A atividade faz parte das comemorações dos 30 anos do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCom) da Escola
A palestra de Gilles Lipovetsky contou com a mediação coordenador do PPGCOM, Juremir Machado da Silva. / Foto: Felipe Silva Teixeira
O filósofo francês Gilles Lipovetsky esteve na Escola de Comunicação, Artes e Design — Famecos da PUCRS para participar da II Mostra de Pesquisa, que celebra os 30 anos do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCom) da Famecos. O evento ocorreu em 3 de julho, quarta-feira. Durante sua conferência, Lipovetsky abordou a temática “Seja você mesmo: o triunfo da autenticidade na sociedade do efêmero”. A seguir, destacamos algumas caminhos possíveis de reflexões sobre a autenticidade.
Segundo Lipovetsky, autenticidade é afirmar a verdadeira essência de si mesmo. Isso significa seguir os próprios desejos e vontades, sem se deixar influenciar pelas expectativas dos outros. Embora pareça simples à primeira vista, na prática é uma questão complexa. Esse ideal caracteriza o individualismo contemporâneo, em que a autenticidade se tornou uma obsessão da nossa era, atingindo consensualmente várias esferas: social, individual, econômica, midiática, familiar, educacional, religiosa e política.
A incerteza e a desconfiança típicas da contemporaneidade alimentam a disseminação dessa autenticidade, legitimando a busca pela autoafirmação individual através do princípio de “seja você mesmo” ou, como popularmente se diz, “be yourself”.
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Segundo Lipovetsky, a angústia é algo que todos tentam evitar, surgindo quando nos sentimos incapazes de ser verdadeiramente nós mesmos. Muitas vezes, buscamos a orientação de coaches para nos auxiliar a descobrir nossa essência genuína, a pessoa que realmente somos. No passado, o ideal de autenticidade foi propagado como universal, mas na prática, isso nem sempre se concretizava. Lipovetsky exemplifica que o reconhecimento das identidades trans era impensável em épocas anteriores da sociedade. Com o tempo, a busca por ser genuinamente si mesmo atinge seu ápice, tornando-se um dos princípios fundamentais de nossa existência.
O direito de ser quem somos, a ideologia da autenticidade, emerge como um valor poderoso que transformou não apenas nossa visão de nós mesmos, mas também a maneira como vemos os outros. Essa ideologia não está mais apenas no plano das ideias abstratas; ela se tornou um agente transformador antropológico, alterando nossa percepção do mundo e de nossas interações.
No auditório lotado, Lipovetsky enfatizou que não podemos perder a bússola do social, do científico e do crítico. / Foto: Felipe Silva Teixeira
O filósofo exemplifica como a forma como nos apresentamos nas redes sociais mudou ao longo do tempo. Anteriormente, falar de si mesmo e descrever o próprio perfil eram práticas reservadas aos diários íntimos, usadas para refletir sobre o passado, entender melhor a si mesmo e buscar aprimoramento moral. Atualmente, porém, essa dinâmica evoluiu significativamente. Nas redes sociais, tendemos a mostrar apenas o nosso lado mais positivo, refletindo uma cultura que valoriza constantemente a autoimagem através de fotos, exposições e promoções pessoais.
Também relembra que a autenticidade não deve ser usada para ignorar as desigualdades sociais, questões políticas ou ameaças à democracia. Destacando que é perigoso cair na armadilha de glorificar líderes populistas simplesmente por serem autênticos. Esse pode ser um dos fatores que explicam o sucesso desses líderes: eles se apresentam como autênticos, expressando suas opiniões sem filtro, agindo como dizem ser, muitas vezes insultando pessoas e alimentando divisões, mas sendo percebidos como honestos. Devemos estar cientes do risco de idealizar a autenticidade dessa maneira. É um campo complexo em que ainda estamos navegando. Para finalizar, complementou: “Não podemos perder a bússola do social, do científico e do crítico” ao discutir e entender a autenticidade.
