Segundo a literatura, o estilo parental ideal é o autoritativo, que monitora, dá regras, mas ao mesmo tempo é afetivo. Foto: kaicho20/pixabay.com
Investigar a relação entre o comportamento dos pais e o uso de drogas por parte dos filhos foi o objetivo da professora Irani Argimon e da doutoranda Fernanda Cerutti do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Humanidades da PUCRS. As pesquisadoras identificaram, durante o mestrado de Fernanda, que 81,7% dos adolescentes gaúchos já experimentaram álcool. O estudo avaliou também o efeito das atitudes familiares no uso de outras substâncias como maconha e tabaco. Dos 487 participantes da pesquisa, 44,3% tinham entre 15 e 16 anos, a maioria estava frequentando o Ensino Médio e 85,4% estudavam em escola pública. Os resultados da dissertação estão no artigo A implicação das atitudes parentais no uso de drogas na adolescência, disponível no link. A pesquisa integra o Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção no Ciclo Vital, coordenado por Irani.
As pesquisadoras ressaltam que o comportamento dos pais pode representar uma proteção ou um risco ao adolescente. Um dado do estudo revelou que os parentes mais afetivos têm filhos com mais chance de se tornarem dependentes da substância. De acordo com Fernanda, uma permissividade maior pode ter sido interpretada pelo adolescente como um excesso de afeto, mas geralmente essa abertura não está acompanhada de um monitoramento adequado, o que pode resultar no envolvimento problemático do filho com as bebidas alcoólicas.
O objetivo de Fernanda no doutorado é propor uma intervenção nessa relação, para melhorá-la. “Vemos muitas intervenções voltadas apenas para os adolescentes que estão envolvidos com drogas e a proposta da nossa pesquisa é incluir os pais ou responsáveis”, explica Fernanda. O trabalho tem como base a adaptação e aplicação de uma intervenção breve desenvolvida nos Estados Unidos, que é composta por quatro sessões, duas com a previsão da participação dos pais. “O que encontramos na literatura atual sobre o tema é que a participação dos pais no tratamento dos filhos auxilia para mantê-los motivados para a mudança de comportamento em relação ao uso de drogas”. Assim, a intervenção busca orientar e treinar os pais a encontrarem uma maneira de se comunicar com o filho, para que ambos os lados possam falar e escutar. “Queremos ajudar os pais a monitorarem os filhos adolescentes de uma forma adequada, sem serem rígidos ou permissivos”, ressaltam as pesquisadoras. Nesse sentido complementam que, segundo a literatura, o estilo parental ideal é o autoritativo, que monitora, dá regras, mas ao mesmo tempo é afetivo.
A orientadora Irani alerta: “Pai e mãe têm que ser pai e mãe. Serem próximos, mas não se tornarem amiguinhos dos filhos, porque eles precisam de limites e de pessoas que na hora do perigo sabem que podem contar”. A professora esclarece que, desde que nasce até mais ou menos 24 anos, o cérebro do indivíduo está em maturação e por isso ainda vulnerável para avaliar as situações e tomar decisões. “Ele precisa de acolhimento, de alguém que o ajude e o oriente para que saiba dizer não às drogas”, salienta.
A ação do homem vem trazendo diversas mudanças ao meio ambiente, e uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Zoologia da PUCRS identificou mais uma delas. De acordo com o estudo, o desmatamento da Mata Atlântica pode ser o grande responsável pela hibridação de raposas em São Paulo. O pesquisador Fabricio Garcez comprovou, durante seu Mestrado, o encontro e o cruzamento entre duas diferentes espécies: graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus), típico da região Sul, e a raposinha-do-cerrado (L. vetulus), habitante do Cerrado. É a primeira zona híbrida de canídeos descoberta na América do Sul, fora do gênero Canis, do qual fazem parte, por exemplo, o lobo, o coiote e o cachorro doméstico.
