No Brasil, 35 milhões de pessoas não tem acesso à água tratada. Em contrapartida, a cada 100 litros coletados e tratados, 67 são consumidos, e os outros 33 são perdidos. Por que isso acontece? Para o professor do curso de Engenharia Química da PUCRS Claudio Frankenberg, os dados do Instituto Trata Brasil são o reflexo de problemas de construção e gerenciamento nos sistemas de abastecimento de água dos municípios. Na última terça-feira, 5 de abril, ao lado do professor da Escola de Humanidades Luiz Carlos Susin, Frankenberg participou do projeto Fé e Cultura 2016, que abordou o tema Ecologia e saneamento: a responsabilidade da casa-comum. A conversa destacou assuntos como consumo e sustentabilidade, e também tem relação com a temática da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016, Casa Comum, Nossa Responsabilidade.
Frankenberg esclarece que o termo saneamento básico se refere às condições mínimas para a saúde. Fazem parte deste panorama o tratamento de água e esgoto, lixo e resíduos (sólidos, líquidos e gasosos). Quando tudo está bem produzido e utilizado por toda a população, ocorre o cenário ideal. Mas o professor lembra que essa não é a realidade de muitas cidades do Brasil. “Para esses locais, é preciso buscar alternativas para uma melhoria na qualidade e na distribuição da água e dos tratamentos de esgoto, além de elaborar sistemas de coleta de resíduos”. Outra possibilidade para os municípios onde não existe saneamento básico é a fossa séptica, usada para armazenar o esgoto, que posteriormente é absorvido pelo solo. O Instituto Trata Brasil constatou ainda que 48,6% da população brasileira têm acesso à coleta de esgoto.
O professor explica que as cidades grandes não são o problema, porque elas possuem normalmente infraestrutura para sustentar um número alto de pessoas. A área crítica fica localizada nas periferias das cidades pequenas, porque não existe abastecimento e tratamento de água. “A dificuldade de chegar nestes locais torna o processo caro”, afirma Frankenberg. Para ele, deveriam existir maneiras de remediar esse problema, como diferentes incentivos para sistemas individuais para reutilizar a água da chuva. A origem dessa adversidade está na má distribuição no número de pessoas. “É importante cruzar o mapa demográfico com o mapa do saneamento das cidades”, diz. Para ele, a responsabilidade sobre o saneamento básico é além do poder público, dos indivíduos e das instituições.