Pesquisa

Estudo destaca a importância dos povos indígenas para a conservação da vida animal

quarta-feira, 31 de agosto | 2022

vida animal

Foto: Thiago Cavalcante Ferreira

O professor e pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e coordenador da Iniciação Científica Júlio César Bicca-Marques foi convidado a integrar uma banca de jurados internacionais da National Geographic Society. Em conjunto com outros quatro cientistas da Europa e dos Estados Unidos, o docente será responsável por selecionar três projetos sobre comportamento, cognição, inteligência e/ou cultura em animais para financiamento por até dez anos pela organização.  

O professor também participou, recentemente, do estudo internacional intitulado Importância global dos Povos Indígenas, suas terras, e sistemas de conhecimento para salvar os primatas da extinção. Bicca-Marques e outros cientistas de inúmeras universidades, principalmente estrangeiras, se uniram para avaliar a contribuição dos povos indígenas ou originários para a conservação/proteção dos primatas ao redor do mundo. No estudo publicado pela Science Advances, os autores demonstram que os territórios indígenas cobrem 30% da área de ocorrência dos primatas não-humanos no mundo e abrigam populações de 71% das suas espécies.  

Os autores também salientam que devido à proteção conferida por esses territórios contra projetos de desenvolvimento insustentáveis, as espécies que vivem em territórios indígenas têm menor probabilidade de estarem ameaçadas de extinção ou de terem populações em declínio, ou seja, sofrendo redução no número de indivíduos. Para o docente, defender as terras indígenas e o direito dos povos indígenas à terra e à manutenção de suas línguas e outros aspectos culturais possui um papel essencial para prevenir a extinção dos primatas.  

De acordo com Bicca-Marques, as culturas indígenas são fonte de conhecimento riquíssimo sobre a biodiversidade e sobre como ela é aproveitada diretamente como fonte de alimento, óleos, corantes, medicamentos e tantos outros bens ainda desconhecidos pela sociedade humana capitalista que a destrói de forma irracional e antieconômica.

Foto: Matheus Gomes

“O respeito e a defesa da natureza nos territórios indígenas permitem uma série de serviços ecossistêmicos relacionados à disponibilidade e qualidade da água usada para irrigar as plantações, do ar que respiramos e do solo onde cultivamos os nossos alimentos”, destaca. 

Protagonismo internacional 

Júlio César Bicca-Marques é reconhecido por suas importantes contribuições científicas com várias atividades profissionais dentro da primatologia brasileira e mundial. No dia 28 de agosto, ministrou a palestra magna “Howler monkeys, environmental change, and conservation activism” no 44th Meeting of the American Society of Primatologists em Denver, nos Estados Unidos, referente ao prêmio de Distinguished Primatologist recebido em 2021 da mesma sociedade.

Em setembro, logo após retornar dos EUA, o pesquisador embarcará para o Reino Unido, onde atuará como Professor Visitante da Universidade de Oxford pelo Programa Institucional de Internacionalização da CAPES (PUCRS-PrInt) durante seis meses. O docente desenvolverá pesquisa multidisciplinar para lançar a área de investigação intitulada Biomimética da Saúde Única (One Health Biomimetics).  

Bicca-Marques explica que a Biomimética da Saúde Única terá dois objetivos principais, um mais voltado à ciência básica e outro mais voltado à ciência aplicada. No primeiro, o foco é a investigação das bases evolutivas do comportamento de automedicação em primatas não-humanos via descoberta de padrões no uso de plantas com propriedades medicinais como fontes de alimento.

Já o segundo visa a identificação de alvos ecológicos, taxonômicos e geográficos de pesquisa que podem levar à descoberta de drogas contra doenças infecciosas compartilhadas por primatas não-humanos, seres humanos e animais domésticos de criação via inspiração no comportamento dos primatas. 

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