Durante seu doutorado, Garcez seguiu com as análises a fim de descobrir há quanto tempo esse encontro está ocorrendo. “Esse é um processo que poderia nunca ocorrer se ainda houvesse a presença de Mata Atlântica ou, se ocorresse, levaria milhares de anos, e o desmatamento causado por atividades humanas está acelerando esse processo. É um exemplo mais concreto do grau de influência do ser humano na história natural dos animais”, explica. Para o orientador do estudo, professor Eduardo Eizirik, a descoberta demonstra “um problema grave de conservação”. De acordo com ele, é cedo para afirmar qual será o futuro das espécies, mas está entre as possibilidades a propagação do processo de hibridação ou a restrição desses indivíduos em uma zona estreita. Além disso, é possível que ocorra uma perda da identidade genética de ambas as espécies, ocasionada pela mistura. “Nesse último caso, estaríamos desfazendo algo que a evolução fez durante milhares de anos, que foi separar as espécies”, conta Eizirik. Garcez destaca ainda a preocupação com a raposinha-do-cerrado, existente apenas no Brasil. Afinal, o Cerrado brasileiro é um dos biomas mais ameaçados do mundo. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), apenas 20% do Cerrado está preservado em sua condição original. A raposa também é vítima constante de atropelamentos, predação por cães domésticos e doenças. A perda estimada nos últimos 15 anos é de 30% dessa população, o que deve se repetir nos próximos 15 anos, de acordo com dados do ICMBio. Por isso, a raposinha-do-cerrado foi classificada como vulnerável. “A hibridação pode ser mais um fator de ameaça”, acredita o doutorando.
Durante a segunda fase da pesquisa, já foi possível identificar uma segunda geração de animais híbridos entre as amostras coletadas em São Paulo, e nenhum animal da região analisado até o momento pode ser considerado puro de uma das espécies. Ainda não é possível afirmar que o encontro das espécies esteja ocorrendo apenas nesse Estado, pois há possibilidade de que o processo também ocorra em outros estados próximos. Garcez conta ainda que a hibridação aparenta ser assimétrica, ou seja, as duas espécies parecem não estar contribuindo para o processo com a mesma intensidade. “Até agora, todos os híbridos que encontramos têm uma proporção maior de L. vetulus (raposinha-do-cerrado) ”, explica.
Os pesquisadores acreditam ainda que o processo é recente, do final do século 20, mas essa informação poderá ser confirmada no decorrer do Doutorado de Garcez, que, a partir de dados genômicos – análise mais sofisticada do que a de DNA mitocondrial e de microssatélites utilizadas no Mestrado, irá verificar com mais precisão há quanto tempo esse processo está ocorrendo, se é realmente assimétrico, de que forma a seleção natural pode estar atuando e em quais outras regiões esse fenômeno ocorre. Outra parte do estudo investiga ainda a existência de hibridação do graxaim-do-campo com a raposa-cinzenta-argentina (L. griseus), na Argentina e na Bolívia.
As epilepsias constituem o distúrbio neurológico crônico mais comum em todo o mundo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Epilepsia, cerca de 8 milhões de pessoas sofrem com a síndrome na América Latina. A epilepsia do lobo temporal (ELT) é a forma mais prevalente de epilepsia sintomática refratária, ou seja, resistente à medicação. A ELT é geralmente associada a uma lesão cerebral inicial seguida de um período variável sem manifestação clínica, até que se iniciem as crises convulsivas.
Este processo conduz eventualmente a convulsões recorrentes de difícil controle farmacológico. Segundo os pesquisadores, cerca de 30% dos pacientes apresentam resistência à terapia medicamentosa. Na busca de novas alternativas terapêuticas, o Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) realizou, entre os meses de julho de 2008 e maio de 2012, a primeira fase do estudo Transplante Autólogo de Células-Tronco da Medula Óssea na Epilepsia do Lobo Temporal Refratária ao Tratamento Medicamentoso, para analisar a factibilidade e a segurança do transplante autólogo de células-tronco da medula óssea (retiradas do próprio paciente) para o tratamento da epilepsia do lobo temporal (ELT). Na avaliação de seis meses, 40% dos pacientes não tiveram mais crises convulsivas, 25% tiveram redução entre 70 e 99% no número de crises, 15% tiveram redução entre 50 e 69% no número de crises e 20% apresentaram redução no número de crises menor que 50%.