A conferência pode ser vista na íntegra no canal do YouTube da Famecos.
Mostra de Pesquisa em Comunicação ocorre entre os dias 2,3 e 4 de julho
O renomado filósofo francês Gilles Lipovetsky estará presente na Escola de Comunicação, Artes e Design — Famecos da PUCRS durante a II Mostra de Pesquisa em Comunicação, cujo tema é “A pesquisa em diálogo”. Lipovetsky ministrará a palestra intitulada “Seja você mesmo: o triunfo da autenticidade na sociedade do efêmero’’, marcada para o dia 3 de julho, às 19h15, no auditório da Famecos, localizado no prédio 7 da PUCRS. O evento também será transmitido pelo canal da Famecos no Youtube.
Filósofo francês, Lipovetsky é um dos pensadores mais originais e respeitados desta era. Teórico da hipermodernidade e da pós-modernidade, é considerado um intelectual de referência para os temas da moda e do consumo. É autor de best-sellers como “O império do efêmero – A moda e seu destino nas sociedades modernas”, “A era do vazio – Ensaios sobre o individualismo contemporâneo” e “O crepúsculo do dever – A ética indolor dos novos tempos democráticos”. Seus livros foram publicados em vários países e traduzidos para mais de 18 idiomas.
A Mostra é uma iniciativa da Famecos em parceria com a Escola de Humanidades da PUCRS. Para participar da palestra, não é necessária inscrição prévia. Para certificação de presença, os interessados devem se inscrever na Mostra através deste link.
Diante das enchentes no Rio Grande do Sul, é fundamental reconhecer a gravidade deste cenário e oferecer solidariedade às comunidades mais impactadas, que necessitam urgentemente de assistência e cuidado. É igualmente essencial aprofundar a análise dessa crise, refletindo sobre suas causas relacionadas às dinâmicas da intervenção humana no meio ambiente. No quinto painel das Rodas de Conversa da Escola de Comunicação, Artes e Design — Famecos da PUCRS, foram explorados temas como sustentabilidade, mudanças climáticas e outros fenômenos dentro do contexto do antropoceno. Abaixo, compartilhamos algumas reflexões.
A bióloga Letícia Azambuja Lopes introduz o tema destacando a necessidade de refletirmos sobre nossas ações e suas consequências no mundo. Ela enfatiza que essa reflexão não deve ser apenas individual, pois isso pode não ser suficiente, mas também coletiva e multidisciplinar. Para ela, o antropoceno é a era em que os humanos ultrapassaram o uso sustentável dos recursos naturais do planeta. “Nós erodimos esse planeta”, comenta a bióloga e pesquisadora em ecologia e evolução da biodiversidade.
Ela também explica que, na era geológica anterior, conhecida como holoceno, a vida no planeta mantinha uma condição saudável que se desenvolveu ao longo de milhares de anos, permitindo o surgimento dos primeiros organismos vivos. Com a chegada do Homo sapiens, os recursos começaram a se esgotar, sendo um alerta tanto para a nossa subsistência quanto para a de outros organismos vivos. Essa é a era dos humanos, o antropoceno, um conceito utilizado para designar uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra.
Letícia Azambuja Lopes, bióloga
Existe um descompasso entre a forma como nos organizamos em termos de planejamento e projetos futuros e o que o planeta como um todo nos demanda. Como podemos nos tornar mais sistemicamente semelhantes à forma como o planeta se organiza, que é relacional, e plural, diversificada. Essas são as considerações do pesquisador em planejamento urbano e regional, Christiano Pozzer. O pesquisador também trouxe as ideias de antropoceno e capitoloceno. Pozzer comenta que o contexto antropoceno não nos diz sobre o que precisamos fazer após as enchentes, por exemplo. Pois as alternativas que temos são negativas ou vão se sobrepor à natureza. Por isso, reflete que talvez não possamos considerar individualmente o antropoceno, pois nem todos os seres humanos representam esse mesmo sistema de dominação da natureza, indicando que não é somente o humano, mas sim o capital, no ponto de vista da interferência. Além disso, ele considera qual era, qual tipo de filosofia e pensamento de futuro podemos ter para desconstruir a persistência e os efeitos do capitoloceno no planeta.
