Cyberbullying: comportamento agressivo, intencional e repetitivo que é realizado por meios eletrônicos por um agressor ou um grupo de agressores contra uma vítima que apresenta dificuldade em se defender. É assim que Caroline Mallmann, psicóloga e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Humanidades da PUCRS, define a palavra que norteou sua dissertação de mestrado. O trabalho foi orientado pela professora Carolina Lisboa, coordenadora do grupo de pesquisa Relações Interpessoais e Violência: Contextos Clínicos, Sociais, Educativos e Virtuais (Rivi), e teve como tema Cyberbullying, estratégias de coping e esquemas iniciais desadaptativos em adolescentes. No estudo, que envolveu 273 jovens entre 13 e 18 anos, Caroline constatou que 58% destes já haviam vivenciado a situação.
Responderam à pesquisa 133 meninas e 140 meninos. As adolescentes que afirmaram já terem participado de situações de cyberbullying somam 64,7%, número superior ao dos meninos, que totalizam 51,4%. Mas nem todos são apenas vítimas. A psicóloga esclarece que existem três papéis nos episódios de bullying virtual. Os envolvidos podem ser vítimas, agressores ou vítimas-agressores. Do total de adolescentes analisados, 35% integram o terceiro grupo, 13% são vítimas e 10% são agressores. Para a terapeuta, este número traduz a dificuldade das pessoas em admitir que fizeram algo errado. Além disso, o grupo de vítimas e vítimas-agressores utilizam a estratégia de fuga. “Eles tentam não pensar na situação e fazem outras coisas, como dormir demais, comer excessivamente e utilizar drogas”, exemplifica. Caroline também identificou que as vítimas-agressores são mais velhas do que os não envolvidos. Eles têm uma média de 15 anos, enquanto os jovens que não participaram têm, em média, 14 anos.
Para reunir dados conclusivos, ela visitou três escolas públicas, duas em Porto Alegre e uma em Taquari, município localizado a 100 km da Capital. Como diz o título da tese, a pesquisadora utilizou as estratégias de coping e esquemas iniciais desadaptativos para estudar o cyberbullying. Coping é uma técnica utilizada pelo ser humano para lidar com situações difíceis. Esquemas iniciais desadaptativos são padrões de interpretação e de processamento de eventos e informações que revelam a imagem que as pessoas têm de si mesmas e dos outros. “É um padrão rígido, distorcido, generalizado e acaba causando sofrimento para o indivíduo”, diz a psicóloga.
Dentro desse conceito de esquemas iniciais desadaptativos, Caroline trabalhou com definições do autor norte-americano Jeffrey Young. Ele divide os esquemas em cinco domínios principais: desconexão e rejeição (medo de ser abandonado e sentimento de inferioridade); autonomia prejudicada (sentimento de incapacidade de vencer os desafios do dia a dia); limites prejudicados (dificuldade com o cumprimento de regras); direcionamento ao outro (indivíduos que priorizam as necessidades do próximo em detrimento das próprias); hipervigilância e inibição (visão crítica sobre as coisas, necessidade de perfeição).
Os tratamentos ainda são incipientes, visto que é um tema recente. Mas, segundo a psicóloga, o que é feito nos casos de bullying tradicional pode ser utilizado no cyberbullying. “É importante que não exista apenas uma preocupação com o tratamento, mas com a prevenção. As escolas e os pais precisam mostrar aos adolescentes como identificar os casos para evitar que eles realizem atos agressivos via internet ou compactuem com agressões iniciadas por outra pessoa”.
Ela afirma que a melhor maneira de prevenir é estar atento. “Muitas vezes os pais não identificam pois não supervisionam. Por isso, é importante ter um vínculo pautado no diálogo. Se for uma relação punitiva, o adolescente não vai querer falar sobre o que está acontecendo com receio de retaliações, como a proibição do uso da internet”, esclarece Caroline.
Em sua dissertação de mestrado pela PUCRS, Caroline também buscou entender o que os jovens envolvidos pensam a respeito deles mesmos e como eles agem diante do cyberbullying. Ela acredita que os dados poderão colaborar na elaboração de tratamentos no futuro.