Após a primeira fase, se inicia uma nova etapa da pesquisa, com chamada aberta para pacientes voluntários. Esta fase inclui a participação de três centros: PUCRS – Hospital São Lucas, Programa de Cirurgia da Epilepsia, Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul; Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – Departamento de Neurologia; e Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Hospital de Clínicas – Serviço de Epilepsia e EEG. O projeto, que possui recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tem coordenação geral do diretor do InsCer, Jaderson Costa da Costa, tendo como coordenadores na Unicamp o professor Fernando Cendes e na UFPR o professor Carlos Eduardo Soares Silvado.
Interessados em participar podem entrar em contato somente através do e-mail cels.tronco.inscer@gmail.com.
Diariamente, eventos traumáticos afetam milhões de pessoas em todo o mundo, a partir da exposição à agressão física, assalto, violência sexual, homicídio, sequestro, desastres naturais (ou provocados pelo homem), acidentes automobilísticos e/ou aéreos. Algumas pessoas, após vivenciarem este tipo de situação, podem desenvolver um diagnóstico chamado Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), apresentando memórias angustiantes ou sonhos sobre o evento traumático, flashbacks, sofrimento psicológico, reações fisiológicas, tentativa de fugir dos estímulos associados ao trauma, alterações significativas no humor e no conteúdo dos pensamentos. Além disso, estudos de neuroimagem têm fornecido evidências a respeito de alterações estruturais e funcionais em várias regiões do cérebro de pessoas com TEPT. Esta síntese torna o quadro um importante problema de saúde púbica, em especial no Estado do Rio Grande do Sul, considerando os altos índices de criminalidade, bem como a presença de desastres naturais – com as fortes chuvas, tempestades e inundações.
Atualmente, abordagens terapêuticas focadas no trauma e cientificamente validadas mantêm-se pouco acessíveis à maioria da população, já que os profissionais capacitados atuam, em sua maioria, na rede privada de saúde ou estão vinculados a centros de pesquisa em regiões centrais dos Estados brasileiros. Pensando nisso, a doutoranda Letícia Leite, do Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde da PUCRS, desenvolve o projeto de pesquisa intitulado Avaliação do Efeito de Técnicas Autoaplicáveis em Parâmetros Clínicos e Cerebrais de Pacientes com Transtorno de Estrese Pós-Traumático.
O objetivo é avaliar um tratamento baseado em técnicas autoaplicáveis para pessoas que tenham desenvolvido o transtorno. Parte da pesquisa, que é orientada pelo pesquisador e professor Augusto Buchweitz e co-orientada pelo professor Diogo Lara será realizada no Instituto do Cérebro (InsCer). De acordo com a doutoranda, a abordagem torna-se particularmente importante “pois as pessoas que sofrem com o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e/ou com traumas emocionais poderão ter benefícios em contar com uma técnica autoaplicável para recuperação de sua saúde mental, com acesso facilitado e redução de custos com tratamentos psicoterápicos”. O estudo é desenvolvido com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (projeto aprovado número 466702/2014-0), coordenado pelo professor Diogo Lara.
A pesquisa busca agora voluntários com 18 anos ou mais que tenham passado recentemente por algum acontecimento traumático e têm interesse em participar do estudo. Para isso, basta enviar um e-mail para pesquisatratamentotrauma@gmail.com.
A doutoranda entrará em contato para explicar os procedimentos do estudo. Os pacientes selecionados passarão também por exames de neuroimagem no InsCer, com acompanhamento dos pesquisadores.
