Pesquisa

Colóquio debate ensino, pesquisa e extensão em comunicação organizacional e relações públicas

segunda-feira, 19 de maio | 2025

A atividade integrou o XIX pré-congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp)

O pré-congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp) teve início nesta segunda-feira (19/5), na Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). A primeira atividade do encontro foi um colóquio que abordou as articulações entre ensino, pesquisa e extensão nos campos em pauta.

A abertura foi realizada pela presidente da Abrapcorp, professora Cleusa Scroferneker, que expressou a alegria de sediar o congresso deste ano em Porto Alegre, especialmente um ano após as inundações que atingiram a cidade. Ela ressaltou que o tema do evento dialoga diretamente com esse contexto, ao tratar da comunicação na e para a sociedade de risco. Nesse mesmo contexto, a decana da Famecos, professora Rosângela Florczak, destacou a necessidade de reflexão diante da comunicação de risco, demonstrando como a comunicação, em tempos de metamorfose, vai conciliando sentidos e estabelecendo vínculos com a vida das pessoas. “É esse lugar que precisamos impactar”, destacou.

Sobre ensino, pesquisa e extensão, a Pró-Reitora de Graduação e Educação Continuada da PUCRS, professora Adriana Kampff, destacou que a conexão entre esses três pilares diz respeito à dimensão da aplicabilidade, das inquietações e dos problemas — aquilo que realmente move as pessoas. Ressaltou a importância de cocriar soluções inovadoras, observando que, quando tudo está conectado, o fluxo acontece de forma mais natural e eficiente. Ao falar sobre a extensão, mencionou que ela consiste em olhar para as comunidades sob diferentes perspectivas, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade e para a formação de estudantes comprometidos com a transformação do mundo — com engajamento cidadão. “Trata-se de construir um ecossistema de oportunidades formativas, repensando nossos currículos em diálogo com a pesquisa.”

Após a abertura, teve início a mesa “Competências profissionais em contextos de risco: experiências e desafios docentes”, composta pelos seguintes participantes: doutora Daiane Scheid (UFSM), doutor Márcio Simeone (UFMG), doutor João José Curvello (UnB/DF), doutor Ricardo Freitas (UERJ/RJ), doutor Rennan Mafra (UFV/MG) e doutor Rudimar Baldissera (UFRGS), com mediação da doutora Maria Aparecida Ferrari (USP/SP).

Sobre competências profissionais na sociedade de risco, a professora Daiane Scheid, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), discutiu a transformação dos profissionais, suas expectativas, desafios e experiências. Entre as características essenciais, ressaltou a importância de habilidades técnicas e tecnológicas, capacidade analítica, tomada de decisão, pensamento crítico e uma visão humanista. Também destacou demandas de incentivo nesse contexto, como tornar atrativas as atividades que estimulam a reflexão e a análise; aproximar os conteúdos da formação da realidade prática; evitar o sentimento de desconexão entre a formação acadêmica e o mundo do trabalho; e promover a reflexão, junto aos estudantes, sobre a relação entre universidade e sociedade.

Sobre o conceito de risco, o professor João José Curvello, da Universidade de São Paulo (USP), destacou que o termo está relacionado à forma como as organizações, enquanto sistemas sociais, produzem sentido diante da complexidade e da incerteza do ambiente. Diferentemente de uma noção de perigo ou acaso, o risco, segundo o professor, é uma categoria de observação e atribuição de responsabilidade por possíveis consequências futuras de decisões tomadas no presente. Ele também enfatizou a importância de ensinar os estudantes a tomar decisões mais conscientes e a evitar riscos, por meio de uma aprendizagem baseada em problemas e dilemas éticos, estudos de casos reais com desfechos incertos, desenvolvimento da consciência sobre a contingência e reflexão sobre a atribuição de responsabilidade.

