Após se recuperar do pico ocorrido durante a pandemia de Covid-19, a desigualdade de renda voltou a apresentar tendência de alta ao longo dos últimos cinco trimestres no conjunto das metrópoles brasileiras. O coeficiente de Gini (quanto mais alto o seu valor maior a desigualdade) subiu de 0,615 para 0,626 entre o segundo trimestre de 2022 e o mesmo trimestre de 2023. E a razão entre a média de renda dos 10% mais ricos em relação aos 40% mais pobres variou de 29,7 para 32 vezes no mesmo período. Ou seja, do ponto de vista da renda do trabalho, o Brasil metropolitano de hoje é mais desigual do que aquele de um ano atrás.
Estas e outras informações estão na décima quarta edição do “Boletim – Desigualdade nas Metrópoles”, produzido em parceria pelo PUCRS Data Social, o Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). Os dados são provenientes da PNAD Contínua trimestral, do IBGE, e dizem respeito à renda domiciliar per capita do trabalho somente, incluindo o setor informal. O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, conforme as definições do IBGE. Todos os dados estão deflacionados para o segundo trimestre de 2023, de acordo com o IPCA.
Os dados levantados pelo estudo mostram que enquanto no último ano a média de renda dos 10% mais ricos subiu 9,9%, a dos 40% mais pobres variou apenas 1,9% para cima. Essa diferença na recuperação dos rendimentos, segundo os pesquisadores, explica a tendência de alta das desigualdades.
“Após a enorme queda sofrida durante a pandemia, a renda dos mais pobres se recuperou até meados de 2022, retornando a um patamar semelhante ao de 2019. Desde então, no entanto, a tendência tem sido de estagnação. Já no caso dos mais ricos a queda da renda foi menos brusca durante a pandemia, e sua recuperação ainda está em andamento”, explica Andre Salata, coordenador do PUCRS Data Social.
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Embora as metrópoles apresentem comportamentos diferentes, na maior parte delas (17 dentre as 22) se verificou o mesmo padrão de crescimento da desigualdade ao longo do último ano. Esse crescimento foi superior a 5% nas Regiões Metropolitanas de Vale do Rio Cuiabá (12,1%), Grande São Luís (8%), Teresina (7,4%), Belo Horizonte (5,7%) e Fortaleza (5,4%).
O estudo também mostra que a média geral de rendimentos aumentou de R$1.577 para R$1.701 no último ano, configurando uma elevação de 7.88%. Em 19 das 22 metrópoles, também foi constatada uma variação positiva. O aumento foi mais elevado nas Regiões Metropolitanas de Goiânia (25,6%), Teresina (23,2%), Belo Horizonte (17,7%), Recife (16,8%) e Macapá (15,8%). De acordo com Marcelo Ribeiro, professor do IPPUR-UFRJ e pesquisador do Observatório das Metrópoles, o aumento do rendimento médio no conjunto das metrópoles é resultado de um período mais expansivo do mercado de trabalho, tendo em vista a redução da taxa de desocupação ocorrida nos últimos trimestres.
“Apesar disso, continua havendo diferenças de rendimento médio muito expressivas entre as metrópoles. Em geral, aquelas que possuem rendimento médio acima do rendimento médio do conjunto das regiões metropolitanas se localizam nas grandes regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Todas as metrópoles localizadas nas regiões Norte e Nordeste apresentam rendimento médio inferior ao rendimento médio do conjunto das regiões metropolitanas. Isso expressa que as desigualdades de renda entre as metrópoles também se apresentam como diferenças regionais do país”.
O cenário descrito pelos dados levantados no estudo, portanto, é de aumento da média de renda do trabalho ao longo do último ano, mas com crescimento proporcionalmente maior para os estratos mais altos, levando ao aumento das desigualdades no período. Andre Salata explica esse cenário.
“Enquanto alguns estratos mais baixos chegaram a ter queda de 3,6% na média de renda, camadas mais altas ganharam quase 10%. Ou seja, não é nem mesmo um cenário onde todos ganham, mas os que estão em cima ganham mais. Na verdade, na parte de baixo da pirâmide chegamos a ter mesmo perdas reais”.
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