Impacto Social

Artigo | A força-tarefa do conhecimento

terça-feira, 21 de maio | 2024

Por: Carlos Eduardo Lobo, Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da PUCRS 

Pessoas abrigadas no Parque Esportivo da PUCRS estão sendo atendidas por estudantes e professores/as voluntários/as da Escola de Ciências da Saúde e da Vida. / Foto: Lucas Azevedo

Quando as águas transbordaram e invadiram ruas, casas, desabrigaram milhares de famílias e mataram pessoas, deixando um rastro de destruição por mais de 400 municípios do Rio Grande do Sul, a sociedade se mobilizou e – mais do que isso – se jogou de corpo e alma em ações de solidariedade e de ajuda às vítimas do desastre. Muitos heróis se revelaram, de lares secos e inundados. Todos imbuídos na superação do primeiro grande desafio de um desastre como esse: salvar vidas e cuidar das vidas salvas, no meio ao caos social, com falta de água, de luz e de mobilidade. Na luta pela vida, mesmo com perdas inevitáveis, as sociedades gaúcha e brasileira mostram uma força de reação extraordinária. 

Na medida em que a água desce pela Lagoa dos Patos, novas cidades se veem ameaçadas e outras, vítima da semana passada, iniciam o segundo desafio dessa dura jornada: reconstruir o Estado – não apenas casas, comércios, fábricas, hospitais e escolas, mas também a vida de centenas de milhares de gaúchos. 

Enquanto retiramos a lama e os destroços, pavimentamos ruas e reconstruímos pontes, não há como ignorarmos o risco futuro de novos desastres. E aqui chegamos ao terceiro desafio: planejar e implementar estratégias eficazes que nos protejam. Se não pudermos – como sociedade local – evitar intempéries climáticas, que possamos reduzir ao máximo a destruição por elas causada. 

Para enfrentar os três desafios – salvar vidas, reconstruir o estado e minimizar danos futuros – as universidades têm papel preponderante. Este é um momento especial em que a sociedade precisa do nosso conhecimento e, mais do que isso, da nossa capacidade de transformar conhecimento em impacto social e melhoria do bem-estar da população. 

Precisamos não apenas da UFRGS, da PUCRS, da Unisinos e de tantas outras boas universidades gaúchas, mas também da USP, Unicamp, UNESP, UFSCar, e de todas que possam trazer soluções que ajudem a reconstruir o Rio Grande e as nossas esperanças. 

Entretanto, o conhecimento e a boa vontade da pesquisa brasileira não bastarão. É fundamental que haja uma coordenação, que identifique e articule iniciativas e grupos de pesquisa aptos e fortemente orientados a resultado, nas mais diversas áreas do conhecimento. 

Em tarefas emergenciais e de reconstrução multidimensional e multidisciplinar, uma boa coordenação das ações é determinante, como deixam claro os documentos “The Federal Response to Hurricane Katrina: Lessons Learned” (2006) e “National Disaster Recovery Framework” (segunda edição, 2016). 

Portanto, o governo federal, em alinhamento com os governos locais e a iniciativa privada, precisa assumir o protagonismo deste amplo movimento, definindo como mobilizará recursos e competências para alcançar êxito. Certamente, um projeto dessa magnitude precisa estabelecer em todas as suas frentes resultados esperados claros e mecanismos de acompanhamento e avaliação, para garantir a eficiência máxima na utilização dos recursos. 

O caminho é longo e os problemas são complexos. Mas o Brasil tem mais uma oportunidade de mostrar à sociedade que investimento em educação e ciência transforma para melhor a vida dos brasileiros. 

*Artigo publicado originalmente no site do Estadão.