O Transtorno de Acumulação de Animais recentemente passou a ser estudado e classificado como doença pela Medicina. O distúrbio é definido quando existe a acumulação de muitos animais e a falha em proporcionar padrões mínimos de nutrição, saneamento e cuidados veterinários. Os ditos acumuladores de animais também não conseguem agir em condições deteriorantes como doenças, fome ou morte e em condições do ambiente, como superpopulação, ou situações extremamente insalubres.
A decana e professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Tatiana Irigaray explica que novas pesquisas sobre o assunto estão sendo desenvolvidas para entender as causas do Transtorno. “Caracteriza-se por dificuldades persistentes do indivíduo em doar ou se desfazer de animais, em consequência de uma forte percepção da necessidade de conservá-los e de sofrimento associado ao seu descarte”, comenta.
O grupo de pesquisa Avaliação, Reabilitação e Interação Homem-Animal (ARIHA), coordenado pela professora, realizou revisão sistemática do perfil dos acumuladores. Os resultados apresentaram que, em maior proporção, 90% eram do sexo feminino e acumulavam, em média, mais de 30 animais. Nestes casos, também foi possível levantar que as condições das habitações eram insalubres, e os animais mais acumulados eram cães e gatos.
“Concluiu-se que devido à carência de estudos empíricos sobre a temática, pesquisas necessitam ser realizadas para construir estratégias de intervenções para sanar o grande sofrimento que o transtorno produz para a pessoa, para sua família e para os animais”, destaca Irigaray.
Outro estudo empírico conduzido pelo mesmo grupo buscou investigar as características de uma amostra composta por 33 indivíduos que acumulavam animais. Os participantes apresentaram em média 61 anos de idade e 9,39 anos de escolaridade, o equivalente ao ensino fundamental completo. Os resultados deste estudo encontraram maior prevalência de mulheres (73%) e idosos (64%) na amostra, como apresentado em estudos anteriores.
A média por acumulador foi de aproximadamente 41 animais e apenas 22% dos participantes mantinha todos os seus animais castrados. O tempo de acumulação dos animais foi, em média, 23,09 anos e o número total de animais acumulados foi de 1.357, sendo 915 cães, 382 gatos e 50 patos. 56,7% dos participantes também acumulavam outros objetos.
Com essa pesquisa, o grupo realizou a proposição de que o Transtorno de Acumulação de Animais é uma nova categoria nosológica (classificação científica de doenças), com características distintas do Transtorno de Acumulação. Foi apontado que, ao contrário dos objetos acumulados, os animais são seres vivos, por isso, não obstruem os ambientes domiciliares, como na acumulação de objetos. Além disso, os processos de descartar ou doar animais também se diferenciam dos processos de descarte do acúmulo de objetos, visto que existe um vínculo afetivo e vidas.
Novas pesquisas avançam no assunto para buscar entender quais são as melhores estratégias de intervenção para cada caso. “Ainda não sabemos como tratar os indivíduos acumuladores. Vimos que a retirada dos animais não resolve, pois em pouco tempo a pessoa volta a acumular. Com os avanços das pesquisas poderemos propor melhores formas de agir”, comenta Irigaray.
O grupo de pesquisa ARIHA, sob a coordenação de Tatiana Quarti Irigaray, tem como objetivo desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão nos quais aborda diferentes temas relacionados à avaliação e reabilitação psicológica, envelhecimento, saúde mental, aspectos da interação humano-animal e o uso de animais em terapia. O objetivo principal é desenvolver estratégias de avaliação e intervenção que possibilitem ações preventivas e de tratamento.