Ensino

Como o mercado de carbono se tornou uma resposta econômica às mudanças climáticas 

sexta-feira, 26 de julho | 2024

Entenda a atuação do mercado na mitigação das alterações do clima 

Desde 1993, a PUCRS mantém o Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza (Pró-Mata). A área em São Francisco de Paula tem mais de 3 mil hectares e, até o momento, já neutralizou mais de 160 mil toneladas de carbono. / Foto: Divulgação/IMA

O planeta está passando por diversas mudanças climáticas que podem ser percebidas no nosso dia a dia. As temperaturas estão mais extremas e ondas de calor cada vez mais elevadas tem se tornado um padrão nos últimos 13 meses, conforme o Serviço de Alterações Climáticas Copernicus (C₃S), da União Europeia. No Brasil, as alterações climáticas podem ser observadas nas fortes chuvas no Rio Grande do Sul e na seca no Centro-Oeste, resultadas em parte pelo fenômeno El Ninõ.  

Não é de hoje que se buscam maneiras de amenizar este problema: as Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), por exemplo, acontecem anualmente desde 1995. A COP é um espaço onde diversos países se reúnem para chegar a um acordo sobre a melhor forma de lidar com esta questão. Na COP de 1997, foi estabelecido o Protocolo de Kyoto, e o tratado visava estabelecer um controle da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.  

O coordenador do curso de Pós-Graduação em Crédito de Carbono: projeto e mercado PUCRS, Bruno de Rosso Ribeiro, explica que o crédito de carbono, originado da COP 97, serve como um instrumento financeiro de origem ambiental. Isto é, a sua origem está no desenvolvimento de projetos que cessem ou mitiguem gases de efeito estufa à atmosfera. Nesse sentido, 1 crédito de carbono equivale a 1 tonelada de CO₂ deixada de emitir no meio ambiente. 

“A participação de países nas metas globais de redução de gases de efeito estufa (GEE) ocorre no campo legislativo, por meio de metas próprias e leis que observam as emissões de indústrias e corporações. Continentalmente, por exemplo, a União Europeia, promoveu o The Green Deal, que estabelece um plano de ação para transformar a UE no primeiro continente climaticamente neutro do mundo. Mirando no Brasil, podemos elencar a lei n.° 7907 de 2023 (proposta pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro), que beneficia empresas e serviços associados a compras de créditos de carbono. A proposta reduz de 5% para 2% a alíquota do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) para operações com créditos de carbono”, explica o docente.  

Não são só os países que levam a pauta a sério. Empresas e instituições de ensino também têm buscado maneiras de mitigar os efeitos das mudanças climáticas. O professor do curso de certificação Mudanças Climáticas e Mercado de Carbono da PUCRS Filipe de Medeiros Albano explica que governos estão criando limites de emissões em mercados compulsórios (usualmente 25.000tCo2e), com severas multas para empresas que ultrapassarem os limites estabelecidos. A prática já é comum em países como Estados Unidos, Canadá, China, Austrália, Europa, entre outros 

“O Brasil está prestes a aprovar o mercado regulado de carbono (PL 182), que vai obrigar as empresas a terem iniciativas para descarbonizar seus processos e também cria a oportunidade de um mercado para venda de créditos de carbono (para empresas que reduzem ou removem emissões dos gases do efeito estufa, as quais poderiam registrar e vender créditos de carbono). Este tipo de mercado fomenta uma descarbonização em nosso planeta”, explica Felipe.  

O professor Bruno explica que nas empresas é possível contabilizar as emissões de GEE por meio de um inventário de emissões que, por meio de métodos validados, indica e quantifica as emissões por setor da companhia. Esta, por sua vez, pode compensar estas emissões através da compra de crédito de carbono no mercado voluntário.  

“O novo projeto de lei regulará nosso mercado e estabelece metas e diretrizes nacionais, aonde grande parte das empresas serão impactadas”, enfatiza Bruno. 

Nas instituições, como é o caso da PUCRS, outras medidas estão sendo tomadas para mitigar esses efeitos. Desde 1993 a Universidade tem essa preocupação e com Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza (Pró-Mata), até o momento, já neutralizou mais de 160 mil toneladas de carbono. A área de preservação ambiental da PUCRS fica localizada em São Francisco de Paula e possui mais de três mil hectares de área preservada. Além de ser reconhecida internacionalmente como um dos 25 hotspots de biodiversidade mundial, a área também é considerada a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Rio Grande do Sul.  

“O Pro-Mata é uma reserva de altíssima qualidade de elementos voltados à pesquisa de flora, fauna e solo. Compreende um importante bioma no Rio Grande do Sul e atende profissionais e pesquisadores na biologia, florestas, engenharias e ciências da natureza. A permanência do estoque de carbono se dá através justamente da preservação florestal e solo, evitando assim, o desmatamento e degradação, conservando rios e solos”, diz Bruno de Rosso Ribeiro 

A Universidade também conta com outras pesquisas e iniciativas que buscam mitigar a crise climática e a potencializar o uso de energias renováveis. A PUCRS é alinhada como os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas para a Agenda 2030, que consiste em um conjunto de programas, ações e diretrizes que orientaram as práticas sustentáveis dos países. Atualmente, a instituição contribui com 15 das 17 ODS. 

O que o futuro nos reserva? 

O professor Bruno de Rosso Ribeiro é coordenador do curso de Pós-Graduação em Crédito de Carbono: projeto e mercado. / Foto: Bruno Ribeiro/Arquivo pessoal

O mundo passa por mudanças climáticas sem precedentes, e por esse motivo, a busca por profissionais que atendam as novas necessidades do mercado tem se tornado cada vez mais urgente. A certificação em Mudanças Climáticas e Mercado de Carbono da PUCRS é destinada a estudantes de graduação, pós-graduação, empreendedores, e profissionais interessados em ingressar no mercado de certificação e créditos de carbono. O curso de curta duração começa no dia 27 de setembro e está com as inscrições abertas.  

O professor Filipe de Medeiros Albano explica o que as pessoas interessadas podem esperar do curso:  

“Os participantes terão noção sobre as principais práticas sobre o assunto, considerando tópicos como créditos de carbono, mudanças climáticas, gases do efeito estufa, verificação e validação de projetos, mercado regulado e compulsório de carbono no mundo.  Apresentaremos os fundamentos sobre as mudanças climáticas e soluções para mitigação baseadas em gerenciamento de carbono (redução direta/indireta de emissões, tecnologias de carbono negativo).” 

Sempre atenta ao que o mercado precisa, a PUCRS também conta com o curso de Pós-Graduação em Crédito de Carbono: Projeto e Mercado: o primeiro curso de especialização do país destinado à temática. Indicado para profissionais que desejam adquirir conhecimentos avançados e habilidades especializadas sobre a redução de emissões de gases de efeito estufa e gestão de créditos de carbono, seja nas áreas de energia, florestamento, preservação ou manejo de campo.  

Bruno de Rosso Ribeiro, coordenador da especialização, explica que o curso conta com profissionais de vários segmentos como engenheiros, agrônomos, geólogos, advogados, químicos, corretores de latifúndios e administradores.  

“Estamos observando um movimento multiprofissional que exige atenção aos contratos de serviços, processos de engenharia, conhecimentos da biologia, solo e qualificação de terras. Dominar os campos necessários a este mercado valorizará o profissional do presente e do futuro, para uma área de atuação de lastro mundial que é o ambiental”, finaliza o docente.