Uma pesquisa realizada na PUCRS com 626 pessoas trans alerta para uma situação grave: 66,3% das mulheres não consultam um médico para utilizar hormônios. Das 291 que responderam sobre esse tema, 39,2% compram hormônios pela internet e 27,1% conseguem com amigos ou conhecidos. “Utilizar hormônios sem monitoramento pode ocasionar problemas de saúde graves do ponto de vista cardíaco, ósseo e até oncológico”, alerta o coordenador da pesquisa e professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Humanidades da PUCRS Ângelo Brandelli Costa.
O estudo, intitulado Healthcare Needs of and Access Barriers for Brazilian Transgender and Gender Diverse People, foi realizado em parceria com os Hospitais de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foram consultadas 626 pessoas trans de 18 a 64 anos do Rio Grande do Sul e de São Paulo, que responderam a questionário pela internet e nos hospitais citados. Entre os pontos abordados nas perguntas estavam questões relacionadas ao acesso livre a hormônios, monitoramento médico, procedimentos cirúrgicos e discriminação durante o tratamento.
Os motivos para a negativa na procura por especialistas também foram abordados no estudo: 43,2% disseram evitar os serviços de saúde quando precisaram por serem trans. A maioria das pessoas, 58,7%, que afirmaram ser vítimas de discriminação durante um atendimento médico de saúde, se privaram de procura-lo quando necessário. O número cai para 17,8% quando os entrevistados não sofreram discriminação. Entre as opções do questionário estavam: profissional de saúde alegou não ter conhecimento suficiente para prestar atendimento; não utilizou o nome social da pessoa; a ridicularizou durante o atendimento. Para Brandelli, o dado é grave, porque esse público já tem problemas para acessar os serviços por motivos financeiros e por causa do desenho do Sistema Único de Saúde (SUS). “Quando as pessoas trans conseguem superar essas barreiras institucionais, existem as barreiras dos profissionais que as tratam com diferença e isso faz com que elas evitem buscar serviços de saúde, mesmo quando precisam”, ressaltou o professor. De acordo com ele, é preciso deixar as políticas públicas mais inclusivas e incorporar discussões sobre o tema nas formações dos profissionais de saúde.
Brandelli esclarece que o objetivo da pesquisa é expor a necessidade de abordar o preconceito no tratamento não só de pessoas trans, mas também em relação à raça e classe social, por exemplo. “Muitos profissionais podem dizer ‘eu nunca vi uma pessoa trans’, mas é possível que essa população não acesse esses serviços com receio da forma de tratamento. Então é preciso desenvolver campanhas contra essas atitudes”, propõe. Agora, o coordenador conta que está escrevendo um novo artigo sobre essa coleta de dados. O foco será o acesso aos procedimentos de HIV, como medicamentos e testes. “Esse é um dos agravos mais prevalentes nas mulheres trans, principalmente no Rio Grande do Sul, que é um dos estados com maior índice dessa epidemia”.
O projeto também revela que de 83 homens trans, 46 nunca encontraram um médico para prescrever hormônios, ou seja, 55,4%. Por outro lado, de 56 mulheres trans, 22 contam que nunca conseguiram um médico para receitar o medicamento, o que representa 39,3%. Em relação a procedimentos médicos, como modificações do corpo, cirurgias de afirmação de gênero, implante de silicone, entre outros, 64,2% alegam não ter dinheiro para pagar, ou seja, 278 de 433 pessoas trans. O professor Angelo diz que essas questões mostram uma discrepância. “O SUS cobriria esses procedimentos. Então por que as pessoas não estão conseguindo fazer?”, questiona ele. Entre as 102 mulheres trans que já fizeram procedimentos médicos, 76,8% optaram por clínicas privadas e apenas 18,6% por clínicas públicas. Para o professor, os números falam por si. “São questões graves que mostram a falha do sistema de saúde, que dificulta o acesso à saúde das pessoas trans”, analisa.
