, acompanhamento e encaminhamentos junto a estudantes e professores da Universidade. São múltiplos olhares voltados ao cuidado humano, principalmente sobre os aspectos psicossociais e de sofrimento psíquico que afetam e impactam diretamente a vida acadêmica de nossos estudantes. Trata-se de um espaço de acolhimento, escuta, intervenção e mediação no apoio às necessidades da comunidade acadêmica.

Participaram da elaboração deste artigo os(as) profissionais Alfredo Cataldo Neto, Psiquiatra; Angela Seger, Psicóloga; Carla Villwock, Psicóloga; Francisco Arseli Kern, Assistente  Social; Rafael Maihub, Psicopedagogo; e Vanessa Manfredini, Psicóloga.

Saiba mais: Centro de apoio discente da PUCRS segue com atendimentos online

Podcast da PUCRS aborda o coronavírus e novos desafios - O Conversa de Fundamento, da Escola de Negócios, debate sobre inclusão digital, economia, saúde e mais

Foto: William Iven/Unsplash

Uma das principais formas de combater uma pandemia é a informação: ter acesso a orientações corretas e conteúdo de qualidade e confiável. O Conversa de Fundamento, podcast da Escola de Negócios da PUCRS, discute temas da atualidade de forma despojada, mesclando comportamento, inovação e muito mais. Durante a quarentena causada pelo coronavírus, uma das preocupações do projeto foi manter os ouvintes atualizados sobre o que está acontecendo.

As pessoas às vezes se incomodam por receber muitas informações sobre o mesmo tema. Para não ser repetitivo, o professor Ely Jose de Mattos – âncora do programa, explica que tudo é uma questão de abordagem. “Da mesma forma que pode parecer cansativo falar da pandemia e da quarentena, também é complicado não fazer. Então, temos tentando abordar o assunto a partir de diferentes óticas, como padrões de consumo, questões políticas e economia, por exemplo. A Covid-19 acaba virando um fio condutor, mas não necessariamente é o foco central”.

O papel de informar

Debater, conversar com base em dados, levar informações apuradas e se informar. Estes são os objetivos do podcast, que mesmo falando de assuntos sérios e importantes, aposta em manter a leveza a descontração.

“Acredito que não falar da pandemia seria um erro. Como universidade, é importante darmos uma contribuição ao debate neste momento. O coronavírus tem afetado praticamente todos os aspectos da nossa vida, é impossível ignorá-lo”, destaca Mattos. O Conversa de Fundamento já tratou de temas sobre:

Confira os novos episódios

Todas as quintas-feiras, o público pode ouvir um assunto novo, nas principais plataformas de streaming, como SpotifyDeezerApple Podcast e Soundcloud. Os bate-papos também contam a presença dos docentes Lelis Balestrin EspartelStefania Almeida e Osmar de Souza.