Christiano Pozzer, pesquisador em planejamento urbano
O pesquisador em planejamento urbano e regional Yuri Rezende Taraciuk trouxe ao diálogo a concepção de paisagem, argumentando, a partir de reflexões de Michel Foucault e Georg Simmel, que no século XVIII o homem começou a se distinguir da natureza. Nesse contexto, a filosofia da paisagem emerge como uma contraposição entre a lógica dialética e a lógica estratégica, ajudando a entender as conexões que delimitam espaços para administrar e gerir o outro, destacando a importância de refletir sobre o presente e o futuro. Um exemplo prático dessa reflexão é como a paisagem é utilizada estrategicamente pelas cidades e estados, especialmente no contexto das enchentes. Nos espaços de poder, discute-se se a paisagem deve ser protegida, embelezada ou desenvolvida, como visto em discursos e imagens como o letreiro “I love POA!”. O pesquisador destaca a necessidade de entender os efeitos dessas imagens e como elas limitam o espaço a ser construído.
No futuro, em que as enchentes terão um papel estratégico no planejamento urbano, as camadas mais ricas provavelmente se adaptarão, enquanto os mais vulneráveis não terão a mesma sorte. Portanto, é essencial pensar na paisagem hoje, não apenas como um retrato, mas como um instrumento estratégico que circunscreve o espaço administrado por relações de poder. Taraciuk nos instiga a nos engajar nesse conflito para compreender a visão estratégica do outro lado e como essas forças estão lendo a paisagem e planejando o futuro, questionando qual é a leitura estratégica atual da paisagem e como podemos pensar taticamente sobre essas forças para garantir um futuro mais equitativo. A roda de conversa sobre a temática pode ser conferida na íntegra, no Youtube da Famecos.
Evento do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) recebe submissão de trabalhos até 1º de julho
O prazo para a submissão de trabalhos para o Prêmio de Teses e Dissertações do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos se encerra no dia 1º de julho. A premiação será uma das comemorações das três décadas de história do PPGCOM. O objetivo desta iniciativa é reconhecer e valorizar pesquisadoras e pesquisadores das diversas áreas da comunicação, destacando suas significativas contribuições para o campo.
Nesta edição, a cerimônia de premiação será realizada em uma sessão festiva, presencial com transmissão online, durante o XVI Seminário Internacional de Comunicação, realizado em novembro de 2024, na Famecos.
A comissão organizadora das premiações é composta pelos seguintes professores: Antônio Carlos Hohlfeldt, André Fagundes Pase, Cleusa Maria Andrade Scroferneker, Juremir Machado da Silva e Deivison Moacir Cezar de Campos.
A premiação foi dividida em modalidades com três prêmios para teses de doutorado e três para dissertações de mestrado. Os prêmios incluem certificados e valores em dinheiro de R$ 2.000 para teses e R$ 1.500 para dissertações.
• Prêmio Jorge Pedro Sousa: para trabalhos relacionados ao jornalismo, mídias, organização e poder.
• Prêmio Michel Maffesoli: para trabalhos sobre imaginário social, cultura e tecnologias do imaginário.
• Prêmio Muniz Sodré: para trabalhos sobre diversidade, políticas dos corpos e interseccionalidades.
• Prêmio Margarida Maria K. Kunsch: para trabalhos sobre jornalismo, mídias, organização e poder.
• Prêmio Maria Beatriz Rahde: para trabalhos sobre imaginário social, cultura e tecnologias do imaginário.
• Prêmio Oliveira Silveira: para trabalhos sobre diversidade, políticas dos corpos e interseccionalidades.