Brandelli explica que, para definir o perfil dos participantes, foram feitas duas perguntas: “qual o sexo que foi designado ao nascer?” e “como se identifica agora?”. Qualquer discordância entre os dois questionamentos inclui a pessoa no estudo. A maioria dos integrantes são homens e mulheres trans, mas também responderam ao questionário pessoas com outra identidade de gênero, por exemplo aquelas que se identificam como não binárias, agêneras, queer, entre outros. Só no Facebook do Brasil estão disponíveis 17 opções de gênero.
O professor conta que esteve no Canadá há aproximadamente dois anos e conheceu a professora da University of Western Ontario, Gretha Bauer, coordenadora de um projeto chamado TransPulse. A iniciativa é um levantamento sobre a vida das pessoas trans composto por perguntas envolvendo problemáticas enfrentadas por esse grupo. “Achamos a iniciativa importante, porque não temos muito diagnóstico da vida das pessoas trans aqui no Brasil em vários aspectos, principalmente na saúde, então adaptamos esse questionário para cá”.
Pesquisa e Inovação em Israel serão abordados em palestra nesta quinta-feira, 10 de novembro, pelo Cônsul Geral de Israel em São Paulo, Dori Goren. O evento ocorre às 18h30min, na sala 801.1 do prédio 50 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre). A atividade é aberta ao público e tem entrada franca, promovida pela Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia e pelo Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc).
Pesquisas do Grupo de Estudos do Comportamento Disfuncional do Cliente, da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia da PUCRS (Face), revelam que a intenção do consumidor de se comportar de maneira antiética aumenta quando ele se depara com um erro de uma empresa. Além disso, quanto mais produtos na loja, maior a sensação de proteção para praticar uma ação disfuncional. O contrário ocorre em relação à quantidade de pessoas. Os resultados mostram que quando o indivíduo está cercado, fica menos propício a agir de tal forma. As atitudes imorais analisadas envolvem furtos, fraudes, ameaças ao vendedor, assédios verbais, reclamações indevidas, compra de produtos ilegais e vandalismo, entre outros.
O coordenador do Grupo e professor da Face, Lélis Espartel, explica que, no momento de praticar a ação antiética, a pessoa leva em consideração o dano que pode causar ao comerciante. “Por isso, os consumidores respeitam mais os pequenos varejistas”, analisa ele. Em relação às grandes empresas, o professor menciona a distância psicológica entre o cliente e a organização, o que facilita o impulso do comprador de praticar um furto, por exemplo. “Isso traz importantes consequências para o varejo, uma vez que são comportamentos difíceis de identificar ou evitar”, alerta Lelis.
Os pesquisadores também querem entender o porquê da realização de determinadas ações disfuncionais. O professor utiliza o exemplo de um consumidor que recebe duas comandas por engano em um bar. Ao longo de sua estada no estabelecimento, o indivíduo entrega para o garçom as comandas alternadamente para que ele registre menos do que realmente foi consumido. No final, paga a conta mais barata e esconde a outra comanda. Mesmo que os limites morais levem à ideia de que esse cliente possa se sentir culpado ou com vergonha, o professor alerta: “estudos recentes indicam que esse comportamento pode causar sensações e emoções positivas nas pessoas”. Ele salienta que os consumidores com comportamentos disfuncionais visam uma vantagem financeira, mas também são envolvidos por um sentimento de oportunismo e de se dar bem em uma situação de compra e consumo.
Lélis destaca que o tema estudado pelo Grupo é pouco explorado no Brasil e que, normalmente, as pesquisas são voltadas para a perspectiva da ética das empresas. O objetivo da equipe é ampliar o olhar também para os clientes. “Para a relação ser funcional, os dois lados precisam ser éticos e cada um deve fazer a sua parte”, salienta ele. A proposta para o futuro é aprofundar os mecanismos que explicam esses comportamentos disfuncionais e como evita-los.