O professor Renan Mafra, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), refletiu sobre os desafios e riscos enfrentados no campo da comunicação organizacional e das relações públicas, com destaque para a sobrecarga emocional dos profissionais e a intensificação de pressões por controle, que têm gerado hipersensibilidade. Segundo ele, observa-se uma perda de referência do espaço universitário, influenciada pelas novas dinâmicas do capital, e a proliferação de cursos voltados à solução de problemas que, muitas vezes, oferecem respostas vazias. Ele aponta ainda um risco severo, observado entre os anos 2000 e 2020, relacionado à diluição da formação superior na área, marcada por abalos significativos. Destacou que estudantes frequentemente manejam ferramentas tecnológicas com mais desenvoltura do que docentes, assumindo precocemente funções no campo profissional, o que contribui para uma queda na autoridade docente, seja por razões técnicas, seja por questionamentos éticos, estéticos, políticos e existenciais. Para Mafra, a construção do conhecimento demanda, cada vez mais, o manejo da diferença e a interação como eixo formativo central.

O professor Márcio Simeone, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destacou que, diante dos riscos que ameaçam a imagem e a reputação das organizações, é necessário repensar o processo formativo e as competências profissionais. Para ele, é importante desenvolver habilidades específicas por meio de uma didática que vá além da teoria, incluindo atividades de imersão na sociedade, como as propostas pela extensão universitária. Simeone chamou atenção para a tendência de individualização da responsabilidade em contextos de risco, o que exige, por outro lado, a promoção de processos colaborativos com determinados públicos, considerando essa como uma habilidade essencial. Alertou também para os riscos que afetam a própria existência das organizações, observando que a busca pela reputação a qualquer custo pode ignorar os processos relacionais. A imposição de discursos e a inflação do prestígio institucional, segundo o professor, resultam frequentemente em conteúdos pouco fundamentados na realidade, contribuindo para a perda da confiança pública.

O professor Ricardo Freitas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), abordou as relações públicas a partir da cidade como estratégia de ensino, refletindo sobre os riscos construídos socialmente. Utilizou exemplos como seguros de vida e de carro para ilustrar como esses riscos são incorporados ao cotidiano como parte de uma engrenagem na qual o capital assume papel central. Ao citar o exemplo do Rio de Janeiro, destacou a ideia de “marca-cidade”, apontando como a construção simbólica da cidade se insere em lógicas de risco e reputação, sendo também um campo estratégico para o ensino em comunicação. Mencionou megaeventos como o Carnaval, o Réveillon, a Copa do Mundo de 2014, os Jogos Olímpicos de 2016 e o Rock in Rio, que atraem grandes multidões e impulsionam a economia e a mídia, promovendo uma imagem de alegria e diversidade cultural do Rio. Esses eventos, segundo ele, também oferecem estudos de caso importantes para profissionais de relações públicas, contribuindo para a compreensão da percepção de públicos estratégicos e para o desenvolvimento de estratégias de comunicação.

O professor Rudimar Baldissera, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), refletiu sobre o papel dos pesquisadores diante dos desafios enfrentados pelas organizações, com especial atenção à sustentabilidade. Questionou como evitar a banalização conceitual, alertando para o uso inadequado ou mistificado de termos que perdem seu rigor, como no caso da expressão “comunicação sustentável”, que, segundo ele, muitas vezes esvazia a própria ideia de sustentabilidade. Criticou o que chamou de “esverdeamento discursivo”, quando tudo se torna verde no discurso, menos a própria natureza. Defendeu a ética do comprometimento como princípio fundamental e chamou atenção para o impacto que as práticas organizacionais exercem sobre diferentes públicos. Além das questões climáticas, destacou a importância de considerar grupos específicos, como povos indígenas, pessoas trans, negras e periféricas, frequentemente deixados à margem dos discursos e das ações relacionados ao risco. Reforçou que o lugar da pesquisa deve ser de protagonismo: à frente dos processos, movimentando e transformando. Encerrou defendendo o aprendizado e a ação coletiva, baseados na solidariedade — aprender junto, fazer junto.

O colóquio terá continuidade amanhã (20/5), a partir das 9h, na PUCRS.