Valerie Thomas, Bessie Blount Griffin, Annie Easley, Marie Maynard Daly… Todas mulheres nascidas no século passado. Entre elas havia algo em comum: pioneiras em suas áreas de atuação, foram cientistas renomadas e ajudaram a abrir portas nas áreas de Ciência e Tecnologia, ramos geralmente masculinos. Desde 2015, o dia 11 de fevereiro é lembrado como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (Unesco) e pela ONU Mulheres como forma de promover a conscientização sobre o tema e ampliar o acesso de pessoas diversas na área.
Diretora de pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesq), Fernanda Morrone falou sobre a importância das mulheres e meninas na ciência e o trabalho das pesquisadoras da PUCRS. “Dados mostram que nos últimos anos a proporção de mulheres cresceu entre os pesquisadores, mas ainda permanecem muitos desafios. Os dados também mostram que as mulheres ainda não crescem em posições de destaque na mesma proporção que os homens, assim este é outro desafio que temos que enfrentar” conta Morrone.
Para o futuro, a docente aposta na oportunidade e identificação de novos talentos na área. “Além disso, é fundamental comemorar e divulgar as conquistas já alcançadas, mas ainda é preciso acelerar medidas, através de políticas públicas, para tornar a carreira científica mais igualitária para todos” finaliza.
A última década ficou marcada pelo avanço das meninas na educação. Dados apontam um aumento pequeno, mas consistente, nas taxas de matrícula de meninas e mulheres em todos os níveis de ensino. O levantamento realizado pelo Instituto de Estatísticas da Unesco (UIS) mostra que de 2000 até 2014 o número de mulheres no ensino superior dobrou no mundo. Apesar das mulheres representarem uma maioria entre os pesquisadores no Brasil, elas não ocupam cargos de liderança na mesma proporção que homens.
Entra as portas de entrada para a ciência, está a iniciação científica. “Aos estudantes que estão na Iniciação Científica, vivam e explorem ao máximo esta oportunidade. Aos que ainda não entraram na pesquisa, façam! Vocês serão profissionais diferenciados” afirma a bióloga Tamiris Salla ao dar dicas para quem quer começar na área. Salla é uma das várias histórias de sucesso do Salão de Iniciação Científica da PUCRS.
O relatório Gender in the Global Research Landscape, da Elsevier, mostra que, no Brasil, as mulheres são maioria na pós-graduação. Segundo a Capes, 55% do total de matriculados e titulados em cursos de mestrado e doutorado eram mulheres em 2015. Na Iniciação Científica, as jovens representavam 56% em 2013. Porém, a distribuição de bolsas de produtividade em pesquisa seguia desigual. Em 2017, as mulheres eram somente 35,5% do total de bolsas de produtividade e 24,6% daquelas de nível 1A, o mais alto da academia. Conhecido como “telhado de vidro”, a expressão diz respeito as barreiras que mulheres enfrentam para ascender na carreira acadêmica.
O projeto Parent in Science (Pessoas com filhos na ciência) realizou uma pesquisa com 1.182 docentes brasileiras. O resultado mostra que enquanto a produtividade cresce entre cientistas que não são mães, as que têm filhos mostram uma queda no número de publicações em média até aos quatro anos de idade do primeiro filho. O relatório da Elsevier aponta que entre as causas estão a falta de incentivo para mulheres conciliarem o trabalho e a maternidade; e a necessidade de viagens internacionais, muitas vezes realizadas pelos pais ou homens. O estudo levou em consideração o contexto de 20 anos, 12 localidades e 27 áreas do conhecimento.
Além do obstáculo de gênero, a cor e a raça são outras barreiras enfrentadas pelas mulheres. Em 2015, entre as bolsistas, apenas 4,6% eram pretas, 20,5% eram pardas, 0,2% eram indígenas e 62% eram brancas, segundo artigo publicado no CNPq. Conforme o relatório de 2017 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), pessoas negras representam apenas 16% dos professores universitários. Entre eles, homens representam 60% do total.
A inclusão de mulheres na área de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (Stem) faz parte da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável da Unesco, com uma nova visão sobre questões sociais e econômicas atuais. “Da perspectiva científica, a inclusão de mulheres promove a excelência científica e impulsiona a qualidade dos resultados em STEM, uma vez que abordagens diferentes agregam criatividade, reduzem potenciais vieses, e promovem conhecimento e soluções mais robustas” de acordo com o material disponibilizado no portal oficial da organização.
Na PUCRS, o incentivo a inclusão e a diversidade é uma das bandeiras levantadas pela decana da Escola Politécnica, Sandra Einloft. A pesquisadora foi um dos destaques da série Trabalhe Como Uma Mulher, da Revista Donna, ao contar sobre a sua trajetória na carreira. Desde o mestrado, Einloft percebeu ser minoria entre os colegas e fez disso uma missão de vida: “sabemos que, em países onde têm mais igualdade, a economia avança mais”. Outro trabalho de destaque realizado na Universidade é o da pesquisadora Magda Lahorgue, que realizou um estudo sobre Características do sono em crianças e adolescentes brasileiros. A análise mostrou que o sono muitas vezes é negligenciado durante a infância e pode acarretar em uma alta taxa de distúrbios do sono na população.
“Saber que existem possibilidades acadêmicas para além da Graduação nos fortalece enquanto profissionais, pois alinhamos à prática conhecimentos atuais e baseados em evidências científicas, favorecendo a troca de experiências com profissionais renomados” conta a perita criminal Luiziana Schaefer, formada em Psicologia pela PUCRS, ao lembrar como a trajetória acadêmica e a pesquisa mudaram o rumo da sua vida.