Neste domingo (26), Porto Alegre faz aniversário: a capital está completando seus 251 anos. A PUCRS é parte integrante da história da cidade, abraçando-a e guardando um pedaço de sua memória – tendo, inclusive, um espaço exclusivamente para isso: o Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural.
O Delfos tem como objetivo a promoção da cultura e a preservação da memória no que diz respeito aos documentos doados ao Espaço. O acervo é composto por documentos ligados à cultura gaúcha ou a escritores, entidades ou autoridades representativas para o Estado do Rio Grande do Sul. O Espaço preserva, acondiciona e disponibiliza a pesquisadores cadastrados os documentos confiados ao Delfos.
Inaugurado em 4 de dezembro de 2008, o espaço tem seu nome derivado do Oráculo de Delfos, situado na cidade de mesmo nome na antiga Grécia. Tratava-se de um templo consagrado ao deus Apolo, onde as sacerdotisas, conhecidas como pitonisas, profetizavam em uma espécie de transe. O antigo povo do Mediterrâneo tinha tanta fé nessas profecias que nenhuma decisão era tomada sem antes consultar o Oráculo de Delfos. No entorno do oráculo estavam pequenas capelas que abrigavam tesouros, donativos e ex-votos, frequentemente valiosos. O espaço cultural da PUCRS recebeu o mesmo nome do oráculo pois cumpre a mesma função: a de abrigar verdadeiros tesouros.
O Delfos abriga diversos documentos relacionados às áreas de Letras, Artes, Jornalismo, Cinema, História e Arquitetura. Também contém raridades como quadros, originais de livros, correspondências de autores escritas de próprio punho, fotografias, documentos pessoais, como óculos e vestimentas, livros com anotações particulares, plantas de arquitetura, jornais antigos, documentos referentes à imigração alemã no Rio Grande do Sul, entre outros.
Aberto ao público, o acervo pode ser visitado por qualquer pessoa, mediante agendamento – o Delfos fica localizado na Biblioteca Central Ir. José Otão, 7º andar. São mais de 60 mil documentos catalogados físicos, sendo 5 mil documentos digitalizados (há o Delfos Digital, que pode ser acessado aqui). Entre eles, destacam-se registros de grandes artistas gaúchos, como Caio Fernando Abreu, Moacyr Scliar e Maria Dinorah.
Para Ricardo Barberena, diretor do Instituto de Cultura da PUCRS (onde o Delfos está inserido) e ex-coordenador executivo do acervo, este possibilita acompanhar as transformações de Porto Alegre ao longo dos anos.
“É possível resgatar várias imagens, várias plantas arquitetônicas de uma Porto Alegre do século XIX, do século XVIII, e também entender quais foram os principais vetores, os principais acontecimentos históricos, as principais transformações históricas que a nossa cidade foi palco”, comenta ele.
O Delfos é um acervo de diferentes registros de uma Porto Alegre que não existe mais, mas que tem resíduos e registros que ainda permanecem e sofreram constante transformação.
“Afinal de contas, uma cidade sem memória é uma cidade sem identidade, é uma cidade que não sabe o que foi, que não saberá o que será”, pontua Barberena.
Ele também destaca a importância de visitar todos esses documentos, que mostram como fomos habitando esse grande “livro de pedra” que é essa cidade. “Uma cidade é um grande livro de pedra em que se escrevem muitas histórias”.
Quem também destaca a importância do Delfos é Daniela Christ, bibliotecária do acervo: ele contém, além de documentos sobre a história do Estado em geral, muito da história da capital, que já foi lar e oficina de trabalho de diversos escritores, jornalistas, arquitetos e políticos. “Está tudo documentado: Porto Alegre desde o século XIX até os anos 2000, passando por todas as décadas do século XX”, ressalta.
Ao falar de seu trabalho, Daniela diz que entende a importância de sua função de bibliotecária quando muitos pesquisadores agradecem e ficam agradecidos por poderem usufruir de materiais tão únicos como os do Delfos para seus trabalhos.
“O Delfos é uma rica fonte de pesquisa histórica. Temos fotografias, documentos oficiais, manuscritos, projetos arquitetônicos de prédios imponentes da cidade. Temos correspondências trocadas entre escritores relatando sobre ruas e bairros, festas e reuniões governamentais. É uma infinidade de obras originais – até inéditas – e é muito prazeroso organizar e mergulhar em uma Porto Alegre ‘antiga’.”
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