A PUCRS tem dois vencedores no Prêmio Pesquisador Gaúcho 2016, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs). O professor da Faculdade de Engenharia Gustavo Roth e a aluna da Faculdade de Biociências Bruna Coelho de Andrade, ambos da empresa Quatro G P&D, sediada no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc), receberam o reconhecimento na noite desta quinta-feira, 6 de outubro, durante cerimônia realizada na Fiergs. O prêmio foi entregue a dez cientistas com relevantes contribuições na área científica e tecnológica. A honraria também tem como objetivo mostrar a importância da pesquisa como ferramenta para o desenvolvimento do Estado. Foram contempladas seis áreas do conhecimento nas modalidades Pesquisador Destaque: Engenharia; Física e Astronomia; Geociências; Matemática, Estatística e Computação; Interdisciplinar e Química, além das categorias Jovem Inovador, Pesquisador na Empresa, Pesquisador na Indústria e Destaque Especial ao Ano Internacional do Entendimento Global.
Roth, bolsista de Pós-Doutorado Empresarial (PDI), foi premiado como Pesquisador na Empresa e Bruna, bolsista de Iniciação Tecnológica e Industrial, como Pesquisadora Jovem Inovadora. Ambos foram prestigiados pelo projeto Produção da Enzima β-Galactosidase Recombinante na Forma Livre e Imobilizada Visando sua Aplicação Industrial, que consiste na produção da enzima Lactase para sua aplicação industrial. O projeto, que está em andamento, faz parte de uma colaboração entre o Centro de Pesquisa em Biologia Molecular e Funcional da PUCRS, a empresa Quatro G P&D, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e o Centro Universitário Univates. A enzima Lactase tem especial importância para indústria de alimentos e farmacêutica, na preparação de leite e derivados com baixo teor de lactose e em suplementos alimentares, produtos utilizados por pessoas intolerantes à lactose.
Durante a cerimônia, os professores Ana Maria Lisboa de Mello, da Faculdade de Letras, e Emil Albert Sobottka, da Escola de Humanidades, foram homenageados pela Fapergs como agradecimento pela dedicação ao trabalho realizado nos comitês de Artes e Letras e Ciências Humanas e Sociais da instituição, respectivamente.
O Brasil é o país com as maiores estimativas de maus-tratos contra crianças no mundo. O dado é do estudo The Influence of Geographical and Economic Factors in Estimates of Childhood Abuse and Neglect Using the Childhood Trauma Questionnaire: A Worldwide Meta-Regression Analysis, divulgado na Child Abuse and Neglect, publicação oficial da International Society for the Prevention of Child Abuse and Neglect, vinculada à Organização das Nações Unidas e à Organização Mundial de Saúde (OMS). Foram pesquisados dados de abuso sexual, físico e emocional e negligência física e emocional publicados em cerca de 30 países. “Existe uma relação direta entre o Produto Interno Bruto (PIB) do país analisado e as estimativas de negligência física. Quanto menor o índice econômico, maior a taxa deste tipo de maus-tratos. Apesar do PIB do Brasil não estar entre os mais baixos, o País mostra estimativas muito altas de negligência infantil”, afirma o coordenador do trabalho, professor do Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança e do Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS Rodrigo Grassi-Oliveira. Segundo o pesquisador, a negligência física é caracterizada por atos de abandono da criança, privando-a de alimentos, vestuário e cuidados com a saúde.
Os malefícios futuros para a saúde das crianças que passam por estes tipos de violência são inúmeros, desde um maior risco para doenças mentais e dependência química até doenças metabólicas como diabetes e obesidade. “É preciso haver uma mudança de valores para a sociedade. Se você investir no cuidado parental hoje, futuramente a preocupação e gastos com estes desfechos será menor“, acredita o pesquisador. Para Grassi, o motivo do péssimo resultado registrado no Brasil está na quase ausência de recursos empregados em programas de prevenção da violência contra a criança, além da cultura mais permissiva, que não acredita na gravidade das consequências geradas pela exposição de crianças a situações adversas. Outro motivo é o fato do território ser muito grande, dificultando o controle de recursos financeiros voltados para o tratamento e prevenção de casos de abuso e negligência infantil. O professor ressalta, também, a ineficácia da máquina pública e privada, o número insuficiente de centros de atendimentos às vítimas de violência e a falta de formação adequada na área.
Para ilustrar os resultados, os pesquisadores fizeram um mapa que mostra as estimativas relatadas pelas populações investigadas em cada país. Usando uma escala de cor que ia do vermelho (altas taxas de abuso e negligência), passando pelo amarelo (estimativas moderadas) até o verde (baixos escores) os autores coloriram cada país de acordo com a estimativa de maus-tratos na infância identificada. Na Suécia, por exemplo, as estimativas são reduzidas, assim como em praticamente todos os países da Europa. Já nos Estados Unidos, a cor é a amarela e no Brasil vermelha. Nos resultados encontrados na China, uma surpresa: as taxas de negligência e abuso relatadas são baixas, apesar da OMS identificar o trabalho infantil e a migração como graves problemas. “Acreditamos que a entrevista utilizada para avaliar maus-tratos possa ter inibido muitas pessoas de identificarem situações adversas ocorridas na infância como formas de abuso ou negligência, em virtude dos aspectos culturais. A escala não avalia trabalho infantil e, mesmo que avaliasse, esse poderia não ser interpretado como uma situação abusiva”, afirma. Grassi acredita que os resultados refletem a questão cultural de cada local: “Tudo depende da forma como cada povo educa e cuida de suas crianças”, ressalta.
O pesquisador já trabalha com projetos sobre vitimização infantil há muitos anos e, futuramente, pretende iniciar um diálogo com órgãos governamentais como a Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude, visando a discussão desses resultados. Também planeja iniciar outro estudo, em âmbito nacional e utilizando outras medidas, para aprofundar esses dados. Segundo Grassi, a recomendação da OMS é que seja promovida a capacitação de pessoas para trabalhar na área, possibilitando que as políticas públicas sejam efetivamente colocadas em prática por profissionais habilitados para isso. Para isso, coordena na PUCRS o curso de especialização à distância Abordagens da Violência Contra Crianças e Adolescentes. “A nossa expectativa é de qualificar profissionais com diversas formações, em especial pessoas que trabalham em Conselhos Tutelares e Centros de Atendimento Psicossocial”, afirma. A primeira turma tem aulas desde abril.
Os pesquisadores tiveram acesso a resultados já publicados em pesquisas que utilizaram o instrumento chamado Childhood Trauma Questionnaire (CTQ), um dos instrumentos mais importantes na avaliação de maus-tratos no mundo. O teste passou por adaptações em vários países, sendo que a versão brasileira foi adaptada por Grassi, podendo ser aplicado em adolescentes e adultos. O CTQ questiona a frequência com que os entrevistados passaram por situações de abuso e negligência até os doze anos de idade. A partir destes dados, o grupo da PUCRS fez a compilação e análise estatísticas dos dados obtidos em todos os países incluídos no estudo.
Nesta terça-feira, 2 de agosto, começa a Mostra Itinerante Catálogo de Pesquisas PUCRS 2016. A atividade irá apresentar a publicação institucional que divulga todas as áreas da pesquisa, inovação e desenvolvimento científico e tecnológico da Universidade.
O primeiro ponto da exibição é o saguão da Famecos, no prédio 7, com banners e as quatro edições do Catálogo de Pesquisas, lançadas desde 2008, disponíveis nas versões impressa e digital.
A exposição também pretende familiarizar a comunidade universitária com os oito eixos temáticos adotados pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento (Propesq) para classificar os trabalhos realizados pelas mais de 570 estruturas de pesquisa existentes na PUCRS. Todos os pesquisadores em atividade na Universidade estão presentes no Catálogo, e os trabalhos de maior impacto têm vídeos, áudios e textos de apresentação.
Promovida pela Propesq e a Assessoria de Comunicação e Marketing (Ascom), a Mostra Itinerante segue até dezembro, e estará nos seguintes locais:
Para conhecer o Catálogo, acesse: www.pucrs.br/catalogodepesquisas.