Uma maneira irreverente e rebelde de mostrar a arte. Essas são as principais características de Ai Weiwei, artista, arquiteto, cineasta e ativista político chinês, que foi o conferencista do Fronteiras do Pensamento, realizado na última segunda-feira, dia 8 de outubro, no Salão de Atos da UFRGS. Weiwei abordou vários temas, entre eles, as suas mais recentes obras desenvolvidas no Brasil. A abertura do evento foi realizada pelo curador da sua exposição, Marcello Dantas, que antecipou à plateia alguns trabalhos que o artista exibirá no país. Com início no dia 20 de outubro, a mostra acontece no Oca, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
Dantas destacou que esta será a maior exposição do artista chinês em todos os tempos. Para concebê-la, Weiwei realizou uma grande imersão no país, montando três ateliers nas cidades de Trancoso (Bahia), Juazeiro do Norte (Ceará) e São Paulo (São Paulo).
Para a sua exposição, o artista buscou identidades culturais no Brasil, que foram interpretadas pelos seus métodos e pensamentos por meio de uma arquitetura modular. Ele buscou a biodiversidade e a produção de figuras brasileiras, como o dramaturgo e romancista pernambucano Ariano Suassuna, que criou a tipografia de alfabeto armonial e que também terá seu trabalho revisitado a partir do olhar do artista. As obras envolveram pessoas e técnicas brasileiras.
Entre os destaques, está o Raiz, uma série de obras feitas com centenárias raízes do pequi-vinagreiro, espécie de árvore típica da Mata Atlântica baiana atualmente em risco de extinção, encontradas desenterradas na região de Trancoso. Também criou um trabalho que enfatiza na escravidão no Brasil, representada por palavras marcadas por ferros em brasa em couros de vaca, simbolizando o que era feito nas faces dos escravos.
Já em Duas Figuras representa a identidade sexual do brasileiro e, para isso, usou dois corpos, o seu próprio e de uma modelo, que foram moldados em gesso. Outra obra é o barco de refugiados, que terá três metros de altura, infláveis e todo preto, que vai circular por praias do país. E o Terezas que demonstra o sentimento de fuga e alguns museus serão decorados com grandes cordas confeccionadas por presidiárias da Penitenciária Feminina de Tremembé, no estado de São Paulo.
A principal obra da exposição é uma escultura que faz a réplica de uma árvore centenária. A origem da ideia veio após uma visita de seu pai, o poeta Qing Ai, em 1954, quando visitou a América Latina. Essa vinda à região do continente rendeu um livro com poemas. “Como li essa obra, queria saber mais sobre a América Latina. Quando cheguei, pela primeira vez, em 2015, queria muito aprender, criar uma conexão, principalmente com o Brasil. Visitei vários ateliers e realizei pesquisas que chegaram a essa imagem da árvore antiga”, recorda.
Com 35 metros de altura, a árvore, que já está condenada, foi copiada tridimensionalmente e será modulada em ferro. Uma equipe da China veio até o país permanecendo por 100 dias. Dividida em 100 pedaços, a construção da escultura será parecida como o do pagode, um tipo de torre com múltiplas beiradas, comum na China. “Se me perguntarem porque eu fiz isso, não sei dizer. Você pode perguntar para alguém, porque você ama aquela pessoa. Ela não vai saber dizer o porquê. Eu senti a possibilidade de fazer isso (a escultura) e fiz”, explicou.
Abordado pelos temas, Weiwei frisou que, como em todo o mundo, é algo não desejável. “Temos que lembrar do dia seguinte, ver a importância dos indivíduos. Do muro de Berlim até os dias de hoje, outros 70 muros foram construídos com pessoas fugindo da guerra. Além disso, cresce a intolerância, como nos Estados Unidos, com o Trump, e o neonazismo na Alemanha”, exemplificou.
Segundo o artista, o ódio no mundo tem aumentado após a globalização. “O capitalismo contribuiu para crescer os conflitos regionais. As grandes empresas vêm aumentando as diferenças entre as classes sociais”, sentenciou.
Com relação à escravidão, para ele é algo muito triste para o desenvolvimento humano, fato que ocorreu não só no Brasil, mas em vários países colonizados. “É importante apreender com esse passado. Hoje, vivemos num mundo que se deve olhar mais a condição e os direitos humanos, que sempre devem ser discutidos. É algo que temos que lutar constantemente”, apontou.
“Escrever é o meio mais eficiente, algo que não podemos vender. É registro mais preciso dos seus pensamentos. É o que eu mais gosto de fazer, talvez seja por influência do meu pai”, comentou Weiwei.
Em relação à comunicação, o artista lembrou o quão a internet é restrita em sua terra natal, um restrição regional das redes sociais. “Não é possível a livre manifestação, que é controlada por policiais. Se você fizer algo errado, vão bater na sua porta e dizer que querem tomar um chá na sua casa. Um amigo meu advogado postou algumas frases no Twitter e pegou cinco anos de cadeia”, disse.
Quando se tornou mais atuante na internet, realizando críticas mais abertas, Weiwei lembrou que foi espancado por policiais. “O meu site chegou a ser fechado. Na China, se você digitar o meu nome, vai aparecer nada. A internet é uma ferramenta que o indivíduo pode expressar a sua própria informação”, finalizou.
A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e Alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto no pacote de ingressos para as conferências, abatimento válido também para um acompanhante. Os diplomados, para terem acesso ao valor diferenciado, devem portar a carteira Alumni na hora da compra. Informações sobre as carteiras podem ser obtidas pelos contatos da Rede Alumni. Estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação.
Para se inscrever é preciso ligar para o telefone (51) 4020-2050 ou enviar um e-mail para [email protected], informando nome completo, telefone e qual modalidade de desconto, reservando no máximo dois ingressos. O pagamento e a retirada das entradas são feitos no dia da conferência, na bilheteria do Salão de Atos da UFRGS.
A próxima conferência do Fronteiras do Pensamento será em 22 de outubro com dois escritores: o espanhol Javier Cercas, reconhecido por explorar em seus livros os limites entre a realidade, e o chileno Alejandro Zambra, considerado um dos mais relevantes autores da literatura latino-americana contemporânea. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), às 19h30min. O mundo em desacordo: democracia e guerras culturais é o tema da temporada de 2018.