Os filtros do Instagram e do TikTok estão cada vez mais inseridos no cotidiano das pessoas. Eles são ferramentas com diferentes utilidades, como a realização de quizzes, desafios, testes de maquiagem ou cor de cabelo e, até mesmo, para alterar o cenário em que o usuário se localiza. Na PUCRS, o professor e pesquisador da Escola Politécnica André Arigony Souto propôs uma nova função para os filtros: ensinar Química Orgânica de uma forma mais didática.

Durante a pandemia de Covid-19, o docente sentiu a necessidade de apresentar aos estudantes em sala de aula virtual uma nova forma de compreender como funcionam as estruturas moleculares. Com suas pesquisas, Souto criou filtros de realidade aumentada para representar os modelos moleculares em 3D, em interação com o mundo real.

De acordo com o pesquisador, a representação tridimensional de moléculas é sempre um grande desafio no aprendizado de química. Desta forma, além de atuar como uma aliada nos estudos da disciplina, a realidade aumentada também ajuda a difundir e popularizar a ciência, assim como a resolver problemas mais complexos.

“A pedagogia já comprovou que o ensino através de realidade aumentada proporciona maior conexão com o tema e facilita no entendimento de matérias mais complexas, como química orgânica”, destaca.

Como funcionam os filtros

A realidade aumentada (RA) permite a interação entre o mundo real e o mundo virtual criando objetos digitais. A tecnologia é possível por meio de de programas de computador que capturam a imagem real e a transformam na sua versão digital, geralmente ampliada, de fácil visualização e compreensão.

Os recursos já têm uso prático em setores de móveis e decoração, roupas, cinema, jogos, turismo, arquitetura e muitos outros. Um exemplo recente é o jogo Pokémon GO, que surgiu em 2016 e baseado nessa tecnologia para criar a imagem do Pokemón que precisa ser capturado pela cidade.

Quando aplicada a tecnologia, os filtros tornam-se interações digitais aplicadas aos rostos ou ambiente dos usuários para adicionar ou alterar o que estão vendo no mundo real. O professor da PUCRS explica que usando software livre, é possível criar facilmente filtros para diferentes assuntos, inclusive química. Em sua pesquisa intitulada Passo a Passo para Fazer Filtros de Realidade Aumentada para Modelos Moleculares são apresentadas formas de como criar estes filtros e publicá-los nas mídias sociais.

Um dos filtros criados pelo professor em suas redes sociais com a ajuda da realidade aumentada apresentou a estrutura molecular dos Complexos de poros nucleares, que desempenham papéis centrais como guardiões do transporte de RNA e proteínas entre o citoplasma e o nucleoplasma, veja na imagem

“Os filtros de realidade aumentada podem se tornar uma poderosa ferramenta na construção de material didático para o ensino médio e superior, bem como para a divulgação e popularização da ciência”, finaliza.

Aplicativo de realidade aumentada, André Arigony Souto

Foto: Arquivo Pessoal

Pesquisador reconhecido ao desvendar as maravilhas do resveratrol, a molécula obtida da uva preta, o professor da Escola de Ciências André Arigony Souto também gosta de inovar na área do ensino. Acaba de criar o IRspectrAR, um aplicativo de realidade aumentada que ajuda na interpretação de espectros de infravermelho. “Na Química Orgânica, precisamos visualizar moléculas em 3D. O aluno tem grande dificuldade. Os materiais disponíveis pouco auxiliam, pois todos são em 2D”, explica. A aplicação mostra absorções características de grupos funcionais dos compostos orgânicos, como alcanos, arenos, álcoois, aminas e carbonilo.

 

 

André Arigony Souto,Química,Escola de Ciências

André Arigony Souto / Foto: Bruno Todeschini

Em fevereiro, Arigony se lançou ao desafio de criar o aplicativo para melhorar a visualização. Começou a estudar o tema e fez vários cursos sobre realidade virtual e aumentada na plataforma Udemy. A novidade tem alcançado muita repercussão.

O professor não quer parar por aí. Vai buscar o engajamento de alunos e colegas na construção de novos materiais para ensinar de forma mais rápida e aumentar a complexidade dos conteúdos.

Para baixar o IRspectrAR, gratuitamente, é só acessar aqui. Por enquanto está disponível apenas para dispositivos Android.