Pesquisas permitem compreender como os animais se relacionam com diversas comunidades
Explorar os mistérios do mundo animal, especialmente o comportamento e a ecologia dos grupos de animais, é um desafio constante para os pesquisadores do programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD). A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Pró-Mata é uma área de conservação ambiental da PUCRS na serra gaúcha e conduzida pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA). O IMA realiza várias pesquisas e é coordenado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que formou uma rede de sítios de referência para a pesquisa científica na área da Ecologia de Ecossistemas.
Um importante grupo de animais que está sendo tema de estudo são os mamíferos, que possuem sangue quente e pelos pelo corpo, além de amamentarem seus filhotes. No Pró-Mata são catalogadas cerca de 90 espécies de mamíferos, incluindo desde pequenos roedores a grandes carnívoros. Em meio a essa diversidade, é possível encontrar diferentes hábitos e comportamentos nesses animais – o que os torna prestadores de diversos serviços ambientais: os herbívoros, por exemplo, que dispersam sementes, e os carnívoros de grande porte, que controlam populações.
“Todas as espécies têm papéis extremamente importantes dentro das suas comunidades, fazendo com que essa dinâmica continue e os serviços ecossistêmicos sigam sendo fornecidos,” destaca Júlio César Bicca-Marques, professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da PUCRS.
As araucárias são encontradas em florestas ombrófilas mistas, produzindo sementes popularmente conhecidas como pinhões. Sua produção é relativamente alta no inverno – quando o número total de árvores frutíferas é baixa nessas florestas. As sementes de araucária são consumidas por, pelo menos, 14 espécies de mamíferos nesse local.
Embora isso seja de extrema importância ecológica e se diferencie do que ocorre em outras áreas da Mata Atlântica, que possui 250 mamíferos em seu catálogo, essa atividade ainda é pouco estudada no Brasil.
O método inicial utilizado pelos pesquisadores do Pró-Mata foi a busca por rastros e pegadas de mamíferos nas trilhas e estradas que atravessam o sítio. As espécies mais fáceis de serem identificadas foram os carnívoros de médio a grande porte, como veados, porcos-do-mato, roedores grandes, entre outros.
“É um método que ajuda a descobrir várias coisas, mas sem um nível de detalhamento suficiente para podermos monitorar a presença, a abundância, a diversidade de espécies como métodos mais avançados hoje em dia permitem,” explica Eduardo Eizirik, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da PUCRS.
Nesse contexto, o método mais utilizado na reserva são as armadilhas fotográficas, que consistem em câmeras digitais fixadas em postes, árvores, trilhas e estradas no interior do Pró-Mata. Elas funcionam por sensor de movimento, então é possível tirar fotos ou vídeos dos animais que passam pelo sítio para a monitoração e, talvez, descoberta de novas espécies.
Os rastros e as imagens obtidas com as armadilhas digitais permitem a detecção de animais de médio a grande porte, mas há várias outras espécies na área, como roedores e marsupiais – que são mamíferos do grupo dos gambás e cangurus, cujos filhotes se desenvolvem em bolsas.
“As armadilhas para roedores podem ser de dois tipos: caixa ou grade. Elas funcionam para capturar mamíferos não voadores, esses animais são muito importantes para a cadeia trófica da comunidade – sendo um dos principais itens dos carnívoros”, pontua Arthur Santana, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da PUCRS.
A comunidade de mamíferos na área do sítio Pró-Mata é tão diversa que esses métodos ainda não são suficientes para detectar todos os tipos de animais. O estudo dos mamíferos voadores, os morcegos, requer outras técnicas, como a detecção dos seus sonos por meio de gravadores automáticos, colocados no ambiente de forma similar a armadilhas fotográficas. Eles também são capturados com o uso de rede de neblinas, permitindo a coleta de várias informações.
Existem vários tipos de análise de DNA que incluem o levantamento de qual espécie ocorre numa área utilizando o DNA ambiental – que consiste na coleta de amostras de solo e água e, através do sequenciamento, descobrir quais animais vivem no Pró-Mata.
Outra análise envolve a dieta de carnívoros, que ocorre a coleta de fezes. A partir dela, é possível detectar qual animal está comendo o que, além da análise das presas dos carnívoros, que permite uma identificação mais detalhada.
A combinação desses vários métodos de identificação enriquece as pesquisas do projeto, que está revelando com detalhes a presença de mamíferos em um bioma com a existência de araucárias. O conhecimento acerca dos mamíferos é importante para descobrir como eles serão afetados por impactos ambientais e humanos, algo que poderá ser evitado futuramente.
O Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza Pró-Mata é uma reserva de conservação ambiental da PUCRS localizado em uma área de Mata Atlântica em São Francisco de Paula, na serra gaúcha. Ele foi inaugurado em 1999 para colaborar para a pesquisa científica em Ecologia de Sistemas – cofinanciado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Foi adquirida em 1993 pela Universidade e convertida em RPPN em 2019, com a presença de pesquisadores, estudantes e professores ao redor do Brasil em colaboração com o projeto.
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