A participação plena e igualitária das mulheres na ciência ainda precisa vencer diversos desafios. O preconceito de gênero e a falta de visibilidade são barreiras que precisam ser quebradas de forma ampla e consistente em diferentes espaços da sociedade. Para ampliar os avanços já conquistados nas últimas décadas, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, neste 11 de fevereiro, marca um momento de valorização e encorajamento à atuação na área científica.
Leia também: Elas estão alcançando cada vez mais espaços na área de Ciência e Tecnologia
Durante a pandemia provocada pela Covid-19, a ciência e as pesquisas demonstraram ainda mais sua relevância, não apenas para o desenvolvimento de vacinas, mas contribuindo para a sociedade em diferentes áreas. Na PUCRS, 144 professoras também atuam como pesquisadoras. E mesmo com o distanciamento social continuaram suas pesquisas e produções científicas para auxiliar no combate à pandemia.
A Diretora de Pesquisa da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da PUCRS, Fernanda Morrone, destaca a importância da participação feminina na produção científica em todas as áreas do saber. “Hoje na Universidade temos pesquisadoras notáveis desenvolvendo pesquisas em muitas áreas do conhecimento e voltadas a resolver problemas prementes dos nossos dias, como por exemplo as pesquisas com foco na Covid-19. É um orgulho ver que, ao longo dos anos, temos formado novas gerações de excelentes cientistas que vêm atuando tanto na academia como em posições de destaque na sociedade”.
“Ciência, ciência e ciência em todas as áreas. Somente assim é possível garantir a preservação das nossas vidas com qualidade. Isso já nos trouxe até aqui e certamente vai nos levar adiante”, é o que defende Magda Cunha, professora e pesquisadora da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos. A docente coordenou um projeto de pesquisa que analisou as narrativas da sociedade e da mídia sobre a pandemia. “A análise dos resultados permite traçar uma linha do tempo comportamental diante da crise causada pela Covid-19 em cada cidade. Um exemplo de comportamento narrativo foi a percepção da cidade tornando-se um organismo vivo que fica doente, um ponto em comum percebido em todas as culturas estudadas. Observa-se que as cidades não estão preparadas, sob a perspectiva da informação, para enfrentamento destas crises. E podemos ver também um esforço narrativo da mídia, na tentativa da conscientização”, explica a pesquisadora.
Para Ana Paula Duarte Souza, professora e pesquisadora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, a Covid-19 ampliou a visão da sociedade para a ciência, mesmo a pandemia sendo um desafio para as pesquisas científicas. “Estamos mobilizados para dar respostas rápidas para a sociedade e muitos passos importantes já foram dados. Entretanto existem ainda muitas questões a serem respondidas. Acho que a sociedade está reconhecendo o quão essencial é a pesquisa científica”, comenta. A pesquisadora coordenou um estudo, publicado na revista Nature, com objetivo testar terapias que melhorem a resposta frente à infecção por vírus respiratórios. “Acreditamos que nossos resultados possam contribuir para o melhor entendimento da patologia e desenvolvimento de novas terapias ou intervenções”, destaca a Ana Paula.
Segundo Soraia Musse, professora e pesquisadora da Escola Politécnica, a interdisciplinaridade das pesquisas tem sido um grande diferencial para o enfrentamento dos problemas atuais da sociedade. “Para mim a ciência é a resposta para muitas questões. Enfrentamos o problema grave da pandemia e várias áreas científicas se uniram para juntas trazerem contribuições. Isso mostra o poder da ciência no sentido de apontar soluções, mas também um incrível potencial de união para resolução de problemas complexos”, enfatiza. Soraia coordenou o desenvolvimento da plataforma LODUS, ferramenta que permite simular a movimentação da população de Porto Alegre e projetar situações de lockdown, eventos na cidade e estimativas de contágio pela Covid-19.
Mesmo muitas pesquisadoras se destacando no contexto da pandemia, as barreiras ainda são presentes para as mulheres na ciência. A professora Ana Paula salienta que conciliar a maternidade e as pesquisas é um dos maiores desafios. “É uma tarefa difícil ser mãe e ser pesquisadora. A pesquisa científica exige uma continua atualização e estudo, sem contar que é uma carreira muito competitiva. A maternidade demanda tempo e dedicação, que acabam refletindo na carreira. Para mim foi um desafio deixar minha filha pequena em casa por causa do trabalho, muitas vezes pensei em desistir de tudo”, conta.
Em áreas como as ciências exatas, a ausência feminina e as dificuldades se tornam ainda mais evidentes. “Uma vez ouvi de uma aluna da área da computação que o principal problema em ser menina em grupos com tantos meninos é o preconceito que muitas vezes existe com relação a participação feminina nessa área. Acho que esse simples exemplo representa bem o sentimento que frequentemente as meninas têm quando entram nos espaços de pesquisa científica e tecnológica em algumas áreas das exatas”, aponta a professora Soraia Musse.
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, a estudante Júlia Zamora foi uma das coordenadoras do desenvolvimento da cartilha de orientação Isolamento durante a Covid-19 e violência dentro de casa. O objetivo do material é auxiliar as pessoas a identificar situações de violência, compreender os efeitos para saúde e qualidade de vida e acessar serviços que possam auxiliar em termos de proteção e atendimento.
A estudante destaca que as oportunidades como a Iniciação Científica favorecem a inserção na pesquisa científica. “Na PUCRS tive oportunidade de ser auxiliar de pesquisa e bolsista de Iniciação Científica. Posso dizer que a trajetória na pesquisa pode iniciar mesmo na graduação e que faz parte deste processo nos experimentarmos de diferentes formas”, aponta. Assim como ela, cerca de 64% dos bolsistas de Iniciação Científica na PUCRS são mulheres. Dos responsáveis pelas pesquisas, 48% são professoras.
Como jovem pesquisadora, Júlia destaca que para consolidar a posição da mulher na ciência brasileira é necessário que a sociedade e as instituições combatam a violência de gênero e que proporcionem condições de trabalho e reconhecimento dignas. “A ciência historicamente é construída de acordo com o interesse daquelas que a produzem, pensando nisso é essencial que cada vez mais as mulheres ocupem esse espaço de trabalho, pois direta ou indiretamente influenciarão